"Quanto mais um homem diminui suas necessidades,
mas ele se aproxima das condições divinas"
Sócrates: Radicalismo levemente filosófico |
Normalmente somos meio radicais
naquilo que possuímos – dizendo, “isso é meu!”, e nada mais. Assim, nos
valores, na maioria das vezes, também somos xiitas, ou seja, mais radicais
ainda, deixando de escutar pessoas amigas, por nos sentir melhor que elas.
Lembro-me de várias vezes, ao
tentar conversar com meus amigos crentes, traçar diálogos diferentes no momento
em que chegávamos a respostas nenhuma acerca de Deus; porém, as condições deles
era uma só... A Bíblia.
Não tenho nada contra a Bíblia.
Muito pelo contrário. Nela há a sabedoria eterna, da qual, nós, homens, podemos
fazer do mundo um lugar melhor a cada dia – assim como os clássicos filosóficos,
nos quais me baseio para fazer esse blog. Mas os “tradutores” que enxergam de
maneira relativa, sem que haja qualquer religação com as antigas culturas,
inventam, dentro das chaves arcaicas, meios de manipular – poucas vezes para o
bem comum – pessoas de bem.
O radicalismo é perigoso em todo
sentido. Ele não ouve pessoas. Ele as comanda de suas inteligências, sem deixar
que façam questionamentos referentes ao mundo, às minucias, ao próprio mistério
que nos ronda. Não há respostas, claro. (Pois) Quem lê apenas um livro jamais
terá todas as respostas. Isso é tão exato quando matemática.
Para manter nossas aspirações –
nossos ideais – ainda que tenhamos que estar bem informados, como fora dito no
texto anterior, também, dentro de nossas linhas filosóficas ou não, devemos
escutar as pessoas, levá-las a encontrar meio de se encontrarem com linhas
imaginárias, mas que possuam caminhos concretos.
É raro manter uma linha na qual
possamos lidar de maneira abrangente, aberta, sem que nosso mundo seja afetado.
Isso nos acontece principalmente na hora da morte, quando nos chega a hora de
escutar amigos e amigas em suas simples exposições acerca do que acreditam... “para
estar morto é preciso estar vivo”, é o que sempre se ouve em enterros, como se
fosse a máxima de uma placa que leram no início...
Não fazendo pouco caso, mas
deviam, em torno do ocorrido, repensar o que dizem. No entanto, devemos
escutá-los, dar-lhes toda a atenção, mesmo porque não deixaremos de ser amigos
ou amigas por uma simples frase, que, com certeza, pobre ou não, tem em um viés
de carinho e conforto por trás.
Ser radical em nossos ideais é
transformá-lo em tudo, menos em ideal.
As Três Peneiras
Sócrates, um grande filósofo
grego, cujo pai era pedreiro e sua mãe, parteira, era considerado o maior sábio
de sua época, e todos sempre estavam ao seu lado a escutar sua filosofia acerca
das coisas simples e complexas, das quais cidadãos gregos retiravam seu
sustento interno, pois refletiam o que era Deus, Universo, Beleza, Amor...
No entanto, o mestre, sempre
dedicado ao que passava a seus amigos, via naquele seu talento uma forma de
modificar a estrutura de uma cidade que, mesmo que fosse erguida com seus mitos
e lendas, deveria ser mais sólida naquilo que acreditava... Pois, assim como as
grandes nações do passado, estava a desabar, caindo...
Para isso, tinha que manter,
dentro de seus ideais, a linha dentro das conversas, dos diálogos acerca da
ética, da moral, do amor... Enfim, deveria ser mais radical. Em “As Três Peneiras”,
o mestre se revela um tanto quanto sutil em seu propósito, mas nos deixa,
eternamente claro, que o radicalismo filosófico, na maioria das vezes, é
necessário...
Foi assim...
Um homem procurou um sábio e
disse-lhe: - Preciso contar-lhe algo sobre alguém! Você não imagina o que me
contaram a respeito de... Nem chegou a terminar a frase, quando Sócrates ergueu
os olhos do livro que lia e perguntou: - Espere um pouco. O que vai me contar
já passou pelo crivo das três peneiras? - Peneiras? Que peneiras? - Sim. A
primeira é a da verdade. Você tem certeza de que o que vai me contar é
absolutamente verdadeiro? - Não. Como posso saber? O que sei foi o que me
contaram! - Então suas palavras já vazaram a primeira peneira. Vamos então para
a segunda peneira: a bondade. O que vai me contar, gostaria que os outros
também dissessem a seu respeito? - Não! Absolutamente, não! - Então suas
palavras vazaram, também, a segunda peneira. Vamos agora para a terceira
peneira: a necessidade. Você acha mesmo necessário contar-me esse fato, ou
mesmo passá-lo adiante? Resolve alguma coisa? Ajuda alguém? Melhora alguma
coisa? - Não... Passando pelo crivo das três peneiras, compreendi que nada me
resta do que iria contar. E o sábio sorrindo concluiu: - Se passar pelas três
peneiras, conte! Tanto eu, quanto você e os outros iremos nos beneficiar. Caso
contrário, esqueça e enterre tudo. Será uma fofoca a menos para envenenar o
ambiente e fomentar a discórdia entre irmãos. Devemos ser sempre a estação
terminal de qualquer comentário infeliz! Da próxima vez que ouvir algo, antes
de ceder ao impulso de passá-lo adiante, submeta-o ao crivo das três peneiras
porque: Pessoas sábias falam sobre ideias; Pessoas comuns falam sobre coisas;
Pessoas medíocres falam sobre pessoas.
Tudo demonstra uma realidade -- a Verdade -- na
qual o homem deveria estar em harmonia, nunca sair dela. Tentar entrar em
interesses que não sejam dele, burlar a vida do próximo, ou seja de quem ele
acredite, revela-o pobre em sentido, no mais literal que se possa entender.
Sócrates, em suas peneiras, tenta nos explicar
que devemos refletir acerca do nosso mundo, do nosso modo de ser e pensar, em
sentidos simples e sagrados – em nosso nível, claro, pois, às vezes, o fazemos,
e somos harmônicos, sem saber. Isso nos torna volúveis a qualquer coisa, porém
se temos referenciais fortes, como verdade, bondade, amor... podemos impor tais
elementos em qualquer questão, sem que sejamos radicais.
Nossos pensamento que voam céu acima são como plásticos, é o que Sócrates quis dizer. São pegos por qualquer coisa, e, como sempre, com futilidades, deixando-nos afora de nossas pretensões em relação à verdade, à bondade...
Vamos radicalizar, assim como os grandes o fizeram. Vamos nos elevar, buscar, em livros clássicos, a melhor maneira de seguir o Bem, de modo a segui-lo, mesmo em pequenas conversas com amigos.