Tudo na Índia tem um propósito: viver da essência. |
Na antiga Índia respeitava-se uma
tradição (acredito que até hoje a respeitam, mas não como antes), assim como
muitas a respeitavam, e que norteou diversas nações cujas estruturas foram
montadas a partir desse ponto, o espiritual. Nela, nessa antiga civilização,
tão maravilhosa, ideal de muitos pensadores, filha de outras tão belas, cultivava-se
a essência humana, por meio de suas leis. E uma prova disso são os Vedas.
De uma tradição ainda mais
antiga, os Vedas eram como se fossem tábuas de leis sagradas as quais eram
ensinadas de forma oral, mais tarde, assim como leis escritas e um tanto quanto
fechadas, eles foram adaptados aos discípulos. Mas, assim, como muitos
ensinamentos, dentro dessas leis ensinava-se a respeito do Homem, do Universo,
de Deus.
E a partir daí, muitas outras
foram adaptadas com esse ideal, de relatar os que os sábios nos propunham, ou
seja, legar conhecimentos mais profundos possíveis, os quais, sintetizados,
nada mais eram que ensinamentos entre o céu e a terra, entre a essência e
matéria, o céu e o inferno de cada um...
Manvantara e Pralaya
Tudo na antiga Índia tinha um propósito. E era religioso. Não poderia
ser diferente quando se tratava de nos explanar a respeito de um universo
grandioso dentro do qual pairavam mistérios os quais, necessariamente, eram
vistos no homem... Como no caso do Manvantara e
do Pralaya.
Quando o universo se expandia, tínhamos
Manvantara, o que significava a expansão em direção a Brahma, o Criador no
sentido positivo da palavra; Manu – de onde vem a raiz de Manvan... – cria o
mundo e todas as suas espécies, durante seu crescimento, o qual no faz pensar
na própria Vida, em nós, que estamos sempre em crescimento, aconteça o que for,
sempre estamos voltados à elevação da alma para o grande espirito, ainda que,
em alguma vezes, estejamos em momentos de Pralaya... Explico.
Pralaya nada mais é que o inverso
do primeiro, como se estivéssemos observando uma grande bexiga – imensa mesmo –
a se esvaziar bem lentamente. Porém, ainda que seja natural isso ocorrer no
universo, é preciso que o momento de Manvantara alcance seu apogeu. E milhares
de anos depois de nossa Índia filosófica, ainda temos, segundo pesquisadores,
um cosmos em aceleração sempre se “esticando...”.
O Pralaya, a dissolução universal,
pode ser percebido em nós, como meros seres mortais que se sentem presos aos seus problemas, e
quando chegam ao fundo do poço começam
a criar forças para o Manvantara humano.
Antacarana
Dentro desses episódios pelos
quais passamos, podemos dizer que, assim como o Universo, há uma grande necessidade
de passarmos por tudo isso. Não estou a me referir aos problemas como algo
desejoso, mas se não os tivermos não criaremos condições para conhecer o cimo
de nossas montanhas, ao que chamamos de parte superior em nós.
No entanto, os Vedas, assemelhados
muito mais ao Egito em suas sintéticas explicações acerca do uno e do homem,
nos aconselha a não sermos reverberadores
de filosofias a que não somos acostumados. O que vem ao encontro de Zoroastro e Platão, mais tarde.
Tríade
Contudo, ainda na Índia, acerca
do que somos podemos dizer que há uma estrutura que sintetiza o ser humano, que
é a Triade, dentro do quaternário universal, e o próprio quaternário, os quais
estão ligados por uma outra estrutura, segundo a tradição védica, a uma linha
quase que capilar... É o Antacarana.
O Antacarana, segundo a filosofia
indiana (védica), se constrói a partir do momento em que estamos levando nossas
vidas de forma real e espiritual, seja
por parte dos elementos primeiros – corpo denso, corpo vital, corpo astral,
corpo dos desejos – os quais sintetizam o que “não somos”, apenas o veículo
vital que nos conduz ao mais elevado – a tríade, Atman, Budhi, Manas -- o que somos.
Porém, antes disso, de passar
para a parte de cima, nos encontramos – depois de reencarnações – com situações
que nos fazem repensar nossa existência, nossos objetivos, e tudo isso de
maneira involuntária, como se estivéssemos com um siting, e é aqui que entramos em uma atmosfera humana, em que nos
coincidimos com a nossa parte superior, com Deus, com o Nous Platônico, ou o
Átman.
O Antacarana, ponte entre esses
dois grandes corpos – quaternário e tríade – sintetiza, simbolicamente, também,
a ponte natural de nossos problemas quando realmente aprendemos algo em sua
essência. Ou seja, quando olhamos nossos afazeres, nossos objetivos, nossas consecuções,
todas elas voltadas à matéria (somente a ela) e entendemos que há algo maior, melhor
e realmente válido a se buscar.
Tal consciência, no entanto, a
depender de certos humanos, levam encarnações a fora, de modo que se aprende
muitos séculos depois – mesmo assim, sob o que chamamos Karmas e Darmas em
nosso mundo.
O Antacarana, enfim, seria a
prova de que vimos, mesmo com nossas poucas ferramentas, a face divina, ainda
que um pouco desconfigurada da realidade, mas que assim mesmo a tememos, e
procuramos voltar ao Darma – retidão.
Ensinamento
Nada melhor, no entanto, do que ser
o que somos, no melhor sentido da questão. Entender nossos conceitos básicos
acerca de céu e inferno, matéria e essência, e respeitarmos as figuras
lendárias e míticas do passado, dos quais tiramos aprendizados, e por eles,
assim como filhos perdidos, devemos lutar, pois nada melhor do que viver e
aprender com culturas que um dia respeitaram a humanidade e por ela viveram.
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