quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Falsos Diálogos

Deixar de ser o que somos,
em nome do que não queremos ser, para ter o que não precisamos: grande erro.




Jovens

Como somos pretensos a heróis sem fazer grandes atos, como somos senhores de situações sem ao menos entender o que nos significa a real responsabilidade de ser ou não ser. Como somos imaturos quando em conversas nos abastecemos com o que poderíamos ter feito e não o que não fazemos!

E sem razão prosseguimos como adolescentes em meio a outros, a dançar parado, com seus gestos burlescos , tentando “encantar” com seus atos, os quais não são nada mais que frivolidades praticadas e criadas para se manter acima do conceito do grupo.

Para o adolescente, a vida nada mais é que uma esquina cheia de surpresas, nas quais, ao se deparar com o mínimo possível de estranheza, sente-se mergulhado em uma aventura a lá Indiana Jones! Se não fosse trágico e bobo, seria no mínimo engraçado.

Claro que tem também a questão da simpatia na conquista de uma amizade, de uma paixão. É necessário, segundo as regras dos jovens, contar o que não fez ou alongar uma aventura que não passara, talvez, de uma tentativa de acordar no meio da semana, bem cedo.

Adultos e Filósofos

O adulto maduro, no entanto, não está longe de ser assim. Para impressionar os amigos, que não são vistos há décadas, faz-se de tudo para impor uma das maiores histórias com sentido engraçado, malicioso, sem cabresto, sem limites.

Não é preciso dizer que já tivemos exemplos como esses citados, pois assistimos todos os dias a esse espetáculo em que o protagonista – adolescente ou adulto – revela-se meio herói, meio amigo, meio palhaço, irradiando uma personalidade que, com certeza, está longe de seus reais objetivos: o de ser ela mesma.

Por isso, quando somos no mínimo praticantes de um objetivo que nos leve a sermos nós mesmos, temos a segurança de não ser o que não somos. Ou seja, se tenho em mim a meta de me harmonizar com uma natureza que me ronda, meus objetivos, na prática, vão me fazer andar em caminhos claros, rumo a um universo que para muitos é estranho. O de conhecer a mim mesmo.

E quando encontro amigos de há muito e quero me sentir bem contando histórias, cheio de alegrias inventadas, simplesmente porque acredito que o ambiente ficará mais alegre com isso, perco um pouco de meus rumos; porém, se continuo a transformar a conversa em algo agradável somente ao meus olhos, esqueço-me que é uma falta grave, pois há pessoas que não gostam – na realidade – detestam tais comportamentos.

Mas eu continuo, persisto, e esqueço-me de algo que me fez hoje o que sou. Perco o fio de Ariádine, o qual me fez entrar no labirinto das artimanhas fúteis, e que poderia me tirar dele a qualquer instante. Tal fio, a filosofia, o ideal, a procura, a busca por amor ao ideal humano, se perde.

Podemos, no entanto, para que não tenhamos esse fim, ficarmos em paz, calados, ou no mínimo contar os fatos como realmente foram, sem embelezá-los ou transfigurá-los ao ponto de deturpar um simples ato. Não nos esqueçamos de que a verdade, pura e simples, nos faz mais perto da grande verdade e da beleza interna.

E como somos buscadores de uma liberdade que nos faz mais seguros, seguindo leis naturais; como somos amantes de uma sabedoria prática; e mais, como somos humanos, e pretendemos ascender internamente em nome de uma evolução a que temos direito; como somos filósofos e acreditamos em Deus, e fazemos parte Dele, e que sem nós, ou qualquer entidade criada ou incriada, não O temos; como somos filhos de grãos de areia, sem nós, sem a areia, sem o mar, sem o sol, não há nada.


Vamos nos abastecer de vida, e que ela seja a mais pura e sincera, sem pretensões de sermos qualquer coisa, a não ser nós mesmos.

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