sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Um Prólogo à Felicidade



"O Homem virtuoso é feliz por si mesmo"

Platão


Na pressão diária não conseguimos pensar nada sobre o que é felicidade, amor, justiça, verdade... Não conseguimos, sequer, entender nosso papel dentro de uma família, sociedade, país. Pois, o que nos vem nada mais é que uma avalanche de notícias, boatos, fofocas, alegrias histéricas, que nos deixam sem o racional na hora em que trabalhamos, estudamos, ou mesmo estando em casa...

Era para ser diferente, pelo menos no último item. Pois não haveria nada melhor do que o nosso refúgio para sair desse emaranhado de tormentas que destroem todo nosso poder de refletir acerca do que é realmente bom para nós.

Chaplin, nosso querido autor, diretor e personagem de comédias clássicas, em seu “Último Discurso”, dá um recado ao homem moderno... “criamos a época da velocidade, e nos sentimos enclausurados e perdidos dentro dela”... Ele, o grande Carlitos, não se referia apenas à evolução das máquinas que nos consumiam a alma, mas também a nós mesmos, que sucumbimos ao pensamento capitalista em ter sempre, buscar sempre o consumo desmedido, nos esquecendo daquilo que mais interessa...

A nossa própria felicidade.

Tão falada, desvirtuada pela espécie, a nossa felicidade tem ido em direção oposta ao seu destino, graças ao achismo, às incertezas, ao desvirtuamento natural humano em relação ao que é e ao que não é...

Essa relativa maneira humana de ser vem trazendo, ao nosso viver, todas as possibilidades, menos a real, de se entender o que é felicidade, justiça, verdade, essa deusa esquecida, abandonada e ao mesmo tempo tão distante de nós... Pois o que achamos é muito melhor do que busca-la, entende-la, ouvi-la e respeitá-la.

É natural que a humildade às vezes supere todos os valores em meio ao que o homem busca, porque, de tanto buscar, se esquece do real sentido. De tanto ir atrás do que é, esquecemos o que realmente é.

A correria, a loucura diária, a falta de entender as origens, de retirar o sumo do que a história nos trouxe, nos fez velhos antes do tempo. E, infelizmente, acaba atingindo a memória, e mais: a lembrança de que nascemos para sermos felizes, ainda que, ao nosso lado, more a injustiça, a mentira, a corrupção, a demagogia...

Enfim, temos que nos sentar, por a mão no queixo, olhar a dor dos homens de perto, tentar relativizar tudo, transformar em energia, elevar ao mais alto dos sentimentos, acender a alma, rever nossos conceitos, descartar aquele que individualiza, ressaltar o maior todos – aquele que cobre como manto nossos corpos, e nos edificar onde quer que estejamos.

Olhar para cima, sentir os raios sagrados sol, que perpassam a razão, a emoção, a intuição, e por fim, encontrando nossa vontade. Ali, em algum lugar de nosso ser, no início do terceiro andar, mora a felicidade...

E os gregos e tradição

Já que estamos reverberando acerca da felicidade, nada melhor do que dar uma voltinha na filosofia clássica, e tentar entender as reflexões dos poucos que fizeram e fazem, de hoje, nossas vidas um pouco melhor.

Tradição

A Tradição, água eterna dos homens eternos, sempre nos dedicou muitas páginas de seus filósofos, os quais dedicados não apenas a seus contextos vitais, mas à humanidade, tinham sempre “opiniões” acerca do que era a felicidade, mas, como tudo que se refere ao clássico, tais filósofos tinham como referência o próprio espírito humano. Ao contrário de nós, que sempre temos nossos interesses, sejam eles familiares, sociais, capitais...

Felicidade?

Por mais estranho que seja, felicidade, em grego, veio de “eudaimonia”, o que significa, mais ou menos, um demônio bom, ou um bom demônio... Ou seja, uma espécie de semideus, de gênio. Então, a priori, para ser feliz, teríamos que ter, em nós, uma espécie de anjo para nos acompanhar. E para o grego, isso era certo.

Era um pensamento, apesar das caras feias, religioso. Pois refletia a ligação humana com o invisível. Porém, claro, havia, dentro dessa crença, a possibilidade de demônios maus, o que era contrário à sorte, à felicidade humana. E isso era retratado no pessimismo, na doença, na dor de perder alguém – como hoje porém, ao mesmo tempo, saber que no cenário humano tudo se passa, tudo se vai.

E o teatro grego iniciou seu melhor processo cultural no teatro, e dentro dele as nuances da vida, tão fantástico como qualquer outro antes jamais visto. E nesse teatro a Filosofia platônica, aristotélica, pós-socrática, etc, começou a criar uma visão mais aberta, rompendo com o pessimismo, levando a todos a busca mais sutil dentro do ser humano.

Platão. Para o céu.

Platão dizia que o homem virtuoso era feliz por si só, pois trabalharia a universalidade em si mesmo, por meio do Conhecer a Si Próprio, evadindo-se dos conceitos relativos, em busca da divindade a que tanto esquecemos e somos.

Demócrito, filósofo, dizia que a felicidade se reduzia a medida do prazer e a proporção da vida... Ou melhor, estar sempre longe das paixões, do que é relativamente passageiro, até mesmo da ilusões e alcançar a “serenidade”.

Para Sócrates, a felicidade não era apenas a busca na satisfação física, dos desejos, mas principalmente da alma. E tudo isso poderia ser alcançado em atos virtuosos e condutas justas. Para o mestre de Platão, era melhor sofrer uma injustiça do que praticá-la. Por isso, se diz que Sócrates, apesar das condenações que sofrera, morrera feliz.

Platão, ainda, depois da morte do mestre, compreendera, tempos depois, e tentou nos resumir, em sua filosofia, que a felicidade do olho é ver, do ouvido é ouvir, e da alma é ser virtuosa e justa, de modo que, exercendo a virtude e justiça, obtém-se a felicidade...

Aqui, nas entrelinhas, podemos encontrar a Ética (ethos), que era a parte prática da Moral (mores), que funcionava como teoria e prática na filosofia grega. Nela, a Ética não se fechava em negócios, em partidos, mas dentro de um universo – de repente o Estado – o qual se encarregaria de fazer os homens bons e felizes. Mas também dentro de um mundo ideal que abarcava uma realidade tão perto e tão distante do homem.

Contudo, o assunto ficou mais relativo, simples, terreno em um dos discípulos de Platão, o qual o foi um dos melhores deste, mas que, por não ter a experiência iniciática do mestre, resvalou-se em conceitos físicos, contradizendo alguns dos conceitos que Platão racionalizava em seus clássicos.

Aristóteles, de volta à terra.

Aristóteles, em “Ética a Nicômaco” – a seu filho –, dizia que Platão tinha se esquecido dos conceitos básicos, como a boa saúde, a liberdade, e uma boa situação socioeconômica para alguém ser feliz. Ao passo que, no limiar de sua filosofia, dizia também que a felicidade da mente era a filosofia, a qual nos aproxima da divindade...

Vai além. Aristóteles diz que a política é a extensão da ética. E que o Estado, em primeiro plano, teria que se preocupar com a felicidade do indivíduo...

Infelizmente, Aristóteles “organizou” de seu modo a felicidade. Não que estivesse errado, mas deixou de refletir acerca do que poderia ter sido o tema quando seu mestre Platão o dispusera, mas, mesmo assim, esqueceu-se de ligar vários pontos, pois seu mestre falava de uma felicidade maior, mais ampla, eterna, arquetípica... Ideal.


E para terminar, ficamos com Epicuro, criador do Epicurismo, após a formação do helenismo três anos depois do avanço de Alexandre na Europa. Dizia Epicuro “A felicidade deve ser um prazer duradouro”. Não um prazer relacionado aos desejos, mas a parte que o homem tem direito como ser que busca, além das próprias medidas, seus objetivos.

Falava Epicuro da felicidade como um todo. E que o homem a teria dentro de suas possibilidades um pouco dos seus raios, se a buscasse com prazer, com amor.

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