segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Um Legado Eterno

Platão e o espírito da busca





Houve época em que nascíamos com o conhecimento, graças a tribos, clãs, grupos, e principalmente escolas, com um cetro voltado ao sol, além de um espirito solidário. Época em que muitos (na realidade, poucos) fizeram suas escolhas baseadas em princípios e experiências voltados ao sagrado, e se ao profano, não desdenhavam ao medo o que muitos, depois dessa época, se espantaram e se foram...

O medo era apenas uma energia de guerra, não a ausência de coragem, o que por sua vez não era a ausência daquele, e sim a força do coração, de uma alma pura, embriagada de paixão pelos ideais, fossem eles quais fossem. O medo, em si, era a arma natural do homem, codificando ao corpo e à mente caminhos por onde deviam trilhar.

Houve época em que o espirito do homem, levado pelo Grande Espirito, fazia com que aquele fosse  em busca de uma verdade diferente da que estamos acostumados, era a verdade de dentro, do que mais subjazia em nós. Seria, em minha vã tentativa de exemplificar, a busca por água depois de anos em um deserto mais que árido. A água era nossa alma.

É a busca e nesta, tão maravilhosa, tão pura e cheia de amor, na integração do homem, na compreensão da mágica da vida, no topo de uma montanha, o homem encontrava meios simples, ao passo, complexos, nos quais se perdia, e perdia seus conceitos, porém, ao olhar para os referenciais de seus mestres, encontrava-se, dedicava-se, e via a face de Deus.

A verdade é que não se sabe o porquê de tantos homens em épocas tão raramente equidistantes surgiram e se foram como grandes cometas que jogaram do céu tanta humanidade, tantas obrigações a serem descobertas. No Egito, foram os grandes faraós, que transforaram a terra vermelha em berço da civilização, por meio de seus atos supra filosóficos. Mas foi na Grécia e em Roma que grandes homens surgiram traduzindo das terras das pirâmides, entre outras, o código precioso.

Assim como aquele passarinho que levava no bico a água para apagar o grande incêndio, todos os filósofos iniciaram o processo de salvar vidas, por meio da busca dos mistérios, e a água nada mais era que esse legado à humanidade, de encontrar a si mesmo, de modo a salvar-se da sua própria ignorância. Pois o que nos falta é um pouco de sabedoria, e isso a cada dia nos é escasso.

Por meio de suas escolas – Pitagóricas, Pré-Socráticas, Epicuristas, Estoicas... – conseguiram, por meio de uma linguagem fechada, simbólica, na qual apenas discípulos fiéis poderiam resguardá-la, os amantes da verdade entregavam-se com intuito de levar ao homem apenas a real verdade, nada mais.

Tais escolas, no entanto, por seres fechadas e com uma linguagem específica, foram, na maioria das vezes, mal compreendidas. Algumas foram fechadas em razão de governos ditatoriais, outras incendiadas pelo povo, e mais algumas, pelos próprios discípulos que não lhe davam credibilidade...

No entanto, o que ficou ao homem ocidental, por meio de obras essenciais, foi um pingo d´água que se chamara Filosofia. Esta, ainda mal vista por muitos, é relativizada pela grande maioria em razão de abranger tudo e ao mesmo tempo não ser partidária a nada.

A filosofia, que vem de Philos, e Sophia, busca e conhecimento, revela-se mais vilã do que nunca. Apesar de ser mais um meio psicológico do que uma tendência humana, como o era no passado, também faz parte do cotidiano do homem racional que almeja entender (não saber, não ter conhecimento) mais que outros, o que nos faz repensar se queremos ou não ser um filos...

Um dia encontraram Pitágoras e lhe perguntaram... “O senhor sabe tudo?”, ele, na mera simplicidade que lhe era inerente, disse... “Não, sou apenas um filósofo, um amante do saber...”. Assim o foram antes e depois dele muitos que não almejavam nada, apenas o saber, assim como a comida lhe vinha na hora fome, como o copo de água nas horas do calor, como a roupa necessária ao frio, enfim... Não era uma disciplina, mas algo que carregava dentro de si, como o ar que respirava. Não era uma disciplina...

E o que ficou ao homem foi a descoberta desse ser que lateja no mais íntimo, que se indaga às vezes por não poder externar aos medíocres sua dor ao mundo, e por às vezes externar encontra (como muitas vezes) sistemas contrários  e genocidas, dos quais esconde em forma de idealistas, políticos, escritores e de professores na área de humanas, até mesmo em forma de religiosos...

Às vezes é melhor que tenhamos uma capa, não como a do batman!, mas a nossa do dia a dia, como a de pai que vai à igreja, porém entende que as certezas não estão ali; como a do padre que entende o simbolismo de uma Adão e Eva, como a de um político que nas horas vagas lê um Platão...

É preciso ser filósofo.


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