Viver, uma Arte
Assumir a culpa. Humildade. |
Aprendemos que, se observarmos as
coisas como elas são, não enfeitando, por assim dizer a sua roupagem, podemos
dizer que ninguém tem culpa. Se assumimos o valor de cada coisa, ou seja, se
somos responsáveis pela semântica do objeto, então nada mais justo do que dizer
que somos o culpado..
Mas culpado de quê?
A realidade nos conduz a
pensamentos tortuosos, desde a tenra idade, buscando qualquer coisa ou pessoa,
com a finalidade de fazê-los donos do que devíamos abarcar, abraçar, sermos
responsáveis. Mas não. Nos pequenos atos errôneos da vida, é sempre aquele que
está mais próximo, ou não... Quer dizer, a depender da pessoa, fica mais fácil
olhar para o lado e colocar culpa justamente naquele que está ausente.
Dizer “Eu sou culpado”, em
qualquer caso, é uma forma de construir um principio moral, dentro do qual
podemos dar mais passos em direção ao
que desejamos – seja a liberdade, a paz, a tranquilidade; pois não adianta
passarmos adiante nossos erros, não assumindo-os, são quase que patrimônios
humanos, que revelam-se necessários para a consecução de qualquer ideal.
Conheço inúmeras pessoas que não
se conscientizam de seus próprios erros, ainda que sejam maduras para
assumi-los. E por mais natural que seja o erro, por mais ínfimo que seja, o
medo de errar, de assumir, fica mais distante, pois, de alguma forma, fora
educado para tanto.
No entanto, com pequenos atos,
tão naturais quanto o respirar, podemos dizer, “a culpa é minha”, “eu sou o
culpado”, como se fôssemos donos de nós mesmos, e somos! Entender que a
complexidade está dentro e não fora de nós. E aprendemos isso quando começamos
a entender que as coisas são como elas são, não o que pretendemos que sejam. E
se realmente temos isso em concreto, colocar a culpa no próximo seria
incoerente.
Humildade
É de se esperar, no entanto, que
tais atos sejam apenas característicos de pessoas que se acostumam, em sua educação
familiar, a serem humildes, assumindo erros seus, sem que haja qualquer medo. A
humildade, no entanto, hoje, é vista como “coisa de pobre”, de pessoas
miseráveis que não têm onde caírem mortas, enfim, de homens e mulheres que
nasceram ricos em responsabilidades, mas não têm onde cair mortos...
É uma afirmação meio genérica,
mas isso nos ensina que pessoa há nesse mundo que não conseguem, mesmo tento
tudo que a vida lhe deu, ou os pais!, serem responsáveis assumindo qualquer que
seja o ato...
Quando pequeno.
Quando tinha dez anos de idade,
eu era mais magro e mais quieto ser do
mundo. Na escola, muitos aproveitavam essa quietude para me dizer e fazer de
mim gato e sapato, mesmo porque não havia ninguém que poderia me proteger ou eu
mesmo eu me proteger dos malas.
Lembro-me que havia um rapaz da
mesma idade, de nome Rosivaldo, o qual me dava arrepios quando chegava à sala
de aula. Motivo: ao olhar para mim, planejava impor culpa de coisas que ele mesmo
inventava ou não assumia. Eu me via compilado a ficar mudo. E quem geralmente
fica mudo, aceita todas as intempéries da vida sem reclamar... Mas no pior
sentido da palavra.
Rosivaldo, o mala, gritava no
meio da aula – assim do nada – “professora, aquele menino pegou a minha
borracha!”, em outra hora, “professora, aquele menino – sempre apontando pra
mim – pegou meu lápis”... E, mesmo pela distância que sentávamos, não deixava
sua cara de pau em por a culpa em mim. Mas... Por quê? Ficava mais fácil.
Um menino franzino, fraco, sem
proteção, meio negro e pobre, do qual todos sentiam mais pena do que amor,
tinha que ser alvo de alguém que, apesar de ter tudo na vida, não tinha o mínimo pudor de assumir seus erros. E meu erro era o de ter
ficado mudo.
Natureza Humana
Muitos, tenho a certeza, dizem “é
natural”. Mas será natural, também, jogar a casca no chão, escorregar nela,
depois colocar culpa nos outros? Claro que não. É humano – talvez mais –
assumir nossos compromissos ante a vida, e nela nossas culpas, dizendo bem alto
“eu sou o culpado!”, desfazer a besteira, caminhar e como diria Cristo, “não
pecar mais”.
Tá bom... Aí já é demais rs.
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