terça-feira, 24 de abril de 2018

Leonardo, com Prazer

Terminei um grande livro a respeito de Leonardo da Vinci, um dos maiores pintores de sua época -- quiçá do mundo, e fiquei mui emocionado no final quando o autor, Walter Isaacson, fez referência a um dos grandes mestres do Renascentismo como um ser humano normal. Mesmo com toda a sua reverência ao mestre, ao dizer que a busca pela genialidade era o caminho dele, nos faz entender que não somente ele, mas nós também podemos, dentro do que temos, buscar, com prazer, detalhes, minucias, segredos, mistérios, como se uma inquietude fizesse parte de nós, naturalmente.

Ele tinha razão. Não há mistérios, pelo menos em entender que podemos ser um pouco de Da Vinci, ainda que o pintor clássico (e engenheiro, dramaturgo, poeta, ensaísta, arquiteto, inventor, etc, etc) fosse um ser que normalmente não se prostrava a descansar em nome do prazer de descobrir. Podemos ser assim, segundo Isaacson. Hoje o que nos sobra, em meio a tantas horas de paz, é o computador, o tablet, celular, enfim, nada que no passado nos poderia dar dores musculares e de cabeça, pois o que nos faz mais relaxados é o que buscamos. Triste isso.

Há saídas dentro que possuímos em mãos; há elementos que nos faz crescer e desenvolver potencialidades, e construir uma alma melhor todos os dias. Ainda que tenhamos somente o computador, o tablet ou mesmo apenas o celular, não podemos nos entregar à tecnologia fria e sem caráter, pois o temos e em grande escala, e é ele que nos faz escolher, por meio de nossos princípios, o que é certo e o errado, mesmo que ainda esteja na base de sua formação.

Da Vinci cresceu em uma época em que homens e mulheres tinham que fazer algo em prol de si mesmos ou mesmo em prol de uma sociedade com vistas a desenvolvê-la, acrescentando pedras e mais pedras, das quais somente a tradição -- como o fez Da Vinci -- poderia impulsionar. Para as damas somente o que lhes era facultado, em razão do machismo exacerbado, mas aos homens cabia desenvolver projetos dentro dos quais a visão e a holística tinham que fazer parte dele. 

Da Vinci era anormal nesse ponto. Via tudo que o mundo necessitava, trabalhava exaustivamente não somente nas pinturas enigmáticas, como o Homem Vitruviano, ser que se igualava ao universo, e mais tarde, a Mona Lisa, que, segundo nos conta o autor, era uma senhora vizinha do excepcional pintor que um dia foi sua modelo (vamos dizer assim), e quando terminou o grande retrato parecia que os deuses tinham penetrado em suas veias e lhe dado o dom de plasmar todo o mistério humano em um só sorriso.

Mas Da Vinci era um inquieto, uma criança em busca de algum brinquedo para desmontar; um espírito ambulante que não dormia e que só refletia em torno do que poderia fazer amanhã. Parece que somos um pouco dele ou ele tem um pouco de nós, mas só iremos descobrir quando levantarmos nossos ânimos (de alma), nos entregar com entusiasmo (Deus em nós), e termos a coragem (de coração) de modificar o mundo, ou a nós mesmos.

Entretanto, devo pedir desculpas a Isaacson quando diz que devemos buscar com prazer os detalhes e mistérios da vida, pois fico com um grande filósofo J. A. Livrarga, que um dia nos disse, "Toda busca é vã se não for feita com Amor". Isso quer dizer, não façamos nada senão com o prazer espiritual da busca, senão cairemos no afã de nossa personalidade eloquente e ao mesmo tempo frágil.


Um brinde a Da Vinci!



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