Acho que eu já fiz um texto relacionado a esse pequeno animal que caminha devagar, deixando seus rastros simples e brilhantes por onde quer que vai. Falo do caracol. Uma figura simpática, que muitos, na realidade só mulheres, ainda sentem um pouco de...asco, por assim dizer, por possuírem uma pequena gosma em seu corpo, que vai ficando presa em sua casca em forma de espiral e que ninguém suporta.
Bem... eu não tenho nada contra. Muito pelo contrário. Depois que se coloca os óculos da filosofia, percebe-se que temos ali uma criatura divina, talvez mais evidente que mutias outras que se escondem em florestas densas, em fossas, em caixas de cordura, enfim, insetos mesmo, naturais, porém simbólicos, de uma profundidade imensa...
Entretanto, não tanto quanto o caracol, que, se observarmos, não se incomoda com o tempo, com a vida, com as criaturas em sua volta e muito menos com os homens, que não podem ver nada e logo pisam, matam, correm, gritam... (tais quais mulheres assustadas). Nosso amigo, no entanto, por ser lento e escorregadio, traz em si uma pequena casa em seus ombros, a demonstrar aos fracos que choram pelas "cruzes" diárias em suas vidas, que nada melhor do que ter em mente, ou melhor, no corpo, seu ideal.
Até descobrirmos que o corpo nosso, que nos carrega pelas ruas do mundo é um ser que se conecta com os ideais naturais, de uma forma tão perfeita, que não podemos entender por sermos eternos ígneos (pedras) em evolução, pisaremos em nossos pequenos seres sem sequer tentar compreendê-los.
Ainda há aqueles que se enojam quando ele, o caracol, deixa sua casa cair ao chão, seca, porém desgastada, pelos dias em que com ela ficou. Mal sabemos que no mundo tudo se edifica, evolui, e nossas almas pedem isso, essa perpetração evolutiva dentro desse que um dia vai virar pó. Para que possamos firmar esse ponto de vista, ou melhor, essa certeza, preciso é que olhemos o passado como catapulta e não como cama para dormir e nela falecer. O passado é passado. Temos que deixar fazê-lo seu papel dentro dessa roda que nos leva.
Muitos, ainda, não sabem que aquela pequena casa pode ser vista como um pequeno símbolo do infinito, não apenas do que deixamos para trás; nela há linhas que imitam uma inclinação para dentro em forma de circulo, o que se assemelha a filosofia de uma tradição que diz que passamos por rondas infinitas, dentro de uma ronda maior, chamada Sansara, como na antiga Índia. Nesta roda, há as mesmas linhas imaginárias simbolizando o infinito, o eterno, imutável ir e vir da vida.
O que mais nos impressiona, na realidade, e tenho certeza de já falei sobre isso, é o liquido brilhante que se arrasta por debaixo de seu corpo, produzido por ele quando se vai. E por isso sabemos que um dia passou aquela figura tão pequena e interessante no chão que pisamos: o brilho.
Nós homens, seres que brilham, ou pelo menos tentamos brilhar por interesse escusos, sabemos que há pessoas pelas quais lutamos, vivemos e morremos, mas há ainda, e muito pouco, aqueles que o fazem pela humanidade, no sentido mais espiritual que se pode refletir. Cabe aqui dizer que somos relativistas nessa parte, mesmo porque, quando falamos em espírito, cada um parte de premissas e conceitos diferentes, jamais iguais. Falo do espírito livre de adjetivos, daquele que nos toca onde quer que estejamos. Não tem como detalhar.
Esses homens são irreais em nossa visão, pois são figuras inexistentes, e que um dia existiram em forma de avatares, filósofos, mestres, enfim, os quais não existem mais em nossas margem internas ou externas de nossas almas. Por isso, os buscamos em lugares que nem sempre se coadunam com a verdade, com a justiça e com o amor, simplesmente não nos educamos para entender esses homens e neles fincarem nossas bandeiras.
Para nós, qualquer um é um líder, seja na política, na religião, na família, e quando olhamos a história, não sabemos localizar os reais. Pois o brilho desses caracóis é falso e não devemos nos impressionar como crianças ou mesmo adolescentes que se apaixonam por heróis tortos de caráter e ideal.
Eu ainda fico a pensar sobre aquele pequeno ser que se escorrega nas vias das ruas como quem não quer nada com a vida, e por ela faz mais do que qualquer ser de duas pernas. O brilho desse ser, por enquanto, tem sido muito mais significante do que qualquer homem.
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