Antes de nascermos, temos um nome. |
É natural darmos nome às
situações, aos momentos, e até mesmo às pessoas quando não sabemos nomear. O
que nos vem à cabeça é apenas uma transfiguração, uma metáfora, ou seja, o que
não conseguimos dar o nome, inventamos pela aparência, pela semelhança. Mas não
podemos deixar isso seguir em nossos destinos como algo cotidiano, pois tudo,
de algum modo, vem com o seu nome.
Dizem até que nosso nome, o real, está escondido em algum
lugar dentro de nós. Mas não por isso vamos recorrer às metáforas, aos
apelidos, às circunstâncias para nomear, rotular e, na maioria das vezes,
esquecer que aquele indivíduo tem nome.
Nossa meta é entender, nas entrelinhas, a razão de tudo, até
mesmo das coisas mais simples, como se fôssemos crianças à procura de
brinquedos em uma grande caixa, também cheia de brinquedos. Contudo, ainda que
tenhamos tal caixa em nossas possibilidades, sempre preferimos outro brinquedo,
de outra caixa.
O nome da pessoa, o de batismo, para ela é tão importante
quanto qualquer coisa, porque a iniciou no mundo, a revelou para as pessoas, e
a fez única. Ainda que haja nomes idênticos, ela vai ser sempre a guardiã de
seu nome, e isso devemos respeitar; não inventar, ou transformá-la naquilo que
um dia achamos que ele é.
É incontestável. Mas é natural. Cansamos de assistir a
invasões em favelas, e com policiais trazendo lideres de quadrilhas armadas,
pelo nome e depois pelo que o chamavam naquele local. Isso acontece até
conosco: pessoas há que, até mesmo nas horas mais formais, nas circunstâncias
mais confusas, nos chamam pelo apelido, pelo vulgo.
E aceitamos. No entanto, podemos, assim, esquecermos de
valorizar o que somos, pelo nome. Devemos sempre, nas horas que nos sobram,
entender que aquele nome, em meio a vários que poderiam ser nossos, apenas um
nos foi creditado, e por isso, é nosso.
O cuidado
A questão, mais do que provável, pode cair no lado mal, já
que podemos inventar, dar apelidos pelo que a pessoa parece, ou pelo que faz. Ou
seja, vamos supor que uma pessoa toma banho e leva horas para terminar. Já nos
vem em mente uma série de nomes, menos o dele, daquela pessoa que insiste em
ficar na banheira, sem se importar com os outros.
Outro: se há pessoas que vemos em bares, sorridentes,
tomando sua cerveja, com ou sem seus amigos, com um ar meio desiquilibrado nas
palavras, nas pernas, ao se levantar, damos logo o nome de bêbado, alcóolatra,
enfim, o nomeamos sem refletir acerca de sua vida diária, sem saber se era ou
não uma pessoa com tendências à bebida. Por isso o perigo do nomear sem saber.
É preciso dizer, nessas horas, que aquele homem está bebendo
em demasia, e que pode, mais cedo ou mais tarde, ter problemas. Não se nomeia
as pessoas como rei que não somos, pois podemos cair em armadilhas tais quais
essas, quando nós mesmo estivermos em estados além-graça, apenas em nome de
passar de tempo.
Antigo Egito
No antigo Egito, na época das pirâmides, havia o grande
iniciado, o mestre que designaria o seu nome, não qualquer um como hoje, sem
significados, sem homenagens, mas um que o faria parte de um universo do qual,
mesmo se mais tarde o candidato à iniciação desistisse, ficaria com ele pelo
resto dos dias. E isso ocorre em certas religiões atualmente...
Na grande pirâmide, homem deixava de ser o homem-do-mundo e
se tornaria o homem-do-céu, o qual idealizaria apenas algo, e esse algo seria
somente por meio do seu nome que o iniciado saberia. O mestre via no discípulo
suas pretensões internas, e mais, via o próprio Indivíduo, o ser indivisível.
Paulo
Na Bíblia cristã, Paulo, o discípulo, que um dia fora carrasco
dos cristãos, se deparou com uma luz muito forte, mais que a nossa luz externa,
quando um dia procurava Jesus, em suas possibilidades. E o encontrou...
Na Época, Paulo chamava-se Saulo, e Cristo, ao aparecer
diante do general dantes romano, disse “Saulo, por que me procuras?”. Fora tão
forte a luz que, segundo a história, Saulo caíra de seu cavalo. “A partir de
agora, seu nome vai ser Paulo”...
Saulo não se tornou apenas Paulo, como também um dos
melhores discípulos de Cristo, pois trabalhara em várias frentes, e buscara,
até, informações junto a escolas de sabedoria para a fundação do ministério
cristão.
Mitos
A história é feita de mitos, dentro dos quais apreciamos
apenas a bela teoria das potencialidades que tentam nos dizer algo, ou mesmo
esconder o que precisamos. Os mistérios. E na história de Paulo e Cristo, de
algum modo, tivemos um pouco de mitologia, misturada a história. Claro que
muitas coisas foram modicadas com o tempo, mas a realidade é que Saulo, dentro
da história, somos nós, meio confusos, mas sem deixar de ir atrás de nossos
ideais. E Cristo, ao dizer “Saulo, por que me procuras?”, estaria representando
aquela parte que subjaz em cada um de nós, sem a escutarmos.
Todos ouvem um Cristo – aqui, o Cristo dos cristão, mas a
parte que nos ilumina, ou como diria o budhi, quem vem de buda, ou mesmo ser –
lá onde o pensamento não alcança, e que apenas o coração, em momentos mais
religados ao Todo, ou um Cristo, como disse, a nos traçar caminhos, ainda que
sejamos frágeis em nossos corpos, em nossa mente, em busca de nós mesmos.
O nome a que Cristo se refere é o Eu verdadeiro, ou como
diria nas antigas sabedorias o Atman indiano, o Nows platônico, o Espírito
Santo dos cristãos.
Antes de procurar o nosso real nome, porém, devemos respeitar o nosso de cada dia.
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