quinta-feira, 3 de outubro de 2013

E No Teatro da Vida...

Os gregos sabiam das coisas.

"Em um dia estamos em uma cena, no outro (Blum!), um pontapé no traseiro, e estamos em outra!" -- professor de filosofia.



O Teatro da Vida


Nos instantes em que assumimos o controle de nossas vidas, acreditamos piamente que tudo, literalmente tudo, está sob nosso comando. Quantas vezes isso acontece? Muitas e muitas vezes. No entanto, nas entrelinhas de nossas almas, sabemos que, antes, em nosso currículo vital, houve mudanças naturais, e a na maioria das vezes forçosas, nesse cenário que, na realidade, assemelha-se a um grande teatro.

Os personagens, nós. As vestimentas, muitas. O cenário, a própria vida. Nela, como burricos, andamos, corremos, comemos o sabugo enviado pelos deuses – plateia maior – o pão que o diabo amassou, caímos em fossos, saímos dele, sorrimos, choramos; perdemos pessoas em cenas fortes, morremos, voltamos em cenas maiores, desconhecendo ambientes, enfim... Não há como negar que somos personagem de um grande teatro. 

Ontem, éramos um, hoje, somos outro. Ontem, um pedreiro, amanhã, um mestre de obra; ontem, um menino que corria as ruas de Londres, em busca de comida, e hoje, lembrado como o ápice da comédia... Ontem, um menino que era humilhado em salas de aulas, hoje, um professor respeitado; ontem, um fugitivo da antiga Febem, e hoje, um dos melhores analistas das obras de Monteiro Lobato... E seguimos com mutações que nos ditam regras, as regras da ação e reação social, humana e universal, e nos intervalos destas, passamos por modificações internas, somas de nossas decisões ou decisões que por nós tomaram...

Não tem jeito, os gregos sabiam das coisas. Diziam que nada era mais estático do que as mudanças... O seja, nada fica sem mudar, até mesmo o que nasceu para não mudar. Entender? Só uma pratica que nos responde todos os dias o que somos, ou mesmo uma bruta realidade que nos serve de vacina para acordarmos e refletir acerca do que somos, para onde vamos... Entre outros.

Entender?... Não. Ainda somos pequenos, cheios de teorias que nos resguardam do mal que é cair em cena, chorar, e acordar em outro cenário como um ator que, antes, era o protagonista, e agora, tão secundário quanto limpador de janelas de um edifício pequeno.

Teorias que se calam quando somos chefes durante anos, em uma instituição – tribunal, empresa privada, ou até mesmo um senador, deputado, em um congresso que aparentemente é símbolo de (e para) um povo – e, no dia seguinte, por pisar involuntariamente em um dedo de um ministro... (o que significa pisar em um faraó ditador), voltamos à origem do que somos... Mas o que éramos mesmo, antes de sermos chefes?

De tanto fazer as vontades dos ignóbeis metidos a deuses, durante anos, nos esquecemos do teatro da vida. Esquecemos a mudança. Podemos voltar a ser o que nunca deixamos de ser, uma pessoa, um ser humano sem revestimentos, ganhando um salário sóbrio, sem enfeites, sorrindo naturalmente, sem aquele peito inchado, notado apenas pelos observadores de plantão.

Voltamos a ler, a escrever, a assistir a filmes cômicos, não peças teatrais longe de nossas possibilidades, perto de nossos desejos. Voltamos a nos vestir sem moda, com um brilho simples, verdadeiro; a procurar amigos reais, aqueles que nos conhecem tanto, que nunca nos deixaram de nos chamar pelos codinomes, apelidos de infância...

Agora que entendemos a função do teatro, desse serviço divino pelo qual passamos como burricos, com exceção de alguns que se desamarram de seus cabrestos e fazem seus dias melhores, ainda em nome do grande teatro, ainda sim somos burricos presos ao que acreditamos conhecer.

Vamos fazer sempre da melhor maneira nossos papeis, em cada cena, sendo ou não protagonistas; vamos embelezar o teatro, não deixando que o mal vença, que se eleve e que grite, como em filmes de Hollywood, eu venci!

Podemos vencer sempre, amando e respeitando todos os atores desse grande teatro, porque, quando fecharmos os olhos na última cena, não nos arrependeremos  de entrar em outra.

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