quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Corações e Mentes

Como entender o coração das pessoas sem que seja pelo racional exacerbado de informações inúteis, com as quais nos distanciamos de sentimentos, como a paixão?








Há duas partes em nós que filtram o mundo. A mente e o coração. Este último, ponte da alma, percebe quando as cinzas de um fogo estão frias ou quentes, não as cinzas do homem, mas as da própria vida.  A mente, solitária, tenta se exaltar mais, ser mais bela, forte, firme, como um farol, em meio a um mar de fúrias que a circunda... Porém, pede ao coração que não seja tanto vulnerável, volúvel, poético...

Não adianta, as dores existem, ele, o coração irá sentir, e temer o mundo; vai correr para debaixo dos cobertores, e pedir aos deuses para crescer tanto quanto a sua parte o racional, que ainda não se revelou. O coração não é medroso, apenas misterioso, e ama enfrentar o mistério como o sol enfrenta as nuvens; de outro lado, a mente, sujeita a poeiras, revela-se adulta e sem conhecer o adversário, abre matas até encontrá-lo.

Assim o somos. Peça de duas partes que se harmonizam, se integram para a realização de objetivos, ideais, sonhos, dentro dos quais, a esperança, a liberdade, o fruto de nossa fé, estejam tão claros quanto o chão em que pisamos.  Sem eles, seríamos carnes e ossos ambulantes, zumbis, a devorar uns aos outros – e disso temo muito.

Mas, graças aos deuses, não iniciamos esse processo canibalístico, em que pessoas se olham, se matam, se comem, mas, na falta do coração, isso, temos a certeza, pode vir com o tempo. Simplesmente porque o racionalismo ao extremo, como colunas próprias de um castelo de areia, pode vir a desabar em poucos anos, e assim, o coração, servo das emoções, das paixões, do amor, deixar-nos-á para sempre...

E quando observo exemplos de profissionais que singularizam o ser humano voltado a suas tarefas diárias, sem preocupar-se consigo mesmo, ou com sua família, apenas em compor um quadro de funcionários excelentes, penso nas reflexões que os  mestres do passado nos ensinaram. Penso no Conhecer a Si Mesmo, e o que levou a Platão a isso mencionar.

Não fora por acaso, porque somos peças, mas peças fundamentais para a compreensão de nossas existência, a partir de nós mesmos. E dentro dessa premissa básica, salientar o amor em tudo, principalmente em nós, o que realmente nos falta.

O que aconteceu é que, por gerações, conceituamos sem praticar, amamos, sem amar, pensamos, sem refletir, viramos humanos, sem ser, e tentamos buscar um lado da vida que poderia harmonizar com o outro, o do coração.

Contudo, dentro do que temos como política, religião, sistemas, nada se compara ao que um dia nos foi proposto pelo grandes homens, os quais são citados apenas como matéria de faculdade, e mesmo assim tão rapidamente, que chegam a dizer que a filosofia nunca prestou...

Na verdade, se temos uma ponte real entre nós e o conhecimento, entre nós e as divindades, entre nós e nossos sonhos, essa ponte se chama Filosofia, simplesmente porque ela não pede nada, e mesmo assim nos faz ver o que há entre o céu e o inferno humano, e nos faz levar para a vida o que realmente é valido...

De volta ao Coração..

Para se  compreender a busca pelo conhecimento, no entanto, é preciso coração, mente, os dois a trabalharem juntos em nome de Deus, ou seja, não precisamos de uma mente vaidosa que quer obter o poder já pelo fato de entender (ou ler) um Platão, um Aristóteles, ainda que tais filósofos nos ensinam o contrário. Mas a mente, destruidora, quer saber, quer ir atrás de informações, de tudo, apenas para a realização de seu ego... E sectarizar o mundo.

O coração, em lágrimas, assiste a tudo isso, e pede aos deuses para não se corromper com facilidade aos desejos de falsas crenças, falsas politicas, mas, mesmo assim, o faz, porque é coração, porque é também objeto de manipulação de terceiros, quartos, de todos... A alma, assim, se torna papel ao vento.

Mas o coração, quando preso aos reais valores, pede a mente que seja passiva, calma, humilde, e quando o escuta, homens se comunicam, se integram, se harmonizam em qualquer esfera. E assim, como dois cavaleiros em nome de Deus, cavalgam sem cessar pelo mundo.

Mestres

Eu conheci dois mestres, um era todo coração, e o outro, tão racional e vibrante, que me emocionava com suas aulas; mas vi que meu coração e mente, hoje, precisam muito mais do primeiro do que do segundo. Certamente porque minha alma quer ser alma, e quando isso acontece é porque meu espírito está falando mais alto.







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