quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A Sombra de Sócrates

Eleição. Voto. Povo. Candidatos... uma época de reflexão em comunhão com os dissabores da política atual. É preciso repensar sempre o papel do ser humano nessas horas, dentro de sua sociedade e universo -- mas como?



Sócrates. Mais eterno do que nunca.



A imagem, o som, os sentidos, os trabalhos realizados pelos deuses, tudo possui uma verdade. No terreno dos homens, no entanto, este em que se passam ideologias, pensamentos refletidos e irrefletidos, sempre acompanhados de uma perspicácia racional, há sempre o medo de sermos enganados, pois, ao se tratar de homens e sistemas, todos se unem em função de interesses que estão longe de outra verdade... A humana.

Não fui claro. Desde que o homem é homem houve sempre aqueles que buscaram o poder, mesmo que fosse provisório, com apenas alguns segundos de rejubilação no provável trono. Houve sempre, também, aqueles que questionaram atos desses supostos reis, os quais nasceram como ervas daninhas em forma de governos pelo mundo afora.

Ao contrário dos homens que indagam posturas, que nascem em suas cavernas, que querem ver o sol, trabalham escusos em nome de uma humanidade que, na maioria das vezes, não os compreende. Tais seres, os filósofos, amantes da verdade, foram em épocas distantes excomungados e jogados para fora de seus países, e até hoje são vistos como extraterrestres invasores de mentes de jovens, assim como um dia o foi nosso querido Sócrates, o qual, como uma tocha acesa nas mentes humanas, que provocava o escuro imposto pelos grandes políticos, foi obrigado a nos deixar, pois brilhava demais...

E como diria um grande filósofo “até mesmo a luz pode nos deixar longe da realidade”, enfim, não apenas o escuro nos deixa cego, mas a luz, em sua plena imensidão, como o sol, em olhos maduros, que saem de cavernas, é perigosa. Foi o que aconteceu com o filósofo.

Um Pouco de Sócrates

Caminhando entre os jovens e a conversar naturalmente acerca da Verdade, Justiça e Beleza, Sócrates os fazia refletir sobre tais quesitos (era a maiêutica), e nesse ínterim, olhava de soslaio o rosto do ignorante e sorria com pequenos gestos labiais e imprecisos – era a ironia de socrática.

Mas ele nunca conseguiu parar. Mesmo depois de sentenciado à morte, revelava-se um homem -menino em meio a monstros que o ameaçavam prendê-lo de vez; mas amava o que fazia, e fazia de modo racional, inteligente, emotivo, sempre idealizando a Verdade.


Um dia questionado acerca do porquê de sua vida ser voltada a violar os preceitos da sociedade  (na época), como corromper os jovens, desobedecer às leis, e aos deuses, ele respondeu... “Não corrompo jovens, apenas dou-lhes a oportunidade de buscar a verdade que neles se esconde, ao contrário do que ocorre com os demais; e com relação às leis, não posso obedecer àquilo que não existe, e quanto aos deuses, se acredito no ser humano, acredito em potencialidades que o fizeram, e se há potencialidades, como posso desobedecer a esse Principio?”...

Sócrates revelou-se, como poucos, corajoso e fiel aos seus princípios, e, quando o questionavam sobre o sistema da época, dizia... “Me digam uma coisa, vocês elegeriam, como agora o fazem, um comandante de um navio, em pleno alto mar?” – era a Democracia grega da qual surgiam os governantes os quais Sócrates tinha asco, e que fazia questão de criticar... “Não!, não elegeríamos”, dizia Meleto, um dos amigos que tinham sucumbido à politica... E continuava o filósofo... “Outra coisa, se precisares de um marceneiro, de um sapateiro,  em situações nas quais eles lhe faltem, vai tentar elegê-los no meio do povo, da mesma forma?”... E olhando o vazio, Meleto disse... “Não”...  “Então – disse Sócrates --, por que no momento em que precisamos de um homem justo que governe uma cidade, elegemos qualquer um?”

Meleto, claro, em meio a pensamentos que pareciam se conformar com o que Sócrates falara, desiste de continuar e se vai, ofendendo o filósofo.

Hoje

Quanto observo seres surgindo do nada, pedindo (às vezes implorando) meu voto, repenso o que Sócrates falou no passado. E penso: nossos ouvidos precisam de uma voz, e nossa consciência, roubada, adulterada, precisa se um novo dono, mesmo que seja aquele ser que se esconde em nós, que se revela dono da verdade, porém, precisamos de um outro ser que nos acorde e nos direcione em favor desse primeiro, que subjaz a nossa alma: falo de um mestre.

Mas a sociedade não é mais a mesma. Está semelhante a uma bola irreparável de desordem, dentro da qual nos sentimos como meninos sendo educados por ignorantes. O passado, a pensar dessa forma, não se esconde, mas se mostra e se revela tão atual quanto o ontem.

E quando observamos esses reais ETS que vêm do nada, em forma de números, de caras de fome, de línguas incompreensíveis, sem nada a lhe oferecer a não ser a mentira, penso na educação que estamos formando.




E isso é assunto para mais tarde...

Abraços.


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