Ontem, um construtor eu vi. Vi na
poeira lírica de uma cidade que nascia a todo preço, inclusive ao seu. Vi em
seus olhos um horizonte nascer, uma família crescer, máquinas sem fantasias elevar bacias, emborcar outras. Nele, nesse inigualável ser, vi a ignorância e
sabedoria juntas, no entender de tudo, no desprezar do belo, do justo, do real.
Ao passo, nesse homem, nascia a união de verdades que jamais nasceriam um dia
em alguém... Filhos poderosos, unidos pelo riso, pela paz, e graças a sua
companheira, ao amor.
E desse construtor, dos seus
olhos, saiu um homem, não sábio, grande e forte, sorridente, menino. Amigo,
irmão, humano, amável, sem virtudes, contudo. Minto. Havia uma virtude. Sua
família. Dedicado, sério, professor, doador, filósofo paterno. E com ela, o
hoje e ontem se fundem em belezas morenas e brancas, em rochas e batalhas
vencidas.
E não menos que uma dama, antes
desses dois homens, nasceu. Rosto cansado, mão enrugadas, pele fina como folhas
velhas. Seriedade, verdade, amor eram os lemas desse ser, que um dia nascera e
morrera, e se fora como poeira em desertos cuja ventania era parceira. Além do
sorriso que nos alimentava a alma, suas palavras se revelavam o combustível de
quem a conhecesse...
E a tríade se
formou novamente no céu
.
Árvore da Vida
Assim a vida é, como folhas que,
junto ao fruto, nascem e crescem, amadurecem, ainda que verdes, se tornam
velhas, e belas, experientes, respeitadas, e caem ao chão em nome de uma
natureza que pede outra em seu lugar.
Assim é a vida. Uma árvore imensa
– representada de cabeça para baixo, no passado – a simbolizar a raiz que viera
do céu, e seus galhos, frutos, folhas, a cair em uma terra à espera de suas
sementes.
E nessa grande Vida, quando tais
sementes caem na grande terra, embebecidos pelo amor divino, começam a germinar
em seu colo nossos pequenos passos, até crescermos e amadurecermos – como frutos
terrenos – e quem sabe dessa experiência retirar o que o amor divino pediu.
Vida.
E quando a Noite Vem
Na noite, quando olhamos ao céu,
estrelas tomam conta de nossos olhos, e nestes uma vontade de chorar e
acreditar em lendas passadas, nas quais diziam que morremos e viramos pontos
luminosos, a tomar conta dos homens, ou mesmo daqueles que amamos.
Como eu queria acreditar que
morrer nada mais é que uma experiência que não podemos contar (ou podemos?);
acreditar que é apenas um intervalo de vida, dentro da própria vida, em nome de
um descanso merecido, ao passo sem consciência – pelo menos esta que nos faz
sentir a dor de uma partida.
Dizem, no entanto, pelo menos “os
que vêm da morte”, o que Lázaro teria dito ao vir da suposta morte, quando
Cristo o ressuscitou, era verdade... “Não senti nada. Era como se nada estivesse
mudado”... Mas outros, no entanto, teriam falado de possíveis anjos, os quais,
em forma de borboletas, o levaram para lugares além-consciência, e que, por
essa razão, voltaram melhores e sem medo da Grande Partida.
Tradição
Não sei, é preciso que tenhamos
mais exemplos, mais opiniões acerca do que está lá, por trás das cortinas
misteriosas do grande Criador. Não podemos, no entanto, viver (em ou) de
opiniões, mas de pessoas que um dia, no passado, pelo fato de respeitarem a
tradição divina, ocultaram ou transformaram em mitos explicações que um dia
poderiam ter sido dadas como hoje o fazem...
Os romanos, os campos Elísios; os
Egípcios, o eterno Chacal a nos preparar para o grande julgamento frente aos
deuses e assim por diante.
Mas não o fizeram talvez por
isso, quer dizer, pelo fato de tudo cair no desacreditar humano, pelo fato de
homens respeitados, de caráter elevado, quase que espirituais, em um único dia
de sua vida, cometer um grave erro, seja ele qual for, e ter sua filosofia de
vida sem qualquer credibilidade do dia para a noite...
O passado, suas organizações,
seus homens souberam lidar com isso, com a fraqueza humana, com suas tendências
ao mal, e sua luta pelo cimo da sabedoria, o qual, até então, pouquíssimos souberam
subir, e muitos menos o fizeram pelo fato de serem tão humildes quanto puros, e
graças a esse estado de pureza, nunca serão esquecidos.
Sonhos
E quando observo o ontem, e vejo
que dele nada aprendi, tento não chorar por dentro. Difícil. É como se um
diário longo passasse por nossos olhos, mente e alma, na tentativa de nos
ensinar (naquele instante eterno) o que nunca entenderemos como filhos da nada
que somos.
E ao observar, por meio de meus
olhos internos, o que não posso por eles ver, parece-me que tudo se esvai, até
mesmo a esperança (esse mal eterno da humanidade, segundo dizia Nietsche) que
me faz sangrar em seu nome somente para me sentir bem, aqui dentro, e dormir
como anjo, acordar como menino e voar como um pássaro experiente por cima das
árvores, que um dia fui.
Á tríade
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