quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A Sombra do Mestre

Nesse grande navio em que estamos, ou como diria um grande filósofo, nesse trem sem maquinista, percebemos brigas para comandá-lo, mesmo que não tenham sequer treinamento para tanto.  


Uma luz que brilhou demais.



Sócrates, 469 aC – 399 aC, foi um filósofo ateniense do período clássico, na Grécia Antiga. Hoje, graças a Platão, seu discípulo (428aC-347aC), que em sua obras ressalta o mestre, em cada diálogo, percebemos que há diversos Sócrates, cada um com seus enigmas, com mistérios nos quais o próprio Platão deixou-nos para desvendar. Mas uma coisa é clara, o “Filho do Pedreiro”, ou “A mosca”, como era mais conhecido na cidade de Atenas, por nunca sossegar, sempre se importou com a Verdade.

Dizem que havia um elementar que o seguia, que dava “ordens”, às quais Sócrates fazia questão de obedecer... Tal Demon, como dizia, falava em seus ouvidos nas horas em que o filósofo partia para suas caminhadas com seus discípulos, e com eles respostas fluíam do nada, semelhante a uma fonte do saber.

Sócrates, ao contrário de seu discípulo maior, Platão, não era iniciado, mas isso não o deixaria à parte daqueles tradicionais filósofos aos quais nos referimos sempre; muito pelo contrário. Dele muitas filosofias e ideologias partiram, escolas foram feitas, discípulos nasceram, além de mestres que colheram a essência do que ele fora, e até hoje, graças a eles, o respeitamos e admiramos.

O que nos faz admirar Sócrates, na realidade, é que mesmo em uma época tão conturbada, como era a da democracia ateniense – na qual Platão se inspirou para fazer o Mito da Caverna, -- se fazia como um raro homem em busca da verdade. Enfim, ele já a tinha em suas possibilidades, e conseguia a ver, e demonstrar do seu modo a Verdade.

Com isso criara a maiêutica, uma forma espetacular de retirar dos homens (não apenas dos jovens) a verdade. Em primeiro lugar, fazia perguntas diretas sobre a Verdade, Justiça e sobre o Bem, de modo que o interceptor ficasse  tímido no inicio, mas depois se sentia à vontade; mas Sócrates só estaria sendo um pouco cínico, porque já sabia a resposta.

No entanto, fazia com que o receptor do diálogo tivesse uma linha para seguir, como um caminho reto, e depois, ao sentir que estava perto do real conceito, falaria ao mestre. Ou seja, Sócrates tinha um método que fazia com que a pessoa descobrisse a verdade por ela mesma.

No entanto, em uma cidade que espelhava injustiça, desordem moral e ética a olhos vistos – assim como hoje – seria um tanto quanto difícil tentar seguir tal caminho sem afrontas, as quais sabia o filósofo que iria enfrentar.

E como todo caminho para cima é de certo modo estreito, iniciou os confrontos com os políticos da época, entre eles Meleto, um dos seus raros amigos que pularam o muro para o lado do interesse escuso.

Meleto sabia que Sócrates era duro de roer, mas, mesmo assim, fazia questionamentos do porquê que o seu antigo amigo fazia questão de ir de encontro  às leis do sistema ateniense, desobedecendo-as. E Sócrates, sempre tornaria a dizer, “não posso obedecer àquilo que não existe”, em sua complacência humana e clara.

Outros, mais febris com seu modo de ser, perguntavam porque Sócrates corrompia a juventude, falando até em desobediências aos deuses da cidade. “Não corrompo jovens, não corrompo ninguém; dou-lhes apenas a oportunidade de descobrir a verdade por eles mesmos, ao contrário dos demais, só isso” – a ironia socrática se fazia presente.

E quanto aos deuses, disse antes de ser levando preso, “Não posso desrespeitar potencialidades  que nos criaram; se eu acredito que há uma por trás de cada ser humano, e nele acredito, por que eu deveria deixar de acreditar em divindades, ou desrespeitá-las?”... “A acusação não tem fundamento”, disse.

O mestre foi condenado à morte.


Enfim...


Tudo se passara, e o tempo nos faz todos os dias refletir acerca do que somos, para onde vamos e porquê. Todos os dias singramos em navios enormes, cujos marinheiros por mais bem intencionados que sejam, não sabem navegar, serem comandantes, pois não amam o mar, nem mesmo o navio, ou tiveram treinamento especifico para tanto.

E desse navio metafórico, como Sócrates fazia questão de lembrar, elegemos de qualquer forma um marinheiro, um tripulante, um perdido em meio ao mar, simplesmente porque o sistema o pede. Será que pede mesmo?...

Não, se sistema falasse, ele próprio pediria respeito, mesmo porque sistema são feitos de pessoas – sociedades, grupos, enfim – e são eleitos de acordo com a vontade alheia para comandá-lo. Não há comandantes reais,

Nenhum sistema gostaria, na minha visão, de ter em seu currículo pessoas morrendo, crianças abandonadas à mercê da miséria, ou mesmo sociedades com todas as regalias e outras com tão pouco. Isso, infelizmente, é desejo humano. 

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