Quando ela vem, nos leva para a origem. |
Após muitos anos de experiências em estudos voltados às
religiões, ao comportamento das pessoas que delas fazem parte – alguns mais
afincados na fidelidade à seita outros não; mais alguns com pé atrás; e mais
outros, somente quando um fato que lhes imprime dor, se voltam à fé... Começo a
entender que as divindades – potencialidades presentes e passadas – ou como
dizem em Game Of Trones, deuses
modernos e antigos, não deixo de refletir acerca de uma metafórica tsunami.
Parece engraçado. Mas não. Assim como um rio que nos
atravessa as pernas, uma grande cachoeira que vem de cima; assim como uma
grande quantidade de água que nos vem do nada e se vai para lugar ao algum –
vejo Deus.
Nossos pensamentos, nossas opiniões acerca do que é ou não o
Absoluto não importa. Nossos pedidos, reclamações, orações... Sintetizam apenas
o que de fato nos compete a fazer, realizar. Mas, se esperamos que alguma
mudança de acordo com nossos interesses de realize, é simplesmente um ato egocêntrico,
dentro do qual não se raciocina, não se pensa.
E se há algo dentro de nossas vidas que mude, é porque
buscamos, com nossas ferramentas, sejam elas internas, sejam externas, mas que,
pelo que venho percebendo, não são atos advindo de uma Natureza imutável que o
quer.
Se há doenças que vem e vão, se há alguém que se vai para o
invisível, ou mesmo que estava quase por morrer, não significa um ato de uma
sombra humana que nos salva; simplesmente o ato não se realizou – seja ele de
vida ou de morte.
Somos pequenos para entender isso, mesmo porque temos, desde
o inicio das civilizações, meios para acreditar que deuses modificavam a estrutura
de uma sociedade por meio de homens-deuses, os quais, em nome de seu povo,
buscavam melhorar o estado. Tais homens, místicos, no melhor sentido da
palavra, se iniciavam para se comunicar com o além, com aquela organização
natural da qual falei no início, com vistas a respeitar e a obedecer, e ao
passo manter o respeito a Eles.
Dentro do que somos, no entanto, modificamos nossos
caminhos, destorcemos conceitos, fazemos leis sem a mínima característica com o
Todo. Acreditamos nessas leis, levamo-las ao extremo, e, dentro de nossas concepções
errôneas, fabricamos almas celestes do nada. Daqui nasce o Deus pessoal, enraigado
de características humanas: de misericórdias, de perdão, de amor e ódio.
A Natureza maior não tem características humanas. Talvez o
sábio entenda que buscamos o inverso, mas somos covardes na busca e na
compreensão. No passado, quando homens se fizeram místicos, e nos trouxeram os
mitos, não foi para fazer dos deuses humanos, mas para revelar que temos deuses
em nós. Revelar a certeza de que nada anda ou corre, sente, rasteja, grita ou
simplesmente vive por nós. Revelar que somos parte dessa Natureza que vai e
vem, que a ciclicidade existe em todos os pontos, dentro e fora de
nós.
“Você se torna aquilo que pensa”, já diziam os estoicos. E
se acredito que há uma esfera que está em torno de mim, com objetivo de me
proteger... que seja! Mas a realidade é outra. Se acredito que almas vão para
um céu, que as más descem ao inferno, e que metade daqueles que se arrependeram
– ainda que tenham praticado crimes hediondos – ainda tem uma chance para morar
ao lado de Deus... E se eu acredito que largando tudo que tenho, deixando
minhas roupas, amigos, filhos, mulher de lado, para ganhar o céu, que assim o
seja, mas não conte com a Natureza para isso. Se acredito que, por meio de boas
ações divindades estão me concedendo boas reações, então, ainda que seja
bonito, temos que ir a fundo em nossas concepções, pois há pessoas que fazem
isso todos os dias, e, no entanto, não recebem auxilio de ninguém...
A tsunami real
A tsunami real atravessa casas, cidades, sociedades, levando
crianças, jovens e adultos e cães que estiverem na frente. Com ou sem suas
concepções religiosas, ela vem e leva, sem pena, sem amar ao próximo, sem
deixar os escolhidos, muito pelo contrário. Não há escolhas.
Por isso, devemos aceitar a Natureza das coisas, saber que
nada nos acontece pelo que pedimos ou imploramos, mas porque deve acontecer. As
interpretações são em demasia normais acerca dos ocorridos, pois, como disse,
racionalizamos tudo. Devemos, contudo, sermos menos covardes, menos ignorantes,
mais filósofos e buscar entender o papel dentro de nossos contextos, pois
quando houver qualquer tipo de água, seja ela metafórica ou não, que nos leve,
que tenhamos desempenhado os nossos papeis sem medo de partir.
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