Nesse grande navio em que estamos, ou como diria um grande filósofo, nesse trem sem maquinista, percebemos brigas para comandá-lo, mesmo que não tenham sequer treinamento para tanto.
Uma luz que brilhou demais. |
Sócrates, 469 aC – 399 aC, foi um filósofo ateniense do período
clássico, na Grécia Antiga. Hoje, graças a Platão, seu discípulo (428aC-347aC),
que em sua obras ressalta o mestre, em cada diálogo, percebemos que há
diversos Sócrates, cada um com seus enigmas, com mistérios nos quais o próprio Platão
deixou-nos para desvendar. Mas uma coisa é clara, o “Filho do Pedreiro”, ou “A
mosca”, como era mais conhecido na cidade de Atenas, por nunca sossegar, sempre
se importou com a Verdade.
Dizem que havia um elementar que o seguia, que dava “ordens”,
às quais Sócrates fazia questão de obedecer... Tal Demon, como dizia, falava
em seus ouvidos nas horas em que o filósofo partia para suas caminhadas com
seus discípulos, e com eles respostas fluíam do nada, semelhante a uma fonte do
saber.
Sócrates, ao contrário de seu discípulo maior, Platão, não
era iniciado, mas isso não o deixaria à parte daqueles tradicionais filósofos
aos quais nos referimos sempre; muito pelo contrário. Dele muitas filosofias e
ideologias partiram, escolas foram feitas, discípulos nasceram, além de mestres
que colheram a essência do que ele fora, e até hoje, graças a eles, o
respeitamos e admiramos.
O que nos faz admirar Sócrates, na realidade, é que mesmo em
uma época tão conturbada, como era a da democracia ateniense – na qual Platão
se inspirou para fazer o Mito da Caverna, -- se fazia como um raro homem em
busca da verdade. Enfim, ele já a tinha em suas possibilidades, e conseguia a
ver, e demonstrar do seu modo a Verdade.
Com isso criara a maiêutica, uma forma espetacular de
retirar dos homens (não apenas dos jovens) a verdade. Em primeiro lugar, fazia
perguntas diretas sobre a Verdade, Justiça e sobre o Bem, de modo que o
interceptor ficasse tímido no inicio,
mas depois se sentia à vontade; mas Sócrates só estaria sendo um pouco cínico,
porque já sabia a resposta.
No entanto, fazia com que o receptor do diálogo tivesse uma
linha para seguir, como um caminho reto, e depois, ao sentir que estava perto
do real conceito, falaria ao mestre. Ou seja, Sócrates tinha um método que
fazia com que a pessoa descobrisse a verdade por ela mesma.
No entanto, em uma cidade que espelhava injustiça, desordem
moral e ética a olhos vistos – assim como hoje – seria um tanto quanto difícil
tentar seguir tal caminho sem afrontas, as quais sabia o filósofo que iria
enfrentar.
E como todo caminho para cima é de certo modo estreito,
iniciou os confrontos com os políticos da época, entre eles Meleto, um dos seus
raros amigos que pularam o muro para o lado do interesse escuso.
Meleto sabia que Sócrates era duro de roer, mas, mesmo
assim, fazia questionamentos do porquê que o seu antigo amigo fazia questão de
ir de encontro às leis do sistema
ateniense, desobedecendo-as. E Sócrates, sempre tornaria a dizer, “não posso
obedecer àquilo que não existe”, em sua complacência humana e clara.
Outros, mais febris com seu modo de ser, perguntavam porque
Sócrates corrompia a juventude, falando até em desobediências aos deuses da
cidade. “Não corrompo jovens, não corrompo ninguém; dou-lhes apenas a
oportunidade de descobrir a verdade por eles mesmos, ao contrário dos demais,
só isso” – a ironia socrática se fazia presente.
E quanto aos deuses, disse antes de ser levando preso, “Não
posso desrespeitar potencialidades que
nos criaram; se eu acredito que há uma por trás de cada ser humano, e nele
acredito, por que eu deveria deixar de acreditar em divindades, ou desrespeitá-las?”...
“A acusação não tem fundamento”, disse.
O mestre foi condenado à morte.
Enfim...
Tudo se passara, e o tempo nos faz todos os dias refletir
acerca do que somos, para onde vamos e porquê. Todos os dias singramos em
navios enormes, cujos marinheiros por mais bem intencionados que sejam, não
sabem navegar, serem comandantes, pois não amam o mar, nem mesmo o navio, ou tiveram
treinamento especifico para tanto.
E desse navio metafórico, como Sócrates fazia questão de
lembrar, elegemos de qualquer forma um marinheiro, um tripulante, um perdido em
meio ao mar, simplesmente porque o sistema o pede. Será que pede mesmo?...
Não, se sistema falasse, ele próprio pediria respeito, mesmo
porque sistema são feitos de pessoas – sociedades, grupos, enfim – e são
eleitos de acordo com a vontade alheia para comandá-lo. Não há comandantes reais,
Nenhum sistema gostaria, na minha visão, de ter em seu currículo
pessoas morrendo, crianças abandonadas à mercê da miséria, ou mesmo sociedades
com todas as regalias e outras com tão pouco. Isso, infelizmente, é desejo
humano.
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