quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Deus e a Tsunami

Quando ela vem, nos leva para a origem.




Após muitos anos de experiências em estudos voltados às religiões, ao comportamento das pessoas que delas fazem parte – alguns mais afincados na fidelidade à seita outros não; mais alguns com pé atrás; e mais outros, somente quando um fato que lhes imprime dor, se voltam à fé... Começo a entender que as divindades – potencialidades presentes e passadas – ou como dizem em Game Of Trones, deuses modernos e antigos, não deixo de refletir acerca de uma metafórica tsunami.

Parece engraçado. Mas não. Assim como um rio que nos atravessa as pernas, uma grande cachoeira que vem de cima; assim como uma grande quantidade de água que nos vem do nada e se vai para lugar ao algum – vejo Deus.

Nossos pensamentos, nossas opiniões acerca do que é ou não o Absoluto não importa. Nossos pedidos, reclamações, orações... Sintetizam apenas o que de fato nos compete a fazer, realizar. Mas, se esperamos que alguma mudança de acordo com nossos interesses de realize, é simplesmente um ato egocêntrico, dentro do qual não se raciocina, não se pensa.

E se há algo dentro de nossas vidas que mude, é porque buscamos, com nossas ferramentas, sejam elas internas, sejam externas, mas que, pelo que venho percebendo, não são atos advindo de uma Natureza imutável que o quer.

Se há doenças que vem e vão, se há alguém que se vai para o invisível, ou mesmo que estava quase por morrer, não significa um ato de uma sombra humana que nos salva; simplesmente o ato não se realizou – seja ele de vida ou de morte.

Somos pequenos para entender isso, mesmo porque temos, desde o inicio das civilizações, meios para acreditar que deuses modificavam a estrutura de uma sociedade por meio de homens-deuses, os quais, em nome de seu povo, buscavam melhorar o estado. Tais homens, místicos, no melhor sentido da palavra, se iniciavam para se comunicar com o além, com aquela organização natural da qual falei no início, com vistas a respeitar e a obedecer, e ao passo manter o respeito a Eles.

Dentro do que somos, no entanto, modificamos nossos caminhos, destorcemos conceitos, fazemos leis sem a mínima característica com o Todo. Acreditamos nessas leis, levamo-las ao extremo, e, dentro de nossas concepções errôneas, fabricamos almas celestes do nada. Daqui nasce o Deus pessoal, enraigado de características humanas: de misericórdias, de perdão, de amor e ódio.

A Natureza maior não tem características humanas. Talvez o sábio entenda que buscamos o inverso, mas somos covardes na busca e na compreensão. No passado, quando homens se fizeram místicos, e nos trouxeram os mitos, não foi para fazer dos deuses humanos, mas para revelar que temos deuses em nós. Revelar a certeza de que nada anda ou corre, sente, rasteja, grita ou simplesmente vive por nós. Revelar que somos parte dessa Natureza que vai e vem, que a ciclicidade  existe em todos os pontos, dentro e fora de nós.

“Você se torna aquilo que pensa”, já diziam os estoicos. E se acredito que há uma esfera que está em torno de mim, com objetivo de me proteger... que seja! Mas a realidade é outra. Se acredito que almas vão para um céu, que as más descem ao inferno, e que metade daqueles que se arrependeram – ainda que tenham praticado crimes hediondos – ainda tem uma chance para morar ao lado de Deus... E se eu acredito que largando tudo que tenho, deixando minhas roupas, amigos, filhos, mulher de lado, para ganhar o céu, que assim o seja, mas não conte com a Natureza para isso. Se acredito que, por meio de boas ações divindades estão me concedendo boas reações, então, ainda que seja bonito, temos que ir a fundo em nossas concepções, pois há pessoas que fazem isso todos os dias, e, no entanto, não recebem auxilio de ninguém...
A tsunami real

A tsunami real atravessa casas, cidades, sociedades, levando crianças, jovens e adultos e cães que estiverem na frente. Com ou sem suas concepções religiosas, ela vem e leva, sem pena, sem amar ao próximo, sem deixar os escolhidos, muito pelo contrário. Não há escolhas.


Por isso, devemos aceitar a Natureza das coisas, saber que nada nos acontece pelo que pedimos ou imploramos, mas porque deve acontecer. As interpretações são em demasia normais acerca dos ocorridos, pois, como disse, racionalizamos tudo. Devemos, contudo, sermos menos covardes, menos ignorantes, mais filósofos e buscar entender o papel dentro de nossos contextos, pois quando houver qualquer tipo de água, seja ela metafórica ou não, que nos leve, que tenhamos desempenhado os nossos papeis sem medo de partir.

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