sexta-feira, 28 de março de 2014

Em Nome do Pai, em Nome de Todos.


Antes de nascermos, temos um nome.




É natural darmos nome às situações, aos momentos, e até mesmo às pessoas quando não sabemos nomear. O que nos vem à cabeça é apenas uma transfiguração, uma metáfora, ou seja, o que não conseguimos dar o nome, inventamos pela aparência, pela semelhança. Mas não podemos deixar isso seguir em nossos destinos como algo cotidiano, pois tudo, de algum modo, vem com o seu nome.

Dizem até que nosso nome, o real, está escondido em algum lugar dentro de nós. Mas não por isso vamos recorrer às metáforas, aos apelidos, às circunstâncias para nomear, rotular e, na maioria das vezes, esquecer que aquele indivíduo tem nome.

Nossa meta é entender, nas entrelinhas, a razão de tudo, até mesmo das coisas mais simples, como se fôssemos crianças à procura de brinquedos em uma grande caixa, também cheia de brinquedos. Contudo, ainda que tenhamos tal caixa em nossas possibilidades, sempre preferimos outro brinquedo, de outra caixa.

O nome da pessoa, o de batismo, para ela é tão importante quanto qualquer coisa, porque a iniciou no mundo, a revelou para as pessoas, e a fez única. Ainda que haja nomes idênticos, ela vai ser sempre a guardiã de seu nome, e isso devemos respeitar; não inventar, ou transformá-la naquilo que um dia achamos que ele é.

É incontestável. Mas é natural. Cansamos de assistir a invasões em favelas, e com policiais trazendo lideres de quadrilhas armadas, pelo nome e depois pelo que o chamavam naquele local. Isso acontece até conosco: pessoas há que, até mesmo nas horas mais formais, nas circunstâncias mais confusas, nos chamam pelo apelido, pelo vulgo.

E aceitamos. No entanto, podemos, assim, esquecermos de valorizar o que somos, pelo nome. Devemos sempre, nas horas que nos sobram, entender que aquele nome, em meio a vários que poderiam ser nossos, apenas um nos foi creditado, e por isso, é nosso.

O cuidado

A questão, mais do que provável, pode cair no lado mal, já que podemos inventar, dar apelidos pelo que a pessoa parece, ou pelo que faz. Ou seja, vamos supor que uma pessoa toma banho e leva horas para terminar. Já nos vem em mente uma série de nomes, menos o dele, daquela pessoa que insiste em ficar na banheira, sem se importar com os outros.

Outro: se há pessoas que vemos em bares, sorridentes, tomando sua cerveja, com ou sem seus amigos, com um ar meio desiquilibrado nas palavras, nas pernas, ao se levantar, damos logo o nome de bêbado, alcóolatra, enfim, o nomeamos sem refletir acerca de sua vida diária, sem saber se era ou não uma pessoa com tendências à bebida. Por isso o perigo do nomear sem saber.

É preciso dizer, nessas horas, que aquele homem está bebendo em demasia, e que pode, mais cedo ou mais tarde, ter problemas. Não se nomeia as pessoas como rei que não somos, pois podemos cair em armadilhas tais quais essas, quando nós mesmo estivermos em estados além-graça, apenas em nome de passar de tempo.

Antigo Egito

No antigo Egito, na época das pirâmides, havia o grande iniciado, o mestre que designaria o seu nome, não qualquer um como hoje, sem significados, sem homenagens, mas um que o faria parte de um universo do qual, mesmo se mais tarde o candidato à iniciação desistisse, ficaria com ele pelo resto dos dias. E isso ocorre em certas religiões atualmente...

Na grande pirâmide, homem deixava de ser o homem-do-mundo e se tornaria o homem-do-céu, o qual idealizaria apenas algo, e esse algo seria somente por meio do seu nome que o iniciado saberia. O mestre via no discípulo suas pretensões internas, e mais, via o próprio Indivíduo, o ser indivisível.

Paulo

Na Bíblia cristã, Paulo, o discípulo, que um dia fora carrasco dos cristãos, se deparou com uma luz muito forte, mais que a nossa luz externa, quando um dia procurava Jesus, em suas possibilidades. E o encontrou...

Na Época, Paulo chamava-se Saulo, e Cristo, ao aparecer diante do general dantes romano, disse “Saulo, por que me procuras?”. Fora tão forte a luz que, segundo a história, Saulo caíra de seu cavalo. “A partir de agora, seu nome vai ser Paulo”...

Saulo não se tornou apenas Paulo, como também um dos melhores discípulos de Cristo, pois trabalhara em várias frentes, e buscara, até, informações junto a escolas de sabedoria para a fundação do ministério cristão.

Mitos

A história é feita de mitos, dentro dos quais apreciamos apenas a bela teoria das potencialidades que tentam nos dizer algo, ou mesmo esconder o que precisamos. Os mistérios. E na história de Paulo e Cristo, de algum modo, tivemos um pouco de mitologia, misturada a história. Claro que muitas coisas foram modicadas com o tempo, mas a realidade é que Saulo, dentro da história, somos nós, meio confusos, mas sem deixar de ir atrás de nossos ideais. E Cristo, ao dizer “Saulo, por que me procuras?”, estaria representando aquela parte que subjaz em cada um de nós, sem a escutarmos.

Todos ouvem um Cristo – aqui, o Cristo dos cristão, mas a parte que nos ilumina, ou como diria o budhi, quem vem de buda, ou mesmo ser – lá onde o pensamento não alcança, e que apenas o coração, em momentos mais religados ao Todo, ou um Cristo, como disse, a nos traçar caminhos, ainda que sejamos frágeis em nossos corpos, em nossa mente, em busca de nós mesmos.

O nome a que Cristo se refere é o Eu verdadeiro, ou como diria nas antigas sabedorias o Atman indiano, o Nows platônico, o Espírito Santo dos cristãos. 

Antes de procurar o nosso real nome, porém, devemos respeitar o nosso de cada dia.

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