Virtude. Uma linha imaginária que podemos seguir. |
Há algo que nos faz pensar que levamos pouco tempo para
compreender as coisas e fazer parte de seu mundo. Há algo que nos faz refletir
e acreditar que já o temos, e somos portadores, guardiões, sábios, como nos
grandes clássicos gregos, nos quais mitos se inclinam a contar exatamente o
contrário (e não entendemos)... De que as coisas que não entendemos de
imediato, como nossos próprios valores, não podem fazer parte de nossas vidas,
de nossa alma, de um dia para o outro...
É o caso da virtude. Não se pode dizer...”sou um homem
virtuoso”, acreditando realmente que é, enquanto vivermos em um mundo cheio de valores relativos – ou seja,
o que é bom para uns e ruim para os outros! --
o que contradiz a realidade estoica do significado de valores humanos e
universais, que dizem... “o que é bom para mim é bom para a humanidade”... Contradiz
até mesmo o que realmente somos...
Ser virtuoso, um ser moral, dentro dos paradigmas atuais, é
ser um ser que pode ser bom em algo, ou como se diz, com habilidades fora do
comum, quando se utiliza alguma ferramenta ou instrumento com objetivo claro. A
exemplo, temos trompetistas excelentes, violoncelistas maravilhosos, pianistas
idem, de modo a compor músicas belíssimas. Contudo, são virtuosos apenas
naquilo que demonstram em suas habilidades...
Outro conceito de virtuoso, esse já derivado do latim virtuosus, é ser homem honrado,
reservado, bem quisto pela maioria. Enfim, um conceito que se busca de forma
imediatista, mesmo porque fica perto do que podemos ter e ser. Tal conceito é
um degrau dentro da grande pirâmide conceitual, na qual podemos tentar subir os
seus inúmeros degraus e quem sabe entender o seu ideal. Apenas entender no entanto...
Em filosofia, assim como Platão, Epiteto, o mestre que fora
escravo, deixa-nos entender que virtude é uma realidade que levaríamos tempo
para adquiri-la. Ou seja, homem realmente virtuoso, assim como Justo, o Moral ,
o Ético, nasceria já com uma esfera natural para tais valores, e passando pelos
seus percalços sociais, teria somente o trabalho de alimentar seu conceito,
pois uma sociedade não faz o homem Justo, ou mesmo virtuoso; ele, o homem,
teria que ser, com alma reminiscente, com valores mais reminiscentes ainda, divino.
“O Homem virtuoso não precisa de mais nada”, dizia o Platão...
Já estaria, segundo o filósofo, dentro do que os mestres do passado chamavam de
ponto sagrado do homem (o nows),
pois, a levar em conta o que somos, precisamos de muito tempo para ser o que
realmente buscamos ser. E quando dizemos virtuoso, de modo filosófico, a
complexidade se inicia, pois não temos um conceito mais claro, apenas o que
precisamos entender.
Ou seja, quando me refiro a virtuoso, filosoficamente, é como
se eu falasse de um ovo, de sua estrutura, de tudo que ele possui e pode ser.
Nada mais. Ao homem, quando falamos em tal expressão, é como se quiséssemos entender
o ovo querendo entender somente a casca...
É mais que isso.
Um ser virtuoso é o elemento completo e sagrado, e humano,
beirando a compreensão mítica da linha imaginária pela qual passamos, e não
sabemos.
Na antiga Índia, tínhamos a Reta Ação, uma linha imaginária
que significava o caminho universal do homem em direção à sua origem, ao seu
ideal, natureza, e esse o fazia (e faz) de maneira involuntária, passando por
ela sempre que sofre por sua ignorância.
A Reta Ação, chamada também de linha Dármica, confunde-se
com o Deus cristão, que nos pega de surpresa, dando palmadas em nossos
traseiros magros, mas também iguala-se aos deuses antigos, os quais foram
personalizados tais quais os heróis do passado e nos colocavam na linha da vida
depois da morte... Ou seja, a própria vida seria a linha, e a morte nada mais que o final dela.
Ao passo que podemos interpretar que a morte, em si, estaria
dentro do contexto vital, e que seu ressurgimento seria apenas uma necessidade
às nossas transgressões, às nossas dúvidas quanto ao nosso poder. E, como
diriam os mestres, a volta seria o perdão dos deuses, e uma segunda chance à
nossa alma...
Voltando...
A virtude, para o homem, seria a linha em que nascera, e a saída
dela, nada mais que a nossa falta de virtude ou de outros valores. O homem,
enfim, para compreender o que seria tal expressão, teria que necessariamente
ter passado por todas as fases da vida, e, por fim, compreendendo o lado de
fora da linha, voltaria a fazer parte da Reta, agora de forma mais duradoura,
mais forte, como se ele próprio fosse a própria virtude.
Aos nossos dias
Hoje, em razão desse conceito filosófico ser um tanto quanto
complexo e de praticidade mais complexa ainda, nos permitimos em ser honrados
em nossos compromissos, ser gentis para com o próximo, ser amável a todos que
estão em nosso circulo – mais tarde – quem sabe, buscamos aos que dela estão fora...
Nos permitimos, em nossas possibilidades, colaborar para uma sociedade
melhor, ainda que errando, ou seja,
saindo de nossas linhas, mas voltando e quem sabe nos fixando ao que podemos
ser aqui e agora.
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