Oração do jovem. |
Ainda ontem, vi um jovem a pedir
a Deus que o protegesse, que dele não esquecesse, e que protegesse seu “rebanho”.
Teria sido um ato comum se não fosse a maneira como fazia... Ajoelhado ante uma
parede, com a Bíblia no chão, sua voz alterada, caracterizada pela tonalidade
normal, a subir a cada pedido nas orações... Isso dentro de um cômodo, pequeno,
sem organização. Fez-me refletir.
Até quando jovens de todas as
idades devem passar por isso? Será que a prática diária lhe tem feito tão
medonho ao ponto de implorar a Deus seu sucesso, ou menos... A proteção em
família? Não... Talvez o questionamento não seja este. Ou seja talvez... Será
que a falta de saída aos seus questionamentos tem lhe feito preso ao que
sintetizam a ele acerca da Bíblia?... É a mais cotada...
Acho que tudo isso, a muitos, não
importa. A razão pela qual se ajoelha, pede a Deus, seja de joelhos, de cabeça
para baixo, ou berrando dentro de uma igreja, não faz um delinquente, um
marginal, um individuo que a sociedade repugna. Pelo contrário. Que ama...
Porém, será a sociedade está tão
vazia de valores ao ponto de criar marginais ou fanáticos religiosos – sempre aos
extremos? Não há sequer um jovem que possa refletir acerca de seus atos, sem
que se entregue a um ou ao outro? A realidade é que nos parece exatamente isso.
Quando deixei aquele cômodo no
qual o jovem uivava em nome de Deus, vi que ele continuava ainda mais alto,
como se estivesse retirando de si um grande mal. E pensei mais ainda... O que
um jovem, que vai à igreja tantas vezes, e que possui uma personalidade
simples, com uma vida regada de respeito à família, aos amigos, pode pedir com
tanta força, eloquência, a um Deus? Perfeição? Ou terá nosso caro medo da
punição Divina?...
Esta última me parece mais
adequada. A certeza de existir um deus que pune pelos atos, pensamentos, má
compreensão da vida; pela mínima falta de respeito, leva, na maioria das vezes,
aquele dedicado servo de Cristo a acreditar que punições há como em produções
cinematográficas... Advindas do céu. Se não pensar, é claro, que Deus o
persegue, e que o Diadorim (não o personagem de Guimarães Rosa, em Grande
Sertão: Veredas, mas um dos nomes do Capeta!), do outro lado de sua consciência
o perturbará em cada pensamento justo...
É um conflito tão poderoso, que
pode, no mais tardar, dar ao jovem sinais de conturbações maiores, afetando o
lado físico, por meio da mente. Sim. Há, em instituições escondidas e isoladas
pelo governo, de pessoas com menos de vinte anos de idade, que, um dia, se
dedicaram a causas maiores do que seus pensamentos, sem que lhes respondessem
quaisquer perguntas...
A verdade é que por ser jovem,
tal quais sacos ao vento, instituições aproveitam para jogar suas filosofias
religiosas em pessoas que ainda não possuem maturidade para refletir acerca da
vida, e lhes dão uma ferramenta, uma Bíblia – sem críticas! – já traduzida,
mastigada, e respondida com visões modernas. Até aqui, o jovem se revela já um
encantador de pastores, tendo visões, levando ao pé da letra seus mandos,
esquecendo-se da vida pessoal, profissional, e digladiando com outros, do
demo!, acerca do que aparentemente sabe... Porque quem não faz parte de seu
círculo pode ir para o inferno...
Ainda não é a morte. É quase.
Não peço rebeldia, pois o jovem
rebelde, atualmente, se perde, ao contrário do passado, em redes sociais,
criando perfis falsos, ficando com meninas mais falsas ainda. Nem peço que se
joguem nas drogas (longe disso!), mas encontrem o que Buda disse ao se
iniciar... “O meio termo”. Não que precisem provar dos vícios, mas que tais vícios
sejam o futebol, o namoro, ou experiências nas quais ele não se arrependa; que
leiam acerca de heróis, e biografias de pessoas que conseguiram um abrigo com
seu próprio esforço...
E se um dia alguém lhes
questionar acerca de Deus, se fazem parte de alguma facção religiosa, digam que
são católicos ou crentes, a depender do que a família defende, mas a respeito
de Deus ainda não tem opinião própria, pois a cada instante vive da melhor
maneira possível, e que, por enquanto, sua consciência o tem feito respeitar as
outras crenças de modo que está em paz com Deus.
Não precisa se jogar aos pés de
pastores ou anciões loucos para “raptar” fiéis para o seu templo, ou escravos
jovens que não sabem pensar – esses, a maioria. –; não precisa se mostrar
fraco, pois, tenho a certeza de que, se você, jovem, está vivo, inteiro, até
este ponto, sem necessitar de auxilio de ludibriadores revestidos de pastores,
é porque uma entidade, a não pessoal, a não manipulada, a não inventada, a não
sombra humana, está tão perto de você quanto a de qualquer membro daquela
instituição de zumbis.
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