Paz. Tão bela e ao passo complexa. |
Ontem éramos homens da caverna que viviam de acordo com suas
leis, talvez mais instintivas do que qualquer animal. Antes, a consciência,
longe de ser essa que temos – moderada e lúcida – era apenas um meio de
finalizar nossas refeições no entardecer, no clarear do dia e no surgir da
noite. No entanto, pela certa inocência que nos seguia, agíamos de acordo com
nossa natureza e com aquela que estava ao nosso redor.
Atualmente, em razão de nossos vícios, praticados todos os
dias graças à modernidade acelerada, na qual defuntos se fazem à media de cada
nascimento, esquecemo-nos de nós mesmos, e das pequenas práticas que podem nos
levar ao “céu” – ou como diria no estoicismo, à paz.
A paz, como diria Gandhi, por ser maravilhosamente complexa,
é difícil de obtê-la. Realmente estava certo o indiano; mas a paz a que se
referia Mahatman era a social, na qual seres de diversos países, até mesmo a
Índia com a Inglaterra, as quais, à época, eram colonizados e colônia,
respectivamente, e que, como necessitavam de um sentimento de integração,
união, Gandhi teve razão no que dissera.
Busca-se o bem viver. |
A filosofia clássica, no entanto, parte da célula, a menor partícula
existente no universo, e gradualmente chega à alma dele. Parte, antes disso, da
pequena estrutura interna do homem, vai ganhando espaço, elevando seus
subcorpos – físico, astral, intuição, desejos... – educando-os paulatinamente
tais quais crianças teimosas que um dia foram ensinadas de maneira errada, mas
que agora, do ponto de vista tradicional, podem ser transformadas ao ponto de
caminhar sozinhas, e serem melhor a cada dia.
Assim somos nós, em cada gesto, em cada comportamento, temos
que nos lembrar dos conceitos clássicos acerca da educação – edutiere (expor o melhor de si) – quando
falamos de Harmonia, de Natureza, de Homem e de Universo... Na realidade, tudo
está em tudo. Ou seja, já temos consciência teórica do que queremos para uma
vida melhor. O caminho, no entanto, às vezes, é estreito, e temos que nos
revelar mais fortes do que somos.
Assim, poderemos ser um pouco melhores do que os homens da
caverna que, com certeza, viviam em harmonia com a natureza, mas não sabiam
lidar conscientemente com as leis naturais, ou seja, se voltássemos ao tempo e,
assim que encontrássemos um ser peludo, cabelos grandes, com duas pernas, se
alimentando tal qual um animal, e mesmo que nos compreendêssemos, não
entenderiam o porquê do sentar-se de modo correto, do falar de modo cortês, do
modo de se comportar em relação à sua “esposa”; enfim, por mais que soubessem o
que diríamos, não seria nada fácil, pois, na escala da história, os
comportamentos mudam, também gradualmente, ainda que percebemos alguns homens
que se dizem modernos tratando mulheres como cavernosas...
O ideal, no entanto, age de acordo com a História, ou seja,
era mais que natural, correto, homens e mulheres se destratarem há milhões de
anos, mas, hoje, se o fazem, é porque buscam desculpas para seus instintos que
não evoluíram.
Nós, aqui e agora, estamos a passos na frente de qualquer
ser que se subjugue homem com qualificações naturais de animal, ou seja,
estamos na busca interna de saber lidar conosco mesmos e com o nosso meio, de
modo a encontrar a paz, a felicidade, o céu em nós. E entendemos que não
adianta sermos incoerentes em nossa vida pessoal, profissional, familiar, ou em
qualquer lugar que estamos e falar coisas celestes, como se fôssemos um Dalai
Lama que veio do Tibete ensinar aos miúdos.
A praticidade pode nos levar a responder nossas perguntas
mais misteriosas, mais profundas. E quando falo de práticas, não falo em subir
escadas de dois mil degraus, ou carregando cruzes nas costas à semelhança de
Cristo, que um dia o fez involuntariamente. Não falo em me deitar em camas com
pregos pontiagudos, ou ir me deitar ao chão, chicoteando-me, a clamar a
divindade, tal qual um escravo que fizera algo de errado... Longe disso. Muito
menos clamar qualquer que seja o nome de alguém ou de algo, tão alto, ao ponto
de parecer que alguém além-sol esteja me ouvindo...
A filosofia é simples. Em cada sentar, podemos nos
harmonizar com a natureza; em cada andar, em conversas simples e sinceras, sem
disputas; em cada toque e gesto, regado de compreensão; mais que isso, em cada
banho, se feito de acordo e harmonia com a natureza; nada que possa
personalizar tais atos, mas sim religa-los a algo maior que nós mesmos, ou
talvez, dentro de nós.
Sim... E nessa esfera, vamos entender que o que fazemos é
menos importante do que como fazemos. É um passo fundamental para o crescimento
humano, pois, a partir dele, daremos outros passos rumo a tão sonhada paz
interior.
Fiquem em Paz.
Volto na próxima semana.