terça-feira, 10 de abril de 2018

Equilíbrio Não Tão Distante: Ícaro, Pedro e Gautama..

... Não tem jeito mesmo... é sempre bom falar em equilíbrio, principalmente quando desejamos que uma nação precise dele. E a nossa, nesse desiquilíbrio total de instituições, nos faz refletir o que está acontecendo com ela e com o mundo: é o desequilíbrio humano junto a ele mesmo, a Deus e ao universo. Claro que estamos falando de uma época histórica na qual precisamos dessa desorganização, desse caos genérico, sempre na expectativa de subir um pouco o prato da balança no sentido de organizar todas as partes. É realmente, talvez, a parte mais rara de acontecer conosco.

E no passado, quando visualizamos essa tendência para as épocas vindouras, faziam mitos que redirecionavam o homem a si mesmo e ao universo, como o mito de Dédalo e Ícaro -- várias vezes esplainado aqui. Nele, Dédalo, para quem não se lembra, um personagem fantástico que tinha sido preso na grande Torre grega, pelo rei, junto com seu filho Ícaro, o qual possuía uma certa rebeldia -- teve a ideia de fazer asas de seda, assim como muitos inventos incríveis antes dela, como o grande Labirinto, onde Teseu, herói grego, vence o minotauro -- figura mítica também, com cabeça de touro e torso humano. 

Após fugir com as grandes asas belas, que os faziam flutuar como pássaros no céu, Dédalo, inventor e pai de Ícaro, preocupado com as loucuras do filho, avisaria no limiar do voo que suas asas não suportariam subir muito alto graças ao sol forte que poderia derretê-la e não descer o suficiente para não molhá-la e cair no rio. Mas, como todo adolescente que não ouve o pai, nem mesmo nos mitos!, Ícaro fez sua parte ao subir o bastante com sua alvissareira  energia, e pode demonstrar o quanto somos teimosos com relação ao uno e a Deus quando nos dão sabedoria. Não somos coerentes. Não ouvimos e transgredimos o equilíbrio natural que os deuses nos oferecem às vezes subindo demais, outras vezes, descendo demais -- poucas vezes, em linha reta.

Em outro mito -- agora cristão, -- quando num temporal, Cristo e seus discípulos estão juntos em um navio, apenas Cristo, claro, não se encontra nele, e é visto andando nas águas daquele mar bravio, a clamar Pedro, o mais teimoso, para que fizesse o mesmo em meio a bravura da natureza que se via naquelas águas, com raios e trovões que davam medo ao maior dos guerreiros. Contudo, era Cristo, o salvador dos Cristãos, o Messias, que estava ali, chamando seu fiel discípulo, dando-lhe sinais de que era tempo de aprender acerca do Espiritual. 

Pedro, com receio, saiu do barco. Devagar, pô-se a andar junto com seu mestre nas águas por alguns segundos, quando um relâmpago o deteve, e ele, discípulo, olhou para cima, retirando seus olhos de Cristo, caindo ao mar e salvo pelos demais. Nesse episódio belo, percebe-se uma série de fragmentos de diversos mitos, entre eles, o do equilíbrio de forças que unem o universo por meio dos elementos verticais e horizontais e tendo como equilíbrio o rabino entre os dois, e o homem no meio, pelo menos alguns instantes...

O fiel discípulo, em sua falta de fé, caiu. Duvidou. Se afogou na matéria e teve que aprender novamente outros ensinamentos junto a Cristo, que mais tarde fora negado três vezes por aquele, antes de o galo cantar -- aqui nos vem outro mito. Nós, normais, sem o Cristo para nos orientar nas águas da matéria, caímos, como Pedro, como Ícaro, todos os dias na tentativa de nos equilibrar entre os elementos do Todo.

Outro mito, para finalizar, não poderia ser diferente, é o do menino que fora visto com seu pai, em um pequeno barco por Sindharta Gautama, o Buda, antes de sê-lo, debaixo de uma árvore, que até hoje, segundo conta a lenda, ainda há na Índia atual. Gautama teria escutado daquele pai, "Não deixe as cordas desse alaúde ficarem muito frouxas porque pode o instrumento não tocar e se muito tensas, podem quebrar". Era o Caminho do Meio.

Tal Caminho era o Equilíbrio universal natural no qual o homem estaria inserido, e cabia a ele entender a profundidade das palavras daquele que viu com outros olhos o que não vimos, o Equilíbrio de forças elementais, místicas, mas ao mesmo tempo simples, pois teria como o homem, dentro do seu limite, praticá-las no seu dia a dia, assim, teria como, em encarnações, progredir até sua própria evolução.

O Equilíbrio das instituições, assim, não depende de fatores processuais, burocráticos, ou mesmo robóticos, mas da direção de cada um em relação à sua compreensão e práticas assíduas, sempre voltadas a um mestre, a um deus, a um universo que implora nosso papel junto a Ele.


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