Um processo tão antigo quanto o Cristianismo. |
Ontem quanto fui comer algo para sanar a fome do almoço,
preferi sair e ir à Lanchonete do Fabrício, um amigo muito gente boa, que
sempre nos recebe – não só a mim, mas a todos – com um sorriso simples e
sincero. Fabrício sempre gostou de conversar comigo, principalmente sobre
futebol, mas neste dia ele abriu mão.
Em sua lanchonete, um misto de locadora e boteco, muitos
passavam, comiam por lá, mas também ficavam sabendo dos últimos lançamentos de
cinema. E ele, meu amigo, sabia dizer sempre, entre um salgado e outro, se o
filme era bom ou ruim, mesmo não tendo aquele ar de crítico de cinema. O que
mais importava era sua opinião. Vinha de dentro.
Naquele dia, Fabrício conversa de modo simpático, mas também
meio chateado a respeito de maquininhas de cartão de crédito que não passam seu cartão nas horas mais difíceis. Um homem, alto e com voz de locutor, parecia
ser um comerciante simpático, sem pretensões escusas de falir Fabrício; muito
pelo contrário, estava ali fazendo a chamada boquinha, e já que meu amigo se
abria aos assuntos fáceis, replicava contra as operadoras de cartão e empresas
ricas pelo mau serviço.
Eu, de terno e gravata, cheguei, observei, atrapalhei um pouco Fabrício em sua
conversa, o que não parecia, porque, todas as vezes em que me vê – e naquele
dia não era diferente – sempre diz... “Meu caro amigo Reginaaaaaldo, como vai
vossa excelência?!” – e com o mesmo ar de alegria, eu digo, “bem, meu
amigo!”... E assim por diante.
E depois que me serviu com ser ar de amigo, voltou à
conversa sobre as maquininhas... Mas não por muito tempo. Eu, ao me levantar de
uma cadeira que ele coloca para os fregueses se sentirem à vontade, depois do
grande lanche, olhei bem uma prateleira na qual ficava os filmes de terror, e
mirei em um (não me lembro agora do nome) que fez um grande sucesso no ano passado – em
dezembro – e já estava em sua locadora.
Não pude deixar de comentar... “Poxa, Fabrício, esse filme
já está aqui?”, - “Sim, meu amigo, e é um dos mais vistos do filme de terror de
todos os tempos! Para ser mais claro, o terceiro”, disse entusiasmado, como
sempre.
O rapaz, que com ele conversava, olhou bem para o filme...
“eu não gosto de ver essas coisas!”, disse em um tom leve, sem qualquer sinal
de asco. Fabrício, por sua vez, continuou... “O que mais me impressionou nesse
filme foi que deixam bem claro que quem
não é batizado (pessoas que não são ungidas pelas águas) tem mais
facilidade pegar o Mal”...
Fabrício, esqueci-me de dizer, é de uma igreja evangélica.
Não sei qual. Mas sei que é um grande rapaz, que cultiva os princípios cristãos
sempre que necessário, e quando se referiu ao batismo, no filme, percebi que seu prisma era o mesmo de sempre. Eu
só não sabia que o comerciante, amigo com quem conversava, também era, e, sem
mais nem menos, argumentou acerca do ponto de vista de Fabrício, já com outro
ar. Não de defensor das maquinhas de cartão, mas do assunto, que já se pairava
na alvorada do diálogo entre os três...
Batismo Cristão
“As pessoas se confundem muito, quando acreditam que é
batismo o que feito no evangélico”, disse o rapaz alto, já com a mão nos bolsos
da calça e com um ar sério. Fabrício, esperto na questão, e para não ir de
encontro ao amigo, concordou descordando, sendo que nesta última não queria
deixar tão explícito...
E eu, já aceso, percebi que os dois iam descambar para uma
ladeira sem fim, e que para acompanha-los eu teria que frear, e ao mesmo tempo não
ir junto com eles... Entenderam? Com as pernas meio trocadas, de pé, encostado
no pequeno balcão, pensei duas vezes antes de falar algo, mas observei que os
dois, com pontos de vistas iguais, sem muita profundidade, teriam que rever
seus conceitos acerca do assunto (batismo), pois era notório que suas
experiências falavam mais alto, contudo, o que sabiam sobre ele era tão raso
quando um córrego no qual se vê peixes nadando... Então tive que ajudá-los.
Foi quando entrei de vez. “Sei que vocês sabem, mas é sempre bom salientar que o batismo é tão antigo quanto o próprio
Cristianismo...”. Eu não queria citar Blavatsky, Faraós, Sacerdotes iniciados,
mas fazê-los entender que naquele filme a “falta de batismo”, como mero
iniciador de causas malignas, como havia proposto o autor, nada mais era que
uma ideia incrível para fazer muitos acreditarem que sem ele (o batismo)
ficamos vulneráveis ao mal.
Mas, acredito, ainda não tinha sido o suficiente em minha
opinião. Assim, dei margem para ele, amigo do meu amigo, afirmar o que dizia antes. “Talvez na Igreja
Católica, mas não há o batismo no evangélio.”,
disse. “Não entendi o porquê”, repliquei sob os olhares de Fabrício. “O que eu
quis dizer...”, continuou, “... É que existe a parte do Espirito Santo”,
ficando mais sério o homem das maquininhas. “O Espirito Santo...” – segundo dizem,
a parte mais elevada do homem, responsável pela conexão com o maior deles, Deus.
– “...viria com o tempo, muito após o ‘mergulho nas águas’,” relatou como se fosse um
especialista...
Eu, claro, fiquei meio sem entender. Depois disse, para
melhor entendimento das partes, não só minha como a de Fabrício também, que, a
meu ver, não havia entendido essa questão do batismo que não era batismo, “Bem...
Se uma pessoa se banha nas águas, ela passa por uma iniciação, certo?”, todos
concordaram.
“...Na antiguidade, quando a pessoa mergulhava nas águas, não era
chamado batismo, mas iniciação, pois, em razão das águas, que significavam Vida
(Oceano Primordial), o individuo não era mais o mesmo. Talvez em corpo. Mas,
por dentro, não. Até hoje, em alguns lugares na Índia, uma pessoa quando diz
adeus, e vai ao mar, tomar banho em suas águas, ela se torna outro ser. Tanto
que, a depender do deus a que obedece, ao sair do mar, ela segue, vai embora, e
não conhece mais os seus".
Fabrício ficou espantando com tanta explicação, que ficara
vermelho. Ao contrário de seu amigo que persistia em dizer que o espirito
santo, hoje, é algo que se conhece pós-iniciação cristã (batismo), mas depende
de cada pessoa. “Eu, por exemplo”, disse ele, “.. Sou banhado nas águas, mas não
sou batizado, apesar de ser crente (denominação do fiel à sua religião). Porque
o espirito santo não se revelou em mim!”... Fiquei impressionado com tanta
reverberação com pouco fundamento.
Assim passei a dizer a ele que não só ali, mas, no passado,
há mais de 2000 a. C., homens, como faraós, sacerdotes, tinham a iniciação como
forma de oração, ou seja, uma mística que os religava com o Todo, com Deus.
Fabrício não guardava sem empolgação “Cara, esse homem sabe muito!”. E eu, na
janela do discurso, disse, “Se temos amor a algo, nada melhor do que ir atrás e
tentar entende-lo melhor. Tenho a certeza de que você, quando lê a sua bíblia,
e gosta do que lê, vai atrás de mais informações, não?” – achei que estava
sendo demais simplista. Mas fui cortado gentilmente por seu amigo, que me disse
“É isso mesmo, você tem razão”.
Aprendizado
Um dia, um grande professor me disse que, se temos que
dizer algo, que digamos com ideias de mudar uma pessoa, para que não seja vã
nossas opiniões. A energia que dispendemos é muito grande, e a tendência é
ativar um racional embriagado de opiniões, as quais não deixam de ser nunca se
não forem práticas.
Por isso, no final de tudo... Quando o caríssimo amigo de
Fabrício iria prolongar o assunto, eu disse,"tenho que me ir." Com um ar triste,
ainda ouvi alguém dizer “estava tão bom, um assunto tão bom”.
Concordei.
Nenhum comentário:
Postar um comentário