Referencial grandioso de elevação. |
Quando nos sentimos no topo da montanha, seja ela física ou
metafórica, o bem-estar nos toma. Muitas de nossas ideias quase mortas se
tornam nosso alvo principal como cordas de aço para manter firme aquele estado
de bem aventurança. Como um sacerdote do
presente – pastores, bispos, padres, pai ou mãe, que buscam lidar diariamente
com o “espiritual” – chegamos ao ápice de nossas possibilidades, e queremos
mais, sempre mais.
Assim, vai-se o homem humilde, o simples caçador de mistérios,
e surge aquele rico ser que acredita ser o único no mundo que possui a verdade
nas mãos. A montanha, ou aquele sentimento altíssimo, dessa forma, torna-se o
alvo principal da espécie humana. A felicidade foi encontrada...
Será? Então por que nos surgem momentos que nos revelam o
contrário? Sempre, em todas as circunstâncias, em qualquer lugar que estivermos,
fugir do escorregão, da queda, da ferida é fugir de outra realidade, a de que
não aprendemos com a montanha.
Ela, na verdade, não foi escalada em sua totalidade, e sim
visualizada de longe, amada, conquistada pelo coração, mas escalada, não. Se tivéssemos
chegado ao ápice, é provável que nossos olhos em relação a ela, ao que somos e
fazemos, seriam outros, pois chegar ao ponto maior de nossos sonhos, sejam eles
materiais ou não sejam, é entender um âmbito, um universo.
Escorregar da montanha vem a ser apenas uma expressão, mesmo
porque não a escalamos e se isso vier a ocorrer, aconteceu às margens dela, nas
primeiras encostas, como em uma escada de milhões de degraus, nos quais, em
vida, tentamos subir e encontrar em seu final a resposta para tudo que se passa
conosco. Mas é apenas um simbolismo, que revela que as pretensões são maiores
do que a prática – o que é um erro --, pois não se pode confundir o primeiro
degrau com o último.
Quando se é humilde, no entanto, e se reconhece que não se
pode ir além do que se pode, tudo bem; mas quando se tem a experiência,
sabedoria, e todas as ferramentas colhidas durante essa jornada chamada vida
nos dá, vem a ser vergonhoso trocar o primeiro degrau pelo último.
Contudo, como já frisamos, aqui, o homem é um ser racional,
e isso, às vezes, o impede de conquistar até mesmo os primeiros degraus, aos
quais a vida lhe submete, pois se fecha em uma outra realidade, a teórica, sem a
prática. E dentro desse contexto, o próprio homem, acreditando que suas
ferramentas já chegaram ao fim de suas utilidades, joga-as fora, sendo assim, por
exemplo, um cientista de pensamento limitado, porque não acredita em Deus,
apenas pelo simples fato de ser cientista, e que tudo que se descobre vai de
encontro às religiões...
Mal sabe ele, no entanto, que o próprio universo em que se
encontra, descobrindo e revelando seus mistérios, também pode ser denominado
Deus, pois estaria indo ao encontro de vários conceitos tradicionais, e mais,
tendo em mãos possibilidades de elevar mais suas pesquisas não só no campo
material, como também no semântico, como o confronto com a própria morte, que,
para a maioria, nada mais é que a transformação do corpo de comida para os
vermes.
O racional é necessário, mas se torna uma faca cortando com
o lado errado uma carne que precisa ser cozida urgentemente! A ciência é
atrasada por isso. Na combinação da matéria e da semântica que a conduz, que a
faz matéria, como se acreditava no passado, poder-se-ia ter dado passos
fundamentais para a descoberta de várias doenças no presente, e muito mais.
Mas a descrença em Deus o faz ser individualista e isso
custa caro à humanidade. Ele quer ser Deus, assim como o do cristão, que chega
ser a maior figura simbólica dos dias atuais, e de quebra a mais discursiva. Ou
seja, o cientista escorregou sem mesmo chegar ao topo.
Assim somos nós em nossas montanhas, dentro de nossas
possibilidades. Até mesmo um pedinte que, ao encontrar um mero lugar para
ficar, uma comida sadia por dia, acredita que chegou ao ápice de sua consecução
e não precisa mais de nada, então não adianta oferecer-lhe um abrigo real, um
conforto material a mais, ou mesmo um emprego, pois dirá que não tem mais
forças para tanto, e volta ao seu mundo. É a morte.
Abaixo da montanha
Aqui, no subsolo de nossas possibilidades – para alguns,
como fora dito, a própria montanha... – temos a sublime certeza de que
alcançamos o pico, e, como na mítica Torre de Babel, entramos em conflito e,
sem razão, teorizamos em nome de influências de “amos de cavernas” que nos assistem,
de longe, a deixar que caminhemos para o precipício até cairmos nele.
Na verdade, a peça que nos falta para a compreensão de nós
mesmos, nessa hora, é humildade. Ela nos faz ver o que podemos ser e o que
queremos ser, o que somos. Ainda, nos faz pisar no chão, literalmente, e
entender que alguma coisa deve ser feita, caso contrário o precipício ficará
tão perto quanto o próprio ser humano que mora ao nosso lado.
Temos ferramentas para tanto – e desde o dia que nascemos,
procuramos entender para que elas servem ou como funcionam, e porquê nos deram.
As reflexões nesse âmbito nos surgem, mas não para descobrir o universo do
cientista, nem mesmo o do cristão, mas o nosso, o mais simples; e assim,
caminhamos, em nosso nível, para a margem da montanha, que nos espera.
Aqui, somos obrigados a olhar para cima, não para nós
mesmos, e encontramos a passividade de alguns e atividade de outros, e enfim,
as nossas respostas quanto às ferramentas que nos deram. Elas, assim, seriam
meio para nossa realização material ou espiritual. Seria a ponte entre nós e
nossos objetivos. E assim, caminhamos.
Nesse nível, todos os problemas nos vêm. Desde o mais
pessoal ao mais reflexivo. E nós, medonhos, nos entregamos a qualquer um que
nos complete a frase de nossa semântica imperfeita – tão imperfeita, que se
assemelha a de uma criança. E toma-lhe influência alheia, e mais, e mais...
E a montanha se distancia, pois não fomos ao encontro dela
corretamente. Chegamos perto, vislumbramos seu rosto – branco, congelado,
poderoso – choramos ou sorrimos entusiásticos pela “descoberta”, que não era
nova aos olhos de muitos. Mas somente aos olhos.
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