quarta-feira, 12 de junho de 2013

O Dia do Amor

Amor: o primeiro e último dos deuses.



Amor, que palavra simples e ao mesmo tempo complexa. De todas as palavras, a mais cantada, a mais envolvida nos sentimentos, nos clássicos, nos mandamentos. Amor, um ser tão subjugado, mal compreendido, inibido e ao passo solar. Como o primeiro dos deuses (1), o único a unir o universo em seu manto sagrado, a demonstrar seu poder, seu... Amor.

Quando o poeta (2) nos disse, “Não diga ‘eu tenho o amor’, mas sim, ‘o amor me tem’”; e ainda, “abrace o amor, mas tenha cuidado com sua lança na cintura”..., teria um significado infinito, dentro do qual o próprio homem, ao relativizar a própria vida, até o amor, transforma-o em um sentimento vadio, medroso, temeroso, e ao mesmo tempo misterioso, ao ponto de iniciar uma fecunda parceria, abrindo margem ao maior dos deuses, aquele que une ao Todo, de ser apenas um... Sentimento humano!

Não diga ‘eu tenho o amor’, e sim, o amor me tem”. Nessa esfera, podemos dizer que o poeta eleva o primeiro dos deuses ao seu lugar, a sua realidade. Ou seja, tudo que somos, vivemos e pelo que idealizamos, está dentro de uma atmosfera chamada amor. É a verdade.

A verdade dos amantes, dos enamorados, dos apaixonados pela vida, dos filósofos, e seu amor à verdade, dos sentimentos maternos indecifráveis, da loucura embebida de sobriedade. A verdade das vestes dos lírios, das cores das plantas; do bater das asas do beija-flor, das garras da águia, revestidas beleza e brutalidade; é a fé da montanha, que a faz se mover. É a matéria e o espirito de mãos dadas.


Um grande filósofo (1) um dia nos disse que, para compreender o amor real, teríamos que passar pelas fases que a própria natureza nos deu. Ele, iniciados nos mistérios ocultos, divide o ser humano em Soma, Psique e Nows.  O primeiro seria, mais ou menos, a soma de nossos instintos, de nossos amores físicos, desejos, vontades...

Em Soma, teríamos que ultrapassar os valores físicos, com a finalidade de alcançar a Psiquê. Aqui, com ideais evolutivos, na esfera humana, o casal que chegasse ao segundo nível (psiquê), amar-se-ia tanto quanto da primeira vez, ainda que o sexo não fosse tão importante em suas vidas, pois não estariam mais na esfera instintiva.

Em Psiquê, em um nível mais menos personalístico, estaríamos voltados ao que poderíamos chamar de amor psicológico, em um nível de entendimento no qual não se precisaria tanto de físico para a compreensão, mas ao diálogo, fosse ele oral ou fático, mas que preponderasse, ainda, um amor virtuoso, pendendo um pouco para o relativo, pois ainda não haveria a simplicidade que tanto idealizam.

Em Psiquê, casais se amam em seus olhares, em seus abraços, em seus pequenos e breves diálogos de “eu te amo”, e ao homem, envio de flores em momentos informais, em pequenos gestos que sintetizam a beleza de um relacionamento.

Nesse nível, depois de entenderem que a realidade não se fecha em apenas dois seres, a compreensão do tudo se faz. O olhar, agora direcionado ao todo, ao céu, faz com que o Nows, a terceira e a real fase do amor se revele. Homem e mulher já não possuem valores terremos ou ideais terrenos; são filhos de outro mundo, e amam o mistério sagrado escondido no grande manto divino, e em si mesmo. Todos os seres, belos ou não, bons ou maus, são mil faces necessárias de uma divindade maior que o próprio sentimento de amor.

A música desse amor a Natureza canta no farfalhar, no grunhir, no gritar, no chorar... Na lágrima ao pôr do sol, na poesia bendita que direciona o homem a ele mesmo. O verdadeiro Amor seria este.

Eu, que ainda sou propenso a ser filósofo, parafraseio... “O Oceano é a gota; e a gota é o Oceano”. Enfim, tudo está dentro de tudo, e todas as coisas são válidas como amor, se idealizarem o bem ao próximo e a si mesmo, e porque não ao sagrado? Desde a parte física, com sua cortesia, com sua beleza, enraigada de paz e simplicidade, até o encontro do homem com Deus... Tudo, para mim, seria o amor. Nada estaria fora do contexto.

Por isso, diga “eu te amo” quantas vezes necessário for; cante suas canções preferidas, num grito sóbrio que somente você sabe por que canta. Não deixe apenas que a vulgaridade tome conta de seu corpo, de suas palavras, de seus gestos – pelo menos hoje! – e sinta em seu coração um amor silencioso, beirando ao puro, e não diga a ninguém apenas a você mesmo.




A você, minha querida esposa, que amo tanto.


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(1) Platão 
(2) Kalil Gibran 

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