Do sapateiro de Platão, ao maior dos governantes... quem seria o melhor? A vocação é quem pode nos dizer.
A vocação se assemelha a nós. |
Quando se nasce para algo – para algo pelo qual amaríamos pelo
resto da vida, não sabemos. Apenas depois de várias experiências em que nos
aparecem características em nossos atos, em nossas vocações para aquilo a que
realmente somos voltados, é certo que nos dedicaremos eternamente...
Eu, como leitor das obras de Platão, um leitor não muito
atento, claro, penso sempre naquele sapateiro, ou mesmo naquele marceneiro que
o filósofo cita quando está a construir sua República, sem os vazamentos a que
somos obrigados a perceber na nossa. Imagino aquele ser, aquele homem a moldar
as sandálias dos guerreiros, os calçados em geral, como um pequeno peixe feliz
por está livre em um oceano no qual todas as suas espécimes circundam sem
perigo – de qualquer nível.
O sapateiro, o marceneiro, os guardiões, segundo nosso amigo
do conhecimento, estariam ali por valores internos, dos quais descobrir-se-ia que
eram voltados a suas profissões – se é que se pode dizer assim, porque, ao se
tratar de profissões, como conhecemos atualmente, fala-se de emprego, salário, contas,
enfim, menos de nós, como humanos. E quando Platão fala de um ser que conhece
sua vocação, é como se ele mesmo descobrisse quem ele é.
Claro que estamos nos referindo a processos tradicionais dos
quais o filósofo retira toda a sua República. Não foi algo do nada. Muito pelo
contrário. É uma mescla de sua filosofia, de seu conhecimento, unidos à
tradição mais antiga que o próprio homem. E sendo assim, a "fumaça da boa filosofia" nos faz aludir um pouco sobre uma grande civilização, a egípcia.
E para quem conhece um pouco a filosofia egípcia, pode muito bem visualizar os grandes faraós, seus “funcionários” dedicados na realização de obras divinas, nos desenhos quase vivos, em relevo, daqueles artistas que eram completamente voltados ao que faziam.
E para quem conhece um pouco a filosofia egípcia, pode muito bem visualizar os grandes faraós, seus “funcionários” dedicados na realização de obras divinas, nos desenhos quase vivos, em relevo, daqueles artistas que eram completamente voltados ao que faziam.
No Egito, o que mais
se praticava era uma República real, concreta, dentro da qual valores eram
respeitados, desde o dia em que se nascia, ao dia que conheceria o pós-morten. Ou seja, mulheres eram mulheres, e respeitavam
seus maridos, e vice-versa; mas quando tocamos nesse assunto, principalmente,
ao papel das mulheres, nos parece machismo, e quando falamos de faraós,
feminismo... Por quê?
Se uma mulher se dedica, desde a sua infância, ao seu papel
de mulher, faz aquilo que sua vocação determina, sendo, antes disso, feminina,
dedicada, bela, doce, instintiva e ao mesmo tempo guerreira, não quer dizer que
o sistema fora machista.
Devemos entender que, nas mínimas coisas, temos que
respeitar o que a natureza nos propõe, como ser humanos, sendo homens e
mulheres, não deixando que “ismos” tomem conta de nossos ares, esferas e
mentes, como gazes tóxicos.
Hoje, com certeza, não saberíamos como fazê-lo, e relutaríamos
em entender nosso papel no universo, ou mesmo em uma sociedade, mesmo porque
tal valor, nesse sistema, não é valido. Ou seja, buscar entender algo que faço,
a partir do que sou, é como se estivesse indo de encontro a uma série de
sistemas, não só esse, porque não o interessa há tempos tudo isso.
Mas no passado, se um homem abrisse sua casa, e sua esposa
não tivesse com todas as coisas organizadas, era como se afrontasse uma pequena
parcela de Deus – não o pessoal – e até mesmo do próprio universo humano,
dentro do qual mulheres eram mulheres, homens eram homens – premissa boba, mas
básica e importante... E ao saber disso,
o homem, ponte entre divina, poderia punir sua esposa...
O que nos faz pensar que, mesmo sabendo distinguir nossos
gêneros, é preciso que busquemos a profundidade do que somos. Estou me
referindo ao Logus, o que mora em cada um. A mulher, com terceiro logus, o
homem, com o segundo, e os dois com a plenitude do primeiro. Não seria difícil,
assim, entender os deuses, e o amor que sentiam por eles. Era uma conexão entre
Logus.
O homem, atento ao seu papel, realizava suas funções de
cavaleiro – característica maior a ser alcançada por ele --, resguardava a
cidade, alimentava sua cria, dedicava-se ao campo, e amava seu povo, ao ponto
de sacrifica-se espiritualmente por ele – cada homem tinha um pouco do faraó.
Não precisava ser um homem-deus para ser respeitado.
Qualquer um que entrasse em sua moradia, fosse ela um casebre ou um castelo,
era visto como um ser especial, pois seu papel já estava sendo trabalhado em
sua pessoa, e quando isso acontece, muitos homens brilham e realizam ideais
como lírios no campo.
O sapateiro
O sapateiro de Platão, assim, baseando-me em tais premissas,
posso dizer que se este o fizer seu trabalho com amor e dedicação, a qualquer
hora, seja para o homem, para a mulher, dentro de um universo que pede a ele
que seja com tal, podemos dizer que nossa alma deve buscar, aqui e agora,
dentro do que a subjaz, o que o Deus nos propõe, nos deu, e se somos um gari,
um cobrador, um garagista, seremos tão importantes quanto àqueles que se dizem
governantes, e fazem do mundo o que é hoje...
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