Quando o sol bater
Na janela do teu quarto
Lembra e vê
Que o caminho é um só
(...)
Até bem pouco tempo atrás
Poderíamos mudar o mundo
Quem roubou nossa coragem?
(Legião Urbana)
Nesse tempo invariável, em que nuvens se vão de tarde e
voltam de noite, percebemos o quanto a natureza tenta nos explicar a
variabilidade natural das coisas, a mutabilidade, como se fôssemos expectadores
de um grande teatro, sem sabermos.
As nuvens, quando escuras, nos proporcionam o entendimento
de que os mistérios estão acima de nós, mas podemos refletir acerca deles, sem
medo. Não é apenas a precipitação de chuva, mas de uma escuridão inviolável, na
qual não podemos fazer nada, apenas esperar...
Pode ser a chuva, claro, ou, como diriam em tempos idos,
pode ser a fomentação de mais forças a nos levar para o alto ou para o mais
baixo da superfície da terra. É uma questão de saber lidar com a natureza, com
suas potencialidades, com as cortinas que o mundo nos mostra...
E quando percebemos, do nosso ponto de vista, que estamos
longe de perceber o que realmente pode nos acontecer... Deixamos de lado. Não
olhamos nem mesmo a fresta que vem após a última nuvem que se foi. Esse é um
dos males humanos... Não perceber que, nas mínimas entrelinhas, lhe ocorrem mistérios
– não somente em filmes policiais, longe disso, não é desses que lhes falo..! –
mas de mistérios sagrados que nos podem modificar a vida, nossos caminhos...
E nesses dias percebi que elas, as grandes nuvens, se uniram
novamente. Deram-nos mais mistérios a refletir. E dentro deles o poder de
mudança, seja ele entre nós, ou dentro de nós. Mas o que mais importante deu
para perceber foi uma natureza que se harmonizou, se integrou com o homem, e
está disposta a nos dar mais esperanças – não em forma de sistemas políticos,
mas em forma de esperanças, de pensarmos mais em nós, como seres humanos,
elevando-nos mais a consciência, como deveríamos fazer sempre.
Hoje... Não fazemos, no entanto. Olhamos para baixo, às
vezes, para o lado, jamais para o alto; e isso nos transforma em seres não
culturais, cuja natureza nada mais é que opinosa,
eclética (no pior sentido da palavra), seres que não refletem acerca do seu próprio
universo, de quem realmente somos.
Isso já é notório do homem atual, que se desligou de suas
tradições; quebrou completamente seu legado natural, de conhecimento, de
sabedoria, e se jogou em rios que foram sujos por um passado não muito
distante. E isso me faz lembrar do
nazismo, que nada mais era que um movimento criado por um ditador com o
objetivo de recomeçar tudo do zero, a partir de premissas “criadas” por eles
mesmos!
Digo que não só o nazismo o fez. Mas todos os movimentos
modernistas que tiveram como objetivo “pensar por si mesmos”, dando vazão ao cidadão
de não ser influenciado pelos parnasianos, pela educação clássica grega,
francesa, enfim, educação que ditava passos, ritmos, fosse na música,
fosse na poesia, e isso ao Ocidente, que
se ‘organizava’ , era ruim, ao passo servir-lhe-ia como experiência cultural a
gerações que um dia conheceram o que era realmente tradição.
Depois daquela época – em que nuvens negras se formaram,
dando ao mundo o desespero, a dor, a falta de identidade – vejo que estamos com
outras nuvens, diferentes, ainda que haja guerras, fomes, mortes, doenças, mais
do que em outras épocas... Enfim, mesmo com tudo tão evidência, prefiro dizer
que estamos passando por momentos necessários à humanidade, como se renascesse um
novo mundo, baseado numa decadência pela qual todos um dia passam e passarão
sempre, entretanto, tais nuvens que visualizo hoje nos traz, a meu ver, uma
segurança de que nossos dias de automatismo, tristeza em excesso, hipocrisia, estão
se indo...
O sol está surgindo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário