Viver, uma Arte.
Aceitar os desafios, ir em frente. Não voltar atrás. |
Em “A Pedra da Luz”, de Cristian Jaq, egiptólogo, ao contar
a história de um filho de agricultor que consegue se iniciar nos mistérios
sagrados egípcios, percebemos o quanto o autor salienta a vontade do próprio eu,
da vontade interior acima de qualquer circunstância em realizar-se. Seu nome
Paneb.
Em meio a uma família pobre que precisava muito de sua ajuda
nos campos, Paneb sente a necessidade intrínseca de desenvolver seus talentos
manuais, não como agricultor, mas desenhista. E dos bons. Ao conversar com seu
pai sobre “seguir seu talento”, vira que suas dificuldades ali se iniciavam,
pois seu velho era totalmente contra um talento que não seria útil em casa.
Porém, determinado que era, saiu de casa (expulso pelo pai)
para realizar seus sonhos de ser artista das paredes dos templos de Ramsés II,
nos quais muitos ali já se sobressaiam, realizavam e se identificavam como
artistas, não como escravos, pois estavam ali não trabalhavam apenas com a
mente, ou coração, mas por uma vocação. E foi.
Hoje em dia, saber do que somos capazes está cada vez mais
difícil, mesmo porque estamos em um sistema que o que realmente valoriza é o
dinheiro. O Capitalismo. No entanto, em meio a essa cortina de ferro, podemos
dizer que há pessoas que conseguem concatenar seu talento vocacional e sendo
bem remunerado. Contudo, a prova maior disso vem quando falta o segundo
elemento. O dinheiro.
Temos que alimentar a prole, claro. Ter nosso abrigo, pagar
nossas contas, mesmo que nossos talentos sejam tão claros quanto pedras em água
límpida. Contudo, sabemos que, mesmo que haja uma grande necessidade em nossas
vidas, percebemos que o que realmente fala mais alto – dentro de nossas almas –
é a vocação, pois nos locomovemos com esse motor divino, o qual nos faz acordar
em plena madrugada e nos questionar a respeito de nós mesmos, e sentir que,
seja qual for o momento, seremos úteis ao todo, não somente a nós mesmos.
Então, não adianta nascer com talento para roubos ou assassinatos,
pois isso é vicio de um tempo que corrompeu o próprio homem. As reais vocações
devem ser direcionadas ao sagrado, ou seja, ao Bem, ao Justo e ao Verdadeiro –
a Deus, por assim dizer.
Fazer não por fazer...
Nesses dias, vimos o quanto precisamos entender essa
questão. No Rio de Janeiro, cidade do Carnaval, garis, logo após a festa dos
foliões que deixaram lixos por toda a cidade, estrategicamente, entraram em
greve. E podemos ver o que o Carnaval traz consigo quando os responsáveis pela
limpeza não fazem seu trabalho. Montanhas de lixo!
Um gari, na realidade, por vocação, sentir-se-ia mal ao
saber que as ruas pelas quais passam os indivíduos, e, mais que isso, não
entraria em greve tão facilmente, pois seu mundo, o de realizar o Bem, o Justo
estaria em jogo. Ou seja, aqui, teríamos um gari de princípios ou sei lá o que
entenderem, mas resolver-se-ia de outro modo a questão, menos deixar-se levar
por um sentimento fútil de ter...
Mas, em um mundo em que até mesmo os advogados e juízes das
mais altas cortes se sentem prejudicados financeiramente, um gari, se não
fizesse o que fez, não o seria, e sim um ser desavisado, desinformado ou mesmo
um mestre fora de seu tempo. Por isso, a necessidade da greve...
Mesmo assim, com seus salários em dia, agora, entendem o
quanto a necessidade de deixar as ruas limpas era tão importante quanto o que
ganham. Sabem que não são apenas homens que fizeram uma prova para serem garis,
varredores de rua, são mais que isso, são homens que nos deixam orgulhosos pelo
seu trabalho, o qual, feito com dedicação, mesmo sem a extrema necessidade
filosófica, ainda sim, são tão melhores quanto governantes que sujam esse país.
Para os pretensos a filósofos
Saber, em primeiro lugar, do que somos capazes e o que
somos. Em segundo, entender que é preciso desenvolver uma meta, desenvolver
nossos talentos, seja qual for, e nossas atitudes perante ele. Aprender e
crescer é a nossa sina!
Assim como o egípcio, que saiu de casa, expulso pelo pai,
por sentir a necessidade de ir atrás de desafios que o fizesse alimentar a
certeza de sua vocação (seu ideal), devemos sê-lo. Vamos aceita-los como diria
Milton Nascimento, “Como um namoro na frente do portão”, sem medo, dando nossos
passos, um atrás do outro, como “mil passos que se iniciam com o primeiro”.
Todo esse exercício nos fortalece intelecto e moralmente,
mas não nos iludimos, se tentarmos ser o que não somos, vamos atrofiar o
verdadeiro eu, não desenvolvendo nossos potenciais nos quais a desenvoltura
natural é essencial.
O chamado, assim como o de Paneb, deve ser ouvido. Dentro da
Ordem Divina, todos nós somos chamados.
Vamos ouvi-lo.
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