Quando o desânimo nos vem pela
manhã, sem aquela vontade de levantar, sentindo o corpo mais pesado do que nos
dias anteriores, percebemos que há algo errado. Ou trabalhamos demais no outro
dia, ou nossos problemas querem nos arrastar para debaixo do chão, ou
simplesmente enfiar a cabeça dentro dele, como avestruzes.
Quando não há forças, unido à
falta de objetivo, a cabeça tentar buscar meios para ficar alojada em si mesma,
e assim, encontrar desculpas dentro de uma série, que há muito tenta transbordar
nessas horas vazias. O abismo se faz.
Caímos como crianças e não
levantamos como adultos velhos, os quais não queríamos ser nem em sonhos; e
percebemos que chegamos ao fim do túnel, cansados, sem uma palavra que possa
nos resgatar a autoestima.
... O que nos aconteceu?
Castelos de Areias em demasia. A
insensata busca pelo concreto, pelo físico, pelo material, sem aquela força que
há muito nos deram, a chamada espiritualidade. Nela, poderíamos (e podemos)
erguer castelos internos, nos erguer, nos transformar, e se perdemos por um
instante nossas metas (ou objetivos), ela nos refaz do nada.
O mal não é a busca, mas a
insensatez de uma busca. Todos, de algum modo, em algum nível vamos atrás de
alguma coisa, não adianta mentir, e dizer que não somos materialistas, pois
somos mais que isso: somos incrivelmente doentes.
No entanto, se não houver uma
meta, um objetivo que nos direcione, não adianta: deve haver algo que nos sustente internamente.
A cena da cama é uma entre milhares que se repetem com pessoas que não
conseguem estabilizar-se financeira ou psicologicamente, pois não possuem uma
luminosidade que, por sua vez, antes de tudo, teria que ser educada para a consecução
de seus fins, principalmente materiais, pois a matéria por si mesma não é nada.
Prova disso é quando a maioria consegue
“realizar” seus sonhos de conforto: querem mais e mais. Sem falar naqueles que
possuem profissões que um dia tanto sonharam, até o salário, porém lhes falta
algo. Daí a corrupção, as quadrilhas, a máfia...
Em outros, no entanto, sobram
espiritualidade – essa moeda tão esquecida pelo homem – em histórias de pessoas
simples que encontram malas de dinheiro, e a primeira coisa que pensam é
devolver. Muitos se questionam a respeito disso; é como se estivéssemos a falar
de seres extraterrestres que encontram dólares, reais, euros em quantias
exorbitantes e... ponto, devolvem sem a mínima dor.
A única dor que fica é a do ser
humano que necessita de um pequeno raio de sol. Não desses que se abrem a
janela, e lá está um grande circulo maravilhoso. Não. Não é deste que falo.
Falo de uma fresta que há muito nos incomoda e nos faz refletir acerca de tudo
que nos cerca, dessa organização infinita da qual participamos e que é refreada
pelas circunstâncias conflituais da vida.
No entanto, se déssemos ouvido a
esse pensamento, se pudéssemos ver essa fresta, se pudéssemos sentir esse
pequeno sol, que nos alimenta de respostas puras e ao mesmo tempo nos consome
se não o alimentamos... Mas é apenas por um instante.
É como se em meio a uma
turbulência lembrássemos uma palavra que foi dita para ser encaixada em
contextos semelhantes àquele porque passamos, e quando tal palavra é lembrada,
sorrimos, e percebemos que não passa de uma ilusão revestida de beleza ou até
crueldade, mas não deixa de ser ilusão...
E quando entendemos que toda
aquela ilusão é uma necessidade? Aí iniciamos um nascimento, o nosso, pois
sabemos que também somos parte dela, e trabalhamos por ela, pois o universo,
tudo ao nosso redor, depende do que fazemos, e quando não nos levantamos e
pesados estamos, e voltamos a dormir, deixamos de entender parte de uma
infinita leva deles que se subjugam secretos.
Os mistérios
Deles não se descobrem nada de modo racional. Apenas em atos insensatos de homens e épocas mais insensatos ainda; depois disso nos vem a ânsia de correção -- como diriam os antigos, do Darma em cada um -- de uma linha entre os deuses e os demônios, e por ela passamos, como se fossem andarilhos. Muitos, por assim dizer, caem para o lado do mal por falta de referenciais; mas a maioria, entre idealistas, religiosos, filósofos, e homens de bem que anseiam pela paz, pela justiça, descobrem que nossa natureza é passiva de elevar-se por meio da resolução dos mistérios que se encontram em todos os momentos de nossas vidas.
Descobrem que, mesmo como ilusão, a injustiça, o desamor, ou seja, a separatividade criada pelo homem, nos serve de elevação, pois funcionam como degraus na maioria das vezes, contudo, também como monstros que nos devoram e nos corrompem...
Por isso, ao acordar, levantar, tornar-se um homem que luta em prol do bem humano, é levantar em favor do ideal humano, este pelo qual nascemos com a tendência (que nos é tirada pelo capital); mas, ao nascer de novo, aqui e agora, para a realização de nossos pequenos objetivos, materiais ou não, podemos começar, sempre, pois o sol da justiça nasceu conosco, em algum lugar de nossas almas.
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