Quando alguém se refere a uma
pessoa com má intensão, com certeza, é para ofendê-la e deixa-la pensativa ao
que ela detesta pensar que seja. O objetivo da ofensa é esse, ofender. Porém, a
depender de quem a recebe, pode ser um ganho... Como assim? Se ainda não tenho
a certeza de que não sou aquilo de que me chamam... Nada melhor do que esperar
para ver nas horas mais turbulentas...
As ofensas, de pessoas para
pessoa, serão sempre de níveis diferentes. Muitas levam em consideração fatores
externos, como a pele, o corpo, alguns defeitos – psicológicos, físicos;
outros, como sabem, procuram defeitos no próximo, ainda que aqueles possuam
muito mais que qualquer um.
Na realidade, é um joguete que
nos faz repensar o que somos e o que não somos. Exemplo disso é ao nos chamar
de carecas, quando nossos cabelos começam a cair... (eu disse ‘começam!’), e
iniciamos um pensamento decadente em relação à nossa pessoa, simplesmente por
que alguém nos chamou pelo que não somos ainda. E se fôssemos?
Será que minha estrutura
biológica, física, interna, meus valores que colho, meus princípios, minhas
experiências que colhi... Enfim, tudo isso pode ser rotulado de “careca?”...
Acredito que não. Será que careca não seria apenas minha cabeça? Acho que sim.
Baseando-me nessa premissa,
gostaria de levar pessoas a repensarem seus conflitos internos quando são
ofendidas, seja de negro, branquelo, problemático, careca, marginal... De
coisas que geralmente representam um plano de nosso físico, e não de nossas
personalidades. A questão, no entanto, é quando levamos todos nossos valores ao
que somos como pele... E isso nos faz defensor daquilo que não somos.
Se temos orgulho de nossa pele, é
maravilhoso, mas levá-la a fazer parte de nossas estruturas internas, legado,
princípios, religião, seja o branco ou o negro, é meio perigoso, porque nos faz
defensor do que não somos... E sim defensor do que nossas peles o são.
O que não somos
Não somos nossas peles, não somos
nossos cabelos, não somos nossas ideias, não somos nossos pensamentos, não
somos nossos andados, nossos carros, nossa casa, nossos filhos, nossas mães...
Digo isso em razão de estarmos motivados a nos educar, desde tenra idade, ao
que podemos ser, mas nunca ao que realmente somos.
A prova disso é quando
morremos... Alguém sempre vai dizer.., “ele foi um grande pai”, outros vão
dizer, “ela foi uma pessoa que sempre pensou nos filhos”, mais alguns... “Aqui,
morreu um homem que nunca fez mal a ninguém...”, e assim por diante...
Desde que me conheço por gente,
nunca, após um enterro, ouvi pessoas dizer... “Lá se foi o careca”, “Aquele
cara tinha uma pele muito escura”, ou “poxa, como aquele cara era branco,
chegando ser rosado!”...
É nessa hora que elementos
internos de uma pessoa são ressaltados, pois o que realmente vale é o que ela
faz, não o que a pele, o andado, a careca, o corpo dela são. Como eu disse, são
simplesmente joguetes para provocar reações e nos fazer repensar o que somos...
Sei que estou sendo simplista,
mas há provas de que tudo que possuímos serve como referencial para conflitar
ou mesmo tirar proveito do próximo. No entanto, a prática, na maioria das
vezes, e isso serve para movimentos racistas, anti isso, anti aquilo, que
sempre levantam bandeiras com finalidades separatistas, assim com vários movimentos
o fazem até hoje, enfim, a prática revela o lado mais claro do que podemos ser.
Casos há em que pessoas percebem
que tudo não passa de patologia, que ao longo dos séculos, foi tomando conta de
suas culturas, ou mesmo em suas simples vidas, quando um individuo salva a vida
de alguém que se ama tanto, ou mesmo a vida daquele que passou seu primeiro e
segundo graus, fazendo comentários jocosos, discriminadores, preconceituosos em
sua juventude...
O primeiro pensamento é... “poxa,
como vou agradecê-lo?”... “que pessoa maravilhosa, e eu não sabia!”... “O que
faço para me desculpar...”... A partir daí, vem o aperto de mão, o abraço,
diálogos, pequenos coisas que fazem desaparecer o que há muito se defendia como
ser humano, mas que, ao deparar com elementos mais humanos ainda, constata-se:
eram inconscientes enraizados em minha personalidade que sempre acreditou em
valores errôneos, e que devem ser vigiados, pois podem voltar a partir de
pequenas falhas... Mas quem não erra?
O que somos.
Somos assim, mais que isso. Mais
que tudo que dizem e, o mais importante, o que acreditamos ser, no sentido
físico, estrutural, comportamental e psicológico da questão. Somos, como diria
o sábio, o mistério mais belo do universo, e por ele devemos viver...
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