quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Apenas Uma Conversa entre Amigos...

Um processo tão antigo quanto o Cristianismo.





Ontem quanto fui comer algo para sanar a fome do almoço, preferi sair e ir à Lanchonete do Fabrício, um amigo muito gente boa, que sempre nos recebe – não só a mim, mas a todos – com um sorriso simples e sincero. Fabrício sempre gostou de conversar comigo, principalmente sobre futebol, mas neste dia ele abriu mão.

Em sua lanchonete, um misto de locadora e boteco, muitos passavam, comiam por lá, mas também ficavam sabendo dos últimos lançamentos de cinema. E ele, meu amigo, sabia dizer sempre, entre um salgado e outro, se o filme era bom ou ruim, mesmo não tendo aquele ar de crítico de cinema. O que mais importava era sua opinião. Vinha de dentro.

Naquele dia, Fabrício conversa de modo simpático, mas também meio chateado a respeito de maquininhas de cartão de crédito que não passam seu cartão nas horas mais difíceis. Um homem, alto e com voz de locutor, parecia ser um comerciante simpático, sem pretensões escusas de falir Fabrício; muito pelo contrário, estava ali fazendo a chamada boquinha, e já que meu amigo se abria aos assuntos fáceis, replicava contra as operadoras de cartão e empresas ricas pelo mau serviço.

Eu, de terno e gravata, cheguei, observei, atrapalhei um pouco Fabrício em sua conversa, o que não parecia, porque, todas as vezes em que me vê – e naquele dia não era diferente – sempre diz... “Meu caro amigo Reginaaaaaldo, como vai vossa excelência?!” – e com o mesmo ar de alegria, eu digo, “bem, meu amigo!”... E assim por diante.

E depois que me serviu com ser ar de amigo, voltou à conversa sobre as maquininhas... Mas não por muito tempo. Eu, ao me levantar de uma cadeira que ele coloca para os fregueses se sentirem à vontade, depois do grande lanche, olhei bem uma prateleira na qual ficava os filmes de terror, e mirei em um (não me lembro agora do nome) que fez um grande sucesso no ano passado – em dezembro – e já estava em sua locadora.

Não pude deixar de comentar... “Poxa, Fabrício, esse filme já está aqui?”, - “Sim, meu amigo, e é um dos mais vistos do filme de terror de todos os tempos! Para ser mais claro, o terceiro”, disse entusiasmado, como sempre.

O rapaz, que com ele conversava, olhou bem para o filme... “eu não gosto de ver essas coisas!”, disse em um tom leve, sem qualquer sinal de asco. Fabrício, por sua vez, continuou... “O que mais me impressionou nesse filme foi que deixam bem claro que quem não é batizado (pessoas que não são ungidas pelas águas) tem mais facilidade pegar o Mal”...

Fabrício, esqueci-me de dizer, é de uma igreja evangélica. Não sei qual. Mas sei que é um grande rapaz, que cultiva os princípios cristãos sempre que necessário, e quando se referiu ao batismo, no filme, percebi que seu prisma era o mesmo de sempre. Eu só não sabia que o comerciante, amigo com quem conversava, também era, e, sem mais nem menos, argumentou acerca do ponto de vista de Fabrício, já com outro ar. Não de defensor das maquinhas de cartão, mas do assunto, que já se pairava na alvorada do diálogo entre os três...

Batismo Cristão

As pessoas se confundem muito, quando acreditam que é batismo o que feito no evangélico”, disse o rapaz alto, já com a mão nos bolsos da calça e com um ar sério. Fabrício, esperto na questão, e para não ir de encontro ao amigo, concordou descordando, sendo que nesta última não queria deixar tão explícito...

E eu, já aceso, percebi que os dois iam descambar para uma ladeira sem fim, e que para acompanha-los eu teria que frear, e ao mesmo tempo não ir junto com eles... Entenderam? Com as pernas meio trocadas, de pé, encostado no pequeno balcão, pensei duas vezes antes de falar algo, mas observei que os dois, com pontos de vistas iguais, sem muita profundidade, teriam que rever seus conceitos acerca do assunto (batismo), pois era notório que suas experiências falavam mais alto, contudo, o que sabiam sobre ele era tão raso quando um córrego no qual se vê peixes nadando... Então tive que ajudá-los.

Foi quando entrei de vez. “Sei que vocês sabem, mas é sempre bom salientar que o batismo é tão antigo quanto o próprio Cristianismo...”. Eu não queria citar Blavatsky, Faraós, Sacerdotes iniciados, mas fazê-los entender que naquele filme a “falta de batismo”, como mero iniciador de causas malignas, como havia proposto o autor, nada mais era que uma ideia incrível para fazer muitos acreditarem que sem ele (o batismo) ficamos vulneráveis ao mal.

Mas, acredito, ainda não tinha sido o suficiente em minha opinião. Assim, dei margem para ele, amigo do meu amigo,  afirmar o que dizia antes. “Talvez na Igreja Católica, mas não há o batismo no evangélio.”, disse. “Não entendi o porquê”, repliquei sob os olhares de Fabrício. “O que eu quis dizer...”, continuou, “... É que existe a parte do Espirito Santo”, ficando mais sério o homem das maquininhas. “O Espirito Santo...” – segundo dizem, a parte mais elevada do homem, responsável pela conexão com o maior deles, Deus. – “...viria com o tempo, muito após o ‘mergulho nas águas’,” relatou como se fosse um especialista...

Eu, claro, fiquei meio sem entender. Depois disse, para melhor entendimento das partes, não só minha como a de Fabrício também, que, a meu ver, não havia entendido essa questão do batismo que não era batismo, “Bem... Se uma pessoa se banha nas águas, ela passa por uma iniciação, certo?”, todos concordaram. 

“...Na antiguidade, quando a pessoa mergulhava nas águas, não era chamado batismo, mas iniciação, pois, em razão das águas, que significavam Vida (Oceano Primordial), o individuo não era mais o mesmo. Talvez em corpo. Mas, por dentro, não. Até hoje, em alguns lugares na Índia, uma pessoa quando diz adeus, e vai ao mar, tomar banho em suas águas, ela se torna outro ser. Tanto que, a depender do deus a que obedece, ao sair do mar, ela segue, vai embora, e não conhece mais os seus".

Fabrício ficou espantando com tanta explicação, que ficara vermelho. Ao contrário de seu amigo que persistia em dizer que o espirito santo, hoje, é algo que se conhece pós-iniciação cristã (batismo), mas depende de cada pessoa. “Eu, por exemplo”, disse ele, “.. Sou banhado nas águas, mas não sou batizado, apesar de ser crente (denominação do fiel à sua religião). Porque o espirito santo não se revelou em mim!”... Fiquei impressionado com tanta reverberação com pouco fundamento.

Assim passei a dizer a ele que não só ali, mas, no passado, há mais de 2000 a. C., homens, como faraós, sacerdotes, tinham a iniciação como forma de oração, ou seja, uma mística que os religava com o Todo, com Deus. Fabrício não guardava sem empolgação “Cara, esse homem sabe muito!”. E eu, na janela do discurso, disse, “Se temos amor a algo, nada melhor do que ir atrás e tentar entende-lo melhor. Tenho a certeza de que você, quando lê a sua bíblia, e gosta do que lê, vai atrás de mais informações, não?” – achei que estava sendo demais simplista. Mas fui cortado gentilmente por seu amigo, que me disse “É isso mesmo, você tem razão”.

Aprendizado

Um dia, um grande professor me disse que, se temos que dizer algo, que digamos com ideias de mudar uma pessoa, para que não seja vã nossas opiniões. A energia que dispendemos é muito grande, e a tendência é ativar um racional embriagado de opiniões, as quais não deixam de ser nunca se não forem práticas.

Por isso, no final de tudo... Quando o caríssimo amigo de Fabrício iria prolongar o assunto, eu disse,"tenho que me ir." Com um ar triste, ainda ouvi alguém dizer “estava tão bom, um assunto tão bom”.



Concordei.

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