segunda-feira, 30 de abril de 2018

A Linha que Não Vejo

Há uma linha imaginária na qual passeamos -- ou pelo menos, tentamos nos fixar -- todos os dias. Uma linha forte, bela e onipotente, como uma muralha feita por homens de um passado tão misterioso quanto estes. Não pensamos nela, nem mesmo fazemos questão de sua existência, mesmo porque, graças ao nosso livre arbítrio, achamos que liberdade é um patrimônio nosso, ninguém nos toma... e embarcando nesse erro grasso, desfrutamos da vida, sem linhas, e a depender de nosso orgulho, sem leis.

A linha em si, já personalizando, não pede, nem implora aos homens que se fixe nela, mas ela existe como um sol invisível, como um arco-iris distante, que, com suas cores, nos embriaga de beleza, de paz, e ao mesmo tempo mistério... sempre ele. Os antigos a chamavam de "retação", mais alguns, de "Ordem", mais outros, de deusa "Maât", e o Cristianismo, com muita folga, embarcando na mitologia clássica, nos trouxe "Deus", como um ser, não como uma linha imaginária, do qual nos sentimos mais filhos do que parte dele, e assim por diante.

Para a compreensão dessa linha devemos demonstrar a maneira como os homens do passado a viam, a compreendiam e a respeitavam, até o fim de seus dias. Para isso, criavam hermeticamente histórias acerca de vários deuses, de templos celestes -- fossem deuses interessantes ou não; bons ou não -- a representar passagens por essa Linha e a queda fora dela. Já falamos sobre isso em Ícaro, Jesus e Buda, quando fizemos alusão à referida, a qual simbolizava (e simboliza em certas culturas) a grande lei, à qual obedecemos.

Platão, em As Leis, detalha o trabalho do homem dentro de um contexto relativo -- como sempre o fez -- mas com tendências humanas, profundas, não como um escravo de leis, e sim como um elemento divino, o qual, em tentativas de reconhecer-se, pratica ( ou deve praticar ) o que lhe é inerente, em meio a dificuldades que lhe são impostas.

E hoje, quando sentimos que há leis que nos escravizam, nos rebaixam a seres abaixo do que somos, nos levantamos e lutamos contra elas. Porque sabemos que a lei, seja ela relativa, ou absoluta -- ditadora, advinda de personas doentias, não tem ligação com a grande lei, e quando isso acontece até mesmo os elementos externos se destroem: terra, ar e água e fogo... Não em sua abrangência, mas sim, como elementos que nos abastecem basicamente, quando levantamos e deles precisamos.

É difícil entender o propósito de tudo que descobrimos, e quando nos falamos de linhas imaginárias, de ordem, de deuses, como leis, é falar de algo que está lá fora, como uma chuva que resvala em nossa janela de vidro, e nós, dentro de nossas casas, com medo, cheio de dúvidas quanto ao pingo, quanto à água e sua fúria.

Não se pode falar em algo, se não temos o coração aberto, a alma pronta para entender outras verdades além da nossa. Ou seja, não podemos nos aferrar ao básico e nele tentar entender o que está por detrás dos sonhos, dos mitos, ou mesmo o que está no fim do arco, que corrompe nosso conceito de beleza.





sexta-feira, 27 de abril de 2018

Trabalho Eterno

Estamos chegando a mais um Dia do Trabalhador. Dia em que, segundo consta em seus princípios -- que o fizera este dia -- refletimos acerca do nosso trabalho junto às empresas, ao patrão, e este ao empregado. Por isso, o feriado. Irei um pouquinho mais longe: o Dia da Reflexão junto ao Universo, a si mesmo.

Não é preciso ir muito longe para entender que emprego (trabalho, profissão...) não mais é que aspecto subjetivo de um mundo que precisa se capitalizar, mesmo porque não se vive sem pagar qualquer conta, a minha, a sua, das pessoas que procuram remunerar-se de alguma forma, mesmo quando estão sem trabalho, enfim, se mexer dentro de um contexto no qual precisa estabilizar-se financeiramente e assim psicologicamente para o bem de uma sociedade, de um grupo, de uma família, de si mesmo, como chefe de família ou não.

É nobre, é compreensível. No entanto, quando levamos a reflexão um pouco além disso, percebemos que trabalho é algo que não é inerente apenas ao ser humano, mas ao todo, a tudo, principalmente ao que desconhecemos: o invisível. Sem ele, o concreto, o visível, o palpável é certo que não existiriam.

Quando Platão se refere ao mundo Inteligível, não quer dizer longe de  nós, em galaxias distantes. Não. Está aqui, do nosso lado, perto o bastante para entendermos que nossas ideias, nossos conceitos de Justiça, de Amor, de Beleza não são apenas conceitos, mas realidades das quais podemos extrair algo e plasmar junto ao sensível-- o mundo concreto. Nações antigas, como a do Egito, faziam isso. Então é certo que um dia demos certo como nação e seres humanos. 

Não há patrão, nem mesmo empregados no universo. Ao contrário do que dizem que "Deus fez isso e Deus fez aquilo", como um ser que pode subjugar o próprio trabalho de acordo com seus interesses e um dia jogar tudo para o alto e dizer... "Vou acabar com o Mundo". Não podemos deixar que isso corra nas veias de um ser humano, como ideia que se tornou verdade, plasmada por repetição; a não ser que entendamos de maneira mítica, simbólica, como há vários séculos em Roma, na Grécia clássica, na qual mitos cristãos saíram também para explicar o fim e o início do mundo... Além de outras várias nações antes de Cristo.

Não há uma Inteligência que demita uma estrela, um sol, uma célula, uma vida... E sim a natureza em perder sua "validade" junto ao universo, pois tudo que é concreto um dia se vai. A depender do tamanho, demora ou não; e isso deve ser incutido novamente nas massas, como um dia o foi no passado, de maneira que entendam que por mais belo que seja o sol, a terra, o homem e seus questionamentos junto ao sagrado, um dia se vai.

Entretanto... O que está ao seu lado, como ideia, com elemento invisível que se formou, como diria Demócrito, uma Alma antes da alma, a qual depois dessa, não se cala, não se vai. E o próprio Uno, como constatou mestre Platão, a possuir sua alma, deixa bem claro que mesmo se indo como concreto (sensível), não se vai no inteligível.

Tudo trabalha, ainda que depois de morto; pois há elementos que transformam aquela parte, aparentemente morta, em algo, talvez até mais útil -- a depender do que aquele corpo fizera em vida. E é disso que precisamos, de reflexões ao que fazemos aqui e agora junto ao Sagrado, à Natureza, a Deus. Não adianta, concluo, ser um grande empregado de uma firma maravilhosa, ganhar rios de dinheiro por mês, e como ser humano não ter nada a oferecer. Parece algo bobo de se dizer, mas a palavra trabalho tem que sair de nossos dicionários como reflexões externas, e passar para internas no sentido de levar nossa consciência ao que somos, não apenas ao que fazemos.

E como já disse em vários textos, precisamos descobrir nossa real vocação -- o chamamento da alma --, embarcar naquilo para qual nascemos, e naquilo que o próprio Deus nos colocou com vistas a conhecê-Lo melhor, e trabalhar muito e com amor, sempre.


quinta-feira, 26 de abril de 2018

No Meio do Caminho

...Em meio a minhas caminhadas, pensei: quando é que vamos pagar pelos nossos erros, sejam eles pessoais ou coletivos...? E como se um dia pudéssemos fazê-lo, fiquei pensando mais, agora sobre nossas supostas vidas passadas nas quais cometemos erros que mais que supostamente  são geradores de consequências futuras -- leia-se, não sabemos quando.

Mas aí, parei, depois comecei a andar bem devagar, e falei comigo mesmo... "Equilíbrio"... Sim, equilíbrio! Como não havia pensado nisso antes! Se temos uma Organização Sensível e Inteligível, segundo Platão (filósofo grego), que detém em sua estrutura uma Ordem, por que não a teríamos, por que não seríamos parte dela? Na realidade é bem mais profundo do que isso...

Na Antiguidade -- principalmente na Índia clássica--, acreditavam que o homem participava desse Todo, tinha em sua miniestrutura o reflexo da grande Estrutura, que seria o Universo, o qual estaria sendo regido pela Grande Inteligência Cósmica: O Darma. Seu contraponto, o Karma, fiel ponto no qual nos encontramos, sempre que nas entrelinhas desse todo desfazemos um trato, mesmo que involuntariamente... Como diria um grande professor, até mesmo os cães dela participam, porque não tangenciam ao grande Ser.

Nesse caso, poderíamos falar de algo que nem imaginamos, muito menos podemos pegar, como forma de exemplo, e visualizar em nossas almas, assim como nossa mente, trabalha para os seres racionais, não para os espirituais, os quais se encostam nos mistérios agudos do céu, enquanto nós, militantes do materialismo, só vislumbramos o que nos chega por meio de insights...
O que não é pouco.

Sem eles, não teríamos nem mesmo suposições do sagrado, de Deus, ou mesmo do nosso poder junto ao oculto. Somos exotéricos, não esotéricos. O primeiro, mais opiniões acerca do que somos; o segundo, eso, do que realmente podemos e somos. 

Probleminhas...

A caminhada continuou, e andei por vários locais interessantes no meu bairro, e comecei a me alimentar de indignações e ao mesmo tempo de satisfações pelo que havia descoberto. Meu sorriso tímido, no meio de minha face feia, parecia um pequeno sol a se formar e acabei por solidificar outro pensamento... "Nossos problemas são parte de um equilíbrio", pensei. Possuímos conflitos, problemas naturais de nossa espécie, em razão de sermos humanos, e se isso funciona no coletivo, a certeza de sê-lo no individual é muito mais possível, mesmo porque o indivíduo é que faz a sociedade, os grupos, a humanidade... E o universo, com seus "neurônios", trabalha em função do equilíbrio, assegurando que precisamos sentir na pele ou no corpo, na mente ou no emocional, a dor necessário da balança interna se erguendo com intuito de equilibrar as partes.

E dentro dessa certeza, pensei em JAL, "quando um pai de família vai mal, um mundo vai mal"... O pequeno detalhe que gera o maior deles, seja de uma estrutura pequena ou não, tudo funciona a partir das mínimas fagulhas imperceptíveis das quais não temos nem tempo de percebê-las... O Homem, para o  universo, é essa fagulha. Enquanto nossos objetivos, como humanos, não forem realizados de acordo com a grande Ordem -- como diria no antigo e belo Egito,-- com a Deusa Maât, forma de mulher, olhar forte e severo e ao mesmo tempo leve como uma pena, não estaremos bem, seja como humanidade ou como parte dessa grande Face.

Pensei mais, "bom saber que preciso fazer parte desse todo; mas preciso, antes de tudo, equilibrar minha vida, aqui, agora, como se precisasse equilibrar o todo". Por enquanto a balança nossa pessoal de cada dia se mostra desigual, e continuará assim por muito tempo, até aprendermos a lidar com diversos fatores com os quais ainda nem mesmo sabemos o nome.

Busquemos o  mestres.



quarta-feira, 25 de abril de 2018

Encantamento

O encantamento em ver o ser humano procurando a verdade em pergaminhos clássicos, do tempo dourado de Roma; persistindo em decifrar hieróglifos da grande nação que um dia fora potencia cultural, bélica e espiritual da humanidade -- o Egito; o prazer em ver homens em meio a batalha a levar um lenço, a significar a parte humana, tão significativa, tão legítima e bela, dentro do homem; a beleza em orar antes da guerra, a pedir os deuses que a morte seja a ponte entre o homem e Deus; o mistério em ver homens se sacrificando por outros sem mesmo saber se estes vão ou não entender aquele ato tão nobre e ao mesmo tempo santo... 

Enfim, temos a santidade em nossos olhares e misticidade em nossas mãos, assim como Dédalo o teve quando fez as grandes asas que o levou à Liberdade, à lei, à Ordem, ao contrário de seu filho, Ícaro, que provou que ainda temos muito que aprender quanto ao que somos frente ao uno, e por isso sempre o desafiamos. 

Desafio necessário e ao mesmo tempo ambíguo, pois pode nos tornar sagrados demais ou profanos em demasia, o que não nos faz nem mais nem menos homem, mesmo porque voltamos à tona, seja do poço, seja da lama, seja do abismo, e num impulso voltamos a ser sagrados tanto quanto pico daquela montanha quase inatingível.

O encantamento se faz lá em cima. Ao sentar-se na neve pomposa, perto das nuvens, a observar o mundo bem de longe, como se fôssemos deuses livres e, assim, nos questionamos a respeito do que queremos e até que ponto o queremos: ser sábios, compreender profundamente nossas raízes, nosso mundo, de onde viemos e porquê; saber por que nossos corações se alimentam de atos corajosos, ainda que em batalha a dor se mostra...

Queremos subir, de alguma forma; olhar as estrelas de perto, pegá-las e de algum modo substituir aquele brilho pelo nosso, lá de baixo do mundo, ser semelhante a elas. Queremos cantar, ouvir a melhor música, aquela que penetre em nossos corações e alma, como se fosse um antídoto contra o mal que assola nosso corpo pelas mazelas plantadas pelos amos; queremos ouvir a poesia, possuí-la em nosso corpo, praticá-la, envolvendo divindades e ao mesmo tempo nossos atos, os quais direcionamos todos os dias ao céu.

Queremos ver nossas mulheres dormindo, nossos filhos correndo, as matas surgindo, a terra nos fornecendo alimentos; ver a paz surgindo assim como por encanto, do nada, como que uma torneira se fecha, ou quando uma grande chuva cessa, de um instante para o outro; queremos ver homens guerreiros, a encarnar o Leão de Hércules, quando o felino e o homem se torna um, ao ser morto pelo herói.

Somos encantados, e não podemos perder esse dom divino. O dom da busca, pelo menos, esse que tanto some nas horas em que nos vem masticada a notícia, a fala do jornalista, ou mesmo quando a televisão nos toma a sala. Ele permanece em nós, quando sentimos um papiro descoberto, quando uma palavra se religa ao seu real significado, ou mesmo quando sabemos que fazemos parte de um todo organizacional, cuja inteligência não temos nem mesmo que questionar -- o ponto máximo da vida talvez.

Não importa, tudo nos encanta.

terça-feira, 24 de abril de 2018

Leonardo, com Prazer

Terminei um grande livro a respeito de Leonardo da Vinci, um dos maiores pintores de sua época -- quiçá do mundo, e fiquei mui emocionado no final quando o autor, Walter Isaacson, fez referência a um dos grandes mestres do Renascentismo como um ser humano normal. Mesmo com toda a sua reverência ao mestre, ao dizer que a busca pela genialidade era o caminho dele, nos faz entender que não somente ele, mas nós também podemos, dentro do que temos, buscar, com prazer, detalhes, minucias, segredos, mistérios, como se uma inquietude fizesse parte de nós, naturalmente.

Ele tinha razão. Não há mistérios, pelo menos em entender que podemos ser um pouco de Da Vinci, ainda que o pintor clássico (e engenheiro, dramaturgo, poeta, ensaísta, arquiteto, inventor, etc, etc) fosse um ser que normalmente não se prostrava a descansar em nome do prazer de descobrir. Podemos ser assim, segundo Isaacson. Hoje o que nos sobra, em meio a tantas horas de paz, é o computador, o tablet, celular, enfim, nada que no passado nos poderia dar dores musculares e de cabeça, pois o que nos faz mais relaxados é o que buscamos. Triste isso.

Há saídas dentro que possuímos em mãos; há elementos que nos faz crescer e desenvolver potencialidades, e construir uma alma melhor todos os dias. Ainda que tenhamos somente o computador, o tablet ou mesmo apenas o celular, não podemos nos entregar à tecnologia fria e sem caráter, pois o temos e em grande escala, e é ele que nos faz escolher, por meio de nossos princípios, o que é certo e o errado, mesmo que ainda esteja na base de sua formação.

Da Vinci cresceu em uma época em que homens e mulheres tinham que fazer algo em prol de si mesmos ou mesmo em prol de uma sociedade com vistas a desenvolvê-la, acrescentando pedras e mais pedras, das quais somente a tradição -- como o fez Da Vinci -- poderia impulsionar. Para as damas somente o que lhes era facultado, em razão do machismo exacerbado, mas aos homens cabia desenvolver projetos dentro dos quais a visão e a holística tinham que fazer parte dele. 

Da Vinci era anormal nesse ponto. Via tudo que o mundo necessitava, trabalhava exaustivamente não somente nas pinturas enigmáticas, como o Homem Vitruviano, ser que se igualava ao universo, e mais tarde, a Mona Lisa, que, segundo nos conta o autor, era uma senhora vizinha do excepcional pintor que um dia foi sua modelo (vamos dizer assim), e quando terminou o grande retrato parecia que os deuses tinham penetrado em suas veias e lhe dado o dom de plasmar todo o mistério humano em um só sorriso.

Mas Da Vinci era um inquieto, uma criança em busca de algum brinquedo para desmontar; um espírito ambulante que não dormia e que só refletia em torno do que poderia fazer amanhã. Parece que somos um pouco dele ou ele tem um pouco de nós, mas só iremos descobrir quando levantarmos nossos ânimos (de alma), nos entregar com entusiasmo (Deus em nós), e termos a coragem (de coração) de modificar o mundo, ou a nós mesmos.

Entretanto, devo pedir desculpas a Isaacson quando diz que devemos buscar com prazer os detalhes e mistérios da vida, pois fico com um grande filósofo J. A. Livrarga, que um dia nos disse, "Toda busca é vã se não for feita com Amor". Isso quer dizer, não façamos nada senão com o prazer espiritual da busca, senão cairemos no afã de nossa personalidade eloquente e ao mesmo tempo frágil.


Um brinde a Da Vinci!



sexta-feira, 20 de abril de 2018

Entre a Espada e a Cruz

Ontem, em uma série sobre os vikings, pude assistir a um dos mais belos espetáculos já colocados na televisão: a guerra entre clãs vikings e ingleses cristãos. Era o ano de 700 a 800 d.C no qual muitas tribos ainda se formavam a partir dos descobrimentos e tomadas de terras alheias, e os grandes guerreiros vikings, por si sós, já falavam bem alto, sem qualquer palavra acerca de suas pretensões. Sua fama e fome de invasão ao desconhecido eram milenares. 

E foi assim que exércitos cristãos temiam aqueles que eram vistos como o responsáveis pelo mal, pela dor, desespero e morte da irmandade, que tinha como referência Cristo, Deus (da maneira deles), e outros santos. Eram diferentes em tudo, até na hora da batalha que exigia força, coragem e certeza de confronto com o inimigo...E mais, não temer a morte -- algo que aprenderam (e porque não dizer, aprendemos) a ter quando a paixão e a incerteza tomaram conta da humanidade em forma de gestos simplórios.

Era a era das batalhas, dos deuses que beatificavam os mais fortes, os mais destemidos e premiavam todos que morressem com honra. Não havia essa filosofia nos soldados cristãos, apenas um paraíso que começava a se formar na alma do homem manso, que perdoava em nome de Deus, que se sentia um pouco melhor ao dar a outra face.

Aos vikings, enquanto isso, sobrava-lhes o sorriso em ver homens fracos, com medo dos seus exércitos, os quais eram como crianças abandonas mortas de fome, em nome dos deuses, a encher o prato de comida. E comiam. Em seus olhos o sangue já dava sinal de que Thor e Odin já estavam naquele espírito, e não tem coisa mais medonha do que ver a alma do homem sem medo sendo extraída pelo físico. Fosse qual fosse, do menor ao maior.

A ideia dos cristãos, assim como a dos vikings, era mesma: seus olhos já irradiavam medo e dor, como numa união híbrida entre álcool e gasolina, no mesmo tanque, só que o efeito não era o esperado. Pelo contrário. Em batalha, pareciam que espadas e escudos pesavam, elmos o atrapalhavam a visão, tudo era motivo de deserção, e muitos o fizeram no limiar do sangue negro nas roupas.

A paixão de Cristo em guerra não era uma boa saída, ainda que tentassem; mesmo assim, graças a muitos reis que se converteram no cristianismo, conseguiram, e anos após anos, em nome de Deus, destruíram fortificações, deuses, histórias, lendas e mitos, que poderiam ter sido elevados até os dias atuais. E o pior, transformaram sua bela história cristã com alguns elementos do passado nórdico.

Para muitos que acreditam que os vikings eram apenas guerreiros destruidores, devo dizer que estão errados, simplesmente pelo fato de que cultura não se mede, nem mesmo se critica pelo fato de ir de encontro à nossa. Muito pelo contrário. Devemos mergulhar em suas crenças, nos apaixonarmos por ela, sem deixar a nossa de lado; caso contrário, seremos xiitas e estaríamos destruindo o mundo, ao invés de construí-lo para nossos filhos.

Tais homens, grandes homens, desbravaram terras, mas nem sempre atropelavam seus supostos inimigos, pois sua natureza nada mais era do que enriquecer, tomando do outro o que para gente é apenas uma porção de pratas e ouro; para eles, os mistérios contidos na natureza eram mais raros e por isso mais caros do que o ouro que tradicionalmente roubavam... Eles tinham que se mostrar melhores, e eram no que faziam.

Amavam suas esposas, seus filhos, sua gente. Tinham sua parte mítica adotada como princípios naturais, pois acreditavam que a própria natureza possuía sua Regra, sua Ordem, e de alguma forma tínhamos que adotá-la, e o faziam por meio dos deuses, os quais falavam não somente a cada um, mas ao e do próprio universo, dentro do qual nascimento, vida e morte, nascimento, vida e morte, sempre se revelava ante aos olhos da vida. 

Quanto ao deus penoso, cheio de lágrimas, inventado pelos homens apaixonados por paraíso, tomava conta do mundo, homens se desconectavam da natureza e criavam para si a história centralizada no próprio homem, sem deuses, sem potencialidades sagradas, nas quais princípios eram apenas interesses individuais, com vestes santificadas, e quando cometiam (cometem) impropérios, clamam a Deus.










quinta-feira, 19 de abril de 2018

Um brinde ao Superman

Ele veio de um planeta até então desconhecido por todos -- Kripton, por causa de um certo descontento entre pessoas de seu povo que fizeram abalar as estruturas daquele que um dia, em uma galaxia distante, foi o melhor dos planetas... Assim como muitos governos que se destroem pela ganância, pelo egoísmo e falta de humanidade, Kripton se foi, mas, antes, nos deu Kal-El, em criança jogada dentro de uma pequena nave pelos pais que tinham a Esperança no peito e na alma em resguardar o que poderia ser a salvação da humanidade, a nossa.

Ao cair na terra e ser adotado pelos pais terráqueos, teve sua educação voltada a tudo que nos era de praxe, contudo, ainda em menino, guardava um cristal, dentro qual um tipo de gravação poderia ser ouvida, ao ser colocada a uma certa distância daquele terreno onde vivia. Era seu pai Kriptoniano, que não havia se esquecido de dizer, por um meio um tanto quanto avançado aos nossos olhos, que sua essência jamais deveria ser esquecida: ele, Kal-el, era mais que um simples menino que se tornaria um adolescente, que mais tarde transformar-se-ia em um homem, era um Super Homem.!

Com poderes além-humanos, como ser tão rápido quando uma bala, mais forte que qualquer homem, ter uma visão radioativa, com a qual poderia ver até através de cortinas de ferro, Kal-El, após descobrir tais poderes, iniciou seu percurso natural, iniciático, em meio a um mundo que, destruído pela ganância e egoísmo tal qual o dele que se explodiu, tinha a missão de não ser apenas o mais rápido, o mais forte, mas principalmente o mais sincero dos homens.

Foi com esse objetivo que Superman nos veio, o de demonstrar essa figura mais que heroica, mais que humana, veio a nos representar por meio simbólico que somos sagrados, e que possuímos não apenas forças externas, mas internas, que movem o mundo, que nos eleva a seres imortais -- não com oitenta ou cem anos, e sim para sempre. 

Quando Nietzsche usou pela primeira vez essa expressão (super homem), trabalhava em questões filosóficas advindas de uma tradição que moldava o ser o humano para ser um ser divino, equivalente aos deuses, como diria Platão, ao ser questionado acerca do somos. "Somos deuses e nos esquecemos!" -- o que equivaleria a dizer que em nós há elementos sagrados que nos concatenam com realidades naturais acima e dentro de nós. 

O Superman seria o homem que não mente, não trai, não se omite, não duvida de seu dever junto à humanidade, não cai ante às batalhas diárias, não morre facilmente, mas que, assim como Aquiles, nosso herói grego, que tinha um pequeno e leve defeito -- o do calcanhar que não tinha sido banhado no rio sagrado, por isso volúvel ao profano, Kal-El, ou Clark Kent, para os mais íntimos, não poderia ter em sua sombra um pedaço do seu planeta Kripton fosse ele qualquer tamanho... O efeito do grande planeta espedaçado, na terra,  soaria o contrário em sua pessoa, e seria no mínimo fatal a ele... Que belo!

Ao demonstrar esse grande humano junto ao mundo com suas características impressionantes, mais uma vez vemos que, ainda seja o maior dos humanos, assim como muitos semideuses do passado, temos algo que nos religa à terra, de modo simples, porém caro aos nossos olhos da alma. Assim representado no Tao, no Paraíso cristão, assim como em vários mitos que falam tanto de nós.

Por isso Superman será sempre uma tatuagem na alma humana, que, adotando-o como princípio, se elevará e se tornará um pouco divina, contudo, graças às paixões que cultivamos, não deixará a terra por nada.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Ab Ovo

Hoje vamos falar de nossas origens, mas não mergulhar muito nelas. E quando inicio com a expressão "Ab Ovo", usada muitas vezes em processos a se referir a decisões iniciais, desde a sua origem, uso-a agora com referência ao nosso passado, às nossas origens, de modo que possamos lembrar quem nós somos, o que pretendemos fazer junto a esse mundo, a essas pessoas que nos circundam, ao universo, que nos acolhe.

Uma grande ocultista (madame Blavatsky) um dia nos disse que precisamos entender nossas origens a partir dos mistérios antigos, os quais, de forma bem velada, foi-nos colocados pelos tibetanos, egípcios, entre muitos que, antes destes, nos falava ao ouvido acerca do que somos. Cita os atlantes, grandes senhores que dominaram o mundo durante séculos, antes de Cristo, antes mesmo do próprio Egito se formar.

Segundo dizem, tais povos (da Atlântida) eram de uma cultura elevada, inteligência assombrosa, pois podiam ler a mente, conversar por telepatia, enfim, o resto fica com Hollywood... Mas ante ao que se descobriu, sabiam muito mais que a maior da cultura existente em nossos tempo. Mais. Havia sábios que, antes que se deslocasse o eixo terrestre, e afundasse os continentes, se espalharam pelo mundo, como reis que deixam seus povos mergulharem no caos.

Não eram apenas sábios. Eram homens que sabiam que a natureza humana não poderia se desfazer em egoísmos (segundo contam, foi a responsável pelo desastre continental) e morrer sem deixar legados a outras culturas. E depois que se difundiram pelo mundo, tais metres de sabedoria deixaram legados no topo da África, na América Central e do Sul, um pouco na do Norte, de modo que perpetuasse um pouco do eram, ou melhor, do que éramos.

Segundo dizem, e há provas disso, que pirâmides há em todo o mundo graças a tais homens que diversificaram seu saber, mas sempre deixaram a marca em forma piramidal como uma forma de esconder o mistério do qual eram amantes. Não sei se devo acreditar, porém, segundo a maior das ocultistas ainda diz que Noé nada mais foi que um dos homens que restou em um continente e por ele passaram vários mitos, entre eles o da grande Arca, na qual vários animais entram em par e ficam mais de quarenta dias e noites até que as águas do suposto dilúvio baixassem... (Na Antiga Grécia já havia mito semelhante).

A água, na realidade, era a dos mares que afundaram os continentes, nos quais ilhas atlantes permaneciam até a loucura humana tomar conta. Não sei se pode ser ou não verdade, mas temos que levar sempre em consideração o fato de que a realidade passada sempre se torna mito, no sentido de explicar uma Era, uma forma universal na qual o próprio homem se inclina a explicar a si próprio. Assim como Troia, que um dia duvidaram de sua existência. Entretanto, depois que conseguiram descobrir na região em que se situava uma cidade tinha ao chão uma outra cidade maior enterrada, como se várias vezes tivesse sido erguida em razão de várias guerras à época, nunca mais duvidaram. 

No caso atlante, podemos explicar várias vezes sua formação a partir de histórias contadas muitas vezes por povos da antiga Mesopotâmia, até mesmo na América Central, quando se caminha para as cidades nas quais viviam Incas, Maias e Asteca -- até mesmo na Amazônia, quando se entrevista índios que contam histórias de povos mais civilizados que hoje e que um dia deram a aqueles a sabedoria espiritual, passada de pai para filho.

Acreditar que os atlantes existiram com finalidade de explicar nossas, é uma bobagem. Mas duvidar que existiram e que um dia passaram por nós, nos mostrando que até mesmo os mais elevados seres possuíam conflitos, é descartar um pouco de nossa História -- e ela fala de nossa origem.


Vamos buscar!

segunda-feira, 16 de abril de 2018

A Carapaça Impenetrável

Um dia um grande amigo me disse, "se não nascemos, é porque não temos pecados a pagar; então é certo que nascemos e pagamos pelos nossos erros passados". Claro que esse amigo estava se referindo a transmigração das almas para o corpo, falava de um conhecimento que há milênios muitos filósofos da antiguidade, como Platão, Sócrates e até o próprio Aristóteles, nos deixaram nas entrelinhas de seus textos quase ilegíveis por se tratar de um assunto que não seria, nem mesmo naquela época, café com pão -- fácil de digerir.

Quando nascemos, como diria a filosofia Clássica, estamos dentro de uma Justiça concebida por Deus para que tenhamos consciência, no limiar do tempo, de que precisamos nos ajustar em pontos nos quais falhamos. Seja física, emocional, psicológica ou mesmo espiritualmente, precisamos evoluir, mesmo porque temos provas de que a Natureza evolui em sentidos semelhantes em tudo, e o homem, como parte dela, não seria diferente.

A questão fica mais complexa quando mudamos nossa opinião em relação a essa nossa natureza evolutiva, simplesmente porque chega ser difícil conceber humanamente, principalmente na prática. Ou seja, quem quer evoluir em pensamento?... Acham alguns que seria um tipo de ditadura advinda dos céus, de um ser sobrenatural, do qual leis e artigos estariam embutidos em algum tipo de tábua; interessante, mas não seria tão simples assim. A Ditadura não deve ser vista de forma antropomórfica, como hoje a vemos, imaginamos e em alguns países adotamos. Estamos nos referindo a leis incompreensíveis, dentro das quais estamos somente como físicos, biólogos, filósofos e etc, e só.

A evolução não é  uma escolha. Ela passa por todos os seres humanos, ainda que leve milhões de anos, e, mesmo assim, temos que considerar que alguns ainda ficam para trás nesse quesito! Por isso que, de certa forma, aparece um ser em uma determinada época e nos irradia com suas palavras, com seu modo de ser, nos deixando mais que fortes, dentro do que somos -- humanos; nos deixa pequenos farelos de sua paz, a compreender o céu que tanto deixamos de ver, o nosso. Aqui dentro. Não é escolha dele, mas algo que se sobressaiu acima de nossas ignorâncias.

E quando percebemos que a grande Justiça se infiltra em nossa pele, pernas e braços; depois que passa para o lado interno de nossos corpos, como mente, coração e alma, iniciamos nossos questionamentos, do tipo... "Porque Eu?". A depender de quem pergunta e de quem as responde, temos respostas "pão com manteiga", como se não tivéssemos outra saída. E às vezes, confesso, fico com tais respostas... "Deus quis assim" ou "Ele faz isso para você se converter", ou a mais bela... "Ele precisa de você para salvar aquela pessoa"... 

Nada contra os grandes homens simples, de respostas mais simples ainda, mas precisamos nos aprofundar no ser humano, no seu papel junto à Natureza, ao Cosmos, a Deus, mesmo porque nada é tão simples, e nada que nos foi deixado pelos grandes do passado tem o cunho literal. Se não não duraria uma década.

O que me dá medo, no entanto, é quando nos revestimos de nossas carapaças invioláveis, nas quais nada penetra, nem mesmo a justiça divina. Carapaças impenetráveis, que conseguimos ao nos vestir com um paletó, uma gravata,  uma camisa de seda por baixo, e acreditamos que, naquele minuto, junto com nosso talento oral acima de alguns que em nós acredita, nada nos penetra. 

Entretanto, para quem já ouviu um mestre ou mesmo alguém ao seu lado que tenha um pouco de conhecimento, sabe que o nosso maior erro é nos esconder atrás do que não somos -- carros, casas, roupas, vida social baseada no que ganhamos, vestimos... -- pois o que somos não está desvinculado de nossas atitudes, sejam elas para o bem ou para o mal.

Não adianta, estamos apenas postergando nossa possibilidade de evoluir junto a uma humanidade que de ser humano precisa -- não ontem, não amanhã, mas agora -- nesse minuto, com ou sem roupas, com ou sem pessoas que nos subjugam, mesmo porque a evolução do ser não depender delas, apenas de você, desse ser misterioso e grandioso no qual reside divindades tão belas quanto imaginamos.

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Lições do Passado

Entre tantos exemplos de separatividade que nos levam ao caos humano, gostaria de citar o nosso, em particular, aquele que por si só já nos distancia de nossos ideais: o que nos afasta de Deus. Há muitos que podem se elencados, como sistemas que se edificam com fins interesseiros, outros, que caem, por desfaçatez de um povo que acredita que o próximo regime dará certo. O sentimento, ainda, hipócrita de uma nação em erguer ideias falsas quanto ao que podemos esperar de regimes que, historicamente, nunca deram certo, enfim, não apenas disso...

Se nos propusermos traçar linhas tradicionais nas quais o próprio homem foi responsável pela distância que nos vemos diante de Deus, a própria religião (assim rotulada) foi e é uma das principais fontes de separatividade da terra. Nunca houve tantos em tão pouco tempo, desde o dia em que reformularam palavras no sentido moderno da questão, para o provável avanço do termo "religião", como vistas a melhorar e não piorar o mundo; entretanto, não havia no contrato cláusulas indicativas de rever conceitos quanto ao que podemos ser dentro de um universo que só é diversidade, multiplicidade, energia e mistério...

O homem poderia se situar nesse ponto como grande conscientizador de fato e de direito, mesmo porque é o único que possui o livre arbítrio -- ferramenta natural para suas grandes ou pequenas escolhas --, a questão, no entanto, estaciona no momento em que ele pensa de forma estanque, sem consultar o núcleo que lhe eu origem. E assim, quando para em frente aos teus reais objetivos -- que é tornar o mundo um só, dividi-o, conflitua partes inocentes, cria sistemas falhos, esquece-se do básico, que é alimentar o próximo --- leia-se grandes nações esquecidas, as quais até hoje, após milhares de anos de discriminação religiosa, de raça e etnia, ainda tentam sobreviver com o legado humano: a separatividade...

É uma doença das doenças. Daquelas que não se cura com vacinas, muito menos com diálogo, mas com muita batalha e mortes, e com sorte, com sobreviventes que se conscientizam do sangue inútil jogado ao chão e a volta dos questionamentos mais básicos ainda.. "O que fizemos conosco?"... -- Pergunta que ecoará no universo e, como tudo que volta aos braços do indivíduo, dormirá no coração humano e o fará ver, com os olhos da alma, o quanto estávamos errados: que a própria Natureza demonstrava, antes dos mitos, das lendas, do próprio homem, que não somos estrelas que brilham mais que as outras, ou que somos filhos de Deus no sentido mais familiar possível. Não. Somos parte de uma estrutura assim como o grão de areia o é na praia, como uma rosa, em meio a milhões de rosas o é, sempre com o objetivo de transcender nosso jardim pelas qualidades que nos foi dada.

Muitos filósofos, cientistas, poetas, historiadores já passaram pelo ciclo do "eterno retorno" e puderam ver, em pequenos instantes, o significado da vida. Nesse siting, instante de sacralidade, somente possível aos inquietos em sua busca pela sabedoria, pode-se perceber que universos são feitos todos os dias, antes da vontade do homem; pode-se perceber que sóis brilham mais que este grande ser que alimenta nossos sentidos pela manhã e nos acalma na tarde, em forma de uma bela Alvorada; compreende-se profundamente a raiz de Deus, de seus frutos, de sua Inteligência em nos fazer participar desse grande Jardim Vital com poucas pétalas, poucas folhas, às vezes, nem mesmo nascido, pelo contrário, sem mesmo conhecer a terra em que poderia ter sido plantado.

Tais homens, por breves instantes, perceberam o que há séculos outros poucos, em uma certa época, tentaram nos repassar como alunos nossa lição de casa; no entanto, não fazemos, pouco, esquecemos, deixamos de lado, e enquanto isso a dor da separatividade se infiltra em gerações nos deixando preocupados porque não há mais mestres, professores, ninguém que nos relembre de nossas lições humanas semelhantes à do passado.



Boa sexta a todos!

quarta-feira, 11 de abril de 2018

O Quintal

Quando criança, em um quintal cheio de plantações, onde voavam grandes borboletas, pássaros que eu nem conhecia, pela parca sabedoria em relação à natureza, minha mãe me deixava à vontade. Era como um campo dos sonhos, ainda que cheio de matos e capins em que pousavam joaninhas, que pousavam em mim, e eu me deliciava com suas perninhas me fazendo cócegas... era simples, era belo.

Havia um pé de bananeira imenso que me dava medo. De longe, quando eu o via, passava com receio de ele me pegar, levar para dentro e comigo sumir, mas era uma imaginação fértil, daquelas de menino que tem medo de tudo, mas parte pra cima. A prova disso é que me acostumei com o "monstro", e comecei a adentrar naquele conjunto imenso de pés de bananeiras, abraçava-os, sorria e depois corria feito besta...

Era o quintal do qual jamais queria dele sair, pois ele tinha tudo (a meu ver claro), com coisas inexplicáveis como um caminho que nós fazíamos no meio dele para se achegar a um banheiro de madeira, quase destruído, e que, no entanto, era o único a satisfazer nossas necessidade fisiológicas. Hoje penso muito naquele banheiro, pois ir em direção a ele era uma aventura. Havia dias em que eu pegava inclusive um facão do meu pai a desbravar até o infeliz que, com um porta apenas  que para fechá-lo se amarrava um prego; não tinha vazo, mas um buraco de dar medo...
Não era problema. 

Problema na realidade era o que estava por dentro da família, com seus conflitos naturais, nos quais minha mãe e pai sempre eram os protagonistas, e eu, como personagem pra lá de secundário, no cerrado, corria atrás das borboletas e por elas chorava quando não conseguia alcança-las; mas uma mãe como a minha você não teve. Ela, todas as vezes em que a lágrima saía de meus olhos, corria para sanar aquele fim de mundo. Quando eram as borboletas, pedia aos meus irmãos que pegasse algumas e amarrasse a mais bela em uma linha, na parte inferior do corpo da pequena beleza, e ao voar, minha linha levitava como que por mágica.

Era belo!
Depois eu ficava pensando do porquê as borboletas morriam. Parei de querer que elas fossem minhas. Um dia, era assim, mas depois -- vai compreender cabeça de criança! -- saía para matar todas elas correndo atrás como um louco no meio dos capins-gordura, que, com suas pétalas pontiagudas, me feriam e ficavam em minha roupa me espetando, espetando, até que parei de matar as coitadas...

O quintal tinha mais. Plantações de milho no outono, das quais fazíamos pamonha, mingau, até de noitão. Minha mãe, quando chamava para fazer o amarelão, todo mundo vinha, ajudava, comia, se lambuzava, e eu, na espreita pela rapa da grande panela, pulava em cima da grandona, sobre a qual ninguém tinha poderes, e talvez por isso os pequenos pulavam em cima dela como porcos no cio. Nunca vou me esquecer.

O quintal fica em minha mente como um grandioso ser que nos foi necessário ao crescimento básico de nossas estruturas físicas e mentais; e mais, quando nele penso, reflito acerca do que fui, do que pude conseguir após tantas mazelas pelas quais passei e nunca percebi, somente quando cresci, estudei e conheci pessoas, seres humanos bons e ruins, sem alma e outros com mais alma do que aqueles, enfim, descobri que o grande quintal ainda adormece em mim como tudo que um dia pedi a Deus e hoje não tenho: o amor real à natureza e às pessoas.





terça-feira, 10 de abril de 2018

Equilíbrio Não Tão Distante: Ícaro, Pedro e Gautama..

... Não tem jeito mesmo... é sempre bom falar em equilíbrio, principalmente quando desejamos que uma nação precise dele. E a nossa, nesse desiquilíbrio total de instituições, nos faz refletir o que está acontecendo com ela e com o mundo: é o desequilíbrio humano junto a ele mesmo, a Deus e ao universo. Claro que estamos falando de uma época histórica na qual precisamos dessa desorganização, desse caos genérico, sempre na expectativa de subir um pouco o prato da balança no sentido de organizar todas as partes. É realmente, talvez, a parte mais rara de acontecer conosco.

E no passado, quando visualizamos essa tendência para as épocas vindouras, faziam mitos que redirecionavam o homem a si mesmo e ao universo, como o mito de Dédalo e Ícaro -- várias vezes esplainado aqui. Nele, Dédalo, para quem não se lembra, um personagem fantástico que tinha sido preso na grande Torre grega, pelo rei, junto com seu filho Ícaro, o qual possuía uma certa rebeldia -- teve a ideia de fazer asas de seda, assim como muitos inventos incríveis antes dela, como o grande Labirinto, onde Teseu, herói grego, vence o minotauro -- figura mítica também, com cabeça de touro e torso humano. 

Após fugir com as grandes asas belas, que os faziam flutuar como pássaros no céu, Dédalo, inventor e pai de Ícaro, preocupado com as loucuras do filho, avisaria no limiar do voo que suas asas não suportariam subir muito alto graças ao sol forte que poderia derretê-la e não descer o suficiente para não molhá-la e cair no rio. Mas, como todo adolescente que não ouve o pai, nem mesmo nos mitos!, Ícaro fez sua parte ao subir o bastante com sua alvissareira  energia, e pode demonstrar o quanto somos teimosos com relação ao uno e a Deus quando nos dão sabedoria. Não somos coerentes. Não ouvimos e transgredimos o equilíbrio natural que os deuses nos oferecem às vezes subindo demais, outras vezes, descendo demais -- poucas vezes, em linha reta.

Em outro mito -- agora cristão, -- quando num temporal, Cristo e seus discípulos estão juntos em um navio, apenas Cristo, claro, não se encontra nele, e é visto andando nas águas daquele mar bravio, a clamar Pedro, o mais teimoso, para que fizesse o mesmo em meio a bravura da natureza que se via naquelas águas, com raios e trovões que davam medo ao maior dos guerreiros. Contudo, era Cristo, o salvador dos Cristãos, o Messias, que estava ali, chamando seu fiel discípulo, dando-lhe sinais de que era tempo de aprender acerca do Espiritual. 

Pedro, com receio, saiu do barco. Devagar, pô-se a andar junto com seu mestre nas águas por alguns segundos, quando um relâmpago o deteve, e ele, discípulo, olhou para cima, retirando seus olhos de Cristo, caindo ao mar e salvo pelos demais. Nesse episódio belo, percebe-se uma série de fragmentos de diversos mitos, entre eles, o do equilíbrio de forças que unem o universo por meio dos elementos verticais e horizontais e tendo como equilíbrio o rabino entre os dois, e o homem no meio, pelo menos alguns instantes...

O fiel discípulo, em sua falta de fé, caiu. Duvidou. Se afogou na matéria e teve que aprender novamente outros ensinamentos junto a Cristo, que mais tarde fora negado três vezes por aquele, antes de o galo cantar -- aqui nos vem outro mito. Nós, normais, sem o Cristo para nos orientar nas águas da matéria, caímos, como Pedro, como Ícaro, todos os dias na tentativa de nos equilibrar entre os elementos do Todo.

Outro mito, para finalizar, não poderia ser diferente, é o do menino que fora visto com seu pai, em um pequeno barco por Sindharta Gautama, o Buda, antes de sê-lo, debaixo de uma árvore, que até hoje, segundo conta a lenda, ainda há na Índia atual. Gautama teria escutado daquele pai, "Não deixe as cordas desse alaúde ficarem muito frouxas porque pode o instrumento não tocar e se muito tensas, podem quebrar". Era o Caminho do Meio.

Tal Caminho era o Equilíbrio universal natural no qual o homem estaria inserido, e cabia a ele entender a profundidade das palavras daquele que viu com outros olhos o que não vimos, o Equilíbrio de forças elementais, místicas, mas ao mesmo tempo simples, pois teria como o homem, dentro do seu limite, praticá-las no seu dia a dia, assim, teria como, em encarnações, progredir até sua própria evolução.

O Equilíbrio das instituições, assim, não depende de fatores processuais, burocráticos, ou mesmo robóticos, mas da direção de cada um em relação à sua compreensão e práticas assíduas, sempre voltadas a um mestre, a um deus, a um universo que implora nosso papel junto a Ele.


domingo, 8 de abril de 2018

Equilíbrio Não Tão Distante

... Sei que tenho sido redundante em minhas colocações a respeito do comportamento nosso de cada dia em relação ao Espírito, ou como diria, na Antiguidade, ao grande Oceano Vital. Porém, nada melhor do que se expressar ou tentar se expressar com fins de nos elevar ao céu de cada um, na tentativa de encontrar ou entender o céu maior, o qual, diziam os sábios, é o fim de cada ser humano -- a querer ou não.

Por isso, os anciões falavam em cousas naturais, as quais jaziam em nossa alma feito blocos de gelo em continentes frios, nos quais em encarnações se mexiam (ou se mexem) com o calor da voz do mestre, o qual, a respeito das tradições, falava e nos dava uma calma singular, semelhante a filarmônicas mozartianas, no cume da montanha de nossos devaneios internos. É belo em todos os sentidos...

Tal beleza (de Belo) em sua máxima expressão, quando nos toca lá dentro, com poesias, músicas, mistérios, fábulas e mitos quando dotados de fidelidade ao seu ideal, essa beleza vai ao encontro do equilíbrio sereno, de ser. É uma comunhão de valores não ditos nos quais o homem -- somente ele -- tem o poder de perceber. Por que equilíbrio? porque jazem em nós outros valores que criamos, mas também os direcionamos ao alto, e às vezes nem percebemos; são formas relativas, mas também pingos dágua ante Oceano maior. 

Uma relatividade psicológica, mas ao passo brilhante, a qual pode vir de homens idealistas, como Gandhi, Luther King, entre outros, os quais, pelo tempo, se expõe em lutar e tentar colocar tais valores, ainda que relativos, na balança para contrapesar com o mal que a época mostra. Assim, em sua essência, tais homens revolucionam, ascendem comportamentos e nos fazem questionar a respeito do que precisamos como premissas básicas antes de alçar voo ao espírito: entender o porquê  e combater o racismo, as discriminações, a separatividade como um todo.

Tais homens, ainda não sábios como outros do passado, mesmo assim, fazem um trabalho natural de mestres que transformam seu tempo e se tornam referenciais a muitos que se jogam em lutas necessárias ao mundo... Se tornam fortalezas intransponíveis, montanhas vistas por muitos como nascidas depois das águas do mal. São o equilíbrio da busca por uma vida melhor em sociedades, em nosso mundo, que um dia precisou deles, assim como no passado se precisou de um Cristo ou de um Buda -- e ainda precisamos.

Precisamos compreender esse equilíbrio, mesmo porque muitos dizem que o que é defendido é uma perda de energia e por isso muitos filósofos do passado não o faziam ou mesmo tocavam no assunto: isso é uma falácia. Ambas as partes, idealistas e filósofos se coadunam em defender suas partes, como que defender faces diferentes de uma mesma moeda. Ou melhor, cada um na sua competência. 

É certo que quando nos referimos aos grandes do passado, é bom dizer, falamos de seres que estariam acima de nossas cabeças e por isso não entendíamos suas palavras, suas simbologias a face ao divino, mas não quer dizer que não precisamos de seres que caminham em direção a organização social com vistas a melhorá-la. Muito pelo contrário. Eles, a meu ver, são realistas e ao mesmo tempo grandes por fazerem um pouco melhor o mundo, como que buscadores naturais do equilíbrio distante.

Hoje, mais do que nunca, precisamos ser idealistas, com base nesse homens, que um dia se lançaram ao mundo com vistas a melhorar a vida de muitos seja materialmente, seja psicologicamente. 



É tempo de Pensar

... Quando temos ao nosso redor situações nas quais nos sentimos frágeis, sem possibilidade de ação, refletimos logo se vale à pena. Depende. Se a generalizarmos, com certeza teremos a resposta evidente de que não podemos nem mesmo nos mexer, apenas pensar sobre ela. Porém, quando situações há em que nos podemos ferir seja emocional ou fisicamente, partimos para o confronto... claro que há pessoas que, mesmo assim, ficam apáticas ao que lhe acontecem. E cada um dentro da sua razão...

Mas a maioria, dentro da dor que lhe convém sanar, parte para a guerra, na tentativa de salvar-se, ou salvar seu ente querido, como se estivesse em uma guerra com trincheiras e tudo mais. Aqui, somos todos guerreiros, filhos de uma pátria que criamos em particular -- não necessariamente a que nascemos -- estou a me referir a famílias, aos nossos amigos, mulheres, irmãos... Pais e mães, sem perdermos o foco de uma realidade que não se cria, mas que nos vêm.

A grande batalha, no entanto, aquela que nos faz mais chorões do que soldados, é aquela que nos desafia a lutar conosco mesmos, com se estivéssemos em espaços nos quais jamais tínhamos  pisado. É certo que sim; os confrontos literais, nos quais aprendemos a lidar com a outra parte, reconhecendo-a, partindo para a campanha, já temos resultados à priori, você sabe que vai ganhar, perdendo ou não. Na batalha interna, em que você não tem ferramentas para se conhecer ou pelo menos não se educou para tanto, já entramos com a filosofia às avessas: já perdemos.

As únicas ferramentas que conhecemos é o próximo, aquele que, desde que nascemos, nos relativiza com adjetivos passageiros e crescemos imbuídos de sentimentos mais passageiros ainda relacionados a esses adjetivos, dos quais acreditamos ser eternos -- como bonito, feio, certo, errado, etc, e nos  revelamos assíduos em defendê-los até que um dia conhecemos valores eternos, e dos quais somos parte -- com condições.

Tais condições, a depender de quem as vê e percebe, se tornam alvos fortes de modificações internas, mas não reais, pois ficam subjugadas por terceiros e por entidades inexistentes nas quais acreditamos sem rodeios, sem questionamentos: é a caverna de cada um em nome do sol externo.

A possibilidade de se autoconhecer se perde nos meandros de uma mata negra sem lua, pois nos tornamos xiitas, sem abertura ao sol, que tanto nos espera desde que surgiu a nós. Há saídas, contudo. A de refletir, mais do que nunca, ao que realmente acreditamos, ao que nos faz mal no sentido harmônico da coisa, pois o que nos retira da harmonia da vida, junto às pessoas, ao mundo e ao universo não pode ser considerado caminho para se conhecer a si mesmo. 

Entretanto se sabe que existe o afunilamento amistoso, de ideias, de tudo, em todos os sentidos. Não se tem mais os amigos de antes como reais amigos, mas um conjunto de pessoas que devem fazer parte de nossas vidas como parte do caminho, essa estrutura que iniciamos lá no início, quando indagamos acerca de Deus; afunilamos nosso comportamento, nossas músicas, nosso amor, mesmo porque amor, para o filósofo, não é sentimento, mas uma união natural não apenas material, como também divina. com ambas as partes sempre a depender uma da outra -- não uma, não outra.

Tudo se integra. Tudo é Deus. Nada se vai. O conhecer a si mesmo se inicia.

É tempo de pensar.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Ânimos, Entusiasmos... e Deus

Em meio à politica porque passamos, nossas almas se direcionam às expectativas que dos noticiários vêm. Alterações de ânimos, entusiasmos, e tudo isso longe de ser algo relacionado ao que deveras um dia, lá do alto, foi: o real ânimo, advindo da alma serena, calma, bela e limpa; o real entusiasmo, cuja palavra vem do latim, entus, a significar dentro de Deus, com Deus, sem falsas pretensões...

Mas o que temos atualmente, em razão das distorções psicológicas porque se passam; das digladiações modernas entre o "bem e o mal" -- sem mesmo saber quem é quem -- graças a opiniões que se infiltram em nossas veias impuras pelo medo, progredimos às avessas, como topeiras, avestruzes, que adoram ver o fundo da terra e não o início do céu.

Deixemos de lado nossa simpatia às causas sem causas, aos objetivos sem projetos, e atos sem ideais! façamos valer o que a vida nos rege como ser humano, o que os mestres nos indicaram como placas simbólicas em direção às nuvens... Vamos voar em paz, como pássaros em busca de água... Sem aquele ardor infiel que nos machuca a cada instante em nossas asas, quando caminhamos.

Vamos olhar mais para o céu, não somente para orar, a pedir a Deus que nos proteja, nos dê isso, aquilo, não. Respiremos fundo em nome dos mistérios que guardamos em nossa alma, como ferramentas que nos dê auxilio para encontrar o "morador do terceiro andar", o nows de que tanto falavam nas escolas de mistérios gregas, o real milagre do pensamento vazio, onde o Nada se encontra com o Tudo, e onde nos encontramos com o Bem. 

Deus está aqui, ali, em nossos corações e alma, por debaixo de uma pedra, como foi dito em uma passagem bíblica; está acima e abaixo de nossos poderes como seres humanos; mas nada mais incrível que saborear um pedaço dele, em forma de energia, quando batemos no peito e clamamos seu nome em segredo... em paz completa.

Nossa alma espera subir, espera alçar voo, mas nossas pendências internas não a deixa. Como se fosse um balão a subir ao alto, ela quer ir aos céus, mas os pequenos saquinhos que tentam segurá-la -- nossas pendências, crises, desejos, paixões...-- ficamos presos à terra, ao mundo que cria meios frios e lúdicos, racionais, intelectuais, a nos dar prata e ouro, com esse fim, de não conhecermos a Deus.

E por essas e outras, que nosso entusiasmo e nossa ânima se confundem com sentimentos relativos de adolescentes que esperam presentes pós-faculdade, ou atletas que precisam ganhar o tão sonhado ouro, que ficará preso na parede pelo resto dos dias, até (você) apodrecer... Elevamo-nos!




quinta-feira, 5 de abril de 2018

Nada mais que Tudo

Os ciclos se passam em nossos olhos como quem não quer nada; se passam em forma de rosas que aparecem e desaparecem, de animais que se vão e voltam, e porque não dizer entre os homens que nascem, crescem, morrem... nascem, crescem, morrem... diante de nossos olhos ocultamente, preenchendo os espaços vazios de nossas opiniões e questionamentos mais vazios ainda. 

Como dizia o poeta, "As rosas não falam", mas os homens, dotados dessa simpatia, não apenas falam, tentam se harmonizar de forma relativa com seus saberes ínfimos à espera do bônus da história; não conseguem nada no entanto, mesmo porque não se racionaliza os ganhos da natureza, principalmente quanto ao que fazemos ou deixamos de fazer. Somos crianças para entender o básico de tudo isso.

Os mais voltados a organização, entretanto, que são os filósofos clássicos, que não se preocupam em racionalizar e sim resguardar os segredos e trabalhá-los em prol da humanidade, são os que mais se aprofundam nesse quesito. Não são "formadores de opinião", como dizem, mas mestres que nos elucidam caminhos, às vezes subjetivos, outras vezes claros como rios intocados. 

Tais homens descobrem valores, descobrem verdades que se passam pelos nossos pés como pequenos riachos, e ainda tocam neles, ainda que ocultos ao homem de bem. Nosso papel, aqui, como seres humanos, é de caminhar, olhar para o nosso sol, pedir-lhe proteção e que um dia possamos entender o poder que nos dá quando aparece por detrás das montanhas.

Os ciclos humanos são, como os demais, incessantes. Sua imortalidade se deve a uma evolução necessária aos seres que se compadecem a viver em função das potencialidades sagradas, os chamados deuses. E o homem, ainda parco em sua prática vivencial nesse tempo, tenta calcular o quanto fez, o que fez e o porquê; tenta elevar-se acima de uma natureza que não pede tamanho, mesmo porque não se pode relativizar o oculto, nem mesmo medi-lo.

O homem, enfim, também um microuniverso, não sabe o quanto espelha o macro em seu interior o poder latente para mudar e se transformar em algo novo, belo, justo e verdadeiro. Mas como diria um grande mestre que se foi, "O diamante também, um dia, foi um pedaço de carvão". Hoje nós somos apenas homens, amanhã podemos ser homens novos.




Que assim seja.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Caracóis Humanos...

Acho que eu já fiz um texto relacionado a esse pequeno animal que caminha devagar, deixando seus rastros simples e brilhantes por onde quer que vai. Falo do caracol. Uma figura simpática, que muitos, na realidade só mulheres, ainda sentem um pouco de...asco, por assim dizer, por possuírem uma pequena gosma em seu corpo, que vai ficando presa em sua casca em forma de espiral e que ninguém suporta. 

Bem... eu não tenho nada contra. Muito pelo contrário. Depois que se coloca os óculos da filosofia, percebe-se que temos ali uma criatura divina, talvez mais evidente que mutias outras que se escondem em florestas densas,  em fossas, em caixas de cordura, enfim, insetos mesmo, naturais, porém simbólicos, de uma profundidade imensa...

Entretanto, não tanto quanto o caracol, que, se observarmos, não se incomoda com o tempo, com a vida, com as criaturas em sua volta e muito menos com os homens, que não podem ver nada e logo pisam, matam, correm, gritam... (tais quais mulheres assustadas). Nosso amigo, no entanto, por ser lento e escorregadio, traz em si uma pequena casa em seus ombros, a demonstrar aos fracos que choram pelas "cruzes" diárias em suas vidas, que nada melhor do que ter em mente, ou melhor, no corpo, seu ideal.

Até descobrirmos que o corpo nosso, que nos carrega pelas ruas do mundo é um ser que se conecta com os ideais naturais, de uma forma tão perfeita, que não podemos entender por sermos eternos ígneos (pedras) em evolução, pisaremos em nossos pequenos seres sem sequer tentar compreendê-los.

Ainda há aqueles que se enojam quando ele, o caracol, deixa sua casa cair ao chão, seca, porém desgastada, pelos dias em que com ela ficou. Mal sabemos que no mundo tudo se edifica, evolui, e nossas almas pedem isso, essa perpetração evolutiva dentro desse que um dia vai virar pó. Para que possamos firmar esse ponto de vista, ou melhor, essa certeza, preciso é que olhemos o passado como catapulta e não como cama para dormir e nela falecer. O passado é passado. Temos que deixar fazê-lo seu papel dentro dessa roda que nos leva.

Muitos, ainda, não sabem que aquela pequena casa pode ser vista como um pequeno símbolo do infinito, não apenas do que deixamos para trás; nela há linhas que imitam uma inclinação para dentro em forma de circulo, o que se assemelha a filosofia de uma tradição que diz que passamos por rondas infinitas, dentro de uma ronda maior, chamada Sansara, como na antiga Índia. Nesta roda, há as mesmas linhas imaginárias simbolizando o infinito, o eterno, imutável ir e vir da vida.

O que mais nos impressiona, na realidade, e tenho certeza de já falei sobre isso, é o liquido brilhante que se arrasta por debaixo de seu corpo, produzido por ele quando se vai. E por isso sabemos que um dia passou aquela figura tão pequena e interessante no chão que pisamos: o brilho.

Nós homens, seres que brilham, ou pelo menos tentamos brilhar por interesse escusos, sabemos que há pessoas pelas quais lutamos, vivemos e morremos, mas há ainda, e muito pouco, aqueles que o fazem pela humanidade, no sentido mais espiritual que se pode refletir. Cabe aqui dizer que somos relativistas nessa parte, mesmo porque, quando falamos em espírito, cada um parte de premissas e conceitos diferentes, jamais iguais. Falo do espírito livre de adjetivos, daquele que nos toca onde quer que estejamos. Não tem como detalhar.

Esses homens são irreais em nossa visão, pois são figuras inexistentes, e que um dia existiram em forma de avatares, filósofos, mestres, enfim, os quais não existem mais em nossas margem internas ou externas de nossas almas. Por isso, os buscamos em lugares que nem sempre se coadunam com a verdade, com a justiça e com o amor, simplesmente não nos educamos para entender esses homens e neles fincarem nossas bandeiras.

Para nós, qualquer um é um líder, seja na política, na religião, na família, e quando olhamos a história, não sabemos localizar os reais. Pois o brilho desses caracóis é falso e não devemos nos impressionar como crianças ou mesmo adolescentes que se apaixonam por heróis tortos de caráter e ideal.

Eu ainda fico a pensar sobre aquele pequeno ser que se escorrega nas vias das ruas como quem não quer nada com a vida, e por ela faz mais do que qualquer ser de duas pernas. O brilho desse ser, por enquanto, tem sido muito mais significante do que qualquer homem.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Mão, Terra, Jardim...

Não se pode medir a alma, assim como medimos o corpo. Nem mesmo observá-la e dá-la adjetivos fixos, mesmo porque não a vemos. Tudo fica dentro de uma grande opinião sobre o que podemos ser e ter, conseguir ou não, viver ou não viver em função de argumentações que nos vêm à mente. Natural. Só não podemos deixar de buscar o que somos dentro de nossas experiências que nos sossobram na linha imaginária da vida.

O que nos resta, então, é tentar interpretar, por meio de uma simbologia própria -- seja através de metáforas neurolinguísticas, ou simbologias míticas, -- nosso papel como moldadores, jardineiros, mestres ou discípulos, os quais tentam ver não somente com os olhos físicos, mas com os da alma, tudo que nos molda para a vida interior.

É um papel difícil, porém humano. É uma forma de ver o espelho e saber que seu corpo nada mais é que um invólucro, uma caixa na qual se guarda todos os segredos do universo; é tentar entender que nela há luvas que serão usadas com fins de podar a terra, e com ela se identificará, de modo a não dar à mão a chance de reconhecer o que realmente é: pele, osso, unhas, etc. 
Nada de mais. 

Se somos esse ser que busca entender a si próprio, se somos naturais seres em evolução, se um dia encontraremos o que se busca, se nossas potencialidades internas são nossas armas frente ao que podemos ou não, e nelas encontramos a vontade -- espada que o Destino nos deu para enfrentar o dragão da ignorância que se perpetua em ciclos, podemos também compreender o universo a nossa volta, não como gerador de cometas, mas como um grande ser.

Assim, um dia, deixaremos de lado a luva e sentiremos a terra.



A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....