Platão e o espírito da busca |
Houve época em que nascíamos com o conhecimento, graças a
tribos, clãs, grupos, e principalmente escolas, com um cetro voltado ao sol,
além de um espirito solidário. Época em que muitos (na realidade, poucos)
fizeram suas escolhas baseadas em princípios e experiências voltados ao
sagrado, e se ao profano, não desdenhavam ao medo o que muitos, depois dessa
época, se espantaram e se foram...
O medo era apenas uma energia de guerra, não a ausência de
coragem, o que por sua vez não era a ausência daquele, e sim a força do
coração, de uma alma pura, embriagada de paixão pelos ideais, fossem eles quais
fossem. O medo, em si, era a arma natural do homem, codificando ao corpo e à mente
caminhos por onde deviam trilhar.
Houve época em que o espirito do homem, levado pelo Grande
Espirito, fazia com que aquele fosse em
busca de uma verdade diferente da que estamos acostumados, era a verdade de
dentro, do que mais subjazia em nós. Seria, em minha vã tentativa de
exemplificar, a busca por água depois de anos em um deserto mais que árido. A
água era nossa alma.
É a busca e nesta, tão maravilhosa, tão pura e cheia de
amor, na integração do homem, na compreensão da mágica da vida, no topo de uma
montanha, o homem encontrava meios simples, ao passo, complexos, nos quais se
perdia, e perdia seus conceitos, porém, ao olhar para os referenciais de seus
mestres, encontrava-se, dedicava-se, e via a face de Deus.
A verdade é que não se sabe o porquê de tantos homens em
épocas tão raramente equidistantes surgiram e se foram como grandes cometas que
jogaram do céu tanta humanidade, tantas obrigações a serem descobertas. No
Egito, foram os grandes faraós, que transforaram a terra vermelha em berço da
civilização, por meio de seus atos supra filosóficos. Mas foi na Grécia e em
Roma que grandes homens surgiram traduzindo das terras das pirâmides, entre
outras, o código precioso.
Assim como aquele passarinho que levava no bico a água para
apagar o grande incêndio, todos os filósofos iniciaram o processo de salvar
vidas, por meio da busca dos mistérios, e a água nada mais era que esse legado
à humanidade, de encontrar a si mesmo, de modo a salvar-se da sua própria ignorância.
Pois o que nos falta é um pouco de sabedoria, e isso a cada dia nos é escasso.
Por meio de suas escolas – Pitagóricas, Pré-Socráticas,
Epicuristas, Estoicas... – conseguiram, por meio de uma linguagem fechada,
simbólica, na qual apenas discípulos fiéis poderiam resguardá-la, os amantes da
verdade entregavam-se com intuito de levar ao homem apenas a real verdade, nada
mais.
Tais escolas, no entanto, por seres fechadas e com uma
linguagem específica, foram, na maioria das vezes, mal compreendidas. Algumas
foram fechadas em razão de governos ditatoriais, outras incendiadas pelo povo,
e mais algumas, pelos próprios discípulos que não lhe davam credibilidade...
No entanto, o que ficou ao homem ocidental, por meio de
obras essenciais, foi um pingo d´água que se chamara Filosofia. Esta, ainda mal
vista por muitos, é relativizada pela grande maioria em razão de abranger tudo
e ao mesmo tempo não ser partidária a nada.
A filosofia, que vem de Philos, e Sophia, busca e conhecimento,
revela-se mais vilã do que nunca. Apesar de ser mais um meio psicológico do que
uma tendência humana, como o era no passado, também faz parte do cotidiano do
homem racional que almeja entender (não saber, não ter conhecimento) mais que
outros, o que nos faz repensar se queremos ou não ser um filos...
Um dia encontraram Pitágoras e lhe perguntaram... “O senhor
sabe tudo?”, ele, na mera simplicidade que lhe era inerente, disse... “Não, sou
apenas um filósofo, um amante do saber...”. Assim o foram antes e depois dele
muitos que não almejavam nada, apenas o saber, assim como a comida lhe vinha na
hora fome, como o copo de água nas horas do calor, como a roupa necessária ao
frio, enfim... Não era uma disciplina, mas algo que carregava dentro de si,
como o ar que respirava. Não era uma disciplina...
E o que ficou ao homem foi a descoberta desse ser que lateja
no mais íntimo, que se indaga às vezes por não poder externar aos medíocres sua
dor ao mundo, e por às vezes externar encontra (como muitas vezes) sistemas
contrários e genocidas, dos quais
esconde em forma de idealistas, políticos, escritores e de professores na área
de humanas, até mesmo em forma de religiosos...
Às vezes é melhor que tenhamos uma capa, não como a do
batman!, mas a nossa do dia a dia, como a de pai que vai à igreja, porém
entende que as certezas não estão ali; como a do padre que entende o simbolismo
de uma Adão e Eva, como a de um político que nas horas vagas lê um Platão...
É preciso ser filósofo.
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