"O Homem virtuoso é feliz por si mesmo"
Platão
Na
pressão diária não conseguimos pensar nada sobre o que é felicidade, amor,
justiça, verdade... Não conseguimos, sequer, entender nosso papel dentro de uma
família, sociedade, país. Pois, o que nos vem nada mais é que uma avalanche de
notícias, boatos, fofocas, alegrias histéricas, que nos deixam sem o racional
na hora em que trabalhamos, estudamos, ou mesmo estando em casa...
Era
para ser diferente, pelo menos no último item. Pois não haveria nada melhor do
que o nosso refúgio para sair desse emaranhado de tormentas que destroem todo
nosso poder de refletir acerca do que é realmente bom para nós.
Chaplin,
nosso querido autor, diretor e personagem de comédias clássicas, em seu “Último
Discurso”, dá um recado ao homem moderno... “criamos a época da velocidade, e
nos sentimos enclausurados e perdidos dentro dela”... Ele, o grande Carlitos,
não se referia apenas à evolução das máquinas que nos consumiam a alma, mas
também a nós mesmos, que sucumbimos ao pensamento capitalista em ter sempre,
buscar sempre o consumo desmedido, nos esquecendo daquilo que mais interessa...
A
nossa própria felicidade.
Tão
falada, desvirtuada pela espécie, a nossa felicidade tem ido em direção oposta
ao seu destino, graças ao achismo, às incertezas, ao desvirtuamento natural
humano em relação ao que é e ao que não é...
Essa
relativa maneira humana de ser vem trazendo, ao nosso viver, todas as
possibilidades, menos a real, de se entender o que é felicidade, justiça,
verdade, essa deusa esquecida, abandonada e ao mesmo tempo tão distante de
nós... Pois o que achamos é muito melhor do que busca-la, entende-la, ouvi-la e
respeitá-la.
É
natural que a humildade às vezes supere todos os valores em meio ao que o homem
busca, porque, de tanto buscar, se esquece do real sentido. De tanto ir atrás
do que é, esquecemos o que realmente é.
A correria, a loucura diária, a falta de entender as origens, de retirar o sumo
do que a história nos trouxe, nos fez velhos antes do tempo. E, infelizmente,
acaba atingindo a memória, e mais: a lembrança de que nascemos para sermos
felizes, ainda que, ao nosso lado, more a injustiça, a mentira, a corrupção, a demagogia...
Enfim,
temos que nos sentar, por a mão no queixo, olhar a dor dos homens de perto,
tentar relativizar tudo, transformar em energia, elevar ao mais alto dos
sentimentos, acender a alma, rever nossos conceitos, descartar aquele que
individualiza, ressaltar o maior todos – aquele que cobre como manto nossos
corpos, e nos edificar onde quer que estejamos.
Olhar
para cima, sentir os raios sagrados sol, que perpassam a razão, a
emoção, a intuição, e por fim, encontrando nossa vontade. Ali, em algum
lugar de nosso ser, no início do terceiro andar, mora a felicidade...
E os gregos e tradição
Já que estamos reverberando acerca da felicidade, nada melhor do que dar uma voltinha na filosofia clássica, e tentar entender as reflexões dos poucos que fizeram e fazem, de hoje, nossas vidas um pouco melhor.
Tradição
A Tradição, água eterna dos homens eternos, sempre nos dedicou muitas páginas de seus filósofos, os quais dedicados não apenas a seus contextos vitais, mas à humanidade, tinham sempre “opiniões” acerca do que era a felicidade, mas, como tudo que se refere ao clássico, tais filósofos tinham como referência o próprio espírito humano. Ao contrário de nós, que sempre temos nossos interesses, sejam eles familiares, sociais, capitais...
A Tradição, água eterna dos homens eternos, sempre nos dedicou muitas páginas de seus filósofos, os quais dedicados não apenas a seus contextos vitais, mas à humanidade, tinham sempre “opiniões” acerca do que era a felicidade, mas, como tudo que se refere ao clássico, tais filósofos tinham como referência o próprio espírito humano. Ao contrário de nós, que sempre temos nossos interesses, sejam eles familiares, sociais, capitais...
Felicidade?
Por mais estranho que seja, felicidade, em grego, veio de “eudaimonia”, o que significa, mais ou menos, um demônio bom, ou um bom demônio... Ou seja, uma espécie de semideus, de gênio. Então, a priori, para ser feliz, teríamos que ter, em nós, uma espécie de anjo para nos acompanhar. E para o grego, isso era certo.
Por mais estranho que seja, felicidade, em grego, veio de “eudaimonia”, o que significa, mais ou menos, um demônio bom, ou um bom demônio... Ou seja, uma espécie de semideus, de gênio. Então, a priori, para ser feliz, teríamos que ter, em nós, uma espécie de anjo para nos acompanhar. E para o grego, isso era certo.
Era
um pensamento, apesar das caras feias, religioso. Pois refletia a ligação
humana com o invisível. Porém, claro, havia, dentro dessa crença, a
possibilidade de demônios maus, o que era contrário à sorte, à felicidade humana.
E isso era retratado no pessimismo, na doença, na dor de perder alguém – como hoje porém, ao mesmo tempo, saber que no cenário humano tudo se passa, tudo se vai.
E o teatro grego iniciou seu melhor processo cultural no teatro, e dentro dele as nuances da vida, tão
fantástico como qualquer outro antes jamais visto. E nesse teatro a Filosofia
platônica, aristotélica, pós-socrática, etc, começou a criar uma visão mais
aberta, rompendo com o pessimismo, levando a todos a busca mais sutil dentro do
ser humano.
Platão. Para o céu.
Platão. Para o céu.
Platão
dizia que o homem virtuoso era feliz por si só, pois trabalharia a
universalidade em si mesmo, por meio do Conhecer a Si Próprio, evadindo-se dos
conceitos relativos, em busca da divindade a que tanto esquecemos e somos.
Demócrito,
filósofo, dizia que a felicidade se reduzia a
medida do prazer e a proporção da vida... Ou melhor, estar sempre longe das
paixões, do que é relativamente passageiro, até mesmo da ilusões e alcançar a “serenidade”.
Para
Sócrates, a felicidade não era apenas a busca na satisfação física, dos
desejos, mas principalmente da alma. E tudo isso poderia ser alcançado em atos
virtuosos e condutas justas. Para o mestre de Platão, era melhor sofrer uma
injustiça do que praticá-la. Por isso, se diz que Sócrates, apesar das condenações
que sofrera, morrera feliz.
Platão,
ainda, depois da morte do mestre, compreendera, tempos depois, e tentou nos
resumir, em sua filosofia, que a felicidade do olho é ver, do ouvido é ouvir, e
da alma é ser virtuosa e justa, de modo que, exercendo a virtude e justiça, obtém-se
a felicidade...
Aqui,
nas entrelinhas, podemos encontrar a Ética (ethos), que era a parte prática da
Moral (mores), que funcionava como teoria e prática na filosofia grega. Nela, a
Ética não se fechava em negócios, em partidos, mas dentro de um universo – de repente
o Estado – o qual se encarregaria de fazer os homens bons e felizes. Mas também dentro de um mundo ideal que abarcava uma realidade tão perto e tão distante do homem.
Contudo,
o assunto ficou mais relativo, simples, terreno em um dos discípulos de Platão,
o qual o foi um dos melhores deste, mas que, por não ter a experiência
iniciática do mestre, resvalou-se em conceitos físicos, contradizendo alguns dos
conceitos que Platão racionalizava em seus clássicos.
Aristóteles, de volta à terra.
Aristóteles, de volta à terra.
Aristóteles,
em “Ética a Nicômaco” – a seu filho –, dizia que Platão tinha se esquecido dos
conceitos básicos, como a boa saúde, a liberdade, e uma boa situação
socioeconômica para alguém ser feliz. Ao passo que, no limiar de sua filosofia,
dizia também que a felicidade da mente era a filosofia, a qual nos aproxima da
divindade...
Vai
além. Aristóteles diz que a política é a extensão da ética. E que o Estado, em
primeiro plano, teria que se preocupar com a felicidade do indivíduo...
Infelizmente,
Aristóteles “organizou” de seu modo a felicidade. Não que estivesse errado, mas
deixou de refletir acerca do que poderia ter sido o tema quando seu mestre
Platão o dispusera, mas, mesmo assim, esqueceu-se de ligar vários pontos, pois seu
mestre falava de uma felicidade maior, mais ampla, eterna, arquetípica...
Ideal.
E
para terminar, ficamos com Epicuro, criador do Epicurismo, após a formação do
helenismo três anos depois do avanço de Alexandre na Europa. Dizia Epicuro “A
felicidade deve ser um prazer duradouro”. Não um prazer relacionado aos
desejos, mas a parte que o homem tem direito como ser que busca, além das próprias
medidas, seus objetivos.
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