quinta-feira, 6 de março de 2014

Desenterrando a Ética

Ética eterna, homens idem.




Quando falamos em ética, moral e virtude como valores de uma sociedade, não estamos nos referindo a novos valores, ou qualquer um que permeia em algum lugar, em alguma cultura, sociedade, país... Não. Estamos a nos referir a eternos modelos de vida baseados em premissas antigas, tão antigas quanto o homem.  E será sempre assim, até o fim dos dias, dos tempos.

Por quê? É preciso que haja uma estrutura muito mais forte do que aquelas que citamos em nossos partidos, em nossa família, sociedade e ao mesmo tempo trazê-los à tona nesses contextos, se não iniciaremos, com nossos prismas, envaidecidos, novas formas de éticas as quais traduzirão nossas dores de cabeças. Temos que traduzir o eterno.

Assim eram os faraós, quando embebidos de sua religião, tentavam, harmonicamente, levar a Ética (com e maiúsculo) a todas as atividades que lhe eram inerentes. Prova disso é que sempre perguntavam ao seu ministro da Reserva acerca do Nilo, o rio sagrado que cheio significava fartura, colheita, sonhos; ao contrário, seca, sacrifício. E por ser o chefe Maior, fazia questão de manter harmônico o relacionamento com os países vizinhos, os quais, na maioria das vezes, o tinham como rei absoluto.

O faraó, talvez, seja o símbolo maior da concretização de uma ética que há muito não se vê ou se fala no mundo, porque não  se relativizava, ou se individualizava, e sim abrangia uma humanidade, baseando-se num todo.  Dizia-se homem-deus não por acaso, pois nenhum homem, a não ser ele, traduzia ou fazia-se de elo entre os deuses e sua terra, seu povo, e conseguia manter por tanto tempo uma ética de respeito seja com aqueles que o amavam ou o desrespeitavam.

Assim, iniciaram-se, a partir desse modelo, outros exemplos, em outras civilizações, nas quais um efeito celeste percebia-se, mas não sabíamos como e por quê. Tanto que, quando citamos vários filósofos gregos, podemos dizer que a maioria teve formação (por meio de iniciações) egípcia, em templos nos quais somente aquele que um dia por ele passou sabe que nada sabe...

Sócrates não teve essa sorte, mas fora tão especial quanto qualquer um; mas Platão, Anaxágoras, Anaxímenes, Plotino, Tales de Mileto entre outros puderam beliscar o que normalmente, no Egito, era uma realidade palpável. E desses grandes, podemos dizer, vieram escolas que um dia fizeram soprar ventos clássicos em nossa literatura, transformando, um pouco, nossas irrisórias vidas.

E dessa literatura, podemos dizer o quanto estamos atrasados em termos de ética, moral, virtudes, pois, se analisarmos, todos os grandes filósofos não foram apenas filósofos, foram homens que tentaram mudar sua sociedade, como o grande Platão em sua caverna mitológica, sem falar nos grandes mitos gregos, os quais nos revelam o quanto somos propícios a problemas e, ao mesmo tempo, com nossas ferramentas, podemos resolvê-los sem quebrar a hegemonia humana, ou seja, sem nos transformar em bestas-feras.

Mas a tradução desses grandes mitos, que se revelam a cada dia mais modernos, nos parece mais livres, o que não poderia. Não podemos mexer na literatura antiga com vistas a mudanças baseadas em nossos valores, mas deixá-la, com suas vertentes, com seu brilho, com suas chaves, de modo a nos ensinar, aos poucos,  que somos realmente ignorantes e temos uma eternidade para aprender o que negamos todos os dias.

O Enterro da Ética

Dentro de tudo que nos foi passado, o que nos resta nada mais é que traduzir em práticas o que é uma Ética (teoria), uma Moral (prática). Sim, e é o que venho, desde a formação desse site, conduzir a todos, e a mim mesmo, claro, a práticas individuais clássicas, dentro das quais podemos intuir o que é bom e o que é mal em nossos caminhos, pois a ética relativa, baseada em premissas (mais uma vez falando) eternas, pode nos conduzir a uma consciência maior, em que a sabedoria (ou pelo menos a sombra dela) pode nos guiar pelo resto de nossos dias.

Sei quanto é difícil. E pude perceber, nesse fim de semana, que estamos em escalas anormais quando tratamos de comportamentos éticos mesmo com todas as nossas boas intenções em relação a pessoas, lugares, circunstâncias; ou seja, estamos longe do foco ou iniciando uma abertura ao frio modernismo acelerado, sem saber. O que quer dizer que estamos sendo levados a atos voluntários desproporcionais ao que somos: humanos.

Foi assim...

Meu cunhado teve seu irmão morto por uma doença que há muito leva a todos, sem questionar. É o câncer. Depois de ter sofrido em um leito de hospital por muitas semanas, descansou. Em seu funeral, a família (quase) inteira pôde fazer parte. E, por ser uma grande família, muitos aproveitaram para tirar fotografias... Até aí, tudo bem, mas, como todos sabemos, estamos em uma época em que pensamos mais em nós mesmos, mais em sites, mais em dissuasões informativas, mais em tudo, menos na ética do momento... Menos nas pessoas, menos no respeito alheio, e iniciamos nosso processo de vaidosismo intenso.

Em meio a lágrimas, a comunhões, a um culto feito pelo pastor da família; em meio a pessoas que se seguravam pela emoção, e outras não; em meio a um astral doloroso, lá estava o celular, preso às mãos de uma senhora simpática, com um ar serio, fazendo o que seria tudo, menos sério, em um local (cemitério) cuja natureza “seria” de respeito, paz e sacralidade... Mirando a família como uma câmara de fotografar.
A senhora, como um ato normal e ao mesmo tempo frio e antiético (em todos os sentidos), focalizava, como uma garotinha que vai postar no face sua foto, a mirar e fotografar os familiares, unidos em torno do morto...

“Eu vejo hoje, amanhã eu sei”, disse Tutancâmon.

E quando vi tamanha discrepância do ocorrido com o ato lúdico (é o que me pareceu), sai do círculo e fui refletir nas imediações da capela. “Que triste!”. Pensei.  De tudo porque havia passado até ali, até mesmo as mortes mais hediondas, os atos mais criminosos que tenho notícia, achei que aquele fora a última gota d'água do mundo.

Entretanto, estava sendo radical e ao passo infantil, pois estamos em um mundo vil, do qual não se pode tirar muita coisa, a não ser o sumo de uma sabedoria que nos aventa pela literatura Oriental e Ocidental, com intuito de nos fazer rebelar com tais atos, que nos causam repulsa.


Haverá outros atos tão piores quanto, mas seguiremos no rastro dos mestres, sempre com um ideal debaixo do braço, de cabeça erguida, felizes, e se Deus quiser coerentes.

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