A sombra de nossos instintos. |
Se nos lembrássemos de onde
viemos e para onde vamos, teríamos mais respeito, talvez mais amor ao próximo,
nessa terra de ninguém. Somos, no entanto, falhos ocidentais em procurar rever
nossos conceitos acerca de origem e fim, revelando-nos frios e calculistas em
meio a pessoas, esses seres que não são compostos apenas de carne e ossos, tais
quais reis sem tronos.
E na consecução de nossos fins,
tão infinitos e ao passo vagos, somos o que não somos, vegetais, levados a cantarolar
em dias de tristeza e chorar em dias de alegria. Ainda sim, presos ao vício de
tentar ser algo, no propomos em seguir regras naturais de um universo só nosso.
A lei relativa que diz que somos os melhores do mundo, e que não há nada nem
ninguém que nos faça volver a palavra...
E pisamos, e matamos, maltratamos,
injuriamos qualquer que seja o ser humano, animal, religião, partido, mulher,
homem, em nome de uma lei que criamos, e que ao mesmo tempo desfazemos sem
saber, pois nos faz rever nossos conceitos, o que seria uma tremenda afronta a
nossa pequena relativa lei.
E morremos ao pedir perdão; ao
achar belo o sol, ou até bonito o que uma criança negra, gorda, feia, de uma
família pobre, pedinte, faz em um papel, com suas canetinhas de cor, ao ponto
de nos transformar em santos por isso... Somos monstros.
Revestidos de sorrisos felizes,
nos quais a qualidade de cínico nos faz bem, e o peso da hipocrisia em nossa
consciência, nem se fala. O mais importante, nessa lei, assim, é resolver
nossos problemas, onde estivermos, juntos a quem amamos, e o que o resto –
resto mesmo – se encontre no pior estado de lamuria. Pois eu estou bem...
É a sombra do preconceito se
fazendo como pequenas células em nosso corpo, por meio de uma patologia
ancestral, na qual morrem e vivem seres humanos-vegetais, tolhidos a selecionar
apenas (e somente...) aqueles que lhes interessam para o seu círculo de
amizades, irmandades, e o que resta em sua jaula, de um circo montado por eles
mesmos.
Enquanto isso, morrem crianças
esquecidas, jogadas de morros, em fossas, em lixos, sem direitos, apenas na
obrigação de morrer, simplesmente por essas células enormes, cancerígenas, que
matam mais que cem Hitleres no mundo, todos os dias.
Mal sabemos nós que nascem todos
os dias idealistas, filósofos reais, cientistas reais, homens reais, aos quais
se podem dar credibilidade, e mais, a nossa própria vida. A sombra desses
homens, mais que tais sombras do mal, reivindicam a vida, e o amor a todos os
seres, inclusive aos maus, senão a morte destes e banimento do próprio mal.
Tais homens de bem, agora, mais
do que nunca, minoria em nossa visão, se encontram em espírito, no alto de
nossas possibilidades, inatingíveis talvez, no entanto, em orações podemos sentir
que tais pessoas podem existir em nossas almas, e permitir que andemos como
vingadores armados de fé e de fogo, que jamais encontraremos nos hipócritas,
amor à humanidade!
O que podemos retirar disso tudo
é que o Bem, feito de elementos misteriosos, nos une, a nós e ao todo; e o
próprio mal – como diria o grande faraó Sessostris III, “como lágrima de Deus” –
ferramenta do homem para dissipar seus vícios, separar-nos-ia completamente de
nossos ideais, o que é normal do prisma natural do universo, contudo, lutaria
até o fim para saciar seus desejos em forma de dores, misérias, política
humana, sistemas assassinos, terror...
Apesar de tudo, também teríamos nossa
luta, nossas vozes, nossos filhos por quem lutar. Teríamos a base familiar nos
dada pelos deuses como estrutura inviolável e eterna, na qual nem mesmo o mais
cruel dos homens teria receio de burlar. E mais, nossos corações, tão frágeis
pela impunidade presente, tornar-se-ia um dragão de sete cabeças tão maiores
quanto à própria cobiça alheia.
Aqui a sombra do mal se desfaz,
sem o sorriso largo de sempre. Sem a beleza
para enfeitiçar os mais ingênuos, e se revelando como animais híbridos da pior
espécie, envenenando o mundo. E nós, sem claudicar em nossos atos, a destruiríamos
com a espada da virtude, como todo cavalheiro de bem enterrando sua certeza
no centro do grande mal.
Aos que nascem e morrem sem ideal.
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