Ética eterna, homens idem. |
Quando falamos em ética, moral e
virtude como valores de uma sociedade, não estamos nos referindo a novos
valores, ou qualquer um que permeia em algum lugar, em alguma cultura,
sociedade, país... Não. Estamos a nos referir a eternos modelos de vida baseados
em premissas antigas, tão antigas quanto o homem. E será sempre assim, até o fim dos dias, dos
tempos.
Por quê? É preciso que haja uma
estrutura muito mais forte do que aquelas que citamos em nossos partidos, em
nossa família, sociedade e ao mesmo tempo trazê-los à tona nesses contextos, se
não iniciaremos, com nossos prismas, envaidecidos, novas formas de éticas as
quais traduzirão nossas dores de cabeças. Temos que traduzir o eterno.
Assim eram os faraós, quando
embebidos de sua religião, tentavam, harmonicamente, levar a Ética (com e maiúsculo)
a todas as atividades que lhe eram inerentes. Prova disso é que sempre
perguntavam ao seu ministro da Reserva acerca do Nilo, o rio sagrado que cheio
significava fartura, colheita, sonhos; ao contrário, seca, sacrifício. E por
ser o chefe Maior, fazia questão de manter harmônico o relacionamento com os
países vizinhos, os quais, na maioria das vezes, o tinham como rei absoluto.
O faraó, talvez, seja o símbolo maior
da concretização de uma ética que há muito não se vê ou se fala no mundo,
porque não se relativizava, ou se individualizava, e sim abrangia uma humanidade,
baseando-se num todo. Dizia-se
homem-deus não por acaso, pois nenhum homem, a não ser ele, traduzia ou
fazia-se de elo entre os deuses e sua terra, seu povo, e conseguia manter por
tanto tempo uma ética de respeito seja com aqueles que o amavam ou o desrespeitavam.
Assim, iniciaram-se, a partir
desse modelo, outros exemplos, em outras civilizações, nas quais um efeito
celeste percebia-se, mas não sabíamos como e por quê. Tanto que, quando citamos
vários filósofos gregos, podemos dizer que a maioria teve formação (por meio de
iniciações) egípcia, em templos nos quais somente aquele que um dia por ele
passou sabe que nada sabe...
Sócrates não teve essa sorte, mas
fora tão especial quanto qualquer um; mas Platão, Anaxágoras, Anaxímenes,
Plotino, Tales de Mileto entre outros puderam beliscar o que normalmente, no
Egito, era uma realidade palpável. E desses grandes, podemos dizer, vieram
escolas que um dia fizeram soprar ventos clássicos em nossa literatura,
transformando, um pouco, nossas irrisórias vidas.
E dessa literatura, podemos dizer
o quanto estamos atrasados em termos de ética, moral, virtudes, pois, se
analisarmos, todos os grandes filósofos não foram apenas filósofos, foram
homens que tentaram mudar sua sociedade, como o grande Platão em sua caverna
mitológica, sem falar nos grandes mitos gregos, os quais nos revelam o quanto
somos propícios a problemas e, ao mesmo tempo, com nossas ferramentas, podemos
resolvê-los sem quebrar a hegemonia humana, ou seja, sem nos transformar em bestas-feras.
Mas a tradução desses grandes
mitos, que se revelam a cada dia mais modernos, nos parece mais livres, o que
não poderia. Não podemos mexer na literatura antiga com vistas a mudanças baseadas
em nossos valores, mas deixá-la, com suas vertentes, com seu brilho, com suas
chaves, de modo a nos ensinar, aos poucos,
que somos realmente ignorantes e temos uma eternidade para aprender o
que negamos todos os dias.
O Enterro da Ética
Dentro de tudo que nos foi
passado, o que nos resta nada mais é que traduzir em práticas o que é uma Ética (teoria), uma Moral (prática). Sim, e é o que
venho, desde a formação desse site, conduzir a todos, e a mim mesmo, claro, a
práticas individuais clássicas, dentro das quais podemos intuir o que é bom e o
que é mal em nossos caminhos, pois a ética relativa, baseada em premissas (mais
uma vez falando) eternas, pode nos conduzir a uma consciência maior, em que a
sabedoria (ou pelo menos a sombra dela) pode nos guiar pelo resto de nossos
dias.
Sei quanto é difícil. E pude perceber, nesse fim de semana, que estamos em escalas anormais quando tratamos de comportamentos éticos mesmo com todas as nossas boas intenções em relação a pessoas, lugares, circunstâncias; ou seja, estamos longe do foco ou iniciando uma abertura ao frio modernismo acelerado, sem saber. O que quer dizer que estamos sendo levados a atos voluntários desproporcionais ao que somos: humanos.
Foi assim...
Meu cunhado teve seu irmão morto
por uma doença que há muito leva a todos, sem questionar. É o câncer. Depois de
ter sofrido em um leito de hospital por muitas semanas, descansou. Em seu
funeral, a família (quase) inteira pôde fazer parte. E, por ser uma grande
família, muitos aproveitaram para tirar fotografias... Até aí, tudo bem, mas,
como todos sabemos, estamos em uma época em que pensamos mais em nós mesmos, mais
em sites, mais em dissuasões informativas, mais em tudo, menos na ética do
momento... Menos nas pessoas, menos no respeito alheio, e iniciamos nosso
processo de vaidosismo intenso.
Em meio a lágrimas, a comunhões,
a um culto feito pelo pastor da família; em meio a pessoas que se seguravam
pela emoção, e outras não; em meio a um astral doloroso, lá estava o celular,
preso às mãos de uma senhora simpática, com um ar serio, fazendo o que seria
tudo, menos sério, em um local (cemitério) cuja natureza “seria” de respeito,
paz e sacralidade... Mirando a família
como uma câmara de fotografar.
A senhora, como um ato normal e
ao mesmo tempo frio e antiético (em todos os sentidos), focalizava, como uma
garotinha que vai postar no face sua foto, a mirar e fotografar os familiares, unidos em torno do morto...
“Eu vejo hoje, amanhã eu sei”,
disse Tutancâmon.
E quando vi tamanha discrepância
do ocorrido com o ato lúdico (é o que me pareceu), sai do círculo e fui
refletir nas imediações da capela. “Que triste!”. Pensei. De tudo porque havia passado até ali, até
mesmo as mortes mais hediondas, os atos mais criminosos que tenho notícia,
achei que aquele fora a última gota d'água do mundo.
Entretanto, estava sendo radical
e ao passo infantil, pois estamos em um mundo vil, do qual não se pode tirar
muita coisa, a não ser o sumo de uma sabedoria que nos aventa pela literatura
Oriental e Ocidental, com intuito de nos fazer rebelar com tais atos, que nos
causam repulsa.
Haverá outros atos tão piores
quanto, mas seguiremos no rastro dos mestres, sempre com um ideal debaixo do
braço, de cabeça erguida, felizes, e se Deus quiser coerentes.
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