sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

A Embaixada do Frio

A Batalha de Achilles
- III -





... E cambaleando em meus braços como um pequeno bêbado, arrastou seu pé direito no chão, junto com meus olhos consternados e alma refreada, até a suite. Nela, dentro do vaso, colocou a comida para fora, ajeitado fortemente sob meus braços, que seguravam aqueles trinta e poucos quilos de criança. Depois disso, pensei pouco, agi rápido, o questionando sobre seu corpo que não obedecia à situação. Ele não sabia nada, apenas tentava dizer algo, sob a fúria de uma veia que havia estancado dentro de sua cabeça, e nós não sabíamos.

Joguei-o na cama, como um boneco grande. Arrastei-o para a ponta, até que ficasse confortável, peguei meu celular, e loucamente liguei para minha esposa, que tinha ido trabalhar; gritei seu nome, implorei que viesse rápido e que deixasse tudo de mão, porque nosso filho não conseguia andar.

O mais engraçado é que ela queria que eu o vestisse, de qualquer  modo, para ir para o hospital, como se eu tivesse cabeça para tal aventura. Mas acho que foi delírio de mãe, não é possível! E ela chegou. Devia ter demorado uns dez minutos... (a primeira eternidade do dia). Pegou a criança, queria que ela se arrastasse, tentasse andar, falasse o que estava sentindo.... Mas Pedro, com medo do hospital, pairava entre o céu e o inferno, na tentativa de explicar-nos que estava bem,  porém, nada passava tão longe quanto isso. 

Minha esposa ligou para um de seus parentes próximos. Sufocada, chorando, pedia ajuda, pois seu filho estava arrastando-se e não mais andando. Desligou tudo, pegou-o no colo. Conseguimos descer as escadas do segundo andar, para o primeiro. Em minha cabeça pairava um breu de ideias que jamais pensei que houvesse possibilidades de acontecer. Eu não conseguia pensar em nada! 

Na frente da casa, na residência de minha irmã, pedimos auxilio a um dos meus sobrinhos, de vinte e poucos anos, mais forte que nós, o qual, de pronto, colocou Pedro dentro do carro. Lá dentro, meu filho fazia questão de tentar se exibir como menino forte, que estava bem, que tal situação não era tão dramática: seus olhos caídos exprimiam a natureza de alguém que tinha medo de pensar em algo mais forte, ao passo que suas pernas, presas uma a outra, juntas, tentavam se esticar, como prova de que estavam na ativa. Mas não estavam.

Em meia hora, chegamos ao hospital. Minha esposa pegou nosso filho no colo fortemente, deixando que sua sandália caísse na minha frente e depois por mim colhida até a recepção da Urgência. Nem sei que ela disse na entrada, apenas partimos para um consultório no qual havia um médico que, com seus olhos de lince, já avaliara o pequeno príncipe de longe. Mesmo assim, teve tempo de indagar a respeito do que houve, e tempo de ouvir minha esposa dizer que talvez tudo aquilo nada mais era que um medo generalizado que havia se formado na mente de Pedro, propagando-se pelo corpo...

Foi terrível. Nada disso, nem mesmo as dores de cabeça passadas, que um dia uma médica havia confundido com enxaqueca, fizeram o médico mudar sua ideia a priori. Pediu, então, que o colocasse em pé, e nada. Pediu que unisse as mãos, e nada. E assim, a primeira, das centenas de tomografias, foi solicitada...

Pedro foi colocado em sua cadeira provisória de rodas, sentou-se e, levado às pressas pelo doutor, acompanhado por nós, eu e minha esposa de perto, chegamos ao setor de Tomografias. Uma máquina que me parecia uma daquelas de filme de ficção na qual se põe seres de outro planeta para falar de seu planeta natal. Muitas enfermeiras. Minha esposa entrou na sala, eu não. Lá nosso filho foi deitado na máquina, com ar frio em todos os cantos. Um homem ficava nada cabine. E as portas se fecharam. Quando se abriram, minha esposa estava com um colete antirradiação, meio chorosa. O médico apareceu não sei de onde, mas, com um laudo na mão, andava mais depressa do que supus na ida. E quando tive ao lado dele, olhei para ele e perguntei... E ai, doutor, o que é?!... Com os olhos baixos e preocupativos, agora quase correndo, disse "AVC".

Meu mundo se foi.

(Continua)

FELIZ ANO NOVO!!!

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

"Quando se Pensa que se Sabe Tudo, a Natureza Muda as Peguntas"

A Batalha de Achilles
 -- Parte II -- 




Não sei quem disse isso, mas foi o que constatei na realidade a veridicidade dessa máxima. Uma daquelas que nos obriga a refletir assim que nos ocorre, que nos faz pés no chão e mais sábios. Foi essa impressão que tive quando meu filho, de nove anos, sofreu um aneurisma, consequente de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), em outubro último. 

Foi de longe a pior coisa que poderia ter havido em minha vida (ou a de qualquer pai), desde que pensei em ter uma linda família, como a que tenho. Mas mesmo as lindas famílias -- ricas ou pobres -- possuem problemas, possuem maneiras de lidar com suas ferramentas e enfrentá-lo. No meu caso, foi uma das doenças que jamais pensei em ver em criança, principalmente a minha.

De viroses que dão dor de barriga a quedas, de tudo já passamos. A Natureza, como eu havia dito, me enganou. Deu-me um dos mais complexos problemas já trazidos ao homem moderno. A maioria dos pacientes, no AVC, ficam com sequelas, pois, a depender seu teor, atinge a parte direita ou esquerda do cérebro e também a maioria dos órgão externos, como um braço e perna, ou os dois. 

O Terremoto

Do meu filho foram os dois. Vou contar somente o superficial: meu filho estava pronto para deixar a virose que lhe consumia em dores na barriga. Foram dois dias tomando remédios caseiros. No terceiro dia, fomos obrigados a levá-lo ao médico, pois ele não aguentava mais. Ficou, assim, em repouso no próprio hospital, que cedera um pequeno quarto na ala das crianças.

Ficou bom. Fomos para casa. Ficou à base de remédios. Mas uma famigerada segunda-feira nos fez repensar o que somos, o que fizemos, para que viemos ao mundo e o que deixamos de fazer em prol de nossos filhos, e de nós mesmos. O menino de nove anos, que só tira nota dez na escola, que ama a todos em sua volta; que faz questão de ser criança; que ama loucamente seus pais e amigos, naquele dia sentiu uma dor feroz. Sua pequena cabeça doía fortemente e minha esposa acreditou que era enxaqueca, a dor que sempre dá em adultos antigos e em crianças modernas.

Deu-lhe remédios para cessar o mal. Não adiantou. Achávamos que, pelo medicamento dado, acabaria de imediato aquele suplício. Ledo engano. Peguei meu filho, apertei seu corpo contra o meu, pus minhas mãos em sua cabecinha, dizendo palavras de conforto... E nada. Uma coisa, depois disso, que jamais me esquecerei, acontecera: seus olhos viraram contra mim; suas lágrimas cessaram; sua voz, calma, não dizia nada com nada.

Sempre que conto esse episódio, meus olhos e coração se enchem de água. Ele, meu filho, estava tendo um rompimento de veia no lobo temporal do cérebro -- uma Amavi, segundo os médicos -- o qual, também, era responsável pelos movimentos do lado direito de seu corpo. Pedro não conseguiu falar, e quando o levei ao banheiro, a pedido insistente dos seus gestos... suas pernas estavam se arrastando, principalmente o lado afetado -- o direito.


(Desculpem-me, amanhã eu continuo)

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

A Batalha de Achilles




Em meio a dragões que nasceram
Como sóis salientes no espaço,
Minhas dores transpareceram,
Fiquei sem brio. Opaco.
Rajadas de fogo,
Tais quais vulcões do futuro,
Vieram em minha alma,
Tornei-me mais que impuro.
Meu corpo cansado,
Preso ao chão de meu Deus,
Refletia o que havia
Com o pequeno filho meu.
Me aprisionei entre o céu e a terra,
Nos quais em outrora,
Em súbitas horas,
Construí uma quimera do agora.
Não era o fim ou inicio,
Era em mim um rei patrício,
Destronado de seu reino,
Eram reais criaturas,
Nas escuras,
Em músicas obscuras,
Calando-me em meu leito.
Fui destruído, e minha alma, não.
Adestrada pelo espírito em ser forte,
Batalhou rumo ao norte,
E graças à divina sorte,
Venceu,
Elevei-me até os montes de minha janela,
E dela pude contemplar Deus,
Que sorria em pardais ligeiros,
Vestidos de simbólicos guerreiros,
Em nome do filho meu.
Não deixei  que relampejasse...
Nem mesmo chovesse,
Acendi as luzes da casa,
Cantarolei com lágrimas à frente,
Vesti-me como escudeiro,
Apenas para vê-lo sorridente...
O pequeno se levantou,
Partiu para a vida,
Como belo em guaridas,
E se fortaleceu.
Em pequenas iniciações ele renasce,
Se fortalece, cresce, aparece,
Brilha como o sol
E não desvanece.
Seu nome é Achilles,
Guerreiro perfeito,
Pelos deuses eleito

O melhor dos teus.



Feliz Natal!

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Pássaros sem Ninho, o Espaço





Em meio a tanta disfarçartez, tanto em meio político, quanto em nossas vidas religiosas, parto para o princípio de que todos necessitamos rever nossos conceitos acerca não somente de política, como também religião, ética, moral, e por que não dizer corrupção. No entanto, para não dizer que "falei das flores", temos que nos referenciar, primeiramente, num conjunto de normas deixadas pelos homens de bem, que tentaram (mais um vez a dizer) o graal, com vistas a renovar nossos aspectos humanos a torná-los mais humanos possíveis.

Questão essa mais que indigna, pela dificuldade em analisar, refletir, pensar, voltar e iniciar um processo quase que quântico (já no campo da Física), no qual, ao olhar as estrelas, planetas, ponto equidistantes nos quais enredam uma dança cósmica, favorável ao nosso principio de um bom comportamento, não preso ao que se vê, mas ao que se pode entender em matéria de harmonia.

E quando nos referimos a tal substantivo (harmonia), preferimos ser infantis, meros meninos que observam mães e pais a trabalhar em prol ao nosso sustento, os quais mais tarde dizem... "É para o seu bem, filho". Mas o Uno, de alguma forma, trabalha e muito, sem salário, sem pedir, apenas construindo, se renovando, evoluindo... voltando à sua origem, enfim, não como senhores que o fazem pelo filho, mas sabendo que um dia "o eterno guri" vai crescer (e muitos já crescem, mas distorcem a palavra do antigo).

Nessa "labuta" eterna o cosmos se faz, naturalmente, com morte e vida, nascimento e renascimento, enquanto o único dos seres que possui livre arbítrio se digladia consigo mesmo e na maioria das vezes com suas ideias acerca do que é Deus ou Diabo, enfim, numa tentativa arcaica de sobrepujar culpa no próximo imaginário, simbólico, mitológico, e deixar de refletir seus atos, passados e presentes. Por isso, e para isso, em ninhos se perde, quando se volta para si mesmo, mesmo porque não tem estrutura para entender o que ele é.

Muitos dos filósofos antigos nos deram a direção para tanto. Um deles disse "Crie seu próprio mérito. Porque não se pode criar para os outros, não há estrutura para isso". A certeza de criar nosso mérito reside inapropriadamente no comportamento alheio, na recepção ao próximo. O que nos falta, aqui, nada mais é que olhar para cima, olhar para dentro de nós, buscar a Arte por meio de "Um morador" esquecido no terceiro andar de nossos edifícios internos. 

Saber que tal morador é o que somos. Ele é o norteador natural humano, do qual sai nosso melhor comportamento, nossa melhor palavra, nossa real vida. O resto nada mais é que personalidades que ficam como satélites ao nosso redor, tentando explicar o que ela acha que é, e poderia fazê-lo se olhasse para cima e sentisse o poder daquele que a espera.

Criar nosso próprio mérito, antes de mais nada, é olhar para cima, para dentro, em uma reflexão que exige dizer... Quero seguir adiante, mesmo que o "adiante" esteja aqui e agora.




Voltamos

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quarta-feira, 21 de junho de 2017

Pássaros sem Ninho,o Fio Condutor.

continuemos...




Noutro texto, falamos sobre o grande "Fio de Ariádne", do Mito de Teseu e Minotauro, ao qual se referiam os gregos, ao observar a profundidade da problemática humana, que é a tentativa eterna de encontrar meios para resolver seus problemas internos. Mais profundamente, esse mito nos relata -- além de observar os eternos conflitos diários com seu Eu -- e, mais provavelmente, a vontade humana de encontrar o fio condutor para a eterna juventude...

Não a juventude bela, que desfaz compromissos, realidade e finda com a morte prematura em ideais relativos e falhos, não. A juventude a que alude o grande mito é mais uma obra de arte, que se formata no humano quando do seu despertar para o ideal, para o espírito, para si mesmo -- para a parte a que Platão chamaria de Nows no homem. Um pedaço do universo sobrevoando sua consciência e por consequência seus atos, seu caminho.

O Fio da história justifica-se por ser a vida, a passar pelos mais misteriosos poros do mundo, inclusive do próprio ser humano, que, como uma pérola marinha trazida pelos exploradores, é colocada junto a outras, formando um colar. Esse mesmo fio, delicadamente, passa por dentro de nós, a religar-nos com outras pérolas, diferentes, porém, com o mesmo ideal, conhecer-se a si mesmo, dentro do que a natureza a elas legou (ou a nós).

A beleza de encontrar o minotauro, enganá-lo, dissuadi-lo, ou mesmo matá-lo, faz parte de uma prática natural e humana, quando buscamos entender o que somos e nosso papel junto às divindades; quando se percebe que tal busca, ainda que claudicante, às vezes desenfreada, é uma realidade, ou seja, ainda que não a vemos, a sentimos com alma, e nos revitalizamos à medida que enganamos esse eu animal (mino), que, em tradições, se esconde dentro de cada um.

De volta à prática

É prática habitual observar o próximo, de modo a obter opiniões sobre ele; é prática, ainda, nos submeter a temperamentos e comportamentos, baseados em premissas falsas, das quais não podemos aprender nada, mas, ainda sim, batemos na mesma tecla. Se escolhermos nos deter apenas no que podemos mudar -- como escolhas pessoais, opiniões, compras de objetos, sentimentos fúteis, estaremos inclinados a derrotar o mal que nos assola desde o dia em que nascemos.

Por que isso? A felicidade não é uma conjectura, nem mesmo uma aposta abstrata; porém, é preciso que tenhamos em mãos elementos básicos para progredir em direção a ela. O fato de continuar com preocupações vis, pueris, natas de uma família ou sociedade que ama sofrer, seremos apenas mais um em meio a uma multidão que se arrasta pelo vento de um sistema que toca uma flauta enfeitiçando a todos, em nome de tudo que é frio e escuro.

terça-feira, 20 de junho de 2017

Pássaros sem Ninho, o Reflexo

continuemos...






É preciso que tenhamos, antes de tudo, antes mesmo que qualquer avanço em relação aos horizontes, quaisquer que sejam, amor. Sem ele, como diria um velho filósofo, nada vale à pena. Então dentro de nossas premissas anteriores, nas entrelinhas, temos que ressaltar a semântica perfeita que nos levará a sermos um pouco mais humanos. 

Qualquer ato, passo, pensamento, gesto, deve ter a singularidade do amor. Kalil Gibran, filósofo indiano, disse um dia que o vinho que tomamos teria outro gosto se não fosse feito com amor. Assim o é em outras práticas habituais que jamais deixamos para trás quando acordamos e dormimos. Sim. O filósofo deve ter essa magnitude em relação às pessoas e a si mesmo, antes de mais nada, a si mesmo. Mesmo porque tudo se inicia de dentro para fora.

Todavia, quando se inicia a separação do joio e do trigo, dentro de si, de modo a mudar seu relacionamento, seu comportamento pessoal e suas atitudes frente à violência natural da vida, vai se posicionar como um ser tomado de consciência -- como diria uma grande professora, "o roçar entre o espírito e a matéria". Não vai de forma involuntária, sem sentido, tomado por opiniões que desmistificam conceitos e destroem caminhos. Não.

O filósofo, revestido de vontade, em sua tentativa de religar-se com o mundo, com o cosmos, vai tropeçar, vai levantar, mas continuará em sua luta interna e constante quando do dia em que levantou e disse "isso é meu e eu posso mudar; aquilo não é meu, e não posso mudar".

Dentro dessa senda, precisamos entender que o único instrumento capaz de nos auxiliar na busca pela felicidade, verdade, beleza.. É a própria filosofia, o fio de Ariádne.


Voltamos depois.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Pássaros sem Ninho, em Prática.

... continuemos.





"O mestre é você mesmo", já dizia um grande filósofo moderno, com conhecimentos baseados na tradição platônica. A certeza disso nos vem em forma de referencias que visualizamos de dentro para fora, quando nossa gana maior é a verdade, a beleza, amor, harmonia e a eternidade. Ao mesmo quem busca o lado oposto do caminho: miséria, pobreza interna, interesses, vaidosismo, violência em seus níveis mais práticos, seja verbal ou físico; ou seja, há mestres nos dois lados, e podemos dar exemplos cinematográficos, como os jedis (leia-se jedais), os quais tinham mestres em direção à força, enquanto outros, em paralelo, ao lado negro dela.

A força, aquela que sobrevive em nós, é uma faca de dois gumes, e temos que saber lidar com ela em todos os níveis, pois se não soubermos cairemos em devaneio de amor pelo errôneo, pelo mal, pela separatividade, por condutas naturais ao ser humano, porém, que nos distanciam não só do real caminho, mas da estrela que perseguimos como buscadores, que somos.

Entretanto, ao contrário do filme, não precisamos nos ambientar em cidades de ficção ou nos aventurar com inimigos fantásticos com fins de entender ela, essa força, esse dom que nos torna maestros, mestres ou discípulos em alto grau. Não. Aqui e agora, podemos trazer à tona valores de todos os níveis (humanos e não humanos) e tentar distingui-los com o que temos, mais uma vez, referenciados nos mestres passados. 

Para quem se aprofunda nos mistérios, ocultos (exotéricos ou esotéricos), para aquele que olha o passado como os olhos tradicionais, e busca a felicidade, além da própria verdade, sabe que a primeira premissa é... Saber lidar com o que temos na vida. Separar o que podemos mudar daquilo que não podemos. Esse é o primeiro passo. Um pequeno passo que pode diminuir as dores, ao passo fazer com que tenha, dentro da atitude prática, ter a última das dores, a qual fará aquele que separa o "joio do trigo" realmente dentro do campo do conhecimento.

Próximo passo, mais práticas.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Pássaros sem Ninho, a lição.




...Agora pouco, por meio de um site de uma revista semanal, fiquei sabendo sobre um incêndio em Londres, Inglaterra, em um edifício de pelo menos cinquenta andares, dentro qual havia centenas de pessoas na hora do horror. Vamos refletir profundamente acerca da vida e na morte. Unir todas as nossa forças sensoriais e emiti-las àqueles que nasceram de novo -- os sobreviventes, e aos que se foram, mesmo porque estes iniciam, de alguma forma, uma nova jornada.

Voltando ao assunto.

Eu havia falado do Ideal ("I" maiúsculo mesmo, porque se refere ao maior grau humano de possibilidades, o espiritual), que se encontra em borras de café, na natureza de um mapa, na fragilidade de uma cachoeira que cai, da nossa participação involuntária Nele, tais quais um fio de cabelo em meio a vários outros cuja percepção não é imediata, mas faz sentido em seu papel.

E quando os mestres se referem a Ideal, da forma mais infinita possível, e ao mesmo, mais interna, estão se referindo ao próprio, que se manifesta concreta e ocultamente, seja em forma de cachoeira, seja em forma de comportamento humano com vistas à Beleza, ao Bem e à Bondade...seja na problemática existencial entre humanos e humanos, seja na tentativa de estabelecer contato com os mistério do céu e do inferno, os quais norteiam como metáforas frias o eu do homem, em tudo.

Por isso, com essa visão (mais amplificada do que essa, claro), mestres que se foram fisicamente produziram em suas humildes vidas (às vezes, não tão humildes) um legado que se nos direciona ao caminho deles, um caminho sem volta, dentro do qual, por mais difícil que seja em sua jornada, ao pisarmos, ficamos com ele em nossas almas. Essa era a intenção.

Muitos nem entram e nem se arrependem, mesmo porque já sabem que terão que mudar. Terão que dar suas forças mas íntimas, abdicar de valores, encontrar meios internos para resolver questões pequenas e imensas, as quais baterão em suas portas, diariamente. Não adianta, se observarmos com olhos de guerreiros medrosos, jamais faremos nada, nem mesmo daremos passos em direção a nada, e assim darão por nós. As consequências desses passos alheios serão nossas ou dos que farão esse favor por nós?... Difícil questão.

A partir do próximo texto, vamos tentar expor (e enfrentar) alguns tipos de trabalhos práticos em direção ao Ideal, de modo a nos unirmos aos mestres, que, hoje, riem de cima de suas montanhas, com um sorriso fácil, e ao mesmo tempo com lágrimas em seus corações à espera de uma mudança humana em direção ao conhecimento nato, deixado em forma de pistas que somente um buscador, um amante da sabedoria, pode encontrar.

E você, ama a sabedoria? -- Então, não percamos tempo!



terça-feira, 13 de junho de 2017

Pássaros sem Ninho, em sua defesa.






...Não nascemos castrados para nada, nem mesmo para o nosso melhor sonho, o sonho impossível. Não me refiro àquele de conseguir ser, mas simplesmente ser, em aspectos mais filosóficos da palavra. A palavra que nos remete a repensar nossas consequências frente ao que desejamos ser e às causas proporcionadas por isso. É por isso que temos que ser introspectivos, reflexivos após cada dia, cada noite, sempre com vistas a concretizar nosso maior sonho: de nos mudar para melhor, pelo pouco que somos ou pelo muito que recebemos dos deuses.

Muitos se perguntam, como? Há inúmeras saídas (ou devo dizer entradas?) para o renascimento interior. Alguns, com seus já ídolos de infância, ou mesmo seus "avatares" naturais, como aquele pastor que descobriu seus problemas naquela leva de confissões quentes ou aquele padre que se joga em sua vocação distorcida somente para angariar fiéis, com mais confissões, em nome de Deus, enfim... Cada um busca aquilo ou aquele que manipula seus corações (ou alma?), consciente, pela falta de ideal em um mundo que se esvai pela falta deles, de idealistas, no sentido mais espiritual do termo.

Mestres do passado já diziam que somos idealistas, de ideal, no sentido mais arquetípico e interno da palavra, com propósitos naturais. humanos, humanitários, universais, e por isso belos por excelência. Não precisamos entregar nossos problemas ao próximo, ainda que o próximo seja aquele ancião de barba longa, vestimentas brancas e palavras sábias... Nada disso faz o homem conhecedor do mundo, da vida, ou mesmo portador do conhecimento nato... O ideal precisa ser reconhecido em nós mesmos, antes que seja tarde. 

Um dia um grande mestre disse que o ideal pode ser visto na borra de um café, no fundo de um copo, quando resta depois que o tomamos. Podemos vê-lo em um mapa, quando o colocamos de cabeça para baixo, quando a razão pede para voltarmos na sua posição anterior; outros um dia disseram que tudo está em tudo, desde o momento que levantamos, até o momento em que dormimos, aqui, segundo eles, há o religare, a união de tudo... desde as pequenas sombras que não se encontram, ao pensamento concreto que não se vê.

Os únicos complexos somos nós. Esse tal de livre arbítrio em escolher entre o que somos e o que realmente somos nos torna mais complexos ainda -- no entanto, mas humanos.

terça-feira, 6 de junho de 2017

Pássaros Sem Ninho, a volta



Em nome de dois destinos, assim, o homem transita na terra, coligada às grandes terras, à galáxia inteira e ao infinito: a  felicidade e a liberdade. Grandes autores, como Platão, Aristóteles, Sêneca, Plotino, se lançaram como versos em poesia para nos trazer significados tão simples e ao mesmo tempo tão complexos de realizar. O porquê disso, sabemos, nada mais é que nossa ainda mais complexa  personalidade, na qual pairam a vaidade, o egocentrismo, e seus subelementos (hipocrisia, interesse, etc), os quais são tão fortes quanto os elementos que os geram. 

Nosso ideal de felicidade e liberdade, no entanto, se torna um tanto quanto distante quando irrelevamos o refreio desses elementos e subelementos, mesmo porque tudo que nos implica sair de nosso meio no qual está nossa zona de conforto – ainda que relativa --, além de nos desestabilizar fisicamente, emocionalmente e ou psicologicamente, nos faz crer que somos únicos e especiais aquém das estrelas. Chega a ser incoerente ante ao que pretendemos.

Refrear significa parar, não continuar com algo ou alguma coisa; deixar de mão, coisa que a indivíduos tais como Platão, filósofo grego, não era possível, e por isso, pela busca irrefreável à felicidade e à liberdade, se tornou um dos maiores filósofos já citados desde sua época até nossos dias. Não menos do que ele, temos Aristóteles, que fora um tanto quanto mais midiático, relativo, palpável, e por isso mais próximo da ciência, das sociedades, deu passos realmente muito grandes em prol da felicidade e da liberdade ao mundo. Contudo, por ser tão palpável, tão concreto quanto seu mestre, Platão, se tornou obsoleto e esquecível em vários quesitos, e um deles foi a busca pelos ideais semânticos humanos, os quais estavam sempre em pauta na vida do autor de A República.


Após eles, aos tradicionais filósofos referidos, muitos se jogaram na mesma neblina, e viram, por meio de seus símbolos mais modernos, não mais com a profundidade de antes, meios para  a consecução da felicidade e da liberdade. E isso nos foi dado de forma apaixonante por vários modernistas, que, salientando, de acordo com sua visão, nos transpassou o que muitos queriam ouvir ou melhor sentir, que era o poder da libertação (diferente de liberdade aos tradicionais), da renovação, da nova política aos governados (aqui já contaminado por Aristóteles), da nova submissão aos homens de poder, enfim... Uma felicidade e Liberdade tão fora de compasso quanto o próprio homem.


Voltamos depois.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Pássaros sem Ninho

Aos Mestres Passado.





A vida humana nunca ficou tão frágil de um tempo para cá, tentando realizar sonhos, procurando obter por meio de seu esforços o conforto, a paz, a interação, a harmonia, sempre com vistas à felicidade, ao amor, e a tudo que lhe impõe valor. Entretanto, como buscadores desenfreados pelo relativo, se assusta ao perder, aos poucos, o que conseguiu a vida toda. Pudera, unido ao um Sistema que edifica-lhe valores feitos de areia molhada, a sonhos pequenos de grandeza.... Posso dizer, por experiência, que ainda estamos longe de nossos ideais de felicidade, longe de nossos ninhos.

Se olharmos mais à frente, podemos antever o futuro, tão impróspero, tão seco, cheio de máquinas voadoras, armas super eficientes, roupas ultra elegantes,  até mesmo em determinados setores do mundo a fome esquecida... Todavia, se olharmos para nós como uma sala ou mesmo como uma casa que precisa ser mobiliada, veremos um vão imenso, sem nada, com ecos por todos os lados, refletindo nossa imagem, nossa dor invisível.

Por que não temos a tendência em nos mobiliar. Desculpe. Mobilizar, nos mexermos em função desse vão, a tentar preenchê-lo com algo que realmente nos importa, em vez de pensar somente em futuros que se repetem, os quais, por si só, mais tarde, devem ser mudados... transformados... E isso, a depender de quem os comanda. Ou seja, ele, o futuro, não precisa ser cheio de máquinas voadoras, pessoas elegantes, ou mesmo cheio de equipamentos de última geração. Não. Pode ser agora. Hoje. Nesse minuto.

O ontem um dia já foi o agora, e o hoje, de alguma forma, foi o amanhã de muitas gerações! Então o amanhã pode ser hoje. E agora, não temos carros voadores, nem mesmo armas de última geração como em filmes de ficção científica. A fome existe, a miséria nunca foi tão vasta, pessoas inocentes nunca foram tão vítimas, homens nunca se desentenderam tanto, o populismo é a arma dos incautos, e a paz nunca esteve tão longe... Ainda que não tenhamos conflitos em escala mundial.

É preciso que tenhamos referenciais, uma estrela para qual olhar sempre que tenhamos dúvidas quanto ao que devemos fazer quanto ao nosso papel na sociedade, no mundo, no universo. Simplesmente porque estamos dentro de um cosmos imparcial e ao mesmo tempo justo com qualquer ser vivo que nele se encontra..


Voltamos na próxima semana.

Boa Sexta.

terça-feira, 23 de maio de 2017

Silêncio Breve




Quando as folhas farfalham,
na brisa leve do amanhecer,
na ordem das joaninhas livres,
em pétalas cansadas de se embeber,

Um fio laranja aparece,
espantando a sombra da madrugada,
Abre teu sorriso faceiro,
corre o campo trigueiro

No ouvir da Ceres amada.
Corre se abrindo até a prima dama,
derretendo os fios de gelo,
do animal o pelo,

da vida, a esperança.
A grande alma se alevanta,
sua leveza se agiganta,
em nome da matéria bela,

tão singela quanto criança.
Os algodões se foram,
O azul se espraiou,
o prezado ali acorda,

untado à hipocrisia que o gerou.
Lá vem o homem,
e com ele a corrupção,
embriagando a vida,

em nome de tua eterna canção.
Com ele, nasce a morte,
a falta de sorte,
a dor que ao passado carcomia,

Se vão devaneios da ida,
quais féretros mal cheirosos,
se vai a história, e vem a histeria,

A alma de Deus se recolhe,
vem a noite dissaborosa,
contar aos pássaros cansados
que o ninho ainda prosa,

e dizer que esperança há
ainda que não há espera,
na calada infundada
do alvorecer...

Porque a vida é maravilhosa.


sexta-feira, 19 de maio de 2017

Rebelde com Causas

Educação sem prática não existe.



O mundo hoje passa por uma série de violações humanas tanto quanto no passado. E isso me remete a um texto em que fiz um comentário a respeito a dizer que, antes, num passado não muito remoto, em épocas de guerras civis, passávamos por coisas bem piores. Engano meu, Parece-me que, graças a racionalidade e a inteligência humana, estamos superando o passado. Não é nada que possa nos orgulhar. Pelo contrário. 

Em nome de nossas inteligências, de nossas consciências, de nossas descobertas, teríamos que ter aprendido a lidar com os mistérios do materialismos. (O que quero dizer é que) Nunca se falou tanto em interesses políticos voltados a políticos, de guerras em nome de valores aquém-humanos, de genocídios em nome de religiões, de religiões que se perdem em nome da política.

Em outrora, dispensamos tais relatividades, mesmo porque vivíamos em nome de divindades, pelas quais se viam um mundo melhor, ou pelo menos vislumbrávamos. Não tínhamos escolha, ou tínhamos, mas sempre com vistas ao respeito universal, como alunos primários olhando o professor, que sempre, ao abrir seu pronunciamento, nos ensinava tudo da vida -- do respeito ao primeiro ao último ser da terra.

Hoje, precisamos dessa educação, ou pelo menos começar, em formigas, a olhar para nós mesmos e parar de por culpa nos outros, ou mesmo em demônios que criamos. Parar de sustentar a ideia de que Deus vai nos dar, vai nos alimentar, vai cuidar de nós, e que paraísos simbólicos existem com finalidades de nos agradar no pós-morte.

A educação, atualmente, combina-se com um "buraco negro", desses que se alimentam de tudo, mas não se sabe para onde vai a comida. Isto é, apostamos nos pais para nos dar o caráter e nas escolas, universidades, a didática, a informação -- o que não seria de modo algum errôneo --, porém, a questão não se restringe apenas em descobrir onde se está o errado, mas entrar em contato com a prática, determiná-la, pronunciá-la como donas de nossa alma.

Esses dias, fui a uma manifestação que seria contra as mazelas do governo atual, em relação às leis trabalhistas, à Previdência Social, enfim, contra ao que chamo de avião sem comando... Muitos me perguntaram "Por que você está aqui? você ganha bem, ainda que tenha uma Previdência modificada, e sem falar em leis trabalhistas, você não é atingindo!"... 

Antes de sair de casa, antes de colocar minha roupa de "manisfestante", antes até dessa loucura que estão tentando nos empurrar, eu já tinha pensado em um ato como esse, não popular, dentro do que chamam de organização em massa, pensei em me levantar em prol ao grande povo, excluído, romântico, desinformado, o qual nem mesmo sabe o porquê de manifestações, apenas, como diria meu antigo cunhado... "de comida na mesa".

Não queria fazer feio. 
Mesmo em uma ação interessada como essa, me achei o máximo, o salvador, ou a pessoa mais idealista de todas, Claro que sempre nos sentimos assim, após refletir acerca do que somos e podemos fazer em prol de alguém ou de uma coletividade, e isso é bom, Nos dá ânimo para as próximas formas de realizações, pequenas ou grandes, práticas ou não... Entretanto, apenas a prática nos alimenta de esperanças quando levada a fio.

Quando nos formamos na faculdade, parece que somos pequenos deuses realizados no que nos especializamos, e percebo isso em jovens de hoje, nesses senhores do amanhã. os quais sintetizam o que sonhamos ser. Contudo, se olharmos o passado, sábios, filósofos, generais, não eram voltados a uma teoria formatada para adicionarmos à sociedade, mas tinham ideias grandiosas as quais sintetizavam o bem maior da humanidade, não apenas de uma sociedade.

No passado, as chamadas "faculdades" ou escolas iniciáticas -- como as de Platão, Aristóteles, Pitágoras, até mesmo as escolas pré-Socráticas, tinham a teoria forte, levada, cada uma, a uma prática fiel daquele presente, como era o caso das escolas Pitagóricas, nas quais o indivíduo que nela entrasse teria que passar, primeiro, por três etapas, mas a mais importante -- que eu me lembre agora -- é a dos acusmáticos, homens que ficavam calados diariamente, sem abrir a boca o dia inteiro, apenas a ouvir os mestres daquela escola.

É preciso ser assim. Mas sem violações humanas. E quando olhamos o passado, acreditamos que nele houve esse tormento, mas é pura ignorância de nossa parte, mesmo porque a compaixão, naquele momento, só existiria para atrapalhar o caráter do aluno. De caráter eles entendiam tudo.

Hoje, nosso caráter é moldado às profissões, à violência urbana, ao bulyng, ao Deus que nos castiga, ao demônio que nos espreita, ao vizinho que nos observa, ao nada, às contas que não podem atrasar... Ao que mais?... Ao nada que nos massacra ante às informações inúteis e diárias, as quais nos parecem pegas da rua, como um holofote incessante em nome do nada a buscar a mentira em tudo.

A realidade é eterna e a verdade está dentro de nós.

domingo, 14 de maio de 2017

Em Nome de Minha Mãe

Orquídea. A Rosa que a simbolizava.
Homenagem.


QUE saudades tenho daquela senhora querida que não volta mais. Que saudades das risadas, das debochadas leituras, dos sonhos nas alturas, do assobio cintilante, do amor avante, que não volta mais.

Mãe, pensar na senhora tornou-se tão necessário quanto no dia em que te vi pela última vez. Não tem importância, não acredito na morte, mas na continuação desse sonho chamado vida. O que carregamos não vai conosco, apenas a paz que plantamos juntamente com o amor que semeamos. E a senhora deixou e levou todo o amor que tínhamos, e mesmo assim, em nós, volta sempre que pensamos em ti.

Em homenagem à senhora, queria postar esse poema de Casimiro de Abreu, o qual soube transformar em palavras toda essência que a senhora tinha nessa alma enorme, e que por isso chorava quando o lia.


MEUS OITO ANOS


Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !
Como são belos os dias
Do despontar da existência !
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor !
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar !
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar !
Oh ! dias de minha infância !
Oh ! meu céu de primavera !
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã !
Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã !
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberta ao peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis !
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo,
E despertava a cantar !

Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
– Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Enquanto o outro não chega...

Olhar ao céu, perceber o sol. Temos que voltar a ser humanos.


Fica mais fácil  de perceber que o outro possui defeitos, mas isso não nos faz melhores do que ele. É provável que aquele tenha a mesma visão em relação a nós -- mesmo porque ele é humano, tem seus pontos de vista, opiniões, enfim, tentando buscar o que nele não há para que, depois, possa nos jogar na cara o que somos e o que não somos, baseado naquilo que observou em nós... E nós a ele.

É um jogo relativista, dentro do qual nos esquecemos de tudo, ou seja, que possuímos defeitos, problemas, e que, por isso, às vezes, iniciamos conflitos intermináveis. É um show de egoísmos! Entretanto, mais tarde, percebemos que estamos errados e refletimos acerca do que somos, e friamente sentimos a vontade mudar, mas não mudamos, simplesmente porque nossa educação milenar nos fez esperar ajudas externas, como amigos próximos, irmãos, mães, pais, Deus, enfim... Nada que não possa ser censurado, nem inibido, mas é preciso saber se livrar das algemas sozinhos, às vezes.

O medo nos toma.

Mesmo com todas as armas que nos deram, das portas que nos abrem diariamente, temos medo. É natural. Dar passos em direção "ao desconhecido", a nós mesmos, é pisar em terreno tão misterioso quanto à face de um Deus pessoal que tantos querem ver. A fuga, entretanto, não é a melhor escolha, a vontade de culpar o próximo, ou culpar entidades milenares reinventadas somente para receber o lixo psicológico humano, não é válido.Nem mesmo há dois mil anos faziam isso... Pois sabiam que os deuses, não inventados, mas rotulados por uma necessidade cultural, nãos se "metiam" em nossas vidas, e se o faziam, nada mais era que a própria consequência dos atos humanos em forma de ônus se derramando em cabeças que "desobedeciam" as leis universais...

Lei Natural

Nosso mal, o mal real de hoje, se exprime em uma forma totalitária humana em acreditar que o próprio ser que nasce é melhor do que aquele que morre, ou melhor do que o animal que anda de quatro. Melhor do que aquela pedra que cai das montanhas, do que a lei da gravidade, das estrelas, de tudo.

A hipocrisia se revela quando olhamos ao chão folhas caídas sem nossa "autorização", quando nascem estrelas, quando o sol nasce e se põe... Quando abelhas ironizam um ataque "por nada" em nossas cabeças. As leis são inatas, vieram antes de tudo, até mesmo do próprio homem, que tenta recriar um modo de realizar uma estratégia em prol de si mesmo, e ser dono do própria lei.

Assim... Tenta pular dos muros sem se machucar, pular de paraquedas o abrindo a poucos minutos do chão, andar em cordas perto do último andar dos prédios, sem a mínima proteção. O confronto com as leis naturais continua antes mesmo da morte que o comprime da parede. Ele não quer morrer.

A realidade é que nada o desafia, e sim ele o faz. A natureza nos ensina caminhos, nos dá espelhos nos quais possamos nos ver frente a ela, mudar nossos rumos, olhar para trás, consertar os erros, voltar, viver, transformar, ser bom, humano, e andar conforme as leis infinitas.

Jesus disse, "o reino dos céus está aqui, ali, até mesmo debaixo de uma pedra". 

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Em nome das mães



O MENINO QUE BEIJAVA A MÃE

Eben E. Rexforf


Na varanda do sol ela se sentava
Enquanto a rua eu descia
A prata dos cabelos emoldurava
Como um buquê a face macia
E de um jardim logo me lembro
Onde apesar da neve, do frio gelado,
Do clima cortante de novembro
Cresce tardio o lírio perfumado.

Atrás de mim, um passo ecoou
E o som de um risco cortante,
Sabia que o coração onde brotou
Seria meu apoio reconfortante
Nas horas de atribulação;
Esperançoso, forte e valente;
Pode-se contar com esse coração.
Quando não se está contente.

Virei-me ao ouvir o portão
E encontrei seu já másculo olhar;
Esse rosto me dá a mesma emoção
De um livro agradável de folhear;
Mostra um propósito vivo.
Brava e ousada determinação ---
A promessa desse rosto altivo,
Deus permita a realização.

Ele subiu o caminho cantando,
Em boas vindas, mudas como prece,
Vi os olhos da mulher brilhando,
Como a luz do sol os céus aquece.
"Voltei, mãe querida".
Exclamou, e curvou-se para beijar
A face amada, já erguida, 
Para o que outras mães não têm que a esperar.

Basta ter um menino assim ao lado.
Afirmo que é oura verdade ---
Um rapaz pela mãe apaixonado
cresce um herói de qualidade.
Os maiores corações são os que amam.
Desde o início do mundo.
E o menino que a mãe beijava 
É um homem mais profundo.

Até o outro chegar...

Acrópolis:  cidade alta.
Simbolizando o que podemos ser.

"Nunca esperamos modificações a partir de nós mesmos, sempre esperamos pelo outro", já dizia um grande palestrante filósofo com o qual tive o prazer, um dia, de ter aulas. E ele, sempre bem apessoado, com suas vestes simples, simplificava o que se passava em torno do mundo com frases e máximas que normalmente só entende quem o conhece, mas, nesse dia, pareceu-me que queria que todos o ouvisse, e exclamasse sua indignação às pessoas que reclamam diariamente e nos mantém informadas sobre o que é ela mesma... E na maioria das vezes, nós, seres hipócritas, dizemos "me desculpa, não me interessa"...

Claro que nos interessa! A vida alheia, a sociedade, o mundo, o universo, e a depender do local, até mesmo da briguinha do vizinho não nos passa batido.  Porquê? em algum ponto da História, o homem começou a se importar com o externo, no sentido de tentar entender as guerras, a política que não vai e nem nos leva lugar algum. Desse modo, as soluções se tornaram relativas, passageiras, sempre voltando à tona como monstros que mal matamos, e que nos surgem de dentro dos lixos que deixamos acumular.

Se um dia houve uma classe que se importou consigo mesmo no sentido de mudar o mundo, essa classe foi a dos pensadores e filósofos clássicos, dos quais sempre retiramos não apenas máximas, mas exemplos de modificações estruturais a partir daqueles. É o caso de Cristo, Buda, Platão, de Sócrates, e de outros homens, como generais, os quais tiveram a prudência em viver de acordo com os valores humanos.

Por quê? porque nunca acreditaram em céus e infernos, ou em um salvador da pátria que pudesse nos levar às guerras, ou mesmo ao céu físico, metafórico ou não. Ao contrário. Ou melhor, olhavam no espelho da Natureza e sabiam que seus caminhos estavam corretos, graças as respostas que obtinham quando faziam seus questionamentos a si mesmos.

Tais homens tinham suas visões acerca da política, da sociedade e do mundo, sempre distintas um do outro, contudo, assim como retas paralelas, se encontravam no final em ideais. A mudança do mundo a partir do ser humano. Mesmo porque não há outra forma de modificá-lo a não ser por nós mesmos, como se fôssemos células em uma vastidão cósmica harmonizando com o todo.

Esse todo, esse universo, como diria o grande professor, "reside em nós" -- afirmativa que até a própria Ciência copia --, mas sempre nos preocupamos primeiramente com os defeitos dos outros, não com o nosso. E isso gera profundos males como sistemas que elegem burocratas, populistas, ditadores, os quais refletem a imensidão de nossa ignorância em tentar modificar o mundo começando por fora...



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volto depois.


quarta-feira, 3 de maio de 2017

Uma Pedra no Meu Caminho

"Uma Vida sem reflexões não merece ser vivida" (Sócrates)


Entre devaneios de nossa parte, com uma personalidade cambiante, que não se fixa em galho algum, sempre nos perguntamos, "qual caminho escolhemos?". Cheios de dúvidas acerca do universo, das pessoas, do mundo -- principalmente em relação ao rumo que tomam, do nascimento e morte, o que há depois dela, se existe ou não um demo ou um Deus que nos aborreçam com seus princípios, com seus caldeirões ou tronos de ouro, sempre nos questionamos... "Para onde vamos?"... E assim caminhamos.

Os grandes de nosso tempo, que seguem a Filosofia nata do homem de bem, que seguem a Verdade como a nobre flâmula de uma bandeira que subjaz em nós, singularizam parcerias, entre a harmonia, esperança, integração, reflexão, percepção, inteligência, além de conexões com a divindade por meio de nossa singela alma. Por isso, o Caminho.

Entretanto, como nas brincadeiras, visualiza-se mais luzes foscas, não muito brilhantes de uma locomotiva a mil por hora, do que uma simples luz no fim do túnel. Aquela a representar os homens corrompidos, egoístas, interesseiros e materialistas, os quais influenciam gerações em nome de um Deus criado em um relativo templo.

Os templos, como diria Giordano Bruno, são eternos quando vistos na Natureza, onde realmente se pode ver a face divina incriada, dentro da qual mora o próprio ser humano. Neles, contudo, homens e opiniões se sentem perdidos entre ciências e religiões que desmistificam uma realidade que nos foi deixada há tempos, pelos já citados homens do passado, os quais se remexem em seus túmulos, na tentativa de levantarem-se e dizer.. "Parem, o caminho não é esse!".

O que nos cabe, por fim, é voltar ao passado, reconhecer nossos valores, reedificá-los, espalhá-los com cuidado àqueles que querem ouvir, trabalhar com afinco tais princípios junto com aqueles que se mostram formigas do céu, e fazê-los entender que o tesouro humano foi-lhes roubado, mas o mais importante não foi: nossa alma.





segunda-feira, 1 de maio de 2017

Atos Sagrados


Criou-se o dia internacional do trabalho com vistas a dar valor ao homem que trabalha honesta e dignamente. É nobre, é humano e ao mesmo tempo sagrado. E quando digo sagrado, seleciono apenas aqueles que voltam sua mente às coisas que realmente valem à pena serem  feitas em prol de algo Belo, Justo e Necessário. Sem essa premissa, qualquer trabalho é trabalho, assim como açúcar e farinha no mesmo saco. Temos que separar.


Látego  do faraó: simbolo do trabalho interno e externo


Muitos querem que sua "profissão" seja sagrada, ou seja, tenha uma pequena parcela de justiça e beleza, mas não podemos fazer isso com o próprio universo, que seleciona seus profissionais, os quais são dignos de tocá-lo. Deixe-me ser mais coloquial: não se pode ser um mafioso, que trabalha para o submundo, ou mesmo para um bandido que o faz em prol do comando de favelas; não podemos dizer que crianças que são levadas ao trabalho escravo façam para o sagrado uma atividade que alimenta donos de fazenda; além de mulheres que são levadas a trabalhar no exterior como prostitutas...

Não. Se não houver uma pitada de beleza, de justiça e ou ao menos um pouco de humanidade naquilo que se faz, não é sagrado, é profano. Ainda que Deus seja as duas partes, é preciso sempre se voltar ao lado superior da vida -- não  seu lado material  -- e sim espiritual, religando todos os nossos atos com os seres em essência no universo. Fora  isso, não é sagrado.

Se sou um catador de lixo, devo fazê-lo em prol da humanidade, com amor, com dedicação, com fidelidade ao meu ideal, que mora na natureza interna e externa do homem. Não precisa ser um racional, intelectual, um estudante, enfim, apenas a consciência de que a rua deve ser limpa, e que muitos passarão por ali com intuito de ser harmonizarem com a natureza, e o trabalho, que foi feito em prol do outro, simplesmente contribuiu para o bem de todos, inclusive do universo.

Se sou um político, tenho a obrigação de tentar entender a verdade que está por trás dos mistérios, não apenas de um determinado grupo, mas do lugar em que vivo, da própria sociedade, do mundo, sempre com os olhos voltados para cima, para o céu. Se sou político, ao descobrir a realidade da vida, tenho que tentar explicar a todos -- o que seria algo dantesco -- o porquê da necessidade de ver o que está diante de nossos olhos, escondido friamente pelos homens do passado, com interesses em formar sistemas que se desconectam com o humano.

Assim, há como se elevar em profissões que foram transformadas pelo capitalismo, imperialismo e ditaduras humanas, em atos não apenas civilizatórios, humanitários, sociais, e mais, como também em atos sagrados. É só observar ao seu redor e sentir a harmonia entre o que fazemos e a beleza e necessidade.

"Uma faca pode servir para o corte de um alimento, mas também para a morte de uma pessoa", disse um dia um grande professor, baseando-se em Platão e sua República. Ou seja, o que fazemos também tem tudo a ver com nossas pretensões em relação ao crescimento ou ao desmazelamento de uma sociedade, e por isso a escolha é tão importante.

Há aqueles, no entanto, que trabalham por necessidade, para angariar seu pequeno salário mensal, e alimentar sua família. E sabemos que o sistema atual faz nascer seres assim o tempo inteiro, de modo a distanciá-lo do que realmente se é vocacionado, e na maioria das vezes não tem volta, e morremos sem saber se realmente éramos vocacionados a algo que nos religaria a Deus. 

A solução, no entanto, mora em nós, como uma resposta que está quente como larva a espera de ser questionada. Falo da grande possibilidade de o homem em transformar aquilo que faz, vocacionado ou não, como uma uva que aparentemente não nascera para o vinho, porém quando se leva para a fermentação a pequena fruta, o vinho é tão maravilhoso quanto aquele que um dia nasceu de uma que nascera para tanto.

A resposta é fazer tudo com amor, assim como o próprio sol o faz pelos astros ao seu redor. É ter amor ao humano, a si mesmo, e buscar, na medida do possível, ver mistérios em tudo, pois eles adoram ser desvendados à medida de nosso crescimento. 

Um dia um grande amigo me disse que não acreditava em Platão, porque o filósofo disse que na República cada um teria que trabalhar de acordo com sua natureza e necessidade -- dando aqui o conceito de Justiça. Meu nobre colega entendeu que um sapateiro, ainda que na República, teria outros sonhos além de moldar ou consertar sapatos. Então, ser sapateiro eternamente não seria uma realidade viável ao ser humano.

Acho que Platão é eterno exatamente por isso. Deixou um legado a ser discutido pelas mentes mais brilhantes e ao mesmo tempo mais simples, respeitando sempre suas opiniões. Contudo, para entender uma sociedade perfeita é preciso voltar nossos olhos a um sistema que não seja capitalista, democrático, etc. É preciso  fechar os olhos para essa modernidade que educa crianças para serem advogados, juízes, presidentes, sem mesmo perguntar-lhes o que realmente amam. E se lhes respontem... "quero ser professor", se perturbam pelo salário que recebem e com o desrespeito que até hoje sofrem, dentro e fora de sala de aula.

Vocação é um capítulo a ser dado à parte, mesmo porque não é à toa que o sol é sol e nos transfere seu amor desde que nasceu. Se não temos como ser um sol ou se somos e ainda não demonstramos, graças a um sistema que reprime nossas vocações.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

A Razão sem Espaço





Alguns historiadores modernos dizem que os maiores filósofos gregos clássicos, como os pré-socráticos, como Thales de Mileto, Anaxímedes, Anaximandro, além do trio conhecido e reverenciado pelo mundo até então, Sócrates, Platão e Aristóteles, deixaram de mão os mitos e se infiltraram em opiniões tangentes em relação a eles. Ou seja, deixaram que estes respondessem por um época e iniciaram um processo de busca individual, com a finalidade de explicar o mundo, seja biológica, seja espiritualmente...

O mito, aquele que demonstra a luta pelo poder do cosmos, como ilustraram na grande batalha pelo poder do Olimpo, não o faz por meio de ferramentas explicativas, mas pela necessidade cultural de uma época em demonstrar que existem potencialidades sagradas (rotuladas de deuses) na natureza que modificam a estrutura não apenas física do mundo, mas a interna do homem. E os grandes homens do passado se edificaram em cima disso. Tanto que em suas obras, principalmente Platão, tiveram que "explicar" situações nas quais eles estavam inseridos, e que nos servem até hoje, como é o caso do Mito da Caverna.

Por isso, os mesmos historiadores que subjugam a história com seus prismas racionais, devem, antes de mais nada, entender que não se se desliga de algo que, por sua natureza, esconde e ao mesmo tempo revela o que está por trás de uma época.

Outro engano que se dissipa pelos livros modernos é quando dizem que a Filosofia surgiu quando os pensadores pararam de crer nos mitos! Muito estranha essa afirmativa, mesmo porque, mais uma vez a dizer, o mitos sempre o ajudaram em todos os sentidos, ainda que não compreendemos o porquê de sua existência, mas eles, os gregos, os egípcios, romanos e muitos outros povos tão civilizados quantos muitos de hoje, sempre tiveram o mito desde que o homem é homem! 

E quando à Filosofia, podemos dizer que não nasceu ou surgiu quando pararam de dar créditos ao mitos. Muito pelo contrário. Ela é inata, está presa no inconsciente coletivo humano, desde sempre -- antes mesmo de qualquer pensador conhecido. A Filosofia não é somente, como diria Pitágoras, o Amor à Verdade, mas muito mais que isso, ela transcende seu próprio valor quando um ser humano se questiona acerca dele mesmo, da vida e do seu lugar no Universo. Ela, a Filosofia, não se infiltra em vozes racionais apenas com o intuito de ser a líder de massas, ou mesmo como porta voz das artes também racionais, não, sinceramente, não.

Temos ela como um metal forjado pelos deuses para que possamos fundir nossas espadas internas contra o mal que nos assola interna e externamente. É reflexão em favor de mudanças, de buscas corajosas -- de coração --, é o fio de Ariadne, que nos retira, todos os dias, do labirinto do engano. É a retidão pela qual passou Dédalo quando seguiu após a morte de seu filho rebelde Ícaro, que preferiu não seguir seus conselhos.

Se filósofos começaram a racionalizar acerca do mundo, a culpa é do ser humano. Nascemos para isso, embora muitos não o façam, ou muitos são proibidos em fazer,




quinta-feira, 20 de abril de 2017

A Grande Prudência





Ao olhar o céu, penso que somos minúsculos e ao mesmo tempo privilegiados. Minúsculos em tamanho, mas privilegiados em contemplá-lo, em transformar nossas vidas pelo simples olhar em direção ao céu. Há muitos que discordam, mas fico sempre com aquela premissa de que humano não é apenas aquele que cresce e se multiplica, no sentido mais literal da palavra... Mesmo porque animais também se multiplicam.

Ser um pouco mais que estes seres maravilhosos por natureza é a nossa tônica, entretanto, estamos passando ou deixando se passar por uma época em que somos obrigados a observar maravilhas pre-fabricadas pelo homem -- algumas aproveitáveis, outras não -- o que nos faz relativistas, observadores didáticos, não naturais.

Temos que parar e se possível nos ajoelhar ante às grandes construções do passado -- não fabricadas para angariar fundos, ou para suprir a demanda de moradores, mas -- porque foram elevadas com ideais grandiosos, com o sentido mais simbólico, mas hermético, porém sagrado possível. Como as pirâmides egípcias, maias, hindus, além de templos iniciáticos que os cristãos não conseguiram derrubar em razão da própria ignorância em saber o que eram.

Projetos/Ideais

O importante, nesse universo, não é viver basicamente em função de projetos pessoais desligados da condição humana, é transformar cada minuto em ideal espirituais, e sentir nas mãos e nos pés a razão de estar vivo, preso a algo que um dia nascemos para cuidar, descobrir ou construir. Mais ainda, é saber transformar seus projetos pessoais em minúsculos sóis, dos quais retiramos chamas, tais quais larvas vulcânicas, com o fim de irradiar por onde passamos.

Não importa a religião -- essa eterna formadora de caráter --, nem mesmo se somos ou não ateus. Antes de mais nada, precisamos nos localizar, por os pés no chão, e a depender de onde estamos e com que nos encontramos, respirar o ar sagrado do passado, no qual olhares eram voltados ao céu interno, tendo como símbolo o sol, a chuva, as árvores, o fogo, a lua,...E potencializar em ideal. Não existe nada melhor, acreditem. É o mais próximo de Deus que podemos chegar. Mais próximos do mitos, dos grandes homens do passado, de nós mesmos. 

E por falar em Deus...

Já se preocupou em sentir as leis no compasso de tua vida? É fantástico! Encontre um meio de relacionar seus pensamentos com algo que você ama em fazer. Trabalhe-os. Pratique-os. Seja na parte da manhã, da tarde ou da noite, faça-os como se "não houvesse o amanhã", e tudo vai se parecer com um grande dia interminável, e belo, simplesmente porque nos encaixamos na grande lei.

Assim trabalham os astros, os planetas, o próprio átomo invisível, seus elementos, com o intuito de fazer com que a vida seja sempre mais vida, ou seja, que o oceano primordial seja sempre ele mesmo, sem o livre arbítrio que nos é conhecido; a lei permanece em cima e embaixo.

E pelo fato de termos o grande livre arbítrio, esse fogo divino mal canalizado, nos elevamos, ainda que por segundos e transformamos nossas vidas em um grande processo dentro qual buscamos entender o porquê de tudo, e por isso lemos... questionamos... nos apaixonamos... nos viciamos em religiões loucas, subimos montanhas sem saber por quê, caímos em desespero e morremos sem saber nada...

Por isso, a necessidade da grande prudência. Ler os clássicos, buscar os grandes heróis, procurar seu mestre, entender o que é realmente religião, praticá-la, não ter medo de Deus, do homem, de você mesmo, arriscar-se somente de coração em projetos que te engrandecem, viver como um artista que busca a melhor canção, falar somente quando palavras de bom grado querem sair de seu coração, não acreditar em heróis midiáticos, fazer a política real, que é salvar pessoas da ignorância, e fazê-las ver a face do sol, pelo menos alguns instantes e dar-lhes a dúvida, não a certeza profana.

Amém.




A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....