Reconhecer o que as coisas realmente são. Passo fundamental. |
...Sei que soa um tanto quanto
egoísta, como diria alguém que lê ou escuta tais princípios, “E.. eu poderia ajudar alguém?.. Estaria me
metendo na vida dela, se eu fizesse isso?”. A questão não é essa. E sim
tomar aquilo que é seu como algo que é realmente seu; e o que é do outro é
dele, só isso. Não tem nada a ver com auxilio ao próximo, e sim de responsabilidades,
daquilo que lhe compete.
Pode-se ajudar em todos os
sentidos se o quiser, no entanto, não podemos abraçar causas maiores que nossos
braços, pois já temos causas e consequências em demasia. Um dia um grande amigo
e professor me disse... “Já nascemos com caixas de abelha em nossas mãos, e desde
pequenos sabemos lidar com nossas abelhas. Agora, pegar outra caixa cheia de
abelhas somente porque temos pena...?”.
É uma grande responsabilidade,
mais uma vez repito. Vai nos sobrecarregar de certo modo mais do que já o
somos. Isso não tem nada a ver com não ajudar. Se quisermos fazer um favor a um
amigo, emprestar dinheiro, por exemplo, que o façamos, mas não podemos nos
acostumar a isso, pois criamos uma dependência dele para conosco. E, por
tabela, nos sentiremos responsáveis por mais um ser que poderia, com suas próprias
mãos, independentemente de nossa ajuda, encontrar um meio, uma saída...
Tal meio e saída são caminhos que
ele mesmo encontrou, dentro de suas possibilidades, não da nossa. Assim, dando
argumentos para que, com suas ferramentas, encontre e realize seus objetivos, e
mais tarde tomando consciência de que pode ser feliz por si mesmo, não pelo
outro.
Mesmo e apesar de tudo, o
primeiro passo, o de saber distinguir o que é nosso, ainda bate em nossas
portas, como criança querendo ir ao banheiro, pedindo respostas ao que não foi
suprido na prática. E prosseguimos, mesmo assim, porque sabemos que o mistério
das práticas revela-se no dia a dia.
Reconhecer as aparências...
Epiteto, grande escravo que mais
tarde se tornou um grande estoico, nos dizia que, se nos acostumarmos a olhar
as coisas pelo que elas são, não teremos problemas em firmar mais um
compromisso com a liberdade, com a felicidade que tanto buscamos. Por que o
filósofo diz isso?
Em primeiro lugar, Distinguir o
que é nosso, em segundo, controlar aquilo que nos compete, e depois, reconhecer
as aparências... Aqui, nessa última, percebe-se que estamos tentando moldar nossas
personalidades, elucidando as figuras diárias a que temos acesso. É um
exercício interessante, se o perceber, pois tudo que percebemos, tocamos,
objetivamos, tem uma semântica natural que colocamos, independentemente do que
realmente a “coisa” é.
Ou seja, damos um uniforme (uma
roupagem...) ao que vemos, ouvimos, percebemos com os nossos sentidos. Um cego,
por exemplo, sempre imagina como são as coisas, não o que elas são, dando assim
roupagens o tempo todo ao mundo dele. Nós, pelo menos os que querem ver,
podemos ver as coisas como são, tocá-las, respeitá-las, não ludibriando nossas
mentes, trazendo à tona características, às vezes, mais do que infindáveis.
Mas que fique claro uma coisa:
esse exercício é somente àquilo que nos desagrada. Devemos tomar muito cuidado
como isso... Como por exemplo, quando aparece uma pessoa cujos trajes são de um
sobrevivente das ruas, enfim, de uma pessoa pobre.
Esta mesma pessoa, um dia, vem
pedir-lhe uma informação acerca de um ônibus, ou qualquer coisa parecida, mas
que lhe surge de repente, do nada. Bum! Aí, você pensa... “É um assalto!!”,
achando que a pobre pessoa é uma ladra.. Ou mesmo um pedinte.
Depois de tudo, pelo rosto da
pessoa, pelo constrangimento e ofensa que meus olhos passaram a ela, a pobre
lhe diz “calma, moço, eu só queria saber se o ônibus tal passou...”. E você,
com vergonha de ter sido um destruidor de princípios naquela hora, diz... “Me
desculpa, minha senhora, por favor. Seu ônibus, por acaso, não passou...” – e na
tentativa de jogar-se no meio dos carros de tanta vergonha, vira-se, olha-se
para o chão e prossegue a vida, tentando entender o que aconteceu...
O nome disso é, segundo a
filosofia indiana clássica, produto kama-manásico,
do qual saem pensamentos obtusos, que se realizam em razão de inconscientes
coletivos que já estão enraizados em nossa alma. Ou seja, a sociedade nos faz pensar que
qualquer pessoa que use trajes inadequados em lugares idem (além de outras
formas de pensamentos) vem a ser indivíduos que passem pela nossa desconfiança,
não confiança interior. O medo, o pavor de assaltos, unidos a isso, nos faz
mais desumanos.
Vamos então esvaziar nossas
mentes para que não sejamos árvores com frutos preconceituosos, pois temos que ser
felizes observando o próximo, dando margem para que ele se aproxime de nós,
sendo ou não pedintes, bem ou mal vestido, contribuindo com o Ideal.
Volto sem rodeios.
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