JAL: “Olhe para a estrela para qual aponto; não para mim” |
“Se você não sabe se vestir, nem mesmo se portar diante das
pessoas, imite”. Com a simplicidade que lhe era apraz, um grande professor
repetia sempre a mesma frase quando se deparava com alunos que lhe perguntavam “o
que faço nessa hora quando eu esquecer dos referenciais aqui aludidos?”
Há uma necessidade, percebi. Não há como não ir por essa direção.
Às vezes, nos perdemos, e temos, inclusive, medo de nos corrigir ante as
pessoas, quaisquer que sejam. Então, ao surgir alguém que nos eleve naturalmente,
com seu porte e caráter, por que não nele se basear? É como improvisar um barco
com um papelão no meio do mar, o qual nos serve, provisoriamente, para nos “salvar”.
Talvez eu esteja fazendo a alusão metafórica errada, e de
repente seja como centralizar-se, referenciar-se em alguém, com o objetivo de
se iluminar um pouco mais, pois sabemos que, por mais que tenhamos forças, elas
se vão com o tempo; por mais que tenhamos visão ao nossos objetivos, essa visão
começa a deturpar, sair do foco... Então, nesse caso, é melhor que nos baseemos
em alguém, de modo a reforçar o que tanto temos em nós.
Mestres.
Não podemos, no entanto, confundir tais referenciais com o
referencial interno. Aquele que encontramos é o nosso mestre interior, e por
sermos um tanto quanto volúveis, vamos dizer assim..., à matéria, tal figura
desaparece como uma luz que esvai no escuro, perdendo sua energia... O
referencial a que me refiro é apenas um meio para que não possamos esquecer
aquela luz que deixamos ir.
Após a repetição dos modos, que, intuitivamente, estão em
nós; após a imitação natural da voz, do andando, do comportamento, da virtude
que um dia se fora, lembramo-nos dos conceitos que a tanto fizeram parte de
nosso contexto vital. O mestre, assim, em nós, volta a aparecer.
Explico melhor. É como se olhássemos a figura de uma pessoa
parecida com aquela que um nos deu amor, carinho, proteção... Enfim, valores básicos
que recebemos dos pais; porém tal pessoa (ou pessoas) não mais existe. Assim,
na falta dela, nossos instintos “procuram” algo que se assemelhe a ela e inicia
um processo natural seletividade nas pessoas que nos rondam...
Aluno e Discípulo
É claro que com o mestre, quando o esquecemos, é porque
somos e fomos apenas alunos, não discípulos, pois este último nunca esquece a
figura do mestre nem mesmo no último dia de sua vida. O aluno, por sê-lo,
revela-se mais ansioso por viver uma vida fora do circulo do saber, em razão de
se comprometer com alguém que, por natureza, nasceu para ensinar, mas o aluno,
somente para escutar, não praticar.
O discípulo, quando compreende a vida que o aguarda, sabe
que seus objetivos não são mais os mesmos. Ele vai fazer tudo que um dia
fizera, mas que somente agora terá um sentido espiritual.
Vai andar em seu caminho, vai usar as suas palavras, vai
trabalhar naturalmente, mas sempre dentro de chaves que o mestre lhe confiar.
Toda sua vida, em meio a um mundo, uma época, sociedade, será um campo em que
semeará o Amor, a Verdade e a Beleza, os quais não compreendia, e que sempre
estiveram em si, desde há muito.
Cuidados
Entender que é preciso às vezes copiar modos é uma tarefa
fácil, porém temos que tomar bastante cuidado, pois estamos a copiar pessoas,
nada mais. Elas podem deixar-se levar pelos ventos dos joguetes de uma
sociedade; pode se embriagar facilmente com amizades fortuitas, pode se
apaixonar e cair na clausura de uma paixão louca, enfim... O que mais nos
interessa pode até ser a parte virtuosa da pessoa, contudo, com o tempo,
podemos fazê-la de ídolo falso e com ela cair em devaneio pelo mundo.
E JAL, um grande mestre do presente, dito por ele mesmo como
discípulo aceito, o que significa em nosso nível Mestre, ressaltava em seus
ensinamentos, os quais jamais em minha vida esquecerei, uma frase que somente
há pouco tempo pude entender... ““Olhe para a estrela para qual aponto; não
para mim”.
Sabia que mesmo com toda a sua virtude, todo o seu amor à
humanidade, era um ser humano, ou seja, estaria, de alguma forma (não me
pergunte qual) sujeito a errar. Isso me lembra também os grandes de épocas
passadas, mais especificadamente Sócrates, depois que a sacerdotisa lhe disse “Você
é o homem mais sábio da Grécia!”, e ele, humildemente, respondeu... “Só sei que
nada sei”.
A JAL.
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