terça-feira, 10 de setembro de 2013

Traição. A Negação de Si Mesmo.



A Traição sempre se recolhe ao seu dono.


A história diz que devemos ter sempre cuidado com os traidores, ou seja, com aqueles que entregam nossos planos a outrem, de modo a nos prejudicar, sem que percebamos. E quando o fazemos, já é tarde. O traidor já se fez. Não adianta, no entanto, mesmo que seja de nossa confiança, como a um irmão biológico, ou mesmo em partido, religião... haverá sempre  o sentimento que permeia naquele que busca se aperfeiçoar à nossas custas, ou melhor, tentar ser alguém e não conseguindo inicia um processo movido por inveja, interesse... E, quando o alvo somos nós, perdemos o que temos, inclusive a liberdade.


Há alguns exemplos na história que resume um pouco do que digo...  E para iniciar, precisamos entender que a traição é uma necessidade da história, assim como a do traidor.

Mozart, o músico.

Uma vida intensa de luta


No Livro de Christian Jaq, sobre Mozart, relatando a estreita ligação dele com maçonaria, o autor nos coloca um diálogo entre o discípulo Mozart e seu mestre Thamos, o egípcio. Este, após a iniciação do músico nos mistério sagrados, e observando a maneira com a qual tinha encarado todas as formas simbólicas da Loja, sentira-se satisfeito com o pupilo. Assim, pelo amor que o havia colocado naquele dia como Companheiro, um dos graus maçônicos, viu que o talentoso músico poderia ir mais além; não por isso, entretanto, deixou de dizer que em toda história da humanidade há sempre traidores, e que tomasse cuidado...

E como todo traidor é movido, na maioria das vezes, pela inveja, Mozart foi alvo de Geytrand, um franco-maçom que desistira de sê-lo por motivos de ascensão de outros e não a dele. E movido pela psicologia da traição, o ex-maçom, agora voltado a ajudar a polícia de Viena, depois de arquitetar planos contra os mestres maçons, agora dava detalhes dos passos do músico, que só crescia, em nome do Arquiteto Maior, ao lado de uma minoria que levava a sério os trabalhos dos mestres.

No entanto, a simplicidade, a dedicação ao ideal maçom fez com que o grande músico, mesmo sabendo que estava exposto, não tivesse medo de um dia ser pego nas malhas das autoridades que iam de encontro ao seu trabalho, apenas pelo fato de seguir uma ordem.

Mozart se endividou, fora injustiçado, teve seu nome jogado na lama, mas, aos poucos, graças ao dedicado trabalho ao sagrado, iniciou seu processo de ascensão, levando Geytrand, o traidor invejoso, a cumprir a tarefa final de encontrar um plano, juntamente com outros invejosos, agora maçons, de desaparecimento do músico...

Mozart sentiu na pele todas as forças do mal, no entanto, pelo que acreditava, jamais deixava de compor suas músicas. Contra a polícia, contra governos, contra membros da própria ordem, o músico só via o céu. Ninguém poderia cessar seu ímpeto idealístico, assim como muitos heróis no passado o fizeram em nome de algo maior do que ele mesmo.

O grande músico passou por situações em que poderia até mesmo sair de imediato do mal que o assolava, mas não poderia trair seu grande ideal, que significava compreender o grande Deus, e transpassá-lo em forma de música, a todos, inclusive, aos invejosos. Mozart sabia que sua música seria eterna, pois havia simbolismos carregados de uma tradição que jamais seria esquecida. Não um esquecimento racional, mas intuitivo, em que todos, de modo interno, sentiriam, em sua música, algo que os levasse ao passado, ou mesmo à origem de si mesmos, a nossa origem humana.

E Bordas de Fígaro, Don Giovani e a Flauta Mágica foram trabalhos, entre tantos, que nos elevam do inicio ao fim, como se fôssemos anjos eternos, e que tivéssemos tomado essa consciência no minuto em que as escutamos.

Não adiantou muito – e nem adianta – traidores como Geytrand tomarem providências às avessas contra heróis cuja vida significa uma busca desenfreada à verdade, ao mistério, a Deus, pois estes heróis, após sua morte, tornam-se mais fortes, e suas ideologias maiores ainda.

E Mozart, na música, foi um deles.

E outro grande herói que nos levou a repensar nossos atos, agora frente à liberdade foi...

Willian Wallace, o guerreiro

Um coração valente


Há muito quando a Escócia era colônia da Inglaterra, e reis decretavam a prima noctia, a primeira noite com a mulher do camponês, surgia um grande herói, Willian Wallace. Filho de guerreiros da resistência, Wallace reanimou os espíritos frios de liberdade em uma nação colonizada, quase morta, pelas humilhações a que passou.

Mas como toda história tem um traidor... Wallace fora morto, depois de ter sido preso por um homem que se jugava correto, e ao mesmo tempo em dúvida quanto ao poder de consecução do guerreiro.  

Um dos filhos das terras nobres, a que tinham direito aqueles que possuíam descendência escocesa, sob o jugo da Inglaterra, tinha ficado amigo de Wallace, até seu admirador; contudo, mesmo o conhecendo e, ainda, depois de várias batalhas ganhas pelo herói, o nobre filho da Escócia, na última batalha, encarregado de levar todas as suas tropas, aceitara do rei Lord Shang terras infindáveis como forma de suborno...

Willian, durante a batalha, ao saber que seu “amigo”  não viria, dera tudo de si, mas não fora o suficiente. Naquele instante, no meio da batalha, aparecera um cavalheiro armado da cabeça aos pés somente para lidar com o herói... E não intimidado pelo reflexo, partiu para cima do blindado e, em lances medievais, os dois se chocam, deixando apenas o pobre Willian no chão...

E no chão, com um olhar amargurado, pôde perceber, depois de retirada a máscara, que seu amigo nobre era o mesmo quem lhe dera esperanças antes da batalha. Esperança essa que se ia também nos olhos do cavalheiro blindado, que, depois de ver o herói ensanguentado nas pedras, sentiu uma profunda da dor pelo que fizera. A traição tinha perdido sentido...

Mais tarde, em seu castelo, o nobre, depois de ter-se reconciliado com Wallace, o chamou para fazer as pazes, e quem sabe voltar a planejar novas batalhas. No entanto, mal sabia ele que seus soldados não mais acreditavam em Willian, e que somente esperavam sua presença para deter aquele que um dia queria ver seu país livre.

No coração de Wallace, assim como o dos grandes heróis, batia uma nova esperança, a de que faria as pazes com o nobre, e ao mesmo tempo sabia que iria para mais uma cilada que poderia, dessa vez, ser o seu fim.

Willian Wallace, um dos maiores guerreiros da Escócia, um dos maiores responsáveis pela luta por sua liberdade, lutou contra tudo e todos, porém a vida, como sempre, nos apresenta traidores de diversas linhagens, as quais nos impressionam ainda depois de muito tempo.

A liberdade da Escócia, assim, como a de hoje, em qualquer país, terá sempre a mesma face. Os heróis, no entanto, mudam de cara, e na maioria das vezes, com a mesma esperança do passado, ou seja, de ser um país independente, longe de culturas que vêm  apenas para massacrar, distorcer e deixar o país colonizado em ruinas. Assim como o foi o Brasil para Portugal...

E por falar em Portugal...

Tiradentes...


A ideia de liberdade do povo foi válida


Fora o único dos inconfidentes a ser julgado e morto. Depois de ter sido enforcado, seus pedaços foram distribuídos em vários lugares do Brasil Colônia, à época, comandado por Portugal.

Joaquim José da Silva Xavier, em meio à crise colonial, na qual o colonizador não tinha forças para governar, apenas destratar os cidadãos, iniciara um processo de conluio contra donos do país, após entender que o Brasil poderia conseguir sua liberdade conscientizando o povo miserável da inércia pela qual estava passando.

Em reuniões com seus companheiros, Tiradentes, assim conhecido, não sabia que entre eles, havia Joaquim Silvério dos Reis, que, ao saber dos planos perfeitos do líder, relatava-os ao colonizador.

Muitos dizem que tais planos se resumiam em sair às ruas, e com todo alarde, dizer ao povo que estavam sob o jugo de um governo espúrio, que queria somente sugar todas as possibilidades de crescimento ou desencadeamento psicológico! Será que Tiradentes leu a República de Platão??

Claro que não. Ele apenas tinha poucos argumentos na manga, e um deles era quase que suicida (ou fora), pois a maioria, se desse certo tudo que havia planejado, não compreenderia, não ouviria, estranharia e, quem sabe, o esquartejaria...

Na essência, sua ideia de liberdade era bela. Contudo, não poderia tê-la colocado em prática da maneira como planejava. Mesmo que tivesse tido com todos os intelectuais da época, mesmo que as estratégias fossem poucas... Ele teria que ter obtido alguns amigos da corte portuguesa com a finalidade de facilitar-lhe a execução do plano, que já nascera morto.

Tinha, ainda, que ter um pequeno efetivo de pessoas capazes de ir à luta armada, ou não. Dessas, algumas que fossem mais ousadas no sentido de exterminar todas as possibilidades de crescimento tático e prático do exército do inimigo... Contudo, como eu disse, o bebê já nascera morto... ou enforcado antes do tempo...

Mas não seria o único, pois temos mais um traidor que pode ter morrido enforcado...

Judas Escariote, da Galileia

Se fosse hoje, haveria um julgamento..


Após Cristo se reunir pela última vez com seus discípulos, Judas se despedira de todos para armar uma cilada contra o rabino. Assim, o discípulo de Cristo, já perdido entre o que fazer ou não, fora até as tropas romanas e teria dito onde Jesus estava. Depois de receber seu dinheiro, Judas teria se arrependido após o tratamento dado a Cristo. Mas de nada adiantou...

Segundo alguns, Judas teria traído Jesus pelo dinheiro, e outros, porque ele, Judas, acreditava não somente nos “poderes” de Jesus, como também na possibilidade de mudança radical que poderiam fazer, como, quando fosse preso, poderia livrar-se dos soldados como a um super-herói, quebrando, batendo, e, mais tarde, livrando seu povo do jugo do Império.

Depois séculos, sabemos que a mudança que Cristo nos faz é tão misteriosa e ao mesmo tempo tão forte, que nenhum super-herói poderia fazê-lo ou mesmo sê-lo. A pergunta que se faz é... Será que Judas realmente queria trair Cristo? Pois, indo e vindo, caminhado com Salvador dos Cristãos, em sua empreitada para a mudança interna, quem o trairia para somente satisfazer-se financeiramente?... E se fosse para saber se tinha ou não “superpoderes”, será que todos aqueles dias não eram suficientes para saber se o mestre dos mestres tinha apenas um meio, um caminho, uma arma para a mudança humana? Etc, etc...

Alguns autores já lançaram livros relatando a vida de Judas, e neles, depois de pesquisas profundas acerca da Bíblia e dos achados, dizem que o ex-discípulo de Cristo não fora nenhum traidor. Pelo contrário. Segundo eles, o traidor teria sido um dos melhores amigos do rei dos judeus.

Enfim... Mais uma vez, caímos em uma daquelas modificações feitas na história, em que elegeram um traidor para esconder algo ou simplesmente copiaram para continuar um contexto incompreensível das escrituras. Ou será que tudo foi simbólico?

Princípios

Depois de anos, pensamos nos traidores, odiando-os, subjugando-os, os vendo com os piores dos olhares, fico a refletir acerca dos princípios nossos de cada dia: como são traídos! E mais, por nós!

Passamos nossa vida quase toda trabalhando em tijolos fortes, em ideias firmes, em experiências únicas, para um dia... Trairmos tudo que somos. Por quê? Uns dizem que somos feitos de carne e osso, outros que somos fracos, mais alguns que até mesmo Cristo não fora perfeito, então nós...

As desculpas se tornam maiores quando erramos por causas simples, mas quando somos obrigados a enfrentar a nós mesmos, como se fôssemos o rato sem saída do laboratório, dizemos que princípios são para mafiosos, estes cuja paciência se resume em “mate-o”, e pronto, nos traz admiração e ao mesmo tempo medo.

Porque se somos pessoas de bem, qual o motivo de trairmos nossos princípios como se fossem crianças? A resposta é que não acreditando que, traindo nossos princípios estamos traindo a humanidade, nos faz mais confortáveis.

E a partir dai, com desculpas religiosas, políticas e familiares, construímos princípios nos quais se pode tudo, até trair a si mesmo.

A negação de Pedro


Simbolismo da negação do que somos.


Nas Escrituras, podemos ter uma prova disso, quando Cristo, antes de ser preso, disse “E tu me negarás três vezes antes de o galo cantar duas, Pedro”, e o fora. Na hora maldita, mesmo não acreditando, Pedro olhara para si mesmo, e vendo seu mestre sendo levado pelos soldados, não acreditara que o teatro estava se formando até que um soldado lhe pergunta, “Você não é um daqueles que acompanhavam o nazareno?”... E eis que o discípulo responde.. “Não, não sou. O senhor está enganado”.. E assim Pedro negara mais vezes, antes que o galo cantasse...

Aqui, na realidade, existe um simbolismo no qual, em diversas tradições, podemos observar, que é a traição de si mesmo, ainda que seja a relação de homem com o seu Eu, quando ele está entre a matéria – podendo ser os problemas diários, seus desejos e paixões, seu amor passageiro... enfim, quando o próprio homem, ao passar por tantas experiências em que ele é o protagonista, e coloca a matéria frente ao que ele supostamente acredita no sentido espiritual... A matéria vence.

E dessa forma caminhamos, porém, de maneira crítica com relação aos passos do outro, mas não observamos os nossos...

Essa é a pior das traições.



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