Os gregos sabiam das coisas. |
"Em um dia estamos em uma cena, no outro (Blum!), um pontapé no traseiro, e estamos em outra!" -- professor de filosofia.
O Teatro da Vida
Nos instantes em que assumimos o controle de nossas vidas, acreditamos
piamente que tudo, literalmente tudo, está sob nosso comando. Quantas vezes
isso acontece? Muitas e muitas vezes. No entanto, nas entrelinhas de nossas
almas, sabemos que, antes, em nosso currículo vital, houve mudanças naturais, e
a na maioria das vezes forçosas, nesse cenário que, na realidade, assemelha-se
a um grande teatro.
Os personagens, nós. As vestimentas, muitas. O cenário, a própria
vida. Nela, como burricos, andamos, corremos, comemos o sabugo enviado pelos
deuses – plateia maior – o pão que o diabo amassou, caímos em fossos, saímos dele,
sorrimos, choramos; perdemos pessoas em cenas fortes, morremos, voltamos em
cenas maiores, desconhecendo ambientes, enfim... Não há como negar que somos
personagem de um grande teatro.
Ontem, éramos um, hoje, somos outro. Ontem, um pedreiro,
amanhã, um mestre de obra; ontem, um menino que corria as ruas de Londres, em
busca de comida, e hoje, lembrado como o ápice da comédia... Ontem, um menino
que era humilhado em salas de aulas, hoje, um professor respeitado; ontem, um
fugitivo da antiga Febem, e hoje, um dos melhores analistas das obras de
Monteiro Lobato... E seguimos com mutações que nos ditam regras, as regras da
ação e reação social, humana e universal, e nos intervalos destas, passamos por
modificações internas, somas de nossas decisões ou decisões que por nós tomaram...
Não tem jeito, os gregos sabiam das coisas. Diziam que nada
era mais estático do que as mudanças... O seja, nada fica sem mudar, até mesmo
o que nasceu para não mudar. Entender? Só uma pratica que nos responde todos os
dias o que somos, ou mesmo uma bruta realidade que nos serve de vacina para
acordarmos e refletir acerca do que somos, para onde vamos... Entre outros.
Entender?... Não. Ainda somos pequenos, cheios de teorias que
nos resguardam do mal que é cair em cena, chorar, e acordar em outro cenário
como um ator que, antes, era o protagonista, e agora, tão secundário quanto
limpador de janelas de um edifício pequeno.
Teorias que se calam quando somos chefes durante anos, em uma
instituição – tribunal, empresa privada, ou até mesmo um senador, deputado, em
um congresso que aparentemente é símbolo de (e para) um povo – e, no dia
seguinte, por pisar involuntariamente em um dedo de um ministro... (o que
significa pisar em um faraó ditador), voltamos à origem do que somos... Mas o
que éramos mesmo, antes de sermos chefes?
De tanto fazer as vontades dos ignóbeis metidos a deuses,
durante anos, nos esquecemos do teatro da vida. Esquecemos a mudança. Podemos
voltar a ser o que nunca deixamos de ser, uma pessoa, um ser humano sem
revestimentos, ganhando um salário sóbrio, sem enfeites, sorrindo naturalmente,
sem aquele peito inchado, notado apenas pelos observadores de plantão.
Voltamos a ler, a escrever, a assistir a filmes cômicos, não
peças teatrais longe de nossas possibilidades, perto de nossos desejos.
Voltamos a nos vestir sem moda, com um brilho simples, verdadeiro; a procurar
amigos reais, aqueles que nos conhecem tanto, que nunca nos deixaram de nos
chamar pelos codinomes, apelidos de infância...
Agora que entendemos a função do teatro, desse serviço divino
pelo qual passamos como burricos, com exceção de alguns que se desamarram de seus
cabrestos e fazem seus dias melhores, ainda em nome do grande teatro, ainda sim
somos burricos presos ao que acreditamos conhecer.
Vamos fazer sempre da melhor maneira nossos papeis, em cada
cena, sendo ou não protagonistas; vamos embelezar o teatro, não deixando que o
mal vença, que se eleve e que grite, como em filmes de Hollywood, eu venci!
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