Banquete: esperemos sermos servidos. |
Como imediatistas que somos, esperamos sempre que as
divindades, ou divindade, nos acudam (que verbo bom!) nas horas mais difíceis,
e em tempo hábil. Por quê? Um dia um grande comediante disse, “criamos a época
da velocidade, e nos sentimos perdidos dentro dela”. É uma frase marcante ao
nosso tempo, tão preso às necessidades do homem.
Mas há outra que diz, e essa é de um pseudo-filósofo da
época de Platão, Protágoras, “O homem é medida de todas as coisas”... E o
mestre, discípulo de Sócrates, rechaça tal afirmação de modo elegante... “Deus
é a Medida de todas as coisas”.
Mas voltando ao imediatismo, podemos dizer que cada época
teve sua organização em torno de tudo que seria (e é básico) à sociedade, no
entanto, a grande Revolução Industrial, na época em que a Inglaterra era
soberana do mundo, fez-nos ultrapassar nossas expectativas em relação ao ter e
não ter. Motivo: foi dada a partida para a tecnologia.
Mais fábricas se abriram, mais empregos surgiram, mais
circulação de dinheiro, e por fim, o bem-estar financeiro (financeiro, repito)
nas mãos das grandes empresários, apoiados por elites, governos, criando uma
tendência pra lá de capitalista ao mundo.
A razão de nosso imediatismo talvez tenha surgido nesse
momento. Carros, televisões, rádios, telefones, tudo em seu compasso tornou a
sociedade tão presa inversamente aos seus ideais que foram obrigados a acelerar no quesito
tecnologia, pois, a partir dali, o homem não conseguia dar um passo sem o
comodismo dos avanços.
Controle Remoto
Claro que, se nos remetermos a épocas mais distantes,
podemos chegar aos grandes imperadores romanos, os quais, também tinham seu
conforto, comodismo, enquanto outros romanos, soldados centuriões, partiam para
a batalha.
Porém, atualmente, em relação a esses homens do passado, ao
seu comodismo, somos reis. Uma prova disso é o controle remoto, que, por trazer
quase todas as funções da televisão, ou do aparelho de som, também, de um tempo
para cá, resume o que somos... Modernos, preguiçosos, enclausurados, sempre a
espera de um novo controle que guie nossas vidas, enquanto ficamos presos a um
sofá ou cama, sem questionamentos acerca do que éramos antes dessa pequena
ferramenta tecnológica.
O imediatismo nos tomou as pernas, os braços, e, se não
formos conscientes disso, até de nossas inteligências. Mas o que é a
consciência, quando já estamos quase que enforcados por nossas vontades
relativas, miradas ao corpo, à personalidade, que se enfeitiça por tudo que
significa conforto?
O controle remoto, em épocas passadas, não serviria, pois
éramos mais garridos em tudo, inclusive no construir de estruturas, as quais,
desde o tempo de Alexandre, o grande, algumas sobrevivem, e nos faz pensar o
porquê que, por mais modernos que somos, em meio a ferramentas mais pesadas e
complexas, com homens mais voltados a artifícios mais arquitetônicos possíveis,
não conseguimos construir pirâmides como no passado, pontes, casas, viadutos, aquedutos,
poucas provas, por assim dizer, que nos relevam quanto somos sem uma filosofia básica,
ou mesmo uma modernidade que poderia trazer um pouco do passado, com vistas a
fazer sempre o melhor não só para os humanos, mas para os deuses do tempo.
Banquete do filósofo.
Se fosse somente a preguiça que nos guiasse em torno dessas questões imediatistas...
Mas não. A loucura de querer que estejamos com a absoluta razão, além da resolução
em tempo recorde te tudo que esperamos, é uma falta grave. Temos que esperar
sempre a nossa hora, o nosso momento.
“Façamos da vida um banquete, no qual há pessoas se servindo
do bom e do melhor. Não adianta ficarmos loucos com o garçom que os serve,
pois, mais cedo ou mais tarde, ele vem te servir. E quando chegar essa hora,
tenhamos calma e paciência, e servimos somente o que podemos, o que queremos,
mesmo assim em pouca quantidade...” – Em uma tradução mais ou menos para o
nosso tempo, parafraseio Epiteto, estoico, que sempre esperava que todas as
coisas porque passamos tinham sua ida e volta.
A verdade é que, mesmo e apesar de tudo, não esperamos, e
tentamos ir atrás do que acreditamos ser nosso por direito. E quando o fazemos
esquecemos o Tempo, que sempre dita as regras de nossas consecuções, da
disciplina para com ele.
E por termos nos lambuzado fora de nosso tempo, ficamos a
observar as pessoas mais simples e felizes por serem harmônicas com o pouco que
têm. Enquanto nós, “mais inteligentes”, ficamos a ver navios, a chorar nossas
perdas.
O Filósofo
O filósofo espera, é disciplinado, é paciente. Enquanto todos
se digladiam em torno da mesa (mundo, sociedade, família...) com reações vistas
como naturais acerca de tudo, o filósofo espera, dentro de seus princípios, a
sua vez. Vez esta que para ele nada mais é que uma consecução de sua busca pela
verdade.
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