segunda-feira, 28 de outubro de 2013

As Ilusões que Criamos

Viver, uma arte.




É apenas o desenho de uma árvore. Nada mais.


Um dia, quando estava na parada de ônibus, quando de repente me aparece um carro, com duas senhoras dentro – sendo uma no volante, e outra no banco do passageiro --, pedindo informações acerca de certo lugar que, por coincidência, ficava ao lado do mesmo para qual eu ia.

Depois que forneci informações, pedi que me dessem uma carona. Porém, com um olhar de desdém e outro meio sarcástico, senti que não iria com elas, e ficaria ali a espera do ônibus que, em hora e hora, passava...

Eu, depois de tudo, iniciei meu processo de xingação automático, após a poeira deixada pelo carro – que não era nenhuma limusine. Assim, após dias, contei a uma colega minha, enfeitando, claro, a pequena história. E depois de me ouvir, disse-me... “Meu colega, é o seguinte. Não houve nada de errado. Elas simplesmente não quiseram te dar carona, mais nada! Não adianta pensar que foram ofensivas, mal educadas – apesar de parecer – mas não houve nada!”

Após reverberações pessoais acerca do que me falou, pensei, pensei, e vi que ela tinha razão. E isso é raro de se concluir. Na maioria das vezes, damos vazão e razão ao nosso ódio, ou até às nossas razões internas, as quais se harmonizam com nossos defeitos externos, que, sempre, tentam buscar desculpas, para se tornarem vítimas. Eram só duas senhoras que não me deram carona. Ponto.

Aqui, após essa simples história, inicio mais uma caminhada rumo ao nosso ideal. De encontrar meios de tornar nossas vidas belas, como a um quadro dos renascentistas, ou pelo menos tentar. Para isso, nosso passo de hoje é reconhecer as coisas como elas são. Ou seja, para que não soframos tanto quanto crianças que perdem seus pais.

Mas não precisamos perder nossos pais para entender que enfeitamos a vida, as coisas, o mundo, com nossos olhares vaidosos, outras vezes tristes, egoísta, apaixonado, sem que percebamos o quanto ele vale realmente. Aqui, cabem as pessoas, nossos objetos, nossa família...

Mais uma vez, temos que separar o que nos dá prazer, daquilo que não nos dá, além daquilo que dependemos, e só assim, podemos lidar com essa questão. Ao separar, conscientizamo-nos de que tudo seu caráter próprio. As pessoas, os animais, nossos objetos personificados... Enfim, não adianta tentar encontrar mais do que nos oferece aquele quadro, pois o resto é enfeite...

A xícara e o filho

A filosofia clássica nos diz que nossas almas são como balões imensos, que tentam voar tão rápido para sua origem quanto a um pássaro perdido que quer voltar para o ninho. Porém, são freados com o peso que o balconista é obrigado a colocar para que não suma nos espaço.  Em vários textos Platão nos ensina isso. E agora, na tentativa de praticar o que a tradição nos ensina, tentemos entender o que significa essa metáfora dos balões.

Ela nos diz que, em razão dos pesos – nossos desejos, nossas amarras, -- a alma não vai. Mais uma vez dizendo... nossas mentes estão voltadas para a matéria, para a terra mesmo; e não podemos mudar isso de um dia para o outro. Epiteto, filósofo escravo, disse que temos que treinar nossos desejos com algo que na teoria desprezamos, mas ao mesmo tempo seja útil a nós. Nesse caso peguemos uma xícara, como exemplo...

O que podemos sentir quando uma xícara cai ao chão? Um pouco de decepção, outro pouco de raiva, e quando pertence a alguém que um dia se foi? Nossa, que coisa hein! É uma maneira de refletir, pois não podemos ficar presos a pequenas coisas que, em nossa vida, são o que são, e nós, como é de nossa natureza, damos tanto valor que caímos no ostracismo em relação a nós mesmos.

Entendemos, daqui para frente, que as coisas são o que são. Uma xícara, por mais bela que seja, um dia, vai cair e se quebrar, assim como a um carro, uma tinta de uma impressora, que vai acabar tão rápido que não vai dar nem tempo de imprimir o que nos interessa.

Depois de tudo, levamos paras as pessoas que amamos – nossos filhos, esposas, irmãos... – de modo que, ao abraçarmos, dizermos bem baixinho “um dia eles voltam à sua origem” – é uma forma educada de dizer “eles vão morrer um dia”. Dessa forma, com o tempo, sofreremos menos e enfrentaremos com serenidade nossas perdas pessoais.


Percebemos, assim, que o nos incomoda nada mais é o que pensamos acerca dos acontecimentos, não os acontecimentos em si. Vamos refletir sobre isso, tentando amenizar nossos males, já que não podemos eliminá-lo por completo. 





Volto sem ilusões.

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"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....