quarta-feira, 7 de agosto de 2013

A Viagem que Não Fiz



"Não preciso viajar, tenho tudo aqui, em minha pequena praça" autor desconhecido.



Sempre tive a vontade de viajar e nunca mais voltar. Conhecer edifícios belíssimos, os coliseus, as grandes muralhas, as eternas pirâmides egípcias, astecas;  fazer parte dos países que sempre tiveram legado histórico e que mudaram o pensamento humano em relação a tudo e a todos.

Penso  um dia sair de casa, como um Forest Gump da vida, caminhar até Roma, correr até a Grécia, voar até o Egito, voltar ao Oriente Médio, em meio aquela desavença toda, e observar de perto a história da Pérsia, que um dia, notória, guerreou para conquistar o mundo, assim como Esparta, a melhor de todas!

Sonhar não custa nada, e disso eu vivo. Mas, em minhas reflexões, penso que a necessidade de ir ao longe, e voltar, meu pensamento, ou melhor, meu psicológico mudará no tocante à realidade que verei. Não sei se teria a mesma visão apaixonada dos monumentos, dos nativos que herdaram o pouco que amo nos livros – guerreiros, reis, rainhas, sacerdotes... – além do comportamento, tão diferente, que me causaria um dor... Boa ou má.

Não sei. Sei apenas que minhas reflexões não cabem dentro de mim, quando me deparo com os mitos, com sua universalidade, além de culturas que, ao mesmo tempo, se elevam e me elevam na mesma proporção. É uma busca, percebe-se.

E consegui encontrar. Hoje, após anos de leituras, posso me permitir dizer que mudei um pouco, em pensamentos, em comportamentos. Não tem como, pois, ficar passivo a uma leitura de um “Ramsés”, sem chorar no final da historia, na qual o grande faraó nos deixa órfãos quando fará parte dos deuses.

Não tem como ficar estático, ao ver as lutas dos grandes espartanos em sua época dourada, respeitando o inimigo, ainda que este não tivesse o mesmo por eles. Descobre-se que somos meros mortais, sem história, presos a pequenos valores e medrosos quando conflitos internos nos convocam para saná-los. Os espartanos foram os únicos que brilharam em todos os sentidos nas batalhas, pois deram sinais de valor ao homem, ao país, às leis. E muito mais.

E, hoje, se eu passo pela antiguidade, e tento descobrir o porquê desse amor à batalha, às leis, tenho a obrigação de me sentir um espartano, no meu nível, e me obrigar a respeitar o meu inimigo, o meu país, ainda que seja um país que não mereça, mas tem minhas raízes e delas não posso abdicar. Estaria deixando um pouco de mim, e isso é traição.

Não apenas na sabedoria grega que devemos nos fincar, mas em todas elas. Dar a volta ao mundo, descobrir o Oriente e sua dedicação ao sol, à chuva, à terra; sentir um pouco da retidão sublime dos japoneses, chineses... Aprender um pouco sobre suas religiões, filosofias, compreender que seus mitos são tão fortes, que até hoje muitos não entendem o comportamento de algumas culturas orientais.

Claro... Nós do Ocidente aprendemos a nos fechar ao mundo, chorar sentados ao meio fio, e esperar que alguém nos diga alguma coisa, pois nos cerraram a mente de tal maneira que não conseguimos mais abri-la para a grandiosidade de nossa alma; pelo contrário, criticamos, e dizemos que nossa filosofia, religião, política, família são exemplos... Como somos pobres!

E a pobreza cultural, aquela que nos encerra uma verdade que não temos, é a mais perigosa, pois nos envelhece, nos mata e nos leva ao um céu inexistente. E nos vamos em forma de cinzas para as florestas, na esperança de sermos algo, pois não fomos nada em vida.

E quando olho para o além, depois de paginar meus livros, penso na totalidade de uma população que busca romances rápidos, frios, às vezes quentes demais. Penso nessas pessoas que se dizem leitoras, cultas, aprendizes do dia a dia e que se sentem bem... lendo o que vem e o que vai na moda das editoras. Perda de tempo.

Sei o quanto o perdi, e ainda perco quando me refiro a essas pessoas, no passado e compreendo que o passado de muitos é o agora, pois terão dores de estômago de tanto rir ao saber que o pensamento humano não é nenhuma lixeira, e que um dia o foi quando jovem (para muito adultos ainda o é...), mas se dão uma chance, se levantam, e se questionam a respeito de seu ecletismo cultural.

Bem... Ainda não viajei, mas espero ser um dos poucos a modificar minha vida, para melhor, pois o que tenho em mim, como riqueza, é ainda teórico. E não gostaria de perder esse tesouro que há muito faz parte de mim.



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