Encontramos o paraíso. Estava em nós o tempo todo. |
Não adianta a gente buscar a paz
nas coisas externas. Todas elas perecem. Todas elas têm um futuro: voltam para
o lugar de onde vieram; seja corpóreo, material (no sentido mais literal
possível), até no pensamento que vaga além-mente. Este também é perecível. Extingue-se
com o tempo.
Nada melhor, então, do que buscar
a serenidade, a paz interior por meio de uma prática que nos envolve e nos
direciona aos deuses. A prática sempre nos abre portas, e nesse instante,
quando percebemos que o tumulto, que a dor, os conflitos são ilusões que nos
turbam o coração, damos o primeiro passo em direção à paz. Meditamos,
refletimos e nos encontramos.
Marcos Aurélio, general-filósofo,
dizia que não adianta viajar atrás de paraísos, na tentativa de encontrar a
paz. A paz, segundo ele – e concordo – está em um cantinho de nossa alma, em um
lugar idílico, cheio de brisas ressoando a tranquilidade. Mas, ressalta, não
adianta ir atrás desse sonho se não resolvermos nossas pendências externas.
Caso contrário, estaríamos dando passos inversos ao nosso ideal.
Platão, filósofo grego, já dizia
que a paz do coração é o paraíso dos homens. Quer dizer, não adianta buscar a
paz no coração da humanidade, se não temos, a priori, um sentimento que nos
leve ao que tanto pretendemos. Ele tinha razão. O paraíso está em nós.
“E neste lugar darei a Paz”,
disse o Senhor. É uma referência bíblica na qual Deus não promete, mas realiza.
Assim como uma grande Vontade universal, aliada ao espírito de realização, sem
interferências alheias, Ele se faz, seja dentro ou fora de Suas possibilidades.
Deus em nós.
E quando dizemos que Deus está em
nós, não é uma pieguice, mas uma realidade que, embora seja simples de
entender, nos leva a refletir o quanto somos contraditórios em relação ao que
podemos, entendemos e realizamos. Se sei que existe uma Força superior em mim,
e por meio dela posso buscar a real paz, por que não inicio um processo (um
programa) de busca dessa Força?
Claro, somos humanos. Abraçamos
alguém num dia, e no mesmo dia socamos a parede de ódio por não conseguir
nossos objetivos. O que queremos? A realização exterior de algo perecível, que
vai e não volta mais. É correto esse exercício, no entanto, afixar-se nele é um
tanto quanto grotesco para quem busca uma realidade mais sagrada, interna. Deve
haver sempre um contrapeso.
Vamos dispensar os pensamentos
fúteis e desagradáveis, do tipo “tenho que trabalhar, senão não consigo nada na
vida, ou mesmo minha aposentadoria!” ou, “tenho que repreender meu filho, senão
ele vai tomar as rédeas!”...
É preferível morrer de fome a
viver sem norte. Os dissabores sempre haverá; as desconfianças, idem! Os temores
em perder a moral, a liderança... Tudo isso vai nos levar a envelhecer antes
que conseguimos conquistar pelo menos uma parcela daquele terreno que já nasce
dentro de nós, na alma.
O autodomínio deve ser agora.
Mas, assim como degraus em nossa vida, temos que inicia-lo no primeiro, com
ações de paciência moderadas; ações reflexivas, mas que podem nos trazer
benefícios internos ao idealista. Dizer para si mesmo, em situações difíceis, “calma,
calma, calma!”, não ajudará em nada... Devemos começar em situações simples,
tais quais aquelas em que, raramente, nos deixam com pensamentos frios, como a
queda de uma xícara alheia, como a provocação simples de um amigo, ou mesmo a
quebra de um brinquedo caro que você acabou de comprar para o seu filho...
Tais circunstâncias, de fato, nos
incomodam, mas, se buscamos nosso paraíso, aqui em nós, não podemos sair
correndo delas, muito pelo contrário. Nestas situações é que se faz o
guerreiro, o soldado, o sábio. Aqui, se não gerarmos pequenas atitudes em
relação a nós mesmos, não mudaremos o mundo, muito menos a nós mesmos. E isso
não queremos.
Saber lidar calmamente com
aborrecimentos, pequenos, grandes, enormes, dantescos, depende de nós. De mais
ninguém. A paz não se consegue de graça.
Assim, quando há rastros de uma
situação difícil, prepare-se, eleve-se, sorria. Dê o máximo de ti. Tente
entender que até mesmo seu filho pode ir contra ao que você busca, e por isso,
já de antemão, não se perturbe, pois até mesmo o rei Artur, depois de enviar
seus homens ao sacrifício, não sabia que seu cálice estava ali, ao seu lado,
mas você sabe agora que o seu está aí dentro.
Não esqueça, seja sereno, seja
moral.
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