quinta-feira, 6 de junho de 2013

Admiração e Inveja: faces de uma mesma moeda.

Está no caráter de muitos poucos homens admirar sem inveja um amigo que prosperou. 

(Ésquilo)




"planejar a infelicidade do próximo é planejar um abismo para si mesmo" Chico Xavier.





Um dia, o grande Júlio César, comandante de várias vitórias do exército romano, olhou para a estátua de Alexandre, o grande, e chorou, admirado pelo garoto, que, com dezoito anos de idade, já havia conquistado toda a Europa...

Júlio César, com sua educação clássica, em que predominava a mais alta forma de lidar com os excessos, reverenciava grandes homens, inclusive seu maior inimigo, Pitolomeu, o qual morrera por exércitos aliados a César; contudo, ao saber da morte hedionda do Grande Inimigo, pedira para enforcar os responsáveis. Era o sentimento de admiração que predominava entre os dois, nem mais, nem menos.

O mesmo ocorrera entre Alexandre, o grande, e Dario. Nas lutas, grandes inimigos, mas na maneira de lide lidar com suas tropas, os dois iniciaram um processo de admiração mútua, de modo a se respeitarem como amigos.

Assim, como na História, há a inveja e a admiração das quais se aprende a lidar com duas como faces de uma mesma moeda, a personalidade.

Um grande professor nos disse um dia, “Há um espelho entre a alma e o espírito, em nós. Na maioria das vezes, ele reflete a terra, ou melhor, sentimentos natos de uma personalidade que está voltada a tudo aquilo que vem debaixo; outras vezes, ao céu, o qual sintetiza todos sentimentos mais sublimes do ser humano...” – e tinha razão.

Entendi que, quando não somos César, Alexandre, Ramsés, Sesostris... Somos esse ser que recolhe da terra frutos que planta, colhe e ainda acha injusto. E a inveja é a semente que germina da terra a dor em grande escala – a princípio, em particular, mas – sempre a corromper uma família, um grupo e mais tarde uma sociedade. A inveja é um dos reflexos de um sentimento baixo, capital, material e desonroso.

Casos Interessantes...

Há casos interessantes relatados na própria história do Brasil. Quando a família portuguesa teve que se esconder aqui, em uma época em que todos possuíam um sentimento de inveja (ou admiração?) da refinada família.

Napoleão Bonaparte havia feito o grande Bloqueio Continental a Portugal, fazendo com que a família real saísse daquele país, e,  necessariamente, se deslocasse do porto e viesse parar no Brasil-Colônia. Aqui, mais que colonizados, éramos fãs dos modos lusitanos, e principalmente da família Real...

No meio do caminho, como já é relatado por grandes historiadores, houve um “enxame” de piolhos (!), fazendo com que a maioria dos tripulantes do navio raspasse o cabelo. E chegando ao Brasil com aquela moda, vários fizeram o mesmo, num ato exagerado de admiração (ou inveja?)!


A Admiração

A admiração de Júlio César (no inicio do texto) reflete, por assim dizer, a real admiração, pois singulariza o que podemos ser apenas com o que temos, sem ter que correr, trapacear, e nos virar do avesso,  com o objetivo de obter o que, no fundo, não teremos nunca. Pois, quando se quer algo que não é do nosso meio, e fruto de alguém que plantou e colheu para tanto; é tentar ser (ou ter daq) aquele alguém , é trabalhar com uma personalidade voltada ao que ela não é, ou o que não somos.

Contudo... Conseguindo o objeto alheio (ou ser o que não é), fala-se, anda-se, veste-se e se tem tudo aquilo que um dia objetivou do próximo, esquecendo-se de refletir o que realmente era seu – ou o que se pode ser.

Júlio César chorou pelos dias que vivera até ali e não conseguira conquistar o bastante para chegar a ser um Alexandre. Aqui, ele assemelha o garoto prodígio a um deus. E dos deuses não se tem inveja, e sim no mínimo adoração. E sua admiração era a mesma de um fiel ao seu deus...

A admiração de um homem, mais uma vez, vai espelhar as qualidades mais sublimes do ser, advinda de um ponto inegoísta, virtuoso, moral, ético, e que dará mais forças ao individuo para idealizar (não objetivar) as obras materiais ou imateriais. Normalmente, um individuo que admira o outro traz para si singularidades humanas, não animais – inveja, cobiça... – realizando, como aquele a quem admira, seus projetos, e perseguindo seus próprios ideais, caminhando em seus próprios caminhos.

A Inveja

Na calada da noite, no entanto, nos debruçamos de raiva por não ter tudo, e o vizinho sim. E quando o dia se aproxima, juramos que a sua grama é a mais bela, que seu carro é o mais bonito, sua esposa... E não se observa o centro de nossas consecuções, de nossas batalhas pessoais com finalidades ao que deveras nos foram dadas pelos deuses – por Deus.

O vizinho, em sua justiça, percorreu e percorre um grande caminho, assim como nós, com finalidades gêmeas – família, contas, trabalho, filhos, escola... – as quais são trabalhadas de maneira diferente, às vezes de maneira virtuosa, honesta, outras não (!), mas que, de algum modo, as trabalhamos e as temos algum dia. As ferramentas sempre serão iguais, mas a maneira de usá-las será sempre diferente, sem falar na diferença de espaço e tempo – modo, meio, conduta...

Enfim, é um erro diametral querer entender o porquê que temos e não temos, e tentar encaixar na vida do próximo  tudo isso como se fôssemos nós do outro lado da cerca.


A inveja vem da terra, e a admiração, do céu.

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