segunda-feira, 30 de abril de 2018

A Linha que Não Vejo

Há uma linha imaginária na qual passeamos -- ou pelo menos, tentamos nos fixar -- todos os dias. Uma linha forte, bela e onipotente, como uma muralha feita por homens de um passado tão misterioso quanto estes. Não pensamos nela, nem mesmo fazemos questão de sua existência, mesmo porque, graças ao nosso livre arbítrio, achamos que liberdade é um patrimônio nosso, ninguém nos toma... e embarcando nesse erro grasso, desfrutamos da vida, sem linhas, e a depender de nosso orgulho, sem leis.

A linha em si, já personalizando, não pede, nem implora aos homens que se fixe nela, mas ela existe como um sol invisível, como um arco-iris distante, que, com suas cores, nos embriaga de beleza, de paz, e ao mesmo tempo mistério... sempre ele. Os antigos a chamavam de "retação", mais alguns, de "Ordem", mais outros, de deusa "Maât", e o Cristianismo, com muita folga, embarcando na mitologia clássica, nos trouxe "Deus", como um ser, não como uma linha imaginária, do qual nos sentimos mais filhos do que parte dele, e assim por diante.

Para a compreensão dessa linha devemos demonstrar a maneira como os homens do passado a viam, a compreendiam e a respeitavam, até o fim de seus dias. Para isso, criavam hermeticamente histórias acerca de vários deuses, de templos celestes -- fossem deuses interessantes ou não; bons ou não -- a representar passagens por essa Linha e a queda fora dela. Já falamos sobre isso em Ícaro, Jesus e Buda, quando fizemos alusão à referida, a qual simbolizava (e simboliza em certas culturas) a grande lei, à qual obedecemos.

Platão, em As Leis, detalha o trabalho do homem dentro de um contexto relativo -- como sempre o fez -- mas com tendências humanas, profundas, não como um escravo de leis, e sim como um elemento divino, o qual, em tentativas de reconhecer-se, pratica ( ou deve praticar ) o que lhe é inerente, em meio a dificuldades que lhe são impostas.

E hoje, quando sentimos que há leis que nos escravizam, nos rebaixam a seres abaixo do que somos, nos levantamos e lutamos contra elas. Porque sabemos que a lei, seja ela relativa, ou absoluta -- ditadora, advinda de personas doentias, não tem ligação com a grande lei, e quando isso acontece até mesmo os elementos externos se destroem: terra, ar e água e fogo... Não em sua abrangência, mas sim, como elementos que nos abastecem basicamente, quando levantamos e deles precisamos.

É difícil entender o propósito de tudo que descobrimos, e quando nos falamos de linhas imaginárias, de ordem, de deuses, como leis, é falar de algo que está lá fora, como uma chuva que resvala em nossa janela de vidro, e nós, dentro de nossas casas, com medo, cheio de dúvidas quanto ao pingo, quanto à água e sua fúria.

Não se pode falar em algo, se não temos o coração aberto, a alma pronta para entender outras verdades além da nossa. Ou seja, não podemos nos aferrar ao básico e nele tentar entender o que está por detrás dos sonhos, dos mitos, ou mesmo o que está no fim do arco, que corrompe nosso conceito de beleza.





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