Viver, uma arte.
O lado perene das Horas |
É preciso entender o que buscamos e para quê. Buscamos ser
felizes, e isso independe de cargos, honrarias, elogios, ou seja, de qualquer
manifestação externa de alguém ou da coletividade – seja da família ou de amigos.
Isso não perdura.
A real felicidade, mais uma vez, em nome de tudo que é
sagrado, vem de dentro, de escolhas que fazemos, de nossa vontade e equilíbrio.
É bom ressaltar que nossas ideias acerca das coisas também são importantes,
pois não adianta observar um fato, leva-lo ao extremo do que ele realmente
representa, tornando-o além do que ele é, nos fará bem. Isso não é felicidade.
Não. Nada disso. Nossas ideias, aqui, a respeito do que
passo, vejo, observo, é tão importante quanto nossas escolhas, pois estas
dependem daquela. Isto é, se eu inicio um conceito a respeito de uma pessoa, e
levo tal conceito para o lado escuro de meus sentimentos, então é preciso
parar, refletir, entender que nesse momento há um vestígio de preconceito
nascendo. E isso é a última coisa que precisamos para sermos felizes.
O preconceito, no entanto, de acordo com a tradição, não é
mau. A questão é que usamos sempre este termo no sentido frio da questão, ou
questões. Exemplo... Posso muito bem olhar um tomate e ter preconceito dele
quando vir em sua superfície uma parte amassada, ou podre; ou mesmo em uma
manga, quando a pego, olho e vejo que ela está com um lado ruim... Assim, em ambos os casos, o
preconceito existiu.
Com pessoas, não. Não posso subjuga-las como maçãs, bananas,
ou outras frutas; mas fazemos. Os mestres sempre nos dizem que a integração, o
diálogo, o conhecimento mútuo, para o homem moderno, são como se fossem pontes
para iniciação – ou seja – é mais que necessário atingirmos, em nosso nível, em
escalas universais, nosso crescimento. E não há outro meio senão comungarmos
nossas ideias com outras pessoas, conhecendo-as e, quem sabe, amando-as.
Mas a felicidade é interna. Ainda que encontremos a pessoa
de nossos sonhos, não nos enganemos a respeito do nosso ideal. Pessoas são
volúveis, possuem suas opiniões, há sempre divergências imaturas, há sempre
distanciamentos de ideais, enfim, não que tenhamos que nos distanciar delas, mas nunca entregar nossos caminhos a
elas, pois, na maioria das vezes, a realidade delas é outra, a do filósofo, que
busca internamente seus valores, idem.
Há, no entanto, casais, grupos, sociedades, que comungam as
mesmas ideias acerca da natureza e por ela vivem. O casal, independente de onde
estão os dois, se amam tão apaixonadamente quanto da primeira vez; o grupo,
seja qual for a ideia que os une, se encontra nas esquinas, nos bares, em
qualquer lugar, sem que palavras ou atos vulgares sejam característicos ou
identidade dele. Em sociedade, há as associações, as escolas de Teosofia, de
Filosofia, Igrejas, as quais visam ao bem de todos, ou pelo menos poderiam...
O lado escuro, contudo, existe, e é uma realidade. Este nos
faz andar por pontes quebradiças, por areias movediças, nos apaixonar por
coisas que não nos convém, e a dar passos em falso ante aos caminhos sagrados.
E por isso que são necessários. Um dia um filósofo nos disse, “não
descobriríamos a luz, se não fosse a escuridão”. Porém, a partir do momento que sabemos da existência do ponto luminoso, a areia já
está em nosso pescoço. É preciso mais que força, é preciso consciência, idealismo,
vontade, e saber quem nós somos.
Saber que temos desafios, caminhos, além do próprio sol para
nos basear e levantar de nossos colchões. A areia, assim, aos poucos, vai nos
deixando, e nosso corpo dela saindo, e quando menos percebemos, estamos dando
aulas acerca de onde pisamos.
O lado escuro nos empurra de volta, pois nos deslumbramos
com o pouco que a vida nos oferece. Quantas pessoas se acham felizes pelos
títulos que conquistou?... Muitas. Mas será que são felizes? Será que souberam
distinguir o que está sob o controle delas?... Pouco provável.
Temos que ficar menos vulneráveis aos papeis de parede que
nos oferecem – honrarias, cargos, títulos, prêmios – de modo que, ao assumir
qualquer posto, ao receber qualquer honraria, saibamos lidar com isso como os
romanos, que, em sua época dourada, quando os grandes generais tomavam outros
países, era natural que voltassem a Roma com toda pompa de conquistadores.
Em meio a um povo que amava seus heróis, o general chegava
com seus escravos, feitos durante a conquista, com seu carro com mais de dez
cavalos puxando, além da roupa vermelha e branca, em homenagem aos deuses,
havia outro escravo, o de costume, atrás desse herói, na mesma carruagem, com o
louro na mão, acima da cabeça do general, a dizer... “A glória é passageira, a
glória é passageira”.
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