terça-feira, 28 de outubro de 2014

Esperanças como Nuvens





Quando o sol bater

Na janela do teu quarto
Lembra e vê
Que o caminho é um só

(...)
Até bem pouco tempo atrás
Poderíamos mudar o mundo

Quem roubou nossa coragem?

(Legião Urbana)


Nesse tempo invariável, em que nuvens se vão de tarde e voltam de noite, percebemos o quanto a natureza tenta nos explicar a variabilidade natural das coisas, a mutabilidade, como se fôssemos expectadores de um grande teatro, sem sabermos.

As nuvens, quando escuras, nos proporcionam o entendimento de que os mistérios estão acima de nós, mas podemos refletir acerca deles, sem medo. Não é apenas a precipitação de chuva, mas de uma escuridão inviolável, na qual não podemos fazer nada, apenas esperar...

Pode ser a chuva, claro, ou, como diriam em tempos idos, pode ser a fomentação de mais forças a nos levar para o alto ou para o mais baixo da superfície da terra. É uma questão de saber lidar com a natureza, com suas potencialidades, com as cortinas que o mundo nos mostra...

E quando percebemos, do nosso ponto de vista, que estamos longe de perceber o que realmente pode nos acontecer... Deixamos de lado. Não olhamos nem mesmo a fresta que vem após a última nuvem que se foi. Esse é um dos males humanos... Não perceber que, nas mínimas entrelinhas, lhe ocorrem mistérios – não somente em filmes policiais, longe disso, não é desses que lhes falo..! – mas de mistérios sagrados que nos podem modificar a vida, nossos caminhos...

E nesses dias percebi que elas, as grandes nuvens, se uniram novamente. Deram-nos mais mistérios a refletir. E dentro deles o poder de mudança, seja ele entre nós, ou dentro de nós. Mas o que mais importante deu para perceber foi uma natureza que se harmonizou, se integrou com o homem, e está disposta a nos dar mais esperanças – não em forma de sistemas políticos, mas em forma de esperanças, de pensarmos mais em nós, como seres humanos, elevando-nos mais a consciência, como deveríamos fazer sempre.

Hoje... Não fazemos, no entanto. Olhamos para baixo, às vezes, para o lado, jamais para o alto; e isso nos transforma em seres não culturais, cuja natureza nada mais é que opinosa, eclética (no pior sentido da palavra), seres que não refletem acerca do seu próprio universo, de quem realmente somos.
Isso já é notório do homem atual, que se desligou de suas tradições; quebrou completamente seu legado natural, de conhecimento, de sabedoria, e se jogou em rios que foram sujos por um passado não muito distante.  E isso me faz lembrar do nazismo, que nada mais era que um movimento criado por um ditador com o objetivo de recomeçar tudo do zero, a partir de premissas “criadas” por eles mesmos!

Digo que não só o nazismo o fez. Mas todos os movimentos modernistas que tiveram como objetivo “pensar por si mesmos”, dando vazão ao cidadão de não ser influenciado pelos parnasianos, pela educação clássica grega, francesa, enfim, educação que ditava passos, ritmos, fosse na música, fosse  na poesia, e isso ao Ocidente, que se ‘organizava’ , era ruim, ao passo servir-lhe-ia como experiência cultural a gerações que um dia conheceram o que era realmente tradição.

Depois daquela época – em que nuvens negras se formaram, dando ao mundo o desespero, a dor, a falta de identidade – vejo que estamos com outras nuvens, diferentes, ainda que haja guerras, fomes, mortes, doenças, mais do que em outras épocas... Enfim, mesmo com tudo tão evidência, prefiro dizer que estamos passando por momentos necessários à humanidade, como se renascesse um novo mundo, baseado numa decadência pela qual todos um dia passam e passarão sempre, entretanto, tais nuvens que visualizo hoje nos traz, a meu ver, uma segurança de que nossos dias de automatismo, tristeza em excesso, hipocrisia, estão se indo...


O sol está surgindo.

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