sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Desconhecido


Está chegando o Natal, e as comemorações do fim de ano também. Não é de hoje que o espírito grandioso das festas em fim de ano, décadas, séculos... Fazem parte da vida humana. Não, não é. Sei o quanto é piegas falar sobre isso, mas é preciso. Tudo que se refere ao comportamento humano tinha que ser falado, descrito, narrado, dissertado.. Sei lá... teria que ser lido e praticado por todos.

No entanto, não somos assim. Não mudamos de uma hora para outra, nem mesmo de um século para outro, pois possuímos raízes profundas com as quais nos apegamos, e por elas lutamos, e com elas nos identificamos – estou falando de vida humana, e de tudo porque passamos, e se há alguma mudança em nós, graças a elas... e somente nelas.

As mudanças, ais quais me refiro, são baseadas em algo muito profundo. Mudanças que não precisam nos dizer o que nossas personalidades são – mesmo porque somos muito mais que um agrupamento de ossos, emoções, paixões.. Somos seres que se elevam com o simples, com a poesia... Com a música, e isso, claro, faz com que nossas emoções fiquem mais altas, no cimo, no topo...

Mas não há como deixá-las plantadas nessa montanha, como alpinista que finca a bandeira, e, às vezes, por lá acampa. Nossas emoções só duram o momento em que estamos ouvindo, lendo, recitando o belo poema, ou sentindo o por do sol em nossos corações, iluminando o resto de nossas entranhas...

As mudanças são para nós assim como são as partículas de um carvão a se transformar em ouro. É um processo belo, no entanto minucioso, vagaroso, mas valoroso... Desde a célula intima de nossos corações até o cume de nossas almas, desde a unha de nossos pés às raízes de nossos cabelos... As mudanças são naturais.

Do processo biológico esperamos modificações até nossas velhices, e ainda não aceitamos, pois retrata, às vezes, o que não somos em emoções, em determinações, enfim, em idade interna. Porém, a real mudança pela qual passamos, a espiritual, a que tanto almejamos, não se consegue como no físico; é preciso nos basear nas estrelas, nos sóis que nos rodeiam.

Do espírito, desse desconhecido e misterioso mundo, apenas ouvimos dizer e ainda achamos que sabemos muito dele. Ouvimos vozes, nos comunicamos com outro mundo, sonhamos, choramos... E já somos espiritualizados...!

Acredito que a imagem maior do grande espírito não nos cabe ver (revelar!) nem sentir, apenas buscar em nossas raízes mais profundas seu sentido, e dele tentar, pelo menos, ser mais prático, no sentido mais humano da palavra, nem que seja em respeito à palavra espírito, esta que nos ronda, e nos faz perceber que existe um objetivo, um ideal a realizar em torno de nossas esferas, sem que precisamos vê-la de perto.

A palavra espírito já nos é o bastante para se ter uma divindade em nosso norte. E, em frente a ela, nos ajoelharmos, agradecendo nossas tentativas de vencer batalhas, em meio a frágil coragem que temos, sem sucumbir numa terra em que, se cairmos, podemos ser pisoteados...

Assim, em uma vida tão bela, que está sempre continuando, evoluindo, independente de nossos conceitos, a única mudança natural é ir ao encontro dela, aceitando nossas idades, nossas velhices, nossos problemas, e que sem eles a grande roda não gira. A única mudança a ser feita é entender que não somos perfeitos, mas que nossos universos giram para esse final.

Nesse natal, como em outros que virão, nossas mudanças serão mínimas, mas nosso comportamento diante da grande vida mudará, pois possuímos uma personalidade que, às vezes, aprende com seus erros, mas depois desconhece seu caminho, mas para isso temos o grande espírito, o misterioso, que nos inclina a reta sagrada, mesmo que seja por alguns momentos.


Ao Meu filho, Pedro, que cresce ao meus olhos.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Convivência, segunda parte.

Na antiguidade, no antigo Egito, para ser mais especifico, se uma esposa deixasse de arrumar as vestes do marido, sua sandália, seu ouro, seus apetrechos de homem, não seria perdoada. Para os olhares modernos, isso seria a prova de um machismo extremista, advindo de uma era cujas mulheres não tiveram espaço nem para respirar... Errado. Não só no Egito, mas, em todas as civilizações, como Grécia, Roma, a mulher era tão valorizada quanto o homem. Ainda há quem discorde, pois há coisas pelas quais a mulher passava que o homem nem mesmo sabia, e vice-versa.

A questão é polêmica. Mas para traduzirmos o sentimento da época é preciso estudarmos um pouco a visão dela e daqueles que nela passaram, e seu comportamento...

No Inicio...

No inicio de nossa civilização, quando não havia esse partidarismo ou mesmo esse fosso religioso em que vivemos, porém em uma época em que o sentimento de religião era maior e mais universal que o nosso, tanto que, em tudo, cabia esse pilar da antiguidade, a mulher e o homem sabiam lidar um com o outro e com Deus. Havia a síntese sa tríade em tudo.

A religião estava no ar, no mar, no céu, no fogo, no homem, em tudo (e ainda está!...). E cada ser, sociedade, civilização entendia isso da sua forma, cabendo-lhes traduzir de maneira simbólica o que religava o homem a Deus. Isso pode ser apreciado em civilizações até mesmo distantes, como a do Peru e do Egito, quão distante são, mas cada qual com seus ornamentos semelhantes, já perceberam?

O simbolismo era fruto de algo misterioso que, regado a lendas e mitos, transportava os seres da época a um conhecimento brando e ao passo fechado, mas que, com o tempo, veio a ser desmistificado por alguns sacerdotes que não conseguiram manter o segredo. Razão: o materialismo era mais forte e o espiritualismo profundo, sem citar a razão de vários filósofos modernos, sendo transformado em algo palpável – como o céu dos cristãos, judeus, etc, os quais não mais se revestem de véus simbólicos, mas de uma realidade tão forte quanto à própria.

E assim, tudo nos emancipava a uma semântica natural, no passado, e nos fazia crer no sagrado de maneira ordenada, harmônica, isto é, todos diferentes e necessários um ao outro, sem distinção de raças, cores, sociedade... Hoje até podemos entender, mas acreditar, de verdade, como a pele do nosso corpo que reveste os ossos, não, não acreditamos, e nisso eles acreditavam e disso viviam.

Deus, para terminar o assunto, era representado, dependendo da civilização, como um Peixe, com o número Zero, com, com o Infinito, e o restante – o que nos cercava – emancipações, formas, geometrias, etc, era o fruto dessa divindade, ou seja, tudo era diferente, mas possuía, na semente, a característica sagrada.

Enfim, a convivência era ordenada por disciplinas universais. O homem com o seu Logus, e a mulher, com o dela. Cada qual com sua essência e característica. Hoje, no entanto, temos outra ordem a ‘iluminar’ nossos passos, e é aí que nos perdemos. O materialismo, o capitalismo, o comunismo, o desenfreado modo reliogioso-político, e demais ismos, além do machismo, feminismo, com os quais lidamos e vivemos, podem ter levado o homem a essa bola de neve, cheia de valores contrários à cortesia, ao amor ao próximo, ao cavalheirismo, mas é difícil de dizer, mesmo porque há uma grande necessidade por trás de tudo por que passamos, inclusive o mal de uma civilização.

O espiritualismo egípcio, a hombridade romana, a filosofia grega, o misticismo maia, hindu... Tudo, de alguma forma, teve seu ápice como cultura, e delas aprendemos muito, contudo não o bastante e, de acordo com as últimas, não aprenderemos tão cedo... E tais culturas tiveram sua decadência, e dela somente nos lembramos.

O homem e a mulher egípcia não foram seres perfeitos, mas sabiam que havia uma ordem universal com a finalidade de organizar o universo, ou melhor, uma ordem total na qual estariam incluídos o homem e a mulher e os seres em sua volta, sem que qualquer ser racional fosse dono disso ou daquilo, nem mesmo dono ou senhor da mulher com quem ele casasse ou tivesse qualquer tipo de união.

Contudo, sabiam de seus papeis. Graças a esses conceitos praticados, todos comungavam os mesmo valores, não precisando de qualquer religião para nortear princípios humanos – a religião era respirada.

A união do homem e dos seus semelhantes está dentro dessa filosofia de vida. Em tudo que se fazia, olhava-se para essa ordem; assim, ao organizar os apetrechos do homem, a mulher não estaria trabalhando para ele, mas sim para o uno, para Deus, de forma que se religasse aquele ato com tudo. O homem se realizava, a mulher idem. Tanto que um dos papeis mais cobiçados pela mulher antiga era fazer as honras ao homem, pois este representava a ponte entre o sagrado e o profano, e fazer as honras aos deuses. Ao homem, cultivar o fogo simbólico da casa, sempre brando, puro, e ser cortês, traduzia um pouco da ordem à qual era obedecida...

E conviver sob esse manto seria o ideal de todo o homem e mulher. O filósofo estava certo, de novo...

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Convivência - a iniciação humana.

Um dia um filósofo tradicional-modernista nos disse “conviver talvez seja a parte mais difícil pela qual temos que passar”. E, com o passar de minhas experiências, ainda não tão prático quanto, contudo sempre perto de me sujeitar a defini-las, posso dizer... “Existe uma graaande verdade no que ele diz”.

Depois que me casei, pude perceber o quanto somos seres difíceis, sempre tentando defender aquilo que nos apraz, sempre. O que quer dizer isso? Significa defender apenas o que nos interessa... O homem a defender aquilo que lhe é inerente como tal, a mulher, como mulher, idem.

Assim, em um contexto maior, posso entender com mais facilidade (essa complexidade!) o que realmente nos faz perder a cabeça, a serenidade, a paciência... Tudo pelo simples fato de sermos inflexíveis ao que “somos”. Se sou homem, defendo minha ida aos bares, sou a favor das amizades femininas, das leituras, da cultura, dos diálogos informais... da beira do mar, dos quiosques... De chegar tarde sem dar satisfações a ninguém, enfim, uma série de individualidades sem caráter algum social, mas que podem transformar uma família, uma sociedade em flagelos interesseiros, a partir de um ponto – nós.

A mulher, o direito de falar de suas amigas, de sair em busca do sapato perdido – ainda que tenha milhares em casa; da bolsa nova, mesmo com três ou quatro penduradas no ‘bolseiro’, porém nenhuma parecida com a de sua amiga (!), ou com a da moda da novela...

E no plano emocional, quando o filho nasce, adeus esposo, adeus carinhos, ou mesmo a reserva deles na despensa. Ela se joga em uma vida paralela e dela não sai enquanto não descobrir um terapeuta ou uma amante do marido correndo entre os três – marido, filho e ela! Esse é um dos males em viver de interesses restritos, não sociais. Perde-se quem te escuta, quem te ama, quem sempre se inclinou a lhe fazer o bem... Perde-se o significado até mesmo na união entre os dois.

Os interesses da mãe, ao se declinar para o filho como único, desfaz o que o sagrado iniciou: a tríade. Entre os três – pai, mãe e filho – haveria de ter a harmonia sem dor, a sabedoria sem dono, o conhecimento diário, a paz que tanto se busca quando se une, e enfim, a consecução do amor... Por isso, convivência é difícil entre casais. Há sempre algo que os direciona ao caminho oposto.

Um dia, o mesmo filósofo disse “Se não há ideal entre os dois, não há união”. Hoje, temos casais unidos pela mesma crença, ideologia partidária e outras ideologias criadas dentro de uma sociedade necessitada de tudo isso. Porém, ideologias, ainda que belas ao olhar social, não enriquecem internamente – no sentido mais profundo – o ser humano. Quer dizer, tais, ainda que brilhem como estrelas, mas não modifiquem o ser humano, são apenas livretos de bancas, e mais, historietas de heróis que se corrompem facilmente...

A ideologia deve transpassar o valor social, estar acima de si mesmo, assim como o sol que se vê, todos os dias, ainda que nuvens o tapem, mas que sobrevoa o céu humano, como forma simbólica do que devemos ser – sóis a iluminar um ao outro.

Todavia, há em nosso mundo a psicologia. Mãe a qual recorremos nas horas chorosas, e que se vê como a última das saídas – pelo menos àqueles mais inclinados a ouvir outros além de padres, pastores... pais e mães sábios. Assim, a psicologia se torna dona do ser humano. O perigo se torna maior, pois acreditamos ter superado todos nossos dilemas, problemas, e todos os “emas”, até mesmo o apego à matéria (!), e recorremos ao divã, sempre que a dualidade física nos vem à alma...

Pobre de nós, pois a solução de nossos problemas estão longe a cada dia... a cada ano... enfim, somos perfuradores de cimento duro na busca de um tesouro do outro lado da terra (entenderam?). Claro que, em terrenos menores, a psicologia nos ajuda a trabalhar mais nossa consciência em relação às pessoas, e, dependendo do doutor, de nós mesmos. Essa última baseada em preceitos freudianos, lincados à psicologia modernista, nos deixa mais abertos, no entanto mais dispersos ao nosso caminho natural – o de ser um pouquinho melhor todos os dias.

Mas o convívio dentro desse parâmetro (psicológico) nos leva, na maioria das vezes, a achar que encontramos o self junguiano (C. G. Jung), mas a realidade é outra... A psicologia – seja entre casais, entre seres da mesma família, sociedade... – revela-se filha e não mãe de um problema tão maior quanto o do convívio... revela-se dona das resposta ao mundo...

Assim, graças à psicologia, a ideologia humana se desfaz. Vem aí o feminismo! A mulher se torna dona de si mesma e se torna a dona do cosmos, sem mesmo observar o sol. O homem, já machista, começa acreditar que ter amantes, amigos em botequim, amigas a qualquer preço, é algo de sua natureza divina... A ideologia se desfaz em mídias, em forma de novelas, filmes, desenhos, como resposta ao que o homem e mulher sentem um em relação ao outro...

A morte da humanidade está anunciada.


Voltamos em outro texto.


















sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Natal, puro sentimento


Fico pálido quando escrevo algo acerca dessa época maravilhosa, tão bela e cheia de paz aos homens, à natureza, à vida, ao cosmos, enfim, a tudo... É o Natal. Tão esperado quanto uma criança que vem com amor, lá de dentro do infinito da barriguinha da mamãe... Tão exotérico! Dizia um amigo meu. Tão fora do comum que chegamos sentir um aperto no peito e dar um berro de vida, Aaaaaaahhhhh!!!!, sair abraçando senhores, senhoras, crianças, todos, sem o mínimo de razão para nos atrapalhar esse ato tão incompreensível e ao mesmo tempo tão simples...

Esse é o Natal... Há muito criado para nos remeter à esperança de paz entre os homens, a fraternidade, a confraternização! Sem aquele pensamento frio e desgostoso de separatividade que nos incutam desde o inicio do ano, até o dia em que o momento é falado, lembrado e enfim executado: começam os enfeites, as lindas canções, os sorrisos sinceros, os papais noéis de todos os jeitos, e os presentes chegando, chegando... Tudo porque o Natal está vindo como um navio a atracar em nossas almas, todo o dia vinte e cinco de dezembro, a partir da meia-noite, com sua ceia, cheia de pães e vinhos, nozes, frutas e mais pães e muito mais!

A felicidade está instalada. A família se acolhe no seio do abrigo, numa mesa graaaannnde, e todos a conversar, morrendo de rir das histórias de cada um, sem malicia, e, a cada minuto, uma reflexão, uma interiorização do que se fez no ano todo, e atrás dela o pedido de perdão ao grande Deus, que sempre nos perdoa.

A alegria dói de tão grande que é o momento. Músicas, danças, abraços, brincadeiras, presentes, até mesmo aos ausentes, são distribuídos, abertos, e lá vêm mais sorrisos de surpresas! Lá vem o amigo que deixou a mãe para ver você, lá vem o irmão que faltara na festa passada, lá vem o cunhado que nunca na festa esteve; lá vem... a lembrança de quem se foi... e que sempre estará em nossos corações... Mas a alegria continua... A lua continua, as estrelas continuam... O amor em sua plenitude continua...

Não há nada que possa parar essa roda gigante chamada Natal. Ela passa por cima de todos, deixa-nos marcados no físico, no coração, mas também, como um perfume que chega, seduz a todos pela paz que se edifica nos homens de todas as espécies, até mesmo os maus homens. Tenho a certeza.

E dele, depois que se vai, ficam apenas lembranças, saudades, o gosto na boca, o sorriso, o choro, a luz de todos. Depois, só no ano que vem.

Não importa a história do Natal, se ele é comercial ou não; se empresários ganham, o vendedor, o comprador, o presidente, governador, não, não importa! O importante nessa festa majestosa é que somos mais humanos, mais quentes interiormente, por isso abrimos mais nossos corações, damos mais atenção ao próximo...ao distante. Escrevemos cartas, damos presentes de coração – seja à criança, seja ao velhinho, ao cachorrinho... sempre com lágrimas ricas de sentimento sinceros.

E para finalizar o que não se finaliza, deixo meu último conceito do Natal: é como uma brisa que nasce de uma necessidade de amar, estar próximo, ser alguém, ser melhor... Ter paz. Um ‘basta’ provisório nos conflitos, essas guerras pessoais que progridem em nossas almas e que refletem em nossos rostos...





Tenhamos um belo Natal. Sempre.





Aos homens

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Real e não Real




Hoje, em razão de nossas culturas vagas, em cujas entrelinhas vagam o saber irrisório e o não saber, depositamos toda a nossa confiança no presente, nunca no passado. Em determinados pontos estamos corretos, em outros – na maioria – errados. Quero dizer que nossa razão, aquela que deveria unir o céu e a terra, hoje burla sensações relativas, ao ponto de sentirmos o que é e, mais, achar que é real, mesmo sabendo de sua relatividade...

Estranho, não? Já perceberam o quanto somos insensatos e, às vezes, entre aspas, defendendo teses frias nas quais nós nem nos cabemos? É, deixa pra lá. Buscar razões dentro da razão é mexer com as mãos, fazendo com que elas, voluntariamente, se cortem com facas afiadas...

Mesmo assim, mexamos um pouco com a razão...
Ao perceber a perda de algo, sentimos a relação de falta, ainda que ela seja mínima. A sensação aumenta, buscamos enfim sanar a perda, pois, de alguma forma, aquela coisa fazia parte de nosso contexto... Será que ela pode ser trocada por outra? – sim, claro, no entanto, apenas ela tinha a sua característica, e, apesar de ser ‘trocável’, fazia parte de um universo relativo – ou seja, poderia se extinguir...

Daí vem a pergunta: que universo é esse? Criado ou incriado? Com certeza criado, para sanar as necessidades humanas, não a do universo incriado – não criado pelos humanos... Se fosse do Incriado, não se acabaria, estaria ali para todo o sempre, e desaparecia de forma relativa, mas sem a compreensão humana, mas universal.


Na Prática



Um dia, em meu escritório, quando imprimi um papel cheio de cores que torneavam uma foto, quando o peguei, percebi que não havia mais tinta na impressora... Fiquei naquela ocasião com vários questionamentos na minha cabeça. Do tipo: a tinta acabou, portanto terei que comprar um novo cartucho; e se não houvesse mais cartuchos, e se não houvesse mais lojas, mais shoppings, mais árvores, mais tudo... Por fim, cheguei a ficar sem mim mesmo. Desapareci da terra e fui parar na necessidade.

Será que tudo se esbarra na necessidade? Necessidade de estar ali, em algum lugar, ainda que não seja para uma eventual necessidade humana. Parei no verme que piso na grama, na barata da cozinha, no bico do pássaro que se alimenta do resto dos dentes do jacaré; subi um pouco e fui até a gaivota que imita os humanos na pescaria, ao jogar seu bico como vara de pescar, puxando o peixe até a margem do rio, beliscando-o até ele, o peixe, virar almoço.

Parei na nossa necessidade de estar vivo. Por quê? Como? Para que estamos andando, respirando, vivendo....? Claro que, no universo, somos de partículas irrisórias e todas elas, por mais semelhantes que sejam, são completamente diferentes! Assim, o ser humano teria que saber que, por mais incrível que nos assemelhamos, cada um tem o seu papel dentro desse cosmos... Mas qual?

“Há vários caminhos, mas só um leva a mim”, como diria Krishina, no Bagavagita, quando Arjuna, o discípulo, perdido no meio da batalha, o questiona acerca de seu papel no Universo. Na realidade, ainda nos vaga essa pergunta, em todos os lugares, em todas as batalhas que lutamos. Arjuna, personagem simbólico, representa a Humanidade perdida entre o céu e a terra, entre o que é perecível e o que eterno – entre o espírito e a matéria...

Na batalha, Arjuna vence, apesar de ir ao encontro de seus valores que se diziam reais, e consegue seguir com outros completamente diferentes, os espirituais. Que valores são esses? Teríamos que navegar na cultura egípcia, celta, maia, grega, romana, e principalmente indiana para conceber tal conceito e responder essa pergunta.

Contudo, o que nos resta é estabelecer sempre contato com questionamentos acerca desse assunto – o que é real e o que não é --, e sermos Arjunas, e na medida do possível encontrar referenciais baseados na natureza, não naquilo que inventamos mesmo que seja para a maior das necessidades...

O Fator Humano

Arjuna – continuando – também digladia consigo mesmo quando fala da morte. Questiona seu mestre, e este abre seu Coração lembrando que a morte não existe. Que todas as coisas vão para onde devem ir, e que sua essência vai ao encontro da grande essência – Deus.

Isso acontece porque o discípulo tem que lutar com todos aqueles que um dia o criaram, amaram e com ele viveram, como amigos, irmãos, pai... Assim somos nós.

Todavia, quanto se trata de pai, mãe, irmãos, amigos... o que é relativo se torna real, pois nossos corações e almas, ainda dentro daquela cultura falha por natureza e ao mesmo tempo bela, sentem suas ausências, tal como fosse parte de nossos corpos, vidas, e universo... do nosso universo.

O fator humano clama explicações à natureza pela dor que nos faz, e ao mesmo tempo ao Tempo que nos dá ânimo para viver mesmo sem eles. Os deuses são realmente necessários! E na busca pelas explicações, nos debruçamos às religiões, partidos, seitas... Sem mesmo consultar a rica Natureza, que, ao nosso redor, nasce, cresce e morre em essência, e se vai em relatividades sem que percebamos... Por tanto dizia Heráclito: “nunca nos banhamos no mesmo rio” – a filosofia já tratava da nossa doença maior !

Tudo se vai...

Assim como o cartucho de tinta que se foi, tudo um dia se vai. Cada um dentro de suas proporções, claro! Não vamos nem comentar então acerca da vida em nosso planeta, do apocalipse, das mortes em excesso, da terra...do sol... da nossa vida...

Acostumar-se com a ideia de que tudo é relativo... que coisa, hein! Não, nem tudo é relativo, pois o que nos faz humanos não é algo relativo, e sim real: o Amor, a Justiça, o Verdadeiro... Isso nuuuuuunca morre.



Ao mestre L.C.

Cartão a um irmão tricolor


E aí, meu querido, como vão as coisas por aí? “Por aí” que eu falo não quer dizer pelas redondezas, não, e sim pelos caminhos cármicos além-vida por onde passas agora. Claro que não podes me dizer, gesticular, me transferir pensamentos... Enfim, apenas a tua imagem bela de irmão saudável pipoca em nossas mentes como forma de comunicação; apenas a imagem de um guerreiro em seus últimos dias no hospital diz-nos o que realmente fora: um servo, um discípulo da luta, tentando nos passar a alegria que o acompanhou durante toda a sua vida... Esse é o maior legado de um homem que passou a vida tendo como espelho seu pai – o velho ‘Piaba’.

Mas, amigão – assim me chamava, então assim o chamo agora – quando se fora (não sei se tu se lembras), o nosso time querido, o Fluminense, tinha conseguido vencer o Coritiba, no campo deles, em uma jornada espetacular que o fez o melhor time de dois mil e nove, ainda que fosse contra o rebaixamento, mas espetacular pelo fato de que não conseguira perder uma partida, em dezessete, e se perdesse um vinte cinco avos de alguma delas, estaríamos hoje presos no mundo desconhecido da maioria: a segunda divisão!

Fomos patriotas de um time, pois fizemos naquele dia, no domingo, em nosso ultimo jogo, o símbolo do clube como a um país. Lutamos, morremos, ressuscitamos, sangramos, renascemos... Foi como se fosse a era dos romanos na qual a vida era sinônimo de batalha, e dentro dela os símbolos como referenciais. A camisa, o escudo; os jogadores, guerreiros imortais, à beira de enlouquecer para que o país não caísse e que seus indivíduos – a torcida – não caísse ou morresse junto.

As “gladiações” até o fim se mostraram cheias de técnicas, de uma qualidade grega; em seus ataques, nem mesmo o conjunto persa poderia se igualar, contudo, foi semelhante à frota grega que o Fluminense percorreu todo o trajeto de seu mar de fúrias, em meio a times fantásticos, cuja destreza em honraria não se toca, porém não tinham a força e a beleza de seu escudo, que os cegava, e às vezes os fazia se entregar antes da partida...

Assim, o nosso time, no ano em que você, meu irmão, se fora, conseguiu se levantar e dar mais uma lição a todos. Pena que não estavas por perto para sentir a beleza dos gols e da juventude de cada ataque... Pena que você se foi.

Hoje, meu querido amigo-irmão, embora ausente, nos lembramos de você como se ainda estivesses aqui, do nosso lado, a torcer feito louco por nosso time. Conheço muitos que torcem, que vão à loucura, mas você era o único que tinha a cara do Fluminense-guerreiro, de jovem, de um ser belo que brilhava ao longe sem ter o sol por perto, assim você era. Todavia, sua estrela se foi, e brilhas sorrindo ao longe em algum lugar e em nosso coração...

E o Fluminense? – vou te contar!
Depois de despedirmos um dos melhores técnicos do campeonato pasado, contratamos um ranzinza, cachorro, mau caráter, contudo de uma disciplina fora do comum. Seu nome Muricy Ramalho; é, aquele mesmo que derrotamos na Libertadores quando técnico do São Paulo, com o gol do Washington, que, esse ano... Pelo amor de Deus! Contratamos também Deco, o luso-jogador, que, após dez anos fora do Brasil fazendo festas na Europa, veio mostrar sua elegância. Trouxemos a pedido o chutador de grama Washington, que fora para o São Paulo, e retornou para chutar o gramado do Maracanã (por isso, em reforma!), mas que nos deu valentia em seu jogo.

Não terminei. Trouxemos da Europa Beletti, ou Delletti !, sei lá... Não sei por quê! De todas as partidas que participou empurrou, caiu, sai, tomou cartão, ficou no banco e pronto. Mas Muricy sabia das coisas...!

De todos os times que estavam no Brasileirão, o Flu foi o único que fez belas contratações a pedido do novo técnico e conseguiu fincar o pé no topo até o fim. Seguido por Corínthias e Cruzeiro, este último com o nosso Cuca, ou ex-nosso como diria Vicente Matheus, comendo pelas beiradas e quase, no fim, levando o caneco. O time de Ronaldo ‘Gorducho’, o menino prodígio da Globo e demais emissoras, veio com os seus cem anos de corrupção e besteirol como o time favorito para vencer a competição. Mesmo assim, com toda a festa, com toda a mídia a favor... Com corrupção à vista e a prazo, saltando os olhos do torcedor, ficaram com o terceiro lugar... Esqueceram que, na ponta, um dos maiores times do século estava despontando de novo, só que agora para vencer o campeonato, não para deixar o rebaixamento... Esse foi o mal da mídia: apoiaram o time errado, novamente...

Com Conca – o melhor centro-esquerda, atacante, meio-campista do planeta – o fluminense acendeu a chama da vitória antes de receber o prêmio. O brilho do argentino cegou todos os outros, em cada passe, em cada drible, e em cada gol. Ele tinha na veia a alma de um jogador brasileiro, a força argentina e a simplicidade de um pequeno mestre. Claro que não fora o único... Temos Mariano, o craque da meia-direita, contratado para a Seleção; na meio-esquerda, Carlinhos, que gosta de partir para cima dos zagueiros; Gum, Leandro Euzébio e o novato Bob, da base do Flu, ricos em sabedoria. Não nos esquecendo do Tartá, que caía na grande área apenas para cravar nosso bendito pênalti... Que mala maravilhoso; Rodriguinho, o atacante que passava por todos, mas que fingia dores quando chegava perto da meia-lua, Washington, o coração valente, que surtava com a bola, todo confuso, semelhante a crianças quando se enrola em fios de telefone.. Mas que merecia todo o respeito por ter sido o grande goleador de dois mil e oito pelo clube.

Havia outros, mas um, apenas um me fazia lembrar de você o tempo todo, meu querido João de Deus. Lembra-se de nossa última conversa por telefone, quando estavas enfermo em São Paulo? Pois é... Mesmo cheio de fios nas narinas, com a voz rouca de tantos remédios e cansaço... Você disse bem baixinho “O Fred vai pegar! O Fred vai pegar”!! – foi a deixa, naquele ano, para que eu nunca mais esquecesse o quanto você era o símbolo das batalhas gloriosas. E Fred, o grande atacante vindo para nos defender em dois mil e oito, não esteve presente em noventa e oito por cento das partidas; entretanto, para lembrar de você, o colocaram nas últimas partidas, “cheio do gás” (quase acabando...!), saltitando feito garoto no meio de índios Guaranis, atormentando a tribo, levando à loucura a torcida tricolor. Ali você estava, meu amigo.

O campo, não o mesmo de antes, era o Engenhão, campo do Botafogo, que botamos fogo a cada jogo, lotado. Nele, bandeiras tricolores com os grandes nomes pediam até mesmo a benção do papa João Paulo II para o time não descarrilar de novo como na copa Libertadores, como na Sul Americana, enfim, não saísse do trilho e caminhasse, como caminhou, com suas próprias pernas...


Vinte e seis anos depois, o Flu, meu querido irmão, não como naquela época, mil novecentos e oitenta e quatro, veio como um furacão cheio de vinganças na veia; cheio de ressentimentos de um passado que o fez descer até a terceirona – ganhando, claro, todos de lá pra cá; mas que, apesar de suas vitórias incontestáveis, sofreu com injustiças advindas de falatórios invejosos; mas o Flu renasce. Faz das injustiças degraus para a sua ascensão e glória, que hoje o fez ser o time estrela guia de todos os outros... Assim, vencemos o Brasileirão, superamos as dores, superamos a nós mesmos...

E nessa festa que se inicia, a lembrança do Flu é a sua lembrança. Em cada esquina, de carro ou não, com a camisa tricolor suja ou não, retrô ou não, iniciamos a era de um novo sol que nasce, agora, com três cores – Tricolor – ardendo de tanto sorrir, obrigando a todos olhar para cima e sentir esse sol, e como tatuagem ficar em nossos corações para sempre – semelhante a você, irmão.


Estamos todos com saudades.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Amigos de Plástico

Sabe... Durante anos eu venho percebendo a necessidade de amigos aos homens de boa vontade. Mas apenas de boa vontade. E reais amigos! Porém, até mesmo nesse aspecto, não podemos ser claros, pois estão se formando, no decorrer do tempo, indivíduos capazes de formar “amizades” apenas para compor seu quadro social. Para estes, é um luxo. Para os mais tradicionais, é um lixo...

Não sei se esse fator Amizade faz parte da nossa criação, da educação alçada em preceitos naturais, talvez, mas acredito que não. Somos todos voltados a esse meio em que todos necessitam um do outro. E, dentro desse contexto, há aqueles que se emanam mais que outros, dando início a amizades – duradouras ou não. As duradouras, sempre voltadas a referenciais dignos; as não duráveis ficam sujeitas à reflexão humana...

Mas o que mais (me) nos machuca internamente é que uma das mais dignas formas de humanizar-se – porque não há animais que o façam --; uma das mais nobres e belas arte de se agrupar, sem que haja interferência de terceiros – pelo menos não era; uma das mais necessárias e universais maneira de se viver bem um com os outros... A amizade está sendo levada, como objeto da consecução humana, a compor quadros sociais, assim tal quais bonecos a preencher arquibancadas no lugar de torcedores, como frutas de plástico a preencher fruteiras para enfeite (já percebeu o quanto são belas, brilhantes, e que en-fei-tam a mesa?), está-se criando o amigo de plástico...

Assim estão sendo os caríssimos humanos, solitários, sem amor a si mesmo, portanto sem amor ao próximo. Às vezes, até com amor próprio, mas sem características naturais para encontrar amizades de forma natural... Assim, dentro de seus interesses, buscam trazer ao seu meio aqueles que se interessam por algo que ela – a pessoa que ‘convida’ – não é. E os dois, pelos motivos finitos, não se abrem, se abraçam, mas não amistosamente, não possuem assuntos louváveis das grandes amizades, não se unem, mas sempre estão perto um do outro; são risonhos, mas não possuem alegria; são amigos, mas não possuem a amizade...

Dessa forma, criam-se agendas lotadas de “amigos”, e seus telefones celulares, idem. Porém, não se liga para nenhum. Dezenas e dezenas de ‘amigos’ vão lotando agendas, telefones, estádios, festas, mas apenas um está ali a sua espera para se abrir de coração ou chorar em momentos difíceis. Apenas um deles irá a sua casa e simpatizará com sua família, apenas um amará você semelhante a um irmão. Apenas um verá sua mãe como uma segunda mãe, brincará com seu filho, com se fosse filho dele, apenas um deles terá a sua confiança. Esse é o seu amigo real.

Encontrá-lo não é difícil. Estará a sua espera nas situações mais inusitadas. Estará a sua espera, te admirando de longe, esperando uma conversa para dar inicio a uma longa jornada... E vai te respeitar como a um nobre, ainda que não pareça; fará brincadeiras sem graça, mas irá sempre pedir desculpas, dar-lhe-á um abraço e vai chamá-lo para um almoço na casa dele. Vai chamá-lo de irmão, pedir conselhos, e será uma torre a te observar sempre.

Mas as “frutas de plástico” ganham espaço na mídia, nas primeiras páginas dos jornais, abraçando um senador, uma deputado... um governador. Estes amigos plásticos serão contactados em nome da falta de reais amigos, destes que não se exibem por qualquer coisa, pois chamá-los a se mostrarem em imagens frias é como transformá-los em uma estátua cheia de fezes de pombos. E deste tipo de amizade, o mundo está cheio...

O real amigo escuta e leva consigo ensinamento nossos, ainda que não sejam ensinamentos raros; o amigo de plástico ouve, mas não escuta; fala, mas não a você, e sim a ele mesmo. O real amigo sempre renova sua amizade, o falso amigo, por ser falso, não se interessa em renovar nem mesmo as roupas que veste, quiça suas amizades. O real amigo está prestes a te fazer favores até mesmo debaixo de tempestades; o falso amigo está prestes para te pelas costas e sair correndo. O real amigo pode alçar voos, mas está sempre com os pés no chão; o amigo de plástico é racional, e não sabe a diferença entre céu e terra, por isso flutua no mau-caratismo.

Há inúmeras diferenças nas quais podemos identificar nossos queridos amigos, mas também os não leais amigos. E delas podemos tirar experiências incríveis, como, ao descobrir o não amigo, podemos torná-lo amigo real, algum dia.


quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Castelos de Areia





Hoje, em meio a uma sociedade que discrimina, que nos separa um do outro como se fôssemos eternos doentes – leprosos (!) – o idoso se vai. Cansado, se arrastando em frente à calçada, na tentativa de ser visto e contar uma história jocosa ou mesmo séria seja para um adulto ou mesmo para um jovem sem rumo, ele vem calado, preso a seu mundo, querendo ser forte e não chorar ao vento...

O mundo é cruel. Nem mesmo os filhos e netos dão mais espaço ao idoso, pelo fato de a grande mídia acelerar o rumo da história e o fazer se perder em sua realidade, esquecendo-se de que, ali, ao seu lado, a história em pessoa claudica, quase se acabando em dores na coluna, no coração... Mas o pior é que a mesma história é uma pessoa e precisa ser ouvida, senão morre e seu castelo desaba em uma praia deserta sem mesmo alguém tê-lo visto, apreciado ou amado... A pior dor é aquela que não há médico para curar.

As ruínas, assim, se fazem. Depois de entender que somos mais cruéis que nazistas uniformizados, não queremos envelhecer. A propaganda maciça em torno do idoso é tão fria e incabível que – para os sensatos – a morte a eles já chegou. A partir do filho, passando pelos netos, família, sociedade, depois governo, observa-se que a há paredões de fuzilamentos metafóricos, nos quais nós mesmos somos o pelotão, com a pior das armas: a tentativa de rejuvenescer com plásticas, cirurgias no corpo, remédios forçosos, enfim, confrontando com a natureza indestrutível, despejando no rosto da vida o ódio de ser idoso esquecido... O ódio e a vergonha de ser velho e com conhecimento em uma era cheia de seres vazios...!

E assim, não há mágoa, nem mesmo uma lágrima. Apenas esquecimento. Como na cultura Iglu, em que os mais velhos, depois de anos, são deixados ao relento... Aqui, a cultura se faz, mas se tratando de Ocidente não temos saída... somos realmente desumanos.

Espelhos

Ao olharmos a espécie humana de forma discriminante, estamos nos vendo em um grande espelho, no qual passamos despercebidos por nossa grande inveja, egoísmo, frialdade (não a inorgânica da terra), e com uma lucidez fora do comum, quer dizer, temos “consciência do que fazemos” (!) e preferimos ser o que (não) somos; alimentar nossos defeitos, levá-los ao jantar à noite, no almoço, no café da manhã, e aos parques junto com os filhos...

Somos realmente insensatos. Preferimos retardar nosso conhecimento e viver uma eterna vida de Hilanders ignóbeis, com nossa alma antiga, a encarar nossas idades e entender que juventude não tem nada a ver com liberdades relativas, mas sim quando temos nosso espírito “banhado de ideais” – como dizia um filósofo.

Mas não é somente a juventude que decrepita ainda mais o homem. É a própria cultura pobre que nos bate à porta com seu cinismo, lembrando do idoso como um ser a ser cultivado com respeito, mas, por trás, a mesma cultura o atropela, o mata, e destrói todas as suas expectativas de vida e morte – nem mesmo a morte o quer, às vezes, pois, em seu leito, demora partir...


Civilização

Mal sabemos nós que, no passado, na longínqua Grécia, na grande Esparta, ser idoso era sinal de conhecimento, divindade. Todos eram tratados como seres divinos que andavam entre os seres normais, pois havia neles tanta juventude, em seu modo de lidar com a vida, em suas doces palavras, que jovens faziam rodas em torno deles, sempre querendo ouvir suas histórias de guerras passadas, de heroísmo, de companheirismo, sempre regadas à filosofia, ou seja, com muita humildade e amor.

Transbordavam contos, mitos, lendas de suas bocas. Seu modo de vestir era tal qual a deuses que transformavam a simplicidade em troféus. Em Esparta, a cada evento esportivo, quando chegavam velhos para a eles assistir, todos se levantavam, aplaudiam, clamavam até aquela criatura doce e ao mesmo tempo forte se sentar.

Na antiga Roma, o senado era feito de senhores anciãos, os quais eram trazidos de famílias nobres, nas quais estes eram como heróis que por disciplina e amor ao país, eram escolhidos para compor o quadro dos grandes homens do senado romano. Não era pouco. O legado desses homens era incomparável. Até mesmo quando Roma era invadida o próprio senado ficava por ultimo, não pela proteção, mas, pelo respeito dos inimigos.

Conta-se uma história que diz que, quando Roma fora invadida pelos bárbaros (de novo!), um dos senadores saiu às ruas para ver a guerra entre os homens. Um dos soldados viu aquele ser fantasticamente vestido, com uma barba branca belíssima, com uma seriedade além do normal em seus olhos, parou, ajoelhou-se vislumbrado, mas fora golpeado pelo senhor que, acima de tudo, era romano.

A Falta de Ideal

A questão, porém, é que fugimos de nossas obrigações tais quais vampiros de cruzes, talvez mais. A velhice mora aí. Na falta de atitudes em relação à própria vida, na falta de objetivos a serem realizados, ainda que estes estejam pertinho de nós; assim, nesse medo de nos depararmos com o mistério da louça lavada, da cama arrumada, das meias enroladas uma nas outras... Percebemos que o maior dos mistérios não é correr à noite, com medo dos traficantes, ou mesmo ir à lua em busca de água, não. Mas ali, em nossa casa, como o cálice do rei que mandara ir atrás dele nas grandes florestas, e que na verdade estava ali, ao seu lado... Ser velho é ter medo de experiências simples, sejam elas quais forem, ou mesmo aquelas que exigem um pouco mais de nós. Ser velho pela idade é acreditar que aquele adolescente que ‘morre’ nos sofá, assistindo à TV, é tão jovem quanto o idoso que dá voltas e voltas de bicicletas no parque, que surfa, que trabalha até altas horas e, no outro dia, nos parece um robô novinho!

Nunca, jamais deveríamos nos reportar a um senhor de idade como se fosse um ser que já terminou seu trabalho na vida, e que já se prepara para a partida final. Tenho a certeza que, partindo desse ponto, estaremos nos enganando sempre... Tudo isso são mistérios naturais pelos quais devemos passar com naturalidade, sem forçar a vida, sem querer ser o que não fomos ou não somos. Um desafio, talvez.

Os mistérios, tais qual o cálice, estão ao nosso redor, loucos para serem desvendados, como crianças que querem brincar de esconder e depois colocar a cabecinha e dizer “achô!”... Querem ser vistos e nos dar mais pistas para novos mistérios, mais, mais e mais... São infindáveis.

De volta ao nosso Século

Olhemos com amor todos eles. Olhemos seu passado, e, a partir dele, sejamos corteses, amigos, irmãos, netos... Sei lá... Mas escutemos o que eles têm a dizer, ainda que sejam coisas simples, bobas, as quais se assemelham a das crianças. Vamos rever nossos conceitos de velhice, de amor ao próximo, de juventude, de humanidade... E se ainda nada em ti modifica, lembre-se: um dia serás um deles. É a lei.






quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Vento Forte

Eu queria fazer um texto em que as pessoas se sentissem bem quando com ele se deparassem com a esperança, com a vontade, com o amor. Um texto que relatasse, sem rodeios, a luta sangrenta, porém glorificada daqueles que saem de casa, beijam a esposa e vão batalhar sob o manto dos ditadores revestidos de capitalistas os quais acreditam, naturalmente, que agem sob o manto de Deus, e que criam leis nas quais o subordinado é a cada dia que anda um escravo assalariado...

Queria dizer nesse texto, se possível, que essas gentes não estão sozinhas, não estão abandonadas ao relento dos poderes pútridos criados somente para fortalecer aquele ditador sorridente, que apanha crianças no colo, que dita o modo de vida do humilde trabalhador... que acredita que entende tudo de solidariedade ao entregar, em mãos, o lixo no final do mês.... Queria dizer que estamos aqui, nós, homens da esperança renovada, formulando um meio em que todos serão respeitados e levados, novamente, à condição de humanos.

Talvez ele – esse ditador – não saiba (ou sim), mas o humilde trabalhador necessita, urgentemente, de ferramentas emotivas, não capitais, não materiais – pois já a temos em demasia. Precisa da comunicação direta, do diálogo quente, no qual as palavras se transformam em armas para o dia a dia, não apenas o teu salário, que compra, que o faz feliz por segundos, e acaba.. Este homem, que representa a grande maioria, precisa ser ouvido, até que suas pobres palavras cheguem ao limite...

Contudo, a cada dia que passamos, nos submetemos à imagens da natureza humana violando um dos preceitos mais básicos de sua existência: a humanidade!... Não apenas em empregos lastimáveis, mas em condições subumanas (!), ou pior... Talvez estejamos em uma época em que somente nela vemos seres disputando comida com urubus, reciclando vermes, consumindo fungos, deixados aos corredores desumanos dos hospitais, pisados em multidões, rodando em mesquitas, explodindo em atentados, jogados nas esquinas...

Talvez eu esteja errado, mas a história, um dia, nos retratou humanos que se preocupavam com humanos, acima de tudo. A prova disso talvez é que, no passado, tivemos grandes mestres nos quais poderíamos confiar e dos seus caminhos partilhar. Todavia, tais mestres se foram e seus resquícios ainda gritam na história tais quais formigas na lua, o que já nos é alentador, pois alguns “iluminados” discípulos tentam, com suas forças, defender, não na teoria, como alguns em cima de uma cama com seu controle remoto, ou mesmo engravatado a falar racionalmente do que é certo e errado, mas com sua vocação em amar o povo, o humilde, o real ser que nos segura a pirâmide colossal dessa sociedade dantesca.

Queria levar essas palavras ao meu pai, que saíra de sua terrinha para se aventurar em um emprego aqui, na Capital; queria homenagear, além dele, todos os milhões de trabalhadores que morreram sorrindo em busca de um cantinho para abastecer seu amor à família – alguns mais heróis que outros, mais fortes que outros, mas todos dentro daquele contexto em que todos – posso dizer – salvaram a nação da falta de história e de moral. Sem eles, não haveria os grandes prédios, as grandes casas, as pequenas, os cantinhos escondidos dos homens de bem... Enfim, estes foram e serão homens com os quais poderemos sempre contar, pois eles nos deixaram ventos que nunca se acabam.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Jovens do Mundo


Vejo nos olhos dos jovens de hoje a refletir a saga, a vontade de viver, correr quarteirões, se envolver na vida a todo custo. Ter amizades com as quais podem se abrir, sorrir, abraçar, cumprimentar de várias maneiras (à americana, quem sabe), cheias de firulas, e, a demonstrar o físico, tatuagens, passar a mão de leve nos cabelos da menina simpática que passa na rua...

E na alma deles...

Vejo a juventude com o sol que nos bate a vitrine pela manhã, a nos dá esperança de um dia melhor. Vejo como um fruto pequeno, simples, de uma árvore bela, com folhas carregadas de um verde forte, e troncos brutos, onde o vento bate e não farfalha, apenas sorri.

Vejo ainda a juventude ao longe, vindo a cavalo – um corcel branco – abraçando a brisa no rosto, pálida, cativa, cheia de aventuras nas veias, ao galope belo em meio aos homens velhos de ideais.

Vejo a montanha ser alcançada em dois passos, sem perigo, sem lágrimas, sem esforços, apenas alcançada pelos jovens que sonham e querem realizar, a todo custo, seu idealismo interno.

Vejo a chuva chegar, molhar a terra, exalar seu cheiro, dar cor e vida a tudo, como a juventude que chega, dá vida, e exala seu cheiro. Todavia, a chuva é passageira, a juventude, não. Ela está em nós, a clamar, como nas histórias antigas, a liberdade de dizer “podemos conseguir”, e levantamos, e almejamos... E Caminhamos!

Assim como heróis do passado, como os grandes generais, como os pequenos exércitos que venceram os grandes, como pequenos injustiçados que viraram grandes homens justos, a juventude brilha em algum lugar de nossa alma, cheia de virtudes e sorri a nossa espera...

Mas no presente...

Esse ainda não é o retrato de uma juventude bela que se encontra em nossos dias, não, não é. Às vezes, para em frente a um computador, tentando bater recordes de permanência na internet, em jogos tecnológicos, nos quais guerras virtuais, brigas e até namoros à distância, é o esporte preferido deles.

Vejo-os no desgaste obscuro dos becos, trocando vidas por drogas. E no mesmo beco, prostituições, ofensas, declínio de gerações que se apegam ao vazio, caindo no fosso frio, na solidão...

Vejo músicas corromperem almas tais quais mordidas de zumbis em shows de sangue ao vivo. Vejo a morte sombrear seu presente em assaltos fúteis, em crimes simples.

Vejo a decadência fértil a cada dia nos olhos dos mandantes, nos interessados pelo estado estático de cada ser que nasce, cresce e morre revolta pelo ensino, pela religião, pelo amor à família ou por uma sociedade melhor.


Vejo a máscara dolorida no rosto dos governos, como máscaras astecas, feias, mas ao contrário destas sem sentimento ou simbologia alguns.

Vejo a estática dos jovens frente ao mundo e sua mudança, a falta de preencher as ruas em um grito uníssono em nome da paz, do amor, da justiça... Não, não há mais.

Na Esperança

Contudo... Enquanto jovem, podemos virar o jogo, ganhá-lo, levantar a taça... Demonstrar que somos livres e dentro dessa liberdade encontrar um meio de voltarmos ao que éramos antes de poluirmos nossas mentes com preguiça, depressões, agressões, corrupções, frialdades que nos consumiram e nos clamam perdedores simplesmente pelo fato de perdermos uma partida...

E depois de vencermos a tudo isso, vivamos em nome do grande espírito belo que roça nossas almas no momento de uma grande poesia, de um belo por do sol, de uma paz silenciosa, na qual até mesmo nossos pensamentos são tráfegos de carros barulhentos, mas, enfim, que podemos pará-los, estacioná-los e ver, de longe, a beirinha do oceano indo e vindo...

E quando isso acontecer, em meio a esse trânsito psicológico, respiramos e continuamos nossa aventura, a aventura de ser jovem.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A Brisa do Mal


Em uma conversa bem informal acerca de tudo, com uma colega de trabalho, fiquei pensativo com o que ela me disse sobre um homem que havia cometido um crime e que havia passado quarenta anos preso. Até aí, normal. Mas o que me fez refletir não foi isso, e sim o que ele disse ao sair da cadeia. “Nossa, como as pessoas estão diferentes. Todas andam apressadas, com telefones no ouvido, outras escutando musicas; elas não olham uma para as outras; realmente, muita coisa mudou!”.

Não sei bem se ele disse dessa forma, ou mesmo disse, não sei o nome dele, nem mesmo o crime que cometeu, mas uma coisa é certa: ele foi em cima de uma ferida que assola uma sociedade: a falta de amor, de humanidade, de carinho... Enfim, não necessariamente nessa ordem, ele simplesmente cutucou, com sua voz sóbria, com seu pensamento simples e profundo, o que se revela nas manhãs, nas noites; o que se revela no trabalho, na família, em todos os cantos do planeta onde há seres humanos: o mal que se alastra em forma de violência, de construção de cercas, de desentendimentos, de corrupção...

Tudo isso gera a separatividade – o medo do próprio ser humano. Medo de que sejamos assaltados, ofendidos, falados, presos, injustiçados, barrados, discriminados nos faz passar perto, olhar para cima, para o lado, olhar de viés, de soslaio; com o olhar para baixo... Não há como parar. É uma avalanche fria de natureza metafórica a desabar nos telhados de nossas casas.

A mãe com medo de deixar o filho brincar com o outro por causa da cor dele, ou pelo fato de ser pobre, ou pelo medo de que as crianças gerem conflitos com os quais o vizinho pode querer se intrigar... Medo da falta de educação alheia, na qual a ofensa é estandarte, e até mesmo a própria violência, em voga em qualquer lugar, se situa.

Criou-se depois do medo o pânico. Uma forma de medo maior. Com ela, não se sai de casa e se assiste a vídeos, escutam-se rádios, mas, na mesma casa, não se falam, não se amam, e se odeiam, pois ideias contraditórias geram discussões, e nelas gera-se separação de irmãos, filhos, mães... Pais.

O pânico nos trouxe a dor não partilhada. Não se fala mais em ajudar a pessoa sem que seja “pelo amor de Deus”, caso contrário, não se ajuda a ninguém... O mal está feito. Está lacrado em nossas mentes. E a construção do século da solidão se vê nas mortes organizadas em boates por jovens que desatinam a se drogar, a dançar ritmos frenéticos em nome do nada ou em nome do tudo que lhe acontece na pobre vida rica.

Lá vem o andarilho a pedir uma informação, pois está perdido, todavia vai continuar... o medo nos fez correr apressados, nos fez ter medo daquele homem com aparência sombria, medo do velho, do novo, da criança que carrega algo, pois, a depender de sua cor, pode ser que seja um pequeno ladrão – e então corremos.

Um homem caído no chão. E vai continuar caído. Não há ninguém que possa perguntar o porquê de seu estado, o porquê de ele estar ali caído, em meio a uma multidão tão fria quanto aquela avalanche.

La vai uma senhora atravessando a rua. Pega-se em seu braço. Leva-se uma cotovelada. Vem um palavrão. O medo criado pelo século dos homens maus a fez criteriosa em relação aos seres humanos. Será que estamos cegos?


A televisão nos ajuda a discriminar -- com exceção de raríssimos programas – e propagar esse mal nas ruas e vias por onde passamos; assim somos obrigados a acreditar na imprensa que determinadas cidades estão hiperviolentas e que os bandidos estão tomando conta das sociedades. Até mesmo os bandidos acreditam nisso! E juntando a fome com a vontade de comer, ninguém sai de casa, apenas o malandro a roubar seu carro, a espreitar sua casa; o bandido, a planejar o assalto a prédios, casas; armados até a cintura, a caminhar em morros, em nossa própria rua, graças às manifestações inconscientes de que o mundo é dos bandidos...

Assim, o medo é deflagrado, surtindo efeito até em autoridades que se julgam justas, mas não saem de suas casas com menos de trinta seguranças. Seriam justas, no entanto, se usassem a inteligência e desmistificasse a lenda do bandido que entra e toma facilmente; desmitificasse a lenda de que somos medrosos e que o a arma é o único remédio a uma sociedade presa em seu próprio lar.

E a cada dia, olhar para o próximo fica cada dia mais difícil. Entender suas pretensões, saber o que guarda em seu coração, saber se somos irmãos, e descobrir que temos ideais em comum, fica mais difícil ainda.




sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Involução Humana – final


Parece-nos familiar tal contexto, não? Quando nos referimos a animais, humanos, cargos, poder... Identidade, estamos em meio a uma historia que virou clássico, escrita à época do Comunismo, mas que todos hoje em dia se sentem obrigados a ler, em razão de uma série de coincidências comparadas à realidade. George Owel, escritor, traduz quase que literalmente o comportamento humano – nos animais --, o qual se ‘desidentifica’, dando margem àqueles tomarem o poder, ou melhor, tornar-se instintivo, animal – em “A Revolução dos Bichos”.

Em uma análise mais aprofundada, Owel quis dizer que estamos nos animalizando com o poder, não nos humanizando. As profissões, a depender de quem as vê, podem servir de pontes para o profano ou para o sagrado. O que significa isso?

Um pouco de Tudo

É preciso buscar um pouco da filosofia para entender. Nas culturas antigas, o trabalho era feito com sacralidade, sacrifício – quando vem de sacro-ofício, dando oficio sagrado --, de maneira que fosse um trabalho voltado aos deuses, às potencialidades responsáveis pela nossa existência, pelo nosso pão de cada dia, pela alma que temos, pelo espírito.

Nada era feito pelo crescimento profissional, e sim interno. Ou achas que as pirâmides, o colosso de Rodes, Os Jardins Suspensos, tudo que de grandioso sustenta os olhares na Europa foi feito por escravos, açoitados?! Houve sangue, sim, mas no sentido de doação, amor, sentimento de paixão aos grandes que eram elos entre a terra, o povo e os deuses – os faraós, os sacerdotes, os reis...

E na involução humana, compreender esse fato é pedir demais. E muito. Mesmo porque a palavra religião, não a palavra, mas a própria religião, passou por um período em que distorceu-se todos os seus valores, e levou consigo os pilares do mundo antigo: Amor, Verdade, Justiça.

E na busca por esses valores, buscamos aqueles que se modernizaram, ou seja, se relativizaram nas leis, a partir de erros humanos. MAS os grandes do passado também eram humanos e conseguiram por meio de suas leis universais cumprirem com os seus deveres!!

A relativização de tudo transforma os interesses universais em humanos – teria que ser o inveso; e os humanos, em mesquinharias, e assim por diante. Não há nada que possa mudar isso. Ou seja, no conto de Owel, os animais que foram determinados a tomar o poder se transformaram em humanos, porque o ser humano já teria ultrapassado a esfera de animal. Somos piores que animais, porque nada pior que um animal que fala, que pensa, que ouve, mas não ama, não têm ideais, não sonha com um mundo melhor.

Este humano – esse animal moderno – interliga-se em referenciais falhos, dos quais não se pode tirar nada, pois as sementes que neles brotam dão frutos podres.

Reversão

Contudo, podemos reverter isso. Claro. Não há problema sem solução. Há problemas que se resolvem a curto prazo, e outros, a longo prazo, e põe longo nisso! Há nesse problema de se encontrar a raiz que dera o fruto que estamos comendo. Encontrar, matar, extingui-lo, e começar de novo.

O período de humanização, infelizmente, não será possível às massas. Apenas alguns blocos de pessoas que se interessam em realizar essa façanha em buscar, entender e praticar a real humanidade – assim como poucos hoje em dia – será claramente possível. No entanto, esse bloco será responsável por um futuro melhor para a maioria, ainda que ignorante dos fatos, pois é preciso um capitão para cada barco. Um capitão que sabe para onde estamos indo, que saiba lidar com o leme, que saiba ser fiel aos seus princípios.

Na visão macro, temos exemplos de heróis que um dia comandaram a humanidade de forma maravilhosa, e que foram expoentes em sua época. Mas esses heróis acabaram e, todos os dias, nascem os falsos heróis, os falsos mocinhos; vimos a origem do interesse humano virar sistemas nos quais governantes são eleitos apenas para sentir o próprio poder; vimos e ouvimos palavras fortes como crianças e acreditamos em cada uma delas, pois não há mais nada em que acreditar senão em miragens.

Na visão micro, temos nós, esse ser complexo física,biológica e psicologicamente, mas não apenas isso. Temos uma parte superior da qual podemos extrai o nosso eu verdadeiro e nele se basear para agir e montar guarda contra os males que nos assolam. Essa parte superior, desmistificada na visão de muitos, nos ensina a ser mais compassivos, mais humildes – não como na visão cristã --, de maneira que sabemos lidar com o que é certo, não duvidoso; com aquilo que é claro, vivido, e ao mesmo templo simples, belo e justo.

Na visão universal, temos cada ser trabalhando em sua esfera, em seu ponto, em seu espaço. Nada é por acaso. A Inteligência os colocou ali, cada um em seu devido lugar, ensinando, além de tudo, que a brevidade existe, pois nada pode ser aquilo que aparenta ser e sim o que fora determinado pelo mistério.

Involução Humana


Sabe, há determinados fatos que me chamam a atenção quando, por si só, independem da Imprensa, quero dizer... Falam alto, gritam aos nossos ouvidos, bradam “O que que está havendo conosco?!”, e me incitam mais um texto. Claro que o blog não chega a ser um diário das histórias pelas quais passo, mas... Mas... Vamos à historieta.

Bem, segundo a mardita imprensa foi assim, um senhor de mais de setenta anos chegou a uma agência de uma instituição – um tribunal – e foi fazer suas transações bancárias, assim como qualquer ser mortal. Ali mesmo, na agência, havia um estagiário que trabalhava na mesma instituição em que o velhinho aparentemente simpático trabalhava. O menino, inocente, com o mesmo intuito do senhor septuagenário, entrou em uma fila, mas nesta não poderia ficar porque o caixa, segundo o segurança, estava fechado – ou com problemas; então resolveu o menino ficar atrás do ‘humilde velhinho’ (não se enganem!), e pronto.

A partir dali, o inferno em forma de pessoa se fez na frente do pobre estagiário, que, na qualidade de cidadão comum, esperava o próximo a resolver seus imbróglios no caixa, mas, perdão, esqueci-me de dizer... O velhinho, além de trabalhar na mesma instituição que o garoto, era dono dela (!). Aproveitando seu cargo, sua idade, sua lucidez, ainda que medíocre, o presidente da Instituição, virou-se para o menino e começou a questioná-lo sobre a sua existência na terra.. “O que você está fazendo aqui? Por que não vai para outra fila ou fazer o que deve ser feito em outro lugar” – mais ou menos isso --, e o humilhado, quase sem voz... “Eu estou atrás da linha amarela, senhor”... O que nos pareceu uma simples forma de dizer ao senhor que não havia nada errado, ao velho foi como se fosse uma afronta ao poder... Ao poder dele.

Depois de meditar... meditar sobre o fato, tirei a seguinte conclusão: mais uma vez, estamos passando por uma transformação psico-material-involuida, na qual seres se confundem com cargos que ocupam, com carros que compram, com o lápis que escrevem, e, antes de mais nada, com as pessoas que vivem, porém nunca com seus atos, pensamentos, enfim, com elas mesmas.

De certa forma, chega a ser natural tal comportamento. Mas ser educado dentro dele como se fosse um refúgio da própria identidade, não é natural, e sim o inicio de uma avalanche decadencial na qual estão inseridas a política, a família, a religião, a ciência, a filosofia... a sociedade como um todo, enfim, a possibilidade de isso se transformar em uma extinção humana (não literal, claro) é muito grande!

Mas não estamos percebendo isso. Pelo contrário. A educação, desde a mais precoce idade, à fase adulta, nos conduz a esse pensamento torto – e arcaico. A criança, desde já, entende, isso na visão moderna, que, ao crescer, deve ter muito dinheiro, com uma profissão não humilhante, como sempre foram vistas as de gari, garçom, balconista, etc, e sobreviver em função disso, dessa desidentificação, ou seja, idealizar algo desde o inicio de sua vida até sua morte, como se fosse a maior busca que se faz enquanto vivo!...

O pior, teorizamos, fazemos palestras, concordamos com o fato de que realmente estamos sendo levado por essa avalanche, porém, ao passar pela porta, nos esquecemos completamente daquilo que somos! E o que somos? Somos seres humanos, e podemos nos identificar com o que fazemos, com o que pensamos, com a dor que sentimos, com o amor que damos e recebemos, etc... E mais, com sol que vemos e chuva que ouvimos; com a poeira molhada e seu cheiro... Com rosa, com lágrima que nos cai ao rosto quando nos emocionamos, com nossos atos elevados!... Mas nunca com o que temos. Talvez pela maneira como o conseguimos --, honestamente ou não; com lutas ou não... Assim: nenhum carro sou eu, nenhum cargo, nenhum lápis, borracha, nem mesmo o meu filho sou eu! – digo pelo exemplo de muitos pais se encontrarem na figura do filho e restringirem seus atos baseados em suas vidas.

Temos nossas características individuais, já perceberam? Cada um levando em si a personalidade que se preparou, educou... E o próprio caráter. Os aspectos físicos são relevantes, e é compreensível se identificar com ele, mas isso é milenar, ou seja, por falta de uma educação psico-filosófica e prática, sempre nos identificaremos com nosso corpo... Nada mais natural. Agora, uma educação que está aquém do que somos pode nos tornar animais no poder, cheios de instintos, cheios de falas racionais, contudo, apenas animais disputando vagas, disputando o que não somos.

- Volto no próximo texto...

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Perder e Ganhar II


As guerras como um todo mudaram. Mas há quem diga que os treinamentos de soldados americanos são baseados nos dos espartanos, que fizeram sucesso há mais de quientos anos antes de Cristo. Diga-se ainda que o exército israelense copia, nas lutas armadas, alguns gestos dos romanos... E daí por diante. Mas e daí?

É admirável, claro, mas o que podemos ganhar com isso? Se, por exemplo, copiarmos eternamente as estruturas das casas antigas, não quer dizer que todas elas tiveram (ou terão) o mesmo objetivo... Ou seja, no quesito guerra, os soldados americanos podem até mesmo vestirem-se tais quais os espartanos, o que seria ridículo atualmente, todavia, nunca seriam espartanos em luta, em força, em ideais, em comportamentos...

Na realidade, nesse aspecto somos excelentes. Sempre queremos ser iguais aos grandes – desde pequeno – no falar, no gesticular, até mesmo no andado, mas nunca seremos o que copiamos (ou quem copiamos), mesmo porque biológica, física, psicologicamente seremos diferentes um do outro sempre...

Mas não era isso que eu ia expor, e sim algo em que podemos nos espelhar, sempre, de maneira que possamos seguir os mesmo caminhos, e, quem sabe, ter a mesma força, as mesmas ideias. Para isso, temos que ter outra visão. E mais, levar em consideração vários aspectos que no passado foram considerados, desconsiderando alguns do presente, entre eles, o conceito de religião, política, família, sociedade...Iiiiiih, acho que me refiro aos pilares do mundo moderno, não? E o era do passado, também. Contudo, possuíam neles, em todos, a religiosidade – diferentemente do que conceituamos hoje, pois sempre confundimos com religião.

A religiosidade incluía tudo. Política, Guerra, Família, Sociedade, tudo. Não era algo isolado. Em todas as batalhas se orava ao deus Marte; em todas as famílias, o deus Lar e assim por diante. A religiosidade permitia o guerreiro, o pai de família, os cidadãos, até mesmo os inimigos estarem ligados a um Ideal pelo qual viviam. E isso era o que distinguia e distingue o ser humano na hora de perder e ganhar. No passado, graças a essa filosofia, sempre ganhavam; por isso não havia pena, dó, compaixão... Pois sabiam que acima deles havia uma lei que os reconhecia como tal, dentro de sua natureza e capacidade.

Mas, como eu havia falado no texto anterior, os ideais do passado eram, antes de tudo – mesmo debaixo de flechas –, ser um pouco mais humano, com amigos, inimigos, em guerras armadas ou não, mas sempre sendo um pouco mais humano...

Nas Termophilas, quando os grandes soldados de Leônidas iam para o fronte, oravam a céu aberto, às estrelas, pedindo aos deuses que os levassem depois da batalha -- não porque eram suicidas --, e sim – porque era (e é) humano orar aos deuses, a deus, em qualquer cultura, a fim de que aquele ato de guerra não fosse apenas instintivo, animalesco (pois os animais não oram). Se sobrevivessem, agradeciam e faziam a honra ao deus e ao inimigo.

Perder uma guerra é demasiado triste, principalmente quando a derrota é para um país forte, com potencial bélico como os Estado Unidos, França, Inglaterra. O sentimento é natural a todas as nações que não possuem notoriedade física. Assim não era na antiguidade...

Quando Roma e seus exércitos caminhavam para o mundo-novo, seus adversários guerreavam para que nada disso viesse a se realizar, mas, ao contrario fosse, não havia a dor, nem mesmo a vergonha de se entregar como derrotado aos romanos, pois, pelos princípios ali adotados, sabiam que Roma não era imperialista da maneira como são determinadas nações atualmente, mas um país que respeitava a religião, a política, os cidadãos, a cultura, enfim Roma era uma hospedeira louvável.


Hoje


Hoje, quando o sentimento de "patriotismo" faz países atacarem um ao outro; quando o sentimento de “liberdade” o faz embarcar nas costas de um país quase derrotado pela natureza; quando a desculpa de levar a Democracia aos países ditos ditadores pelos ignóbeis governos leva milhares de pessoas a acreditar nisso... Eu digo: perdemos.




terça-feira, 19 de outubro de 2010

Perder e Ganhar


Há mais de mil anos antes de Cristo, na Antiguidade, à época das grandes guerras – Peloponeso, Guerras Púnicas, Guerras das Termópilas entre outras --, guerreiros morriam pela honra, morriam pela liberdade e por muitos companheiros que delas participavam. Muitos princípios estavam em jogo, e um deles era a coragem do próprio homem.

Assim, em meio a treinamentos, quase escolas de confronto, cujos professores eram os melhores generais do mundo, romanos, gregos, persas traduziam, em batalha, o que aprendiam, e por terminar ensinando a todos nós o valor de cada um, ainda que debaixo de flechas...

Nem precisamos citar o grande exército de Esparta, do grande general Leônidas; do grande romano Julio César, de quem ninguém poderia retirar a vitória, graças as suas espetaculares estratégias contra o inimigo; do próprio Alexandre, o grande, inimigo-irmão de outro grande general persa, Dario. Alexandre tinha orgulho de seus homens e vice-versa... Poderíamos falar de vários, inclusive de Átila, o mais temível dos homens quando se tratava de enfrentar o grande exército romano... Enfim, alí, em meio às guerras, seja qual fossem seus objetivos, havia um pouco de filosofia enraizada em suas veias, uma educação voltada ao louvor aos princípios mais básicos do ser humano.

Todavia, com o decorrer das guerras, o próprio homem tornou-se um genocida em potencial. Prova disso, quando os espanhóis entraram em terreno inca, com a finalidade de tomar-lhes o território, na America Latina. E o fizeram.

Já com o sangue em fúria, os descobridores da América não respeitaram milhares de anos cultivados pelos incas – é claro, já em decadência – e destruíram quase toda cultura daquele povo.

Os incas, desde o inicio, cultivavam a ética, a moral, a honra, a coragem e todos os valores humanos com os quais lidamos de maneira simplória em nossos dia a dia, no entanto para eles era uma lei universal a prática destes, os quais eram o norte de sua sobrevivência... Entretanto, a anticivilização espanhola, friamente, destronou o grande rei, massacrou todos os guerreiros – segundo contam, os incas não guerreavam à noite, pois seria uma forma de desrespeito ao inimigo. Mal sabiam, no entanto, que o desrespeito viria naquela noite, quanto o exército espanhol, em sua prática progressista- genocida, fulminasse com tudo e todos.

E assim, desde que se conhece por guerras – a Primeira e a Segunda, principalmente --, pensa-se em morte à revelia, ou seja, homicídios em massa, o chamado genocídio coletivo.

Outro massacre: um tanto quanto distante das Grandes guerras, quando França e Inglaterra eram “donas do mundo”, quando todos eram a elas submetidos, um pequeno país chamado Paraguai, hoje um misto de descabro social com jogo de interesses políticos, mas, no passado, um país voltado à educação, aos reais valores de uma sociedade, crescia, desenvolvia-se surpreendentemente, quase se tornando um país primeiromundista, coisa que o próprio Brasil, hoje, rala para ser. Mas a regra de crescer e desenvolver sem a permissão dos grandes torna-se quase uma afronta em qualquer setor, e no mundial é a mesma.

Então, Inglaterra e França criaram o Triunvirato, uma ordem composta por países submissos a eles, entre estes estava o Brasil, juntamente com Uruguai e Argentina.

O trio, fortemente armado, foi designado para combater o irmão Paraguaio, que tentava crescer e ser gente grande, apesar do tamanho. A batalha se fez. Outra vez, o massacre sem a mínima honra e respeito ao inimigo foi histórico.

Hoje, depois de duzentos anos pós-guerra, não se sabe quantos morreram, mas o pequeno pais, que quase foi uma potência, é o maior sinal de desorganização de todos os países da America Latina – a vender produtos ilegalmente, sem políticas, sem rumo, e, que é o pior, sem qualquer pais que o reconheça e o auxilie no desenvolvimento interno. As consequências de uma guerra são terríveis, mas as que deixam sequelas históricas são piores, pois destroem gerações e gerações.

Mais na frente, a Segunda Guerra Mundial nos trouxe o holocausto. Hitler, o mal em pessoa, traduziu toda sua ira criando campos de concentração, nos quais judeus, negros, ciganos e raças minoritárias eram mortos sem honra, tais quais animais ao abate. Alias, a palavra honra não existia para o mal encarnado da Alemanha nazista.

A saudade das batalhas antigas, nas quais príncipes, reis e rainhas participavam e eram simbolicamente vistos como deuses e por isso não afetados, já nos bate a alma. É claro que houve heróis reais em batalhas modernas, mas não havia grandes referenciais pelos quais lutar, ganhar, perder. O maior dos referenciais, talvez, hoje, seja a família, um dos núcleos que ainda não nos tiraram e por isso quando se luta (ou não) pensamos em nossos filhos, em nossas esposas, irmãos...

Em lutas antigas, é claro que a família era importante, mas não era o símbolo que gerava a força e a união de um exército que bradava suas forças em prol de um país e mundo melhor. As forças eram reunidas em torno de um ideal tão maior que família, sociedade, humanidade – ainda que por elas se lutavam também, mas –, era o melhor de tudo que os fazia dentro daquele contexto: a ideia de um mundo melhor em que o maior valor de todos fosse o norte, o referencial, tão sagrado quanto qualquer coisa.

Esse Ideal não abolia nem mesmo iria de encontro aos pequenos ideais de liberdade, de humanidade, muito pelo contrário, abraçava a todos eles, de maneira que o homem, quando fosse à guerra, sabia que, sucumbindo, nenhum deles morreria, pois a alma do guerreiro quando embebida daquele ideal não morria, elevava-se e se tornava eterna.

Os ideais de honra, coragem, vida, morte ética, moral estavam acima de tudo, pois se aproximavam do grande ideal universal ao qual o homem, no passado, obedecia. E assim, dentro desse parâmetro, desse muro inexpugnável, dessa rocha inviolável, respeitava-se o inimigo, dando-lhe espaço, força e ao mesmo tempo amizade aos princípios ali adotados.

Um exemplo: em Roma, ainda que fosse o maior dos inimigos a batalhar em campo, mas obedecendo às leis ocultas, este seria irmão dos romanos – seria um pouco romano.


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Paixão: a Guerra de um Homem Só.



Às vezes é preciso se apaixonar para dizer o quanto somos volúveis como sacos ao vento. É preciso mais que isso; é preciso ir ao fundo do fosso e dizer “como vou sair, pelo amor dos deuses!”, e mais tarde chorar porque saiu e viu, de longe, em que se meteu.

É, como diz a palavra a ela cognata, é de se apaixonar!
Quão fogo, larva, dor, terremoto, e ao tempo luzes, flores, sorrisos, paz... E depois, guerra, sangue, dúvidas, loucuras conscientes... Enfim, uma gama de luas e sóis permeando nas janelas de sua alma e ao passo... Dentro!

Faltava-me subir as paredes, escalar montanhas com as unhas, enfrentar gorilas, leões, comê-los crus no almoço... Bem... Uma coisa foi bem certa: todas as vezes que me vinha à consciência de meu estado, eu refletia. Mas uma reflexão inútil, pois me tornava pior com cada minuto que restava, quebrando tudo, distorcendo minhas emoções, desvirtuando meus pensamentos, desmistificando meu caminho...

A consciência, presa à loucura, quebrava a jaula dos idealismos, da religiosidade, e o pior... da própria filosofia... Lembrei-me das obras de Wagner ao iniciar com um grande órgão e explodir com os instrumentais ensurdecedores!

A educação, esmerada num principio significativo – a do legado de uma tradição --, mostrava-se crua, sem gosto, também inútil. Tanto quanto uma lula sem seus tentáculos, minha educação tornava-se deficiente, ou invisível. Motivo: a paixão! Esse monstro cruel que destrói famílias, desconserta sociedades, descaminha heróis, retira a pureza das flores, e assassina a todos. Esse sentimento baseado no sem-principio, na matéria carnosa, no sexo, nos lábios, no corpo, nos encontros, no nada... é como um filho desgarrado a transformar um canteiro zelado por Deus em migalhas pisoteadas pelo Diabo.

Assim, a empurrar o homem do mais alto abismo, a paixão sorri do alto e conta mais uma vitima – eu. Sofregamente embriagado, desfiz de meus princípios educacionais, cai na lona vermelha da vida, a ser pisoteado pelos mestres, os quais nem me viram pedir ajuda. Todavia, fui culpado de tudo. E estava apaixonado!

Nessa selva fria, sem uma fogueira para alimentar minhas esperanças, sozinho, com os piores dos animais – eu --, me punha a gritar em silêncio em meio a zebras, onças, cobras, tal qual o mudo em uma tentativa vã de ser ouvido. Meu grito, todavia, era interno, a causar uma dor maior, a da solidão, aquela praticada apenas em prisões turcas, nas quais nem mesmo a própria mãe sabe onde você está...

A tortura começava e não tinha tempo para cessar. Minhas mãos, trêmulas com cada ato, burlava meu rosto, quebrava vidros; meu rosto, sem poder mostrar a aparência denotativa, caía na conotação da alegria explicita, sem mesmo mostrar os dentes.

Meu coração, coitado, a mais de duzentos por minuto, tentava, em vão, sair do corpo, como no filme Alien, o oitavo passageiro – quando o monstrengo, depois de se alimentar das vísceras, tentar abrir, no meio de nosso estomago, uma fresta, esticando nossa pele... Assim eu me sentia.

A paixão é um verme que nos comanda. Ter consciência desse verme é pouco. É preciso estar preparado disciplinarmente e quando encontrá-lo vivenciá-lo como um poeta. Assim eu fui... Ou tentando ser.

De uma coisa estou certo. O amor pode ser confundido com paixão. A principio, leve como uma brisa, perfumado como uma rosa-criança, e termina como tsunami na alma, sequestrando nossos ideais mais íntimos. O homem apodrece, cai à lona, morre, ressuscita, tenta se elevar, mas os pés não andam, os músculos doem, o corpo inteiro não obedece... A guerra ainda não acabou.

Os poros de minha alma, também dolorida, me fazem sucumbir às palavras mais singelas, mas continuo com o sorriso trôpego, andando ao encontro de minha vida, e sendo puxado pela morte, esta que dá gargalhadas à beira de meu ouvido ferido. Não há, nem mesmo, alguém que venha do céu e me auxiliar a morrer, ou viver, apenas a me pisar na seca de meus sentimentos...

Mas a paixão se solidifica, torna-se tão forte quanto uma ponte. Difícil de desabar, e ao mesmo tempo rangendo suas tábuas mais podres a cada passo meu. As cordas, no corrimão, fragilizadas... E, mesmo assim, forte.

Mas as metáforas da paixão serão sempre inacabadas quando se trata de expor os sentimentos na tentativa de compará-la. Nunca haverá palavra no mundo que demonstre o horror de suas características quando inclinadas a explicar o que sentimos.

Mas uma coisa é certa. Enquanto houver a mulher, esse ser que perturba e ao passo completa o homem, jamais na história da humanidade o homem entenderá o que é paixão – pois estará muito ocupado tentando se levantar da terra que o tenta consumir...


A todas às mulheres.
























R:)

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Fúria de Titãs, epilogo.


Chegamos, enfim, à nossa reta final!


Desde que pensei em discorrer acerca dos mitos, achei que fosse algo, como diria os gramáticos, “gratuito”... Mero engano. Não há nada de gratuito, é preciso ter uma razão, um motivo, primeiramente, com a finalidade de dissertar sobre algo tão profundo... No entanto, da maneira como se foi falado – por mim, claro – não havia nada de profundo. Eu, simplesmente, enrolei, e, claro, fui displicente, tolo, mais ou menos culto em relação à tentativa, não ao texto, mas ao assunto e consegui expor de maneira bravia (porém tola) um pouco sobre o assunto...

No último texto, citava a Caverna de Platão, uma alegoria mítica, que o filósofo teria feito supostamente em homenagem a seu mestre, Sócrates, que, à época, segundo se tem notícia, desvirtuava a política do seu tempo, corrompendo os jovens, em conceitos filosóficos sobre a verdade, amor, beleza, ética, moral, coragem... Enfim, conceitos que, em nossa época, também estão tão desfalcados de suas origens quanto no passado. Por isso, foi levado a tomar veneno como castigo...

Mas não vamos, hoje, falar de Sócrates, vamos terminar nossa discussão sobre mitos, esse ser maravilhoso que se esconde e se mostra como a ponte entre o sagrado e o profano. Vamos tentar demonstrar em linhas breves o que podemos tirar desse manancial que nos deixaram como legado, e que, infelizmente, o percebemos com olhos de soslaio...

Mídia

A Caverna de Platão talvez seja a mais simples de se compreender, tanto no quesito simbólico quanto no metafórico, porque já nos apresenta elementos claros de sua intenção. Mas que intenção? A de que estamos presos a algo.

Mas o mito transcende esse sentido. Não nos passa, de pronto, seu sentido real. Se nos leva a questões de nível psicológico, não é do teor simples como Freud, o rei da psicanálise, acredita. Não tem nada a ver com o aspecto físico, biológico, sexual do homem, ainda que existam interpretações para tanto, mas, ao contrário do que se percebe com nossas lentes, sempre o psicológico voltado à Alma universal, como foi dito em eloquentes relatos, nos textos anteriores. Mas o que nos fez ver o mito com se fossem historinhas de ação? Será que foi a mídia?

O papel da mídia tem sido preponderante para que a educação humana se desvirtue tanto. Se não fosse essa deseducação, que faz com que a distância entre a realidade das histórias, dos personagens, das palavras, e enfim, dos mitos fosse tão lastimável, teríamos, pelo menos, uma visão menos assustadora do que ele significa.

A culpa, no entanto, não é dela, da mídia. A culpa é daqueles que desceram os degraus da iniciação, ou melhor, desistiram de resguardar os grandes segredos e repassaram para a massa, o povo. Este, cheio de relativas ideias, e confusas, desfazem naturalmente, no entender dos princípios, daquilo que é realmente válido. Ou seja, ainda que achamos que seja triste o papel daqueles que desceram os degraus para repassar, cheio de interesse, sua sabedoria ao povo, e este, tão ignorante quanto pedras incrustadas em cavernas... Há uma necessidade por detrás de tudo de decair no fosso dos princípios sem significância os valores humanos, caso contrário ainda teríamos Roma, e sua fortaleza; teríamos a Grécia, e sua sabedoria; teríamos o Egito, e suas belezas, além dos grandes faraós reinando...

O mito, uma dessas verdades que virou mentira, ainda brilha como uma estrela ardente em meio a um sol maior ainda, mas existe. Seu significado abrangente, assegurado pelos sacerdotes antigos, cujo legado nada mais foi que trabalhar para que o homem moderno não atingisse o cerne, a sua essência, ainda baila na alma universal.

Fúria de Titãs

Uma prova disso ainda são os filmes hollywoodianos, que, por mais que tenham a ideia de clamar heróis a todo custo, buscando o mesmo objetivo nos mitos – por exemplo, na de Zeus e seu filho, Perseu, como demonstraram em Fúria de Titãs --, apresentam, antes de tudo, a relação cósmica do homem com o uno, com deus, sempre se dualizando entre o espírito (Zeus) e matéria (Hades).

O mito grego de Zeus, Hades e Perseu se transforma na busca de uma realização heroica no filme, o que descaracteriza completamente seu ideal. Contudo, ao observar de perto a cultura que há séculos nos deu Dédalo, Minotauro, Teseu, Ícaro e vários personagens clássicos, sabemos que temos em mãos vários aspectos simbólicos a decifrar.

Hades, assim como todo problema, transfere a Zeus a inveja, o egoísmo e a relutância dos seres humanos, os quais vivem com Arjuna – outro personagem mítico da Índia – que nos representa também entre nossos valores materiais e espirituais. Perseu seria a realização, ou melhor, concretização dessa dualidade entre os deuses e seres humanos. O filho do deus-maior reluta em ser um pouco temperamental como o Pai, mas não tem jeito, todas as coisas pelas quais passa têm uma forma divina de serem realizada.

Zeus, para tudo, lhe dá presentes para combater o mal, e, mesmo na relutância, Perseu aceita. Contudo, mostra que, ainda seja semideus, realiza facetas com potencialidades tais, que nos assemelha em tudo, quando temos força em nós mesmos.

Significado

A guerra entre Zeus e Hades nos lembra a natureza de nossa razão, sempre no meio de uma linha imaginária, relutando entre o céu e o inferno (simbólicos), os quais pairam eternamente em nossos ombros como dois seres briguentos, cada um levando a razão para onde quer. Na maioria das vezes, em nós, Hades vence.

Hades, na Grécia antiga, tinha uma simbologia tão profunda, que não era pronunciado. Era proibido. O homem comum grego não era medroso, mas espiritual e tinha lá suas razões para não citar o nome do deus que representava o mistério mais profundo do universo ou da alma humana.

Zeus, uma potencialidade que se parece com o homem, sempre descendo e amando as mulheres humanas, fazendo semideuses, representaria, talvez, a descida do divino à terra com a finalidade de elevar o ser humano. Perseu seria a figura do ser humano divino, porém com o pé ainda na matéria – ou vice-versa.

No filme, Perseu vence as armadilhas de Hades, reconhecendo, enfim, Zeus como seu pai. Na película, ainda se vê o filho terminando como uma sacerdotisa, como se fossem filmes em que a mocinha termina com o mocinho, depois da morte do vilão.

A importância, ainda que esteja longe de ser dita, não está tão longe. Está tão perto quanto nossos corações de nosso corpo, apenas não percebida. E todas as vezes, será assim, vamos transformar tudo que não pode ser compreendido em meras visões humanas, na busca da real essência, o que seria impossível. A real essência de tudo se resguarda em um intimo universal, divino, sagrado, nas mínimas e simples coisas...

Fim

Ufa! Assim, entre mitos a humanidade se vai, o universo se expande; entre mitos, nascemos, crescemos, vivemos, envelhecemos e morremos com sabedoria, sem medo, sem dor. Entre mitos, somos mais que pedras paradas nas calçadas, mais que plantas em busca de água e ritmo, ou animais em busca de alimentos... Entre mitos, somos humanos beirando a divindade, ou buscando ser.






sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Teatro e o Ser


Um dia um grande professor nos disse em sala de aula. “Quando o artista sai de cena, ele se desfaz das roupas, da personagem e volta a ser ele mesmo. E quando sabemos que não somos o que vemos, no que acreditamos ser? Conseguimos nos desfazer de nós mesmos? Difícil”, completa.

Ele sintetiza o que os gregos chamavam de persona, uma máscara que acreditavam existir em nós, como uma capa que “cobre” o que realmente somos: um ser. Um espírito. Hoje, como diz o mestre, é fácil se desfazer alegorias da dramaturgia, mas como o faremos se percebemos que tudo isso que nos cobre é outra “fantasia”, uma máscara?

O teatro se revela universal justamente por isso, isto é, tenta nos revelar que até mesmo as coisas mais metafísicas ou que achamos como tal são meras máscaras, e o que realmente são vivem em um mundo perfeito – é o que Platão chamara de mundo das Ideias.

Mas transportando para o nosso mundo, podemos dizer que também temos o nosso mundo das ideias, de forma micro, assim como todas as coisas o têm. Contudo, esse micromundo denominamos Ser, aquilo que é intocável, indivisível, que subjaz a tudo que vemos e sentimos, e que, na antiguidade, chamaram de nows no homem.

Cristo

Acreditavam os gregos, não somente, mas também outras culturas sábias, que tínhamos em nós a divindade, essa tão escondida quanto uma estrela de dia, ofuscada pelo sol. Acreditavam que essa estrela em nós era tão pura e perfeita, que jamais seria dita com palavras e sim codificada por aquele que tocasse pelo menos em suas margens, ou seja, somente os grandes avathares que, com sua mensagem tão simbólica quanto eles próprios, levaria à humanidade a Verdade, o Caminho e a Vida, ou seja, o próprio Ser, de maneira racional-alegorica, às vezes, em forma de mitos, parábolas, etc...

Cristo, um desses avathares, com suas palavras codificadas, nos dá até hoje uma ideia do que seria o ser: “Somente a Verdade o libertarás”, aqui a Verdade jamais pode ser compreendida de maneira relativa, pois estamos falando de um individuo cuja natureza traspassou a nossa, estamos falando de um homem que se tornou o próprio Ser, ou seja a Verdade, o Caminho, a Vida – porém, ele estava se referindo ao nosso ser, aquele que em nós subjaz, e nos alertava que poderíamos ser um pouquinho avathar, na busca pela real verdade, pelo real caminho... isto é, estaríamos libertos se fôssemos nós mesmos, no sentido mais profundo da palavra.

“Venham a mim as criancinhas, pois somente os puros de coração têm o reino dos céus” – aqui, Cristo diz que, para que possamos obter o reino dos céus, é preciso que tenhamos a pureza tal qual uma criança, contudo conscientes, a fim de conhecer o próprio céu interior.




Nome Real

Ainda, quando Cristo dera o nome a Saulo de Paulo, sabia que em cada um de nós se resguardava um Nome, um ser; sabia que o nome a que damos aos nascituros são invenções nossas, mesmo que buscamos através da inspiração em rios, mares, montanhas, heróis, reis, comandantes... o nome, o Real nome, é apenas um – e cada um o tem individualmente. Por isso a cultura de algumas religiões de re-denominar aquele que entra para a seita. Cristo, por fazer Saulo seu discípulo, disse “a partir de agora, serás Paulo” – nome interno daquele individuo –; o avathar falava do espírito humano, da maneira mais própria.

E por essas e outras que é tão difícil relatar acerca do que está por detrás de tudo, embora saibamos. Sabemos ainda que divagamos e não temos uma experiência concreta do é o Ser, tudo parte de nossa personalidade, que se apaixona (por) e deseja tudo. E o que nos fez relativizar tudo tirou um pouco daquilo que é divino na natureza...

Um exemplo disso são as denominações dos Deuses – Zeus, Plutão, Netuno... – ao se referir às potencialidades que criaram o universo. Platão diz na república que um dos erros de Homero foi personificar as divindades, pois elas são vistas com olhares humanos, o que as distanciaria do que realmente são. Mas o homem não consegue sintetizar o que aprende e com ele ficar, ele sempre expõe o que sente, ama, admira, contudo, às vezes, quebrando o significado real das coisas – nesse caso, dos deuses.

E quando soubermos que não somos essa persona que se apaixona, ama, admira, come, bebe e age conforme os seus ditames? Será que vamos fazer o mesmo? Tentar relativizar o Ser em tudo que fazemos?

É o que o teatro faz, pelo menos fazia. Ele tenta demonstrar, pela nossa realidade, a maior das realidades, Deus – seja em nós, seja no uno. Todavia, sem vulgarizar, mas tentando se aproximar do significado do grande espírito.


Fico por aqui.

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....