quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Viver, uma Arte. Reconhecer o Mundo


Reconhecer o que as coisas realmente são.
 Passo fundamental.




...Sei que soa um tanto quanto egoísta, como diria alguém que lê ou escuta tais princípios, “E.. eu poderia ajudar alguém?.. Estaria me metendo na vida dela, se eu fizesse isso?”. A questão não é essa. E sim tomar aquilo que é seu como algo que é realmente seu; e o que é do outro é dele, só isso. Não tem nada a ver com auxilio ao próximo, e sim de responsabilidades, daquilo que lhe compete.

Pode-se ajudar em todos os sentidos se o quiser, no entanto, não podemos abraçar causas maiores que nossos braços, pois já temos causas e consequências em demasia. Um dia um grande amigo e professor me disse... “Já nascemos com caixas de abelha em nossas mãos, e desde pequenos sabemos lidar com nossas abelhas. Agora, pegar outra caixa cheia de abelhas somente porque temos pena...?”.

É uma grande responsabilidade, mais uma vez repito. Vai nos sobrecarregar de certo modo mais do que já o somos. Isso não tem nada a ver com não ajudar. Se quisermos fazer um favor a um amigo, emprestar dinheiro, por exemplo, que o façamos, mas não podemos nos acostumar a isso, pois criamos uma dependência dele para conosco. E, por tabela, nos sentiremos responsáveis por mais um ser que poderia, com suas próprias mãos, independentemente de nossa ajuda, encontrar um meio, uma saída...

Tal meio e saída são caminhos que ele mesmo encontrou, dentro de suas possibilidades, não da nossa. Assim, dando argumentos para que, com suas ferramentas, encontre e realize seus objetivos, e mais tarde tomando consciência de que pode ser feliz por si mesmo, não pelo outro.

Mesmo e apesar de tudo, o primeiro passo, o de saber distinguir o que é nosso, ainda bate em nossas portas, como criança querendo ir ao banheiro, pedindo respostas ao que não foi suprido na prática. E prosseguimos, mesmo assim, porque sabemos que o mistério das práticas revela-se no dia a dia.

Reconhecer as aparências...

Epiteto, grande escravo que mais tarde se tornou um grande estoico, nos dizia que, se nos acostumarmos a olhar as coisas pelo que elas são, não teremos problemas em firmar mais um compromisso com a liberdade, com a felicidade que tanto buscamos. Por que o filósofo diz isso?

Em primeiro lugar, Distinguir o que é nosso, em segundo, controlar aquilo que nos compete, e depois, reconhecer as aparências... Aqui, nessa última, percebe-se que estamos tentando moldar nossas personalidades, elucidando as figuras diárias a que temos acesso. É um exercício interessante, se o perceber, pois tudo que percebemos, tocamos, objetivamos, tem uma semântica natural que colocamos, independentemente do que realmente a “coisa” é.

Ou seja, damos um uniforme (uma roupagem...) ao que vemos, ouvimos, percebemos com os nossos sentidos. Um cego, por exemplo, sempre imagina como são as coisas, não o que elas são, dando assim roupagens o tempo todo ao mundo dele. Nós, pelo menos os que querem ver, podemos ver as coisas como são, tocá-las, respeitá-las, não ludibriando nossas mentes, trazendo à tona características, às vezes, mais do que infindáveis.

Mas que fique claro uma coisa: esse exercício é somente àquilo que nos desagrada. Devemos tomar muito cuidado como isso... Como por exemplo, quando aparece uma pessoa cujos trajes são de um sobrevivente das ruas, enfim, de uma pessoa pobre.

Esta mesma pessoa, um dia, vem pedir-lhe uma informação acerca de um ônibus, ou qualquer coisa parecida, mas que lhe surge de repente, do nada. Bum! Aí, você pensa... “É um assalto!!”, achando que a pobre pessoa é uma ladra.. Ou mesmo um pedinte.

Depois de tudo, pelo rosto da pessoa, pelo constrangimento e ofensa que meus olhos passaram a ela, a pobre lhe diz “calma, moço, eu só queria saber se o ônibus tal passou...”. E você, com vergonha de ter sido um destruidor de princípios naquela hora, diz... “Me desculpa, minha senhora, por favor. Seu ônibus, por acaso, não passou...” – e na tentativa de jogar-se no meio dos carros de tanta vergonha, vira-se, olha-se para o chão e prossegue a vida, tentando entender o que aconteceu...

O nome disso é, segundo a filosofia indiana clássica, produto kama-manásico, do qual saem pensamentos obtusos, que se realizam em razão de inconscientes coletivos que já estão enraizados em nossa alma.  Ou seja, a sociedade nos faz pensar que qualquer pessoa que use trajes inadequados em lugares idem (além de outras formas de pensamentos) vem a ser indivíduos que passem pela nossa desconfiança, não confiança interior. O medo, o pavor de assaltos, unidos a isso, nos faz mais desumanos.


Vamos então esvaziar nossas mentes para que não sejamos árvores com frutos preconceituosos, pois temos que ser felizes observando o próximo, dando margem para que ele se aproxime de nós, sendo ou não pedintes, bem ou mal vestido, contribuindo com o Ideal.








Volto sem rodeios.

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