Está no caráter de muitos poucos homens admirar sem inveja
um amigo que prosperou.
(Ésquilo)
"planejar a infelicidade do próximo é planejar um abismo para si mesmo" Chico Xavier. |
Um dia, o grande Júlio César, comandante de
várias vitórias do exército romano, olhou para a estátua de Alexandre, o
grande, e chorou, admirado pelo garoto, que, com dezoito anos de idade, já
havia conquistado toda a Europa...
Júlio César, com sua educação
clássica, em que predominava a mais alta forma de lidar com os excessos,
reverenciava grandes homens, inclusive seu maior inimigo, Pitolomeu, o qual
morrera por exércitos aliados a César; contudo, ao saber da morte hedionda do
Grande Inimigo, pedira para enforcar os responsáveis. Era o sentimento de
admiração que predominava entre os dois, nem mais, nem menos.
O mesmo ocorrera entre Alexandre,
o grande, e Dario. Nas lutas, grandes inimigos, mas na maneira de lide lidar
com suas tropas, os dois iniciaram um processo de admiração mútua, de modo a se
respeitarem como amigos.
Assim, como na História, há a
inveja e a admiração das quais se aprende a lidar com duas como faces de uma
mesma moeda, a personalidade.
Um grande professor nos disse um
dia, “Há um espelho entre a alma e o espírito, em nós. Na maioria das vezes,
ele reflete a terra, ou melhor, sentimentos natos de uma personalidade que está
voltada a tudo aquilo que vem debaixo; outras vezes, ao céu, o qual sintetiza
todos sentimentos mais sublimes do ser humano...” – e tinha razão.
Entendi que, quando não somos
César, Alexandre, Ramsés, Sesostris... Somos esse ser que recolhe da terra frutos
que planta, colhe e ainda acha injusto. E a inveja é a semente que germina da
terra a dor em grande escala – a princípio, em particular, mas – sempre a corromper
uma família, um grupo e mais tarde uma sociedade. A inveja é um dos reflexos de
um sentimento baixo, capital, material e desonroso.
Casos Interessantes...
Há casos interessantes relatados
na própria história do Brasil. Quando a família portuguesa teve que se esconder
aqui, em uma época em que todos possuíam um sentimento de inveja (ou admiração?)
da refinada família.
Napoleão Bonaparte havia feito o
grande Bloqueio Continental a Portugal, fazendo com que a família real saísse daquele
país, e, necessariamente, se deslocasse do
porto e viesse parar no Brasil-Colônia. Aqui, mais que colonizados, éramos fãs
dos modos lusitanos, e principalmente da família Real...
No meio do caminho, como já é relatado
por grandes historiadores, houve um “enxame” de piolhos (!), fazendo com que a
maioria dos tripulantes do navio raspasse o cabelo. E chegando ao Brasil com
aquela moda, vários fizeram o mesmo,
num ato exagerado de admiração (ou inveja?)!
A Admiração
A admiração de Júlio César (no
inicio do texto) reflete, por assim dizer, a real admiração, pois singulariza o
que podemos ser apenas com o que temos, sem ter que correr, trapacear, e nos
virar do avesso, com o objetivo de obter
o que, no fundo, não teremos nunca. Pois, quando se quer algo que não é do
nosso meio, e fruto de alguém que plantou e colheu para tanto; é tentar ser (ou
ter daq) aquele alguém , é trabalhar com uma personalidade voltada ao que ela
não é, ou o que não somos.
Contudo... Conseguindo o objeto
alheio (ou ser o que não é), fala-se, anda-se, veste-se e se tem tudo aquilo
que um dia objetivou do próximo, esquecendo-se de refletir o que realmente era
seu – ou o que se pode ser.
Júlio César chorou pelos dias que
vivera até ali e não conseguira conquistar o bastante para chegar a ser um
Alexandre. Aqui, ele assemelha o garoto prodígio a um deus. E dos deuses não se
tem inveja, e sim no mínimo adoração. E sua admiração era a mesma de um fiel ao
seu deus...
A admiração de um homem, mais uma
vez, vai espelhar as qualidades mais sublimes do ser, advinda de um ponto inegoísta, virtuoso, moral, ético, e que
dará mais forças ao individuo para idealizar (não objetivar) as obras materiais
ou imateriais. Normalmente, um individuo que admira o outro traz para si
singularidades humanas, não animais – inveja, cobiça... – realizando, como
aquele a quem admira, seus projetos, e perseguindo seus próprios ideais,
caminhando em seus próprios caminhos.
A Inveja
Na calada da noite, no entanto,
nos debruçamos de raiva por não ter tudo, e o vizinho sim. E quando o dia se
aproxima, juramos que a sua grama é a mais bela, que seu carro é o mais bonito,
sua esposa... E não se observa o centro de nossas consecuções, de nossas
batalhas pessoais com finalidades ao que deveras nos foram dadas pelos deuses –
por Deus.
O vizinho, em sua justiça,
percorreu e percorre um grande caminho, assim como nós, com finalidades gêmeas
– família, contas, trabalho, filhos, escola... – as quais são trabalhadas de
maneira diferente, às vezes de maneira virtuosa, honesta, outras não (!), mas
que, de algum modo, as trabalhamos e as temos algum dia. As ferramentas sempre
serão iguais, mas a maneira de usá-las será sempre diferente, sem falar na
diferença de espaço e tempo – modo, meio, conduta...
Enfim, é um erro diametral querer
entender o porquê que temos e não temos, e tentar encaixar na vida do
próximo tudo isso como se fôssemos nós
do outro lado da cerca.
A inveja vem da terra, e a
admiração, do céu.
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