A Batalha de Achilles
- III -
... E cambaleando em meus braços como um pequeno bêbado, arrastou seu pé direito no chão, junto com meus olhos consternados e alma refreada, até a suite. Nela, dentro do vaso, colocou a comida para fora, ajeitado fortemente sob meus braços, que seguravam aqueles trinta e poucos quilos de criança. Depois disso, pensei pouco, agi rápido, o questionando sobre seu corpo que não obedecia à situação. Ele não sabia nada, apenas tentava dizer algo, sob a fúria de uma veia que havia estancado dentro de sua cabeça, e nós não sabíamos.
Joguei-o na cama, como um boneco grande. Arrastei-o para a ponta, até que ficasse confortável, peguei meu celular, e loucamente liguei para minha esposa, que tinha ido trabalhar; gritei seu nome, implorei que viesse rápido e que deixasse tudo de mão, porque nosso filho não conseguia andar.
O mais engraçado é que ela queria que eu o vestisse, de qualquer modo, para ir para o hospital, como se eu tivesse cabeça para tal aventura. Mas acho que foi delírio de mãe, não é possível! E ela chegou. Devia ter demorado uns dez minutos... (a primeira eternidade do dia). Pegou a criança, queria que ela se arrastasse, tentasse andar, falasse o que estava sentindo.... Mas Pedro, com medo do hospital, pairava entre o céu e o inferno, na tentativa de explicar-nos que estava bem, porém, nada passava tão longe quanto isso.
Minha esposa ligou para um de seus parentes próximos. Sufocada, chorando, pedia ajuda, pois seu filho estava arrastando-se e não mais andando. Desligou tudo, pegou-o no colo. Conseguimos descer as escadas do segundo andar, para o primeiro. Em minha cabeça pairava um breu de ideias que jamais pensei que houvesse possibilidades de acontecer. Eu não conseguia pensar em nada!
Na frente da casa, na residência de minha irmã, pedimos auxilio a um dos meus sobrinhos, de vinte e poucos anos, mais forte que nós, o qual, de pronto, colocou Pedro dentro do carro. Lá dentro, meu filho fazia questão de tentar se exibir como menino forte, que estava bem, que tal situação não era tão dramática: seus olhos caídos exprimiam a natureza de alguém que tinha medo de pensar em algo mais forte, ao passo que suas pernas, presas uma a outra, juntas, tentavam se esticar, como prova de que estavam na ativa. Mas não estavam.
Em meia hora, chegamos ao hospital. Minha esposa pegou nosso filho no colo fortemente, deixando que sua sandália caísse na minha frente e depois por mim colhida até a recepção da Urgência. Nem sei que ela disse na entrada, apenas partimos para um consultório no qual havia um médico que, com seus olhos de lince, já avaliara o pequeno príncipe de longe. Mesmo assim, teve tempo de indagar a respeito do que houve, e tempo de ouvir minha esposa dizer que talvez tudo aquilo nada mais era que um medo generalizado que havia se formado na mente de Pedro, propagando-se pelo corpo...
Foi terrível. Nada disso, nem mesmo as dores de cabeça passadas, que um dia uma médica havia confundido com enxaqueca, fizeram o médico mudar sua ideia a priori. Pediu, então, que o colocasse em pé, e nada. Pediu que unisse as mãos, e nada. E assim, a primeira, das centenas de tomografias, foi solicitada...
Pedro foi colocado em sua cadeira provisória de rodas, sentou-se e, levado às pressas pelo doutor, acompanhado por nós, eu e minha esposa de perto, chegamos ao setor de Tomografias. Uma máquina que me parecia uma daquelas de filme de ficção na qual se põe seres de outro planeta para falar de seu planeta natal. Muitas enfermeiras. Minha esposa entrou na sala, eu não. Lá nosso filho foi deitado na máquina, com ar frio em todos os cantos. Um homem ficava nada cabine. E as portas se fecharam. Quando se abriram, minha esposa estava com um colete antirradiação, meio chorosa. O médico apareceu não sei de onde, mas, com um laudo na mão, andava mais depressa do que supus na ida. E quando tive ao lado dele, olhei para ele e perguntei... E ai, doutor, o que é?!... Com os olhos baixos e preocupativos, agora quase correndo, disse "AVC".
Meu mundo se foi.
(Continua)
FELIZ ANO NOVO!!!
(Continua)
FELIZ ANO NOVO!!!