sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Perfume de Eternidade

Tudo nos remete à eternidade. Está em nós isso.



Atualmente somos bombardeados por internets, programas de televisão, livros modernos, astros volúveis ao sucesso, homens e mulheres se depreciando à medida que o mundo gira, enfim, por uma violência dos sentidos arrebatando nossas almas ao passageiro, ao fútil, criando modelos débeis como gelos em fôrma.

Nunca houve tantos exageros em nome de prazeres rápidos, nem mesmo na grande Roma, quando em fins de Império, quando os grandes canalhas do tempo (Calígula, Nero...) tomaram conta daquela que um dia foi modelo ao mundo, mas que, em certos aspectos, sempre será.

Entretanto, em razão desses biltres governantes da decadência, os quais nomeavam cavalos para o senado, colocavam fogos em cidades em nome de um vaidosismo extremo, talvez em nome de uma decadência mais que visível, e não sabiam, Roma se fora... Contudo, tais agruras nem chegam perto dos Calígulas e Neros de hoje.

Prazer

Não vamos, contudo, falar deles. Falemos apenas do prazer, desse que com certeza nos remete ao sexo, à gastronomia, ao fim de semana no clube, ao dinheiro fácil e ao descanso regado a muita praia e mulheres. Não. Não podemos cair em armadilhas como essas. Ainda que saibamos que, dentro desses, há alguns que jamais largaremos, mesmo que houvesse uma enchente de anomalias em nossas vidas.

No entanto, para a alegria duradoura, ou melhor, para um degrau que nos faça ver a felicidade mais de perto, é preciso que pensemos em valores eternos, não mutáveis. Uma reflexão acerca do que gostamos, do que amamos, às pessoas que nos apegamos como facilidade, e, de algum modo, nos perguntar se faz sentido.

Faz sentido. É por isso que o mundo material existe, e mais, é por isso que precisamos dele, pois se nascêssemos já num mundo harmônico, não haveria nem mesmo Cristo como salvador dos Cristãos, ou nosso querido Platão a desvendar os mistérios de um universo complexo, ou mesmo esse blog... (grande coisa!)

Faz sentido sim. Mas a questão é que a depreciação de valores é real e faz parte desse mundo em que vivemos, e não podemos nos desvencilhar dos seus erros, que são nossos, mas que também nos faz refletir sobre como podemos melhorá-lo a partir de premissas tradicionais, das quais os grandes homens, um dia, tiraram, o fizeram, e tornaram sua sociedade e seu mundo melhor, e são conhecidos pela sua grandeza interna, não externa – a segunda é uma consequência.

Enfim, temos muito que pensar, tornar prático o que refletimos nesses séculos de filosofia, a qual tem levado o mundo a ser um pouco mais sensato.
  
Voltando...

Entretanto, o sentido que tudo isso dá ao mundo material não nos faz ser somente materiais. Temos que dar uma brecha (ou melhor, uma grande brecha...) ao espirito, a nós mesmos. E quando iniciamos esse processo de reflexão, de oração, de busca conosco mesmo, estamos em caminhos complexos ao ver de determinadas pessoas, que, com pernas, braços, mentes e alma, não entendem o porquê dessa grande necessidade humana de compreender a si mesmo.

Não podemos perder tempo, no entanto, tentando fazer-lhes entender que, se o mundo é feito de humanos, governado por humanos, e está tão frio como uma região deserta de sentimentos, precisamos fazer algo.

Essa frialdade, como diria Augusto dos Anjos, nos remente à vida, às coisas que pertencemos, aos amigos que temos, aos objetivos que alcançamos. Tudo isso nos faz ver, com outros olhos, que precisamos (necessitamos!) de uma alma que se conecte com algo simples e, ao mesmo tempo, que tenha um cheiro de eternidade.

Então, quando olharmos um sol, pensemos se ele se vai com o tempo. E percebemos que sim. Mas o que nos remete à sua eternidade? Simplesmente o que ele representa em nós. É a Beleza, a Arte, a Justiça, as quais, em um só momento, se fundem em um só pensamento, harmônico; e tudo isso dentro de uma reflexão que achávamos impossível.

Não era e nunca foi impossível. Podemos, sim, amar as coisas eternas, quando o objeto a representa; podemos sim trazer para nossa alma esse sentimento belo e divino, o qual, dentro do que colhemos na vida, pode transformado e levado a um universo infinito.

O Diário

Um dia, um grande professor nos pediu para fazer um diário. E muitos acharam engraçado, pelo fato de remeter tal tarefa a pessoas mais jovens, ou mesmo a crianças que aprendem a escrever, quando são presenteadas por pequenos diários. Que bobagem...

Não era uma obrigação, e por isso a maioria não estava nem aí para a tarefa. E comprei um... E não tenho vergonha de dizer isso. Nesse diário, teríamos que salientar o que fazíamos de bom durante o dia, e mais, das coisas que gostávamos, das pessoas com quem conversávamos, ou seja, o relato nosso do que fazíamos em nossa precária vida.

Não era, no entanto, para descrever somente, mas para salientar nossas virtudes, prestar atenção em nosso comportamento junto às pessoas de que gostávamos ou não, e se acaso tivéssemos algo que nos fizesse fora da linha, tínhamos que consertá-lo... Era de amargar.

No final, tínhamos mais linhas tortas do que retas, e quando isso acontece, temos o pensamento de que será uma longa jornada. E, hoje, depois de vinte anos após essa aula, percebo que não só não conseguimos “consertar” as linhas tortas, mas fazer outras mais tortas ainda... Ou seja, como era difícil nos alinhar ao que realmente precisávamos.

E hoje

Atualmente, não temos diários, mas um leque de absurdos nos levando a acreditar no que é bom e mau. Parece-nos que há uma organização nos experimentando quando levantamos de mau humor, quando trabalhamos e não somos bem pagos; quando tudo para nós se esvai no esgoto de nossa consciência. E com isso, nos deparamos com frivolidades, falsos entretenimentos, falsos prazeres, falsas artes, belezas... Vamos refletir sobre isso. O perfume da eternidade está se indo...

Aprendiz


Assim, em meio a esse mundo tão material, não precisamos achar que a matéria é ruim e que seus valores são vazios, mas, no meio de tudo isso, temos a consciência de que é preciso a leveza, a paz, a felicidade, a sacralidade e o amor. E se nossa consciência nos diz que tais valores são eternos, e que são cultivados antes mesmo de nosso aparecimento no mundo, e mais, e que sem eles não andamos, vivemos e evoluímos, precisamos criar mais que diários. Precisamos nos alimentar deles, viver deles, pois são eternos.

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