Tudo nos remete à eternidade. Está em nós isso. |
Atualmente somos bombardeados por internets, programas de
televisão, livros modernos, astros volúveis ao sucesso, homens e mulheres se
depreciando à medida que o mundo gira, enfim, por uma violência dos sentidos
arrebatando nossas almas ao passageiro, ao fútil, criando modelos débeis como
gelos em fôrma.
Nunca houve tantos exageros em nome de prazeres rápidos, nem
mesmo na grande Roma, quando em fins de Império, quando os grandes canalhas do
tempo (Calígula, Nero...) tomaram conta daquela que um dia foi modelo ao mundo,
mas que, em certos aspectos, sempre será.
Entretanto, em razão desses biltres governantes da
decadência, os quais nomeavam cavalos para o senado, colocavam fogos em cidades
em nome de um vaidosismo extremo, talvez em nome de uma decadência mais que
visível, e não sabiam, Roma se fora... Contudo, tais agruras nem chegam perto dos
Calígulas e Neros de hoje.
Prazer
Não vamos, contudo, falar deles. Falemos apenas do prazer,
desse que com certeza nos remete ao sexo, à gastronomia, ao fim de semana no
clube, ao dinheiro fácil e ao descanso regado a muita praia e mulheres. Não. Não
podemos cair em armadilhas como essas. Ainda que saibamos que, dentro desses,
há alguns que jamais largaremos, mesmo que houvesse uma enchente de anomalias
em nossas vidas.
No entanto, para a alegria duradoura, ou melhor, para um
degrau que nos faça ver a felicidade mais de perto, é preciso que pensemos em
valores eternos, não mutáveis. Uma reflexão acerca do que gostamos, do que
amamos, às pessoas que nos apegamos como facilidade, e, de algum modo, nos
perguntar se faz sentido.
Faz sentido. É por isso que o mundo material existe, e mais,
é por isso que precisamos dele, pois se nascêssemos já num mundo harmônico, não
haveria nem mesmo Cristo como salvador dos Cristãos, ou nosso querido Platão a
desvendar os mistérios de um universo complexo, ou mesmo esse blog... (grande
coisa!)
Faz sentido sim. Mas a questão é que a depreciação de
valores é real e faz parte desse mundo em que vivemos, e não podemos nos
desvencilhar dos seus erros, que são nossos, mas que também nos faz refletir
sobre como podemos melhorá-lo a partir de premissas tradicionais, das quais os
grandes homens, um dia, tiraram, o fizeram, e tornaram sua sociedade e seu
mundo melhor, e são conhecidos pela sua grandeza interna, não externa – a segunda
é uma consequência.
Enfim, temos muito que pensar, tornar prático o que
refletimos nesses séculos de filosofia, a qual tem levado o mundo a ser um
pouco mais sensato.
Voltando...
Entretanto, o sentido que tudo isso dá ao mundo material não
nos faz ser somente materiais. Temos que dar uma brecha (ou melhor, uma grande
brecha...) ao espirito, a nós mesmos. E quando iniciamos esse processo de
reflexão, de oração, de busca conosco mesmo, estamos em caminhos complexos ao
ver de determinadas pessoas, que, com pernas, braços, mentes e alma, não
entendem o porquê dessa grande necessidade humana de compreender a si mesmo.
Não podemos perder tempo, no entanto, tentando fazer-lhes
entender que, se o mundo é feito de humanos, governado por humanos, e está tão
frio como uma região deserta de sentimentos, precisamos fazer algo.
Essa frialdade, como diria Augusto dos Anjos, nos remente à
vida, às coisas que pertencemos, aos amigos que temos, aos objetivos que
alcançamos. Tudo isso nos faz ver, com outros olhos, que precisamos
(necessitamos!) de uma alma que se conecte com algo simples e, ao mesmo tempo,
que tenha um cheiro de eternidade.
Então, quando olharmos um sol, pensemos se ele se vai com o
tempo. E percebemos que sim. Mas o que nos remete à sua eternidade? Simplesmente
o que ele representa em nós. É a Beleza, a Arte, a Justiça, as quais, em um só
momento, se fundem em um só pensamento, harmônico; e tudo isso dentro de uma
reflexão que achávamos impossível.
Não era e nunca foi impossível. Podemos, sim, amar as coisas
eternas, quando o objeto a representa; podemos sim trazer para nossa alma esse
sentimento belo e divino, o qual, dentro do que colhemos na vida, pode
transformado e levado a um universo infinito.
O Diário
Um dia, um grande professor nos pediu para fazer um diário. E
muitos acharam engraçado, pelo fato de remeter tal tarefa a pessoas mais
jovens, ou mesmo a crianças que aprendem a escrever, quando são presenteadas
por pequenos diários. Que bobagem...
Não era uma obrigação, e por isso a maioria não estava nem
aí para a tarefa. E comprei um... E não tenho vergonha de dizer isso. Nesse
diário, teríamos que salientar o que fazíamos de bom durante o dia, e mais, das
coisas que gostávamos, das pessoas com quem conversávamos, ou seja, o relato
nosso do que fazíamos em nossa precária vida.
Não era, no entanto, para descrever somente, mas para
salientar nossas virtudes, prestar atenção em nosso comportamento junto às
pessoas de que gostávamos ou não, e se acaso tivéssemos algo que nos fizesse
fora da linha, tínhamos que consertá-lo... Era de amargar.
No final, tínhamos mais linhas tortas do que retas, e quando
isso acontece, temos o pensamento de que será uma longa jornada. E, hoje,
depois de vinte anos após essa aula, percebo que não só não conseguimos “consertar”
as linhas tortas, mas fazer outras mais tortas ainda... Ou seja, como era
difícil nos alinhar ao que realmente precisávamos.
E hoje
Atualmente, não temos diários, mas um leque de absurdos nos
levando a acreditar no que é bom e mau. Parece-nos que há uma organização nos
experimentando quando levantamos de mau humor, quando trabalhamos e não somos
bem pagos; quando tudo para nós se esvai no esgoto de nossa consciência. E com
isso, nos deparamos com frivolidades, falsos entretenimentos, falsos prazeres,
falsas artes, belezas... Vamos refletir sobre isso. O perfume da eternidade
está se indo...
Aprendiz
Assim, em meio a esse mundo tão material, não precisamos
achar que a matéria é ruim e que seus valores são vazios, mas, no meio de tudo
isso, temos a consciência de que é preciso a leveza, a paz, a felicidade, a sacralidade
e o amor. E se nossa consciência nos diz que tais valores são eternos, e que
são cultivados antes mesmo de nosso aparecimento no mundo, e mais, e que sem
eles não andamos, vivemos e evoluímos, precisamos criar mais que diários. Precisamos
nos alimentar deles, viver deles, pois são eternos.
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