terça-feira, 8 de outubro de 2013

Oração dos Jovens Zumbis (i)


Oração do jovem.


Ainda ontem, vi um jovem a pedir a Deus que o protegesse, que dele não esquecesse, e que protegesse seu “rebanho”. Teria sido um ato comum se não fosse a maneira como fazia... Ajoelhado ante uma parede, com a Bíblia no chão, sua voz alterada, caracterizada pela tonalidade normal, a subir a cada pedido nas orações... Isso dentro de um cômodo, pequeno, sem organização.  Fez-me refletir.

Até quando jovens de todas as idades devem passar por isso? Será que a prática diária lhe tem feito tão medonho ao ponto de implorar a Deus seu sucesso, ou menos... A proteção em família? Não... Talvez o questionamento não seja este. Ou seja talvez... Será que a falta de saída aos seus questionamentos tem lhe feito preso ao que sintetizam a ele acerca da Bíblia?... É a mais cotada...

Acho que tudo isso, a muitos, não importa. A razão pela qual se ajoelha, pede a Deus, seja de joelhos, de cabeça para baixo, ou berrando dentro de uma igreja, não faz um delinquente, um marginal, um individuo que a sociedade repugna. Pelo contrário. Que ama...

Porém, será a sociedade está tão vazia de valores ao ponto de criar marginais ou fanáticos religiosos – sempre aos extremos? Não há sequer um jovem que possa refletir acerca de seus atos, sem que se entregue a um ou ao outro? A realidade é que nos parece exatamente isso.

Quando deixei aquele cômodo no qual o jovem uivava em nome de Deus, vi que ele continuava ainda mais alto, como se estivesse retirando de si um grande mal. E pensei mais ainda... O que um jovem, que vai à igreja tantas vezes, e que possui uma personalidade simples, com uma vida regada de respeito à família, aos amigos, pode pedir com tanta força, eloquência, a um Deus? Perfeição? Ou terá nosso caro medo da punição Divina?...

Esta última me parece mais adequada. A certeza de existir um deus que pune pelos atos, pensamentos, má compreensão da vida; pela mínima falta de respeito, leva, na maioria das vezes, aquele dedicado servo de Cristo a acreditar que punições há como em produções cinematográficas... Advindas do céu. Se não pensar, é claro, que Deus o persegue, e que o Diadorim (não o personagem de Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas, mas um dos nomes do Capeta!), do outro lado de sua consciência o perturbará em cada pensamento justo...

É um conflito tão poderoso, que pode, no mais tardar, dar ao jovem sinais de conturbações maiores, afetando o lado físico, por meio da mente. Sim. Há, em instituições escondidas e isoladas pelo governo, de pessoas com menos de vinte anos de idade, que, um dia, se dedicaram a causas maiores do que seus pensamentos, sem que lhes respondessem quaisquer perguntas...

A verdade é que por ser jovem, tal quais sacos ao vento, instituições aproveitam para jogar suas filosofias religiosas em pessoas que ainda não possuem maturidade para refletir acerca da vida, e lhes dão uma ferramenta, uma Bíblia – sem críticas! – já traduzida, mastigada, e respondida com visões modernas. Até aqui, o jovem se revela já um encantador de pastores, tendo visões, levando ao pé da letra seus mandos, esquecendo-se da vida pessoal, profissional, e digladiando com outros, do demo!, acerca do que aparentemente sabe... Porque quem não faz parte de seu círculo pode ir para o inferno...

Ainda não é a morte. É quase.

Não peço rebeldia, pois o jovem rebelde, atualmente, se perde, ao contrário do passado, em redes sociais, criando perfis falsos, ficando com meninas mais falsas ainda. Nem peço que se joguem nas drogas (longe disso!), mas encontrem o que Buda disse ao se iniciar... “O meio termo”. Não que precisem provar dos vícios, mas que tais vícios sejam o futebol, o namoro, ou experiências nas quais ele não se arrependa; que leiam acerca de heróis, e biografias de pessoas que conseguiram um abrigo com seu próprio esforço...

E se um dia alguém lhes questionar acerca de Deus, se fazem parte de alguma facção religiosa, digam que são católicos ou crentes, a depender do que a família defende, mas a respeito de Deus ainda não tem opinião própria, pois a cada instante vive da melhor maneira possível, e que, por enquanto, sua consciência o tem feito respeitar as outras crenças de modo que está em paz com Deus.


Não precisa se jogar aos pés de pastores ou anciões loucos para “raptar” fiéis para o seu templo, ou escravos jovens que não sabem pensar – esses, a maioria. –; não precisa se mostrar fraco, pois, tenho a certeza de que, se você, jovem, está vivo, inteiro, até este ponto, sem necessitar de auxilio de ludibriadores revestidos de pastores, é porque uma entidade, a não pessoal, a não manipulada, a não inventada, a não sombra humana, está tão perto de você quanto a de qualquer membro daquela instituição de zumbis.

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