sábado, 19 de dezembro de 2015

Malvada (v)

O Outro Lado da Força


 

Há muito o que dizer da personalidade, essa selva escura ainda que o sol lhe bata pela manhã. Não vamos, no entanto, sobreviver das amarguras que ela nos proporciona, mesmo porque, como já disse, pode ser um mal necessário, ou mesmo a nossa malvada favorita, a qual nos ensina a lidar com ela própria, sem que possamos fugir para respirar de sua atmosfera.

E quando falo em atmosfera, olho para o céu, não metafórico, mas esse céu rico de estrelas dengosas, que vivem sendo elogiadas quando a noite cai. Não tem como ser diferente, são estrelas, e digo o mesmo quando nos referimos à nossa persona – é assim mesmo, não tem como ser de outro modo. Forte, firme em suas convicções – a de confundir os homens – embriagada de risos, semelhante aos dos vilões, os quais esperam que o mocinho apareça só para dizer.. “Era você quem eu esperava!”...

Essa é a persona, um vilão, ou melhor, uma vilã quando percebida, uma mocinha quando domada, um dragão quando aborrecido, ou quando descobertas suas entranhas malditas. Um monstro quando seus mistérios se revelam a céu aberto, com pretensões humanas em realizar algo.

Não por isso, deixaremos de ventilar um pouco acerca de sua natureza, que, como dimensões se adentram nesse veículo etérico do homem, também se adentram em vários sistemas de nosso universo, ou melhor dizendo, revelando em qualquer ser o seu modo de ser, de estar.

 
No universo, não sabemos, mas opinamos, baseados na tradição, que há elementos não somente etéricos – o corpo do planeta, das estrelas, dos astros em geral, mas a parte emocional, intuitiva, astral... intelectual – principalmente essa última – como pontos relevantes nos átomos formadores do cosmos. Não tem como negar.

No homem, a parte emocional se revela como a parte responsável por captar as coisas mais simples, reais e belas, como tudo que nos faz bem. A intuitiva, de uma natureza dimensional que capta a razão do Uno, e isso é muito mais forte nas mulheres. A inteligência, mais nos homens, singulariza uma característica quase terrena por perceber fatores mais sintéticos, como planejamento, organização, informação, enfim, a inteligência, por mais incrível que pareça, tem a possibilidade de errar na frente da intuição.

Há um fator, no entanto, que deixemos esse parágrafo solitário somente para falar dela.. da Vontade. Essa lanterna que clareia as ambições e as torna objetivos, os quais, clareados por ela, se transformam ideais... E estes, em caminhos que integram o homem dentro de uma realidade natural não criada, ou seja, uma realidade que se sobrepõe aos quesitos anteriores.

O homem, em si, possui todos os elementos universais. Do mais ínfimo átomo, ao mais complexo dele – e isso fisicamente. Possui, também, o mais interno, invisível, indivisível átomo ao qual se referia Demócrito (filósofo grego). Falava o mestre acerca de outro tipo de átomo... Aquele que se resguarda no íntimo do universo, que  o faz andar, trabalhar, antes do aparecimento do átomo físico...

É o mesmo átomo grandioso, a que se referia os grandes filósofos quando falavam do inicio do universo, ou seja, poderiam falar até mesmo dos deuses... Estes aos quais “perambulam” na terra, no ar, na água, no fogo, de modo a seguir, em sincronia, a toda forma de harmonia do todo.

 

 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

A Malvada (iv)

Percepções Coletivas






 


Há 30 anos, perdíamos a esperança de um início de um governo melhor, após mais de vinte anos de Ditadura. Tancredo Neves, um dos maiores políticos da História do país, morria vítima de uma provável infecção hospitalar. A comoção foi total; e eu, um pequeno ser que acompanhava de olhos abertos, pela televisão, todas as notícias referentes ao caso, chorava como criança...que eu era.


Mas eu não sabia de patavina nenhuma, ou melhor, nem de patavina nenhuma eu sabia! Minha cabeça estava voltada a jogos de futebol de criança, de brincadeiras na terra, de carrinhos de rolimã – o que hoje me dá uma saudade, quando passo pelas ruas vazias de minha cidade --, enfim, meus miolos só estavam presos à televisão pelo fato de todos, além de minha sensível mãe, também estarem! Era, no mínimo, estranho...


E depois de várias notícias sem esperança alguma, as quais minuciavam seu esmorecimento, veio o pronunciamento da notícia (menos) esperada... “O senhor Tancredo Neves, presidente eleito da República Federativa do Brasil, acaba de falecer”. Muitos diziam que ele já o tinha há muito tempo, só era uma questão de coragem por parte da assessoria dele, a qual, por motivos políticos, preferiu postergar o enunciado sombrio.


Todos foram ao chão; choravam, caíam, outros se suicidavam, mais alguns se abraçavam, e eu, que não sabia de nada, ao vir aqueles parentes, amigos, mulheres desconhecidas, sem falar em bebês de colo... por que não choraria? Foi um momento que, mais tarde, me questionei.. “Por que eu senti tanta a partida daquele ser, se eu mesmo nem sabia quem era ele? Por que muitos o fizeram da mesma forma, ainda que adultos?”..


Depois de muitos anos, quando cresci, percebi, dentro de uma linha junguiana, que estávamos a passar pelo chamado inconsciente coletivo. Este, reflexo de uma necessidade fomentada na semântica humana, quando focada em algo, como a miséria, trabalho, tristeza, alegria... vem como uma grande alma, embriagando a todos.

Sei que as explicações são vagas, mas não há outro meio explicativo. Falemos de outro.


Outro exemplo interessante ocorreu na Itália, em 1917, quando três crianças viram uma santa prostrada acima de sua cabeças, como se em uma montanha estivesse. Era o chamado o Segredo de Fátima. Ali os pequenos a escutaram e revelaram mais tarde aos papas o que a Santa queria. Tudo envolto a um sistema que, a época, estava mais que desestabilizado politicamente; estava sucateado humanamente, ao ponto de uma grande necessidade interna se sobrepor ao concreto.


Era o inconsciente coletivo. Da grande necessidade psicológica de uma solução, o inconsciente se formou. A miséria na maioria, a luxúria em excesso a poucos, a indignação, tudo, de uma forma contundente, se fez, se elevou e “concretizou-se” em uma grande imagem... da Santa.


É possível? Não sei. Sei apenas que seria muito de nossa (minha) parte acreditar que há um deus cansado das mazelas humanas, e que nos envia uma santa, com fins de nos ameaçar com segredos misteriosos, como se já não tivéssemos passado anteriormente por perturbações terríveis antes da aparição!


É a força da personalidade, desse dragão misterioso, do qual nada sabemos, mas que, por se tratar de um quase patrimônio nosso,  tentamos compreender com nosso olhar sutil e ao mesmo tempo singular. Isso, no entanto, não é o suficiente para que sejamos experts em personas, pois, se ainda duvidamos de seu poder, e colocamos culpa em deuses e demônios; é porque estamos ainda engatinhando na terra nada fértil da ignorância.


É a força de um segundo ser, que nos assombra de modo individual ou coletivo, e nos revela, com faces mil, o que somos e o que deixamos de ser. E dentro dessa meia premissa, dessa má esculpida face, que buscamos nossos caminhos, nossas reais pontes, nossa luz. Não há outro meio.


Vamos, com nossa parca visão acerca do ser, do que realmente somos, tentar visualizar a saída da boca, a luz real que nos aguarda fora desse corpo, dessas emoções, dos nossos desejos. Tentar já é um passo fundamental para quem acredita que somos donos de nós mesmos. Para sê-lo, no entanto, deve-se ter a certeza de que somos o que está além disso, desse monstro – a personalidade.


 

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Malvada Favorita (iii)



O oceano dentro do pingo 

Um mergulho no pingo



Vamos “baixar a bola”, como diz no ditado popular, significando “vamos por os pés no chão; ser mais humildes”... e impedir que nosso assunto se resvala pelo ralo...

A personalidade pode ser entendida na prática como aquela que nos sintoniza com os mundos físico, astral, intuitivo, intelectual, psicológico, enfim, até mesmo com o espiritual, ou seja, é ela que se faz de ponte entre tais subcorpos, que, percebidos por uma dor, por uma atenção, percepção ou mesmo uma ligação entre todos esses subcorpos e um elemento mais sutil, se revela útil ao homem.

Na maioria das vezes, no entanto, para dizer a verdade, noventa e nove, vírgula nove, por cento das vezes, sintonizamos o papel da personalidade sem saber, o que nos torna mais volúvel a ela e ao que pode nos fazer. Quando eu digo “pode-nos fazer”, estou falando de dentro dela, mas com um foco mais centralizado, ou melhor, ilustrando, estou dentro do grande monstro, mas observando a saída pela sua boca.

A intenção daquele que conhece a persona nada mais é que sobreviver a ela, não matá-la, como pede uma ocultista... (“mate a personalidade!”), não é isso, mesmo porque teríamos que reencarnar milhares de vezes para fazê-lo, o que demandaria uma reeducação em nossos princípios... Por isso, nossa maneira de sanar nossas configurações humanas não é eliminando o monstro, mas domando-o...

Sei que muitos ocultistas são contra tal premissa, pois sabem que a personalidade engana e destrói, porém há filósofos tradicionais que nos ensinam a lidar com ela, pois sabem que, sem ela, não há ponte, não há caminho, nada. E desde o primeiro livro de filosofia até o mais atual, pretende-se domar tal monstro, seja por meio de pequenos argumentos ou grandes, que nos elevam, transformam e nos fazem identificar com ela. Sabem eles que o pingo está no oceano, mas o oceano também está no  pingo!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

A Malvada Favorita (ii)


Processos Personalísticos



 

Explicando melhor a personalidade... Ela, em termos filosóficos, seria um conjunto de subcorpos que estão como parte do individuo, como uma série de elementos naturais, os quais estão no homem, não somente, mas também, em qualquer espécie viva – no sentido perceptível da questão, e em outras que são subjugadas como não vivas.

Explico. Tais elementos internos, com características que variam de ser para ser, seriam como dimensões cósmicas, e não deixariam de se alocar no homem, o qual, por natureza evolutiva, deve levar tais elementos personalisticos, a quase se materializarem em seu comportamento, em suas falas, etc.

Ao contrário dos animais, que os têm (tais elementos personalisticos), o homem possui o livre arbítrio, o qual, por processos evolutivos, transforma a personalidade em algo maior ou menor, a depender de seu uso. Assim, a personalidade, como “objeto” necessário ao ser humano, pode sintetizar-se em ponte ao seu ideal, objetivo, projeto... enfim, consecuções materiais ou psicológicas, ou descer aos infernos dela, revelando-se tão frágil em seu autoconhecimento, como em progredir, em evoluir dentro de um universo que o espera há milênios.

Por quê?

É uma pergunta interessante... Ainda que saiamos pela tangente com a seguinte máxima “É bom para crescer”. Sim... O mal, a depender do seu nível, nos serve para desenvolver mentalidades, experiências, amadurecimento, ainda que não queiramos. A questão é que sempre apostamos no real crescimento, isto é, do sofrimento que nos leva a conhecer um pouco mais de nós, pelas dores. E nos conhecendo... conhecemos o próximo.

Contudo... estamos em uma época em que gerações sofrem pelos sistemas, ou melhor, em uma época em que não se há uma personalidade histórica para entender o próprio processo. Tudo isso simplesmente porque o núcleo disso tudo – o homem – não aprendeu a lidar com os pequenos ciclos naturais porque ele mesmo passa.

 


Continua...

 

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Personalidade: a Malvada Favorita


máscaras gregas: nossa personalidade.

Vamos deixar de falar sobre os mitos um pouco, e partir para algo mais familiar. Vamos discorrer acerca de nossa persona, máscara, a qual possuímos como se ela fôssemos, ou melhor, como se nada pudesse dela nos separar. E não podemos há de convir. Pois embebido de seus dissabores, de suas dores e desalentos, morremos e vivemos a cada instante em nome desse fantasma concreto que nos aprisiona, nos tortura e nos ilude ao que vemos e ouvimos, simplesmente por que somos seus escravos, até a morte.

Falar da personalidade é recorrer ao nosso meio, a nossas ações, às nossas opiniões, aos nossos atos. Mas também é recorrer aos nossos objetivos, ideais, mesmo porque ela, a persona, nada mais é que uma grande ponte que nos separa da sabedoria, nos deixando, na maioria das vezes, na escuridão da ignorância.

É por isso que, no início, quando falei do monstro, falava desse ser oculto e ao mesmo tempo tão opaco quanto à noite, o qual nos revela seus planos de destruição sem que possamos fazer algo para evitar... Se não tivermos as ferramentas para tanto, claro. Enfim... O que é a personalidade?

Vulgarmente, ou popularmente, Personalidade é o conjunto de características psicológicas que determinam os padrões de pensar, sentir e agir, ou seja, a individualidade pessoal e social de alguém*, quer dizer, dentro do âmbito psicológico da questão, podemos dizer que a persona nada mais é do que aquilo que nos define, para o mal ou para o bem...

Contudo, em estudos a partir de filósofos clássicos, como Platão, Plotino, Pitágoras, podemos repensar esse conceito. Todos eles tinham em vista um ser que se apoderara de nós em nascimento, até o desprendimento pos-morten. Tal ser já estaria com características próprias com fins de amadurecimento, com vistas ao que jaz em nosso mais intimo ser.

A personalidade, dessa forma, já teria, ao contrário do que pensam os psicólogos, uma missão, a de encontrar o livre arbítrio, e dentro dele a linha imaginária que separa o bem do mal. Delineando melhor... A persona seria o acúmulo de causas e consequências que somamos e dela vivemos, da forma mais prática possível.




Continua...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Artur. O Mito que Chama (fim)


O Sol que nos falta brilhar



Hoje, ao me levantar, procurei Artur em mim, esse rei que se alimenta de nossos ideais. Mas não o encontrei. As damas de Avalon o tinham levado, em uma barca imensa, com seu peito ferido da batalha que havia travado com seu oposto, o filho bastardo com sua irmã, Morgana. Porém, antes de procurá-lo, pensei em uma frase de um mestre que há muito fez parte de minha vida, e que só hoje, nesse tenro acordar, tive a grande oportunidade de entender o que me dizia, há mais de quinze anos... “Se procuras Deus, mas já o tem em suas possibilidades, não precisa procura-Lo, pois já o tens por completo”.

Eu procurei Artur, não o tinha visto ante ao meu caminhar claudicante da manhã, mas ao me lembrar do que o mestre havia dito, lembrei-me, mesmo não “vendo” em sua forma mítica; eu já o tinha... E por isso, relembrei de minhas tentativas vãs de lidar com as pessoas, de me assentar a personalidade vazia, com o propósito final de ser um pouco melhor, todos os dias. Por que isso?

Era Artur a bater na porta de minha Alma, a bela Guinevere, a qual tinha se ido após se apaixonar por Lancelot, o cavaleiro que nascera para ser apenas o salvaguarda do Rei, mas que representa em mim a vontade, com sua espada, Excalibur, por meio de meus atos, antes esquecidos, mas agora lembrados, em função dessa busca, enraizada em preceitos clássicos... A melhorar um pouco como humano. Não como Deus.

Contudo, em razão das intempéries e das turbulências que encontramos com fins de provocar Guinevere, Lancelot fica abalado, se distrai e não tem, por segundos preciosos, a visão de Artur, o qual o aguarda em seu trono dourado. Ali, ao seu lado o graal, a potencialidade maior do homem que chegou ao cume da maior montanha que se pudera alcançar; ali, com sua simples borda, cheia de água pura, com sua astralidade divina, a taça que passara pelos mestres, irradia a fé na terra, nos homens, nos ciclos.

O graal, por assim dizer, deve sempre estar ao lado do homem-consciência, daquele que alcançara o número cinco, ou seja, que tangenciou todas as formas de natureza do homem comum e alcançou o mistério maior, e dele vive. Nada mais belo que isso.

O UM



Sabemos que o universo é um, que todas as formas atômicas, quando descobertas, têm sempre uma finalidade, a de completar a próxima. Sabe-se que não há qualquer forma que não esteja fora dele, do Uno, nem mesmo a mais complexa, pois seria falar de um corpo cuja natureza não tivesse algo com qualquer membro interno ou externo.

E o Universo, como um corpo, precisa se comunicar com o seu centro, com vistas a equilibrar seus “órgãos”, como uma regência imensa, no meio do nada, incriada, perfeita, que, por meio de nossos olhos, se passam, mas se escondem quando devem se esconder. O que não significa que não existe.

O centro do nosso universo é Artur. Sem ele não há equilíbrio, não há harmonia, nem o porquê de nossas estruturas sejam elas físicas ou emocionais de viverem. Por ele deve-se viver, falar, sonhar, ainda que nossa vontade esteja com seus sonhos corrompidos por Guinevere, que se apaixonou pelo efêmero.

Ela, ainda que leve tempo, irá acordar no meio daquela selva, juntamente com Lancelot, entenderá que a espada ainda corta, é implacável, e ainda sustenta o sangue das antigas batalhas travadas em nome do belo, bom, justo e verdadeiro, e por isso teremos a esperança de que ela irá atrás de Artur no momento certo, o qual acordará e dirá “A humanidade agora está pronta pra mim”.

Levará tempo. Muito tempo. Mas Artur estará tão concreto em nós quanto o sol que nos ilumina todos os dias.


quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

O Monstro


“Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte...” (Bíblia)
´


Queria falar de um monstro que vive a nos mastigar diariamente. Um desses demônios que nos assombram em horas vãs, nas quais precisamos meditar acerca do que somos; preciso falar dele, desse ser grandioso (no sentido mais franco da palavra), ao mesmo tempo belo e terrível, e tentar não elucubrar, mas ser explícito, no sentido mais moral do meu ser.

Falar de um monstro do qual Marcus Aurelius, o grande general romano, além de Epíteto, o qual, apesar de ser um escravo, sempre se lançou ao fogo em nome de sua grande moral, ética, entre outros valores universais, que retiraram o sumo natural da vida, sempre com vistas a dominar esse dragão imperdoável, esse ser vil, que nos afasta de nossos mais intensos ideais.

Não é raro ouvir ou mesmo falar, sentir, cogitar, sussurrar acerca dele, mesmo porque não vivemos sem ele, não seremos quase nada sem ele – esse dono dos infernos, das larvas que nos queimam, do desamor que corrompe, do fogo mal que faz cinzas... – não. Todavia, não temos que nos livrar dele, como diria um velho sábio, temos que nos envolver, sentir a simpatia hipócrita de seus olhos, deixar que nos mastigue e depois aprender com ele...

Não falo do dragão e dos seus elementos intrínsecos, dos quais água, terra, ar e fogo se encontram unidos, presos como vela ao fogo, mão e luva, os quais nos ensinam que olhar para sua face maldosa nada mais é que uma necessidade e, ao passo, impiedade. Falo de um real monstro, nada mais, preso ao nosso físico como um habitante sem fuga, sem janelas para olhar o sol; um demônio que se satisfaz com nossa fraqueza ante a matéria, ao amor mentiroso, às paixões que se formam do nada... a nossa ilusão.

Não falo de algo visível, palpável, reconhecível... Por isso, essas metáforas lúdicas, míticas, na maioria das vezes, perceptíveis como uma estrela no céu a esse ser enganoso, manhoso, ao ponto de nos ludibriar com sua voz e comportamento, fazendo-nos culpados pelos atos pós-raciocínio...

No fundo, no entanto, reconhecidamente, somos culpados, pois não conseguimos afastar jamais esse ser incriado e fadado a nos irritar até o fim de nossas vidas. Um ser que nos faz assassinos e anjos, papas e hitleres, deuses e demônios, sem que possamos adivinhar, sequer, o porquê de tanta maldade... Da sua finalidade, entretanto, sabemos.

Segundo a sabedoria tradicional, nascemos com finalidades de evolução interna, crescemos com essa certeza, que mais tarde serão dúvidas, e morremos sem entender a natureza dessa vinda e ida natural, pelo simples fato de tentar entender esse monstro vil, que se aplacou em nosso mundo: chamam os sábios, a tudo que não é espírito, de personalidade. Então chamamos e esse monstro de personalidade. Ou máscara, como diriam os gregos.

E dessa máscara, após terminarmos nossas teorias acerca do mito arturiano, sob prismas psicológicos, vamos sobre ela falar...

 

 

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Artur. O Mito que Chama (v)

prisma psicológico












Acabamos de falar um pouco da parte mítica de Artur, o que não nos era idealizado até agora, mas quando falamos dele estamos propensos a mergulhar em um mundo antimatéria, cuja semântica chega perto de um infinito pouco imaginável.


Queremos, todavia, não nos aprofundar nele – nesse agradável mito arturiano – mas entrar na parte psicológica, palpável, imaginável, ao passo também agradável e prática. Nessa parte, podemos partir de princípios visuais, dos quais podemos citar exemplos diários nos quais estamos inseridos, e ao mesmo tempo... cegos.


Voltando a Artur


Quando queremos nos tornar forte, sempre nos baseamos em referenciais fortes, e quando queremos ser bem informados recorremos a professores, e quando sábios, a mestres. O crescimento pode ser em todas as vias, sejam elas internas ou externas. Não adianta, há sempre alguém do nosso lado a emitir opiniões das mais caras, e na maioria das vezes das mais baratas. Mas o mestre trata de nossa espiritualidade!


Já que não temos a espiritualidade, pelo menos como se pede o manual dos sábios (!), forjamos a nossa dentro do nosso meio, trabalhando pontos naturais com nossa ferramenta psicológica, com a qual, mais tarde, podemos ascender, nos elevar e quem sabe compreender um pouco do que somos.


E ao falar de Artur psicologicamente, falamos de um ponto interno, um ponto mais profundo que o self, ou Parsifal, como queiram, o qual fora citado como a parte mais pura do homem, mais madura, simples e ao mesmo tempo forte. Artur é a consciência maior. É o Homem, a realização utópica da Verdade e da Justiça.


Antes, vimos que a natureza resguarda ao individuo uma série de experiências inerentes a ele, das quais ele deve, por obrigação, passar, resolver, sintetizar, realizar, vivenciar... Enfim, crescer, sempre com vistas a ser um Artur, nosso ideal. Ou seja, o rei como sinal de claridade maior na vida humana nada mais é que uma realização maior seja espiritualmente, seja psicologicamente...


E quando falamos nesses termos (psico), é provável que sejamos mais teóricos do que o de costume, pois, em se tratando de aspectos relativos à personalidade, não há uma forma na psicologia que torne a busca perfeita, assim com a espiritual, mesmo porque não há elementos, como o há nos mitos, para sustentar o que pede.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Artur. O Mito que Chama (iv)

Artur e o mundo sombrio.












Artur, o nosso céu. Tão perfeito, tão justo e tão real, que nos parece um mito. Indecifrável por excelência, a comandar uma legião de cavaleiros lendários, com os quais se reúne para contar suas histórias em uma grande távola redonda, nosso Artur existiu, mas não com esse sentido; mas de tão perfeito e celeste que foi, comungou vários elementos clássicos e se transformou em um dos mais belos Mitos da História.


Quando falam de Artur e de seus cavalheiros, falam de um gama de elementos que o próprio universo possui, e que foram, no passado, esmiuçados pelos filósofos antigos, como Platão, por exemplo, ao citar no Timeu Demiurgos e Devas. Ou seja, o mito possui elementos dos quais podemos retirar ideias platônicas, pitagóricas, de modo a configurar por meio deles a vida do homem.


Artur, como disse, seria esse céu no homem (o nous). A nossa Alma, sua esposa Guenever, que faria o papel de rainha, levando todas as características de uma alma volúvel (psique). Lancelot, a Vontade pura no homem (soma).


O mito, ao trazer esses elementos, estrutura-os de forma a nos trazer à tona o que realmente deve ser revelado, não velado. Contudo, por ser tão universal e possuir requintes além-racionais, somos obrigados a intui-los. E nossa intuição, racionalizada (ou seja, de acordos com preceitos universais), percebe que fazemos parte dele.


Artur é o elemento desejado, o ideal humano, e mais, é a simbologia de um tempo que se realiza e depois de sua queda se transforma em sombras. A causa: a Alma nossa, Guenever, que se apaixona por Lancelot, o qual significa o corpo, a vontade, que, antes voltada a Artur, decai, juntamente com a alma, em razão da traição.


A terra, antes, florescida em uma primavera quase eterna, em meio a vitórias dos grandes cavaleiros, agora precisa se levantar, encontrar a si mesma, assim como os homens que se perderam, quando todos os elementos se voltam à sombra.


A parte humana de Artur, aquela que nos loga ao universo, sofre com as agruras de seu reino, refletindo no físico, no emocional, em seu astral e o pior, na sua vontade. O que pode levar o rei a construir seu mundo novamente, apesar de uma alma volúvel e de uma vontade voltada aos desejos. O que se pode fazer com tais aspectos que devassam a alma do homem, retirando-o do seu caminho o grande ideal?

Voltamos.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

"Ontem eu vi, hoje eu sei" *











Não se pode mudar o Cosmos – mudando, acrescentando ou dando-lhe algo; nenhum mestre o fará pensar ao contrário, mesmo porque nada se acrescenta a Deus, pois não se tira ou se dá ao ouro, pois sempre será ouro.


Nas estrelas que brilham solitárias, nos planetas que respiram pela gravidade eterna, pelo silêncio das explosões dos universos, pelo amor que sonda o início e o meio e o fim das eras, acrescenta-se apenas o que se nasce todos os dias, os átomos – tão invioláveis quando sua semântica que o faz aparecer por meio de outro átomo, e assim por diante.


O Cosmos é Deus, e Deus é o Cosmos. Não há como saber sua extensão, seu Amor, sua Justiça, sua Verdade, pois estaríamos como frívolos grãos de areia a compreender o mar bravio, que não cessa, que transforma, que move a vida.


Mas dentro de nós correm tantos átomos, tantos mares quanto se pode contar em uma vida, e dentro dessa vida, agora tão microscópica, singular e protegida, mais mundos há. Por isso, busquemos em nós a paz tão almejada pelo maior dos humanos, ou pelos mestres que moram em nós, que reivindicam o conhecimento interno, que nos fazem melhores  a partir de nossa religiosidade – a única que nos pode fazer humanos.


 
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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Artur. O Mito que Chama (iii)

Parcifal 










A força mítica da história talvez não esteja no Rei Artur, mas em um escudeiro que se preparou, graças aos seus sonhos, em um grande cavaleiro. Não falo ainda em Lancelot, o braço direito de Artur, mas de Parcifal, um adolescente, que em meio à floresta (novamente!), consegue visualizar, de longe, cinco cavaleiros que, segundo conta a lenda, foram inspiração para o jovem se tornar de neófito à figura mais profunda do mito.


Parcifal, ainda cru em sabedoria, teria se assustado, como uma criança, ao ver os grandes cavaleiros de Artur a cavalgar belamente no meio da noite. Após isso, fez o possível e o impossível para que se tornasse um deles.


Deixando família – casa, mãe, pai, irmãos, os quais já tinham lutado como cavaleiros no passado – se embrenhou no mundo e conseguira encontrar donzelas, homens de ideias estranhas, cavaleiros sem rumo, mas, Parcifal, em sua trajetória, sabia que jamais deixaria de realizar seu maior objetivo... Ser um cavaleiro de Artur. E conseguiu.


Após defender causas honrosas, até mesmo a Guinewer, a rainha, passara a se portar como um dos principais personagens da história que demonstraria o papel do crescimento do homem, ou melhor, da adolescência à fase adulta.


Parcifal era o símbolo da pureza, do homem que ainda não tinha se contaminado com as agruras da vida. Por isso, seria o próprio Ideal Humano, pois nele resguardava-se apenas sonhos, perseveranças, paz, de modo que se assemelhava a um rio ainda não percebido pelo homem, portanto límpido.


E em sua jornada, em ser um grande cavaleiro, nosso herói percebe que é preciso lidar com a parte humana, cadenciá-la, canalizá-la ainda que o perigo seja grande. Não era nada fácil, pois a corrupção estava em qualquer lugar do mundo, em forma de donzelas e até mesmo de cavaleiros do mal, mas ele, no entanto, belo por excelência, conseguiu lidar com tudo isso graças a grande educação que recebera de sua mãe, Dor no Coração (nome da mãe).


E por ser filho de um grande cavaleiro, ficou mais fácil ou pelo menos melhor para enfrentar as lhanuras do mundo. Assim, depois de muitas cavalgadas, descobriu que seu coração precisava se completar. Precisava de uma mulher pela qual lutar, cortejar, tornar-se homem.


Aqui, somos buscadores dos mistérios humanos, da parte que nos prepara para a elevação, assim como um príncipe nos contos que necessita lutar por uma princesa, a matar dragões, monstros, enfim, passar pela parte psicológica do passado e ganhar a consciência maior.


Parcifal encontra Artur, quer lutar por ele; quer subir, ser cavaleiro também; Parcifal precisa de referenciais, caso contrário volta para casa, e volta a ser apenas um sonhador. Essa prima consciência do herói nos torna mais humildes, mas ao mesmo tempo nos faz entender que precisamos deixar de ser um pouco Percival e enfrentar o maior mal de todos. O cavaleiro vermelho.


 Cavaleiro Vermelho


Este ser belo e ao mesmo tempo amplamente simbólico nos faz buscar o que somos e o que temos em nós mesmos, e reconhecer que temos ainda pedras a remover em nossas almas. Este cavaleiro para alguns é a parte mais difícil de enfrentar, pois estamos falando de uma personalidade que vive do passado, e se fortifica a cada instante pelo que deixamos no caminho. É a contraparte de Artur.


Para outros, é a melhor forma de crescimento, simplesmente pelo fato de que é a última indagação a ser feita antes de se tornar homem. Por isso, enfrentar o Cavaleiro Vermelho, que inflama nossas mentes, e nos pede duelos nos quais sempre vence, é buscar, como dizia Blavatsky, passar pela porta de papel – ou pelo menos, uma delas! – pois é apenas uma forma não real, imaginária, que construímos ao longo do tempo, e que se tornou forte tal qual uma pedra.


Parcifal enfrenta o cavaleiro, encontra sua ou metade, e tem o aval de Artur para ser um dos seus.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Artur. O Mito que Chama (ii)

A iniciação








Quando Merlin, o grande mago, nascido das mais místicas casas de iniciação, aparece na vida de Artur, percebe-se que não é mais o pequeno Artur, o adolescente, que se indigna por maus caminhos, nos quais se deve se passar; sabe que os mistérios se faziam em concreto, na forma de um mago que mudaria a trajetória, desde a espada presa na bigorna, até sua ida para A ilha das Deusas.


O Ponto culminante, no entanto, na história de Artur, agora o homem, o destinado, é a retirada da espada mítica, vinda da deusa do Lago, com fins de fazer apenas o Bem, abrindo frestas, mares, florestas, enfim, tudo que se assemelhava a caminhos esquecidos, apagados, os quais seriam abertos pelo rei.


Artur, ainda o auxiliar de cavaleiro, um mero escudeiro, que zelava pela espada do adotivo irmão, a deixara escapar das mãos, e lá na frente, quando a vira (ou pensando que fosse ela) encravada numa pedra (a história real diria uma bigorna), a retira da forma mais simples e pura, sem refletir, sem a corrupção ou mesmo interesse próprio...


Ele havia retirado Excalibur, a espada que teria sido do seu pai, e por ele corrompida, mas trazida de volta por Merlin, o que teria dito “Aquele que retirar a espada da pedra será o Rei”. Uma dor de cabeça àquele ser que nascera para governar a terra, o mundo, ou pelo menos um reino que simbolizava o universo humano. Uma experiência que levara Artur a sujeitar-se a brigar com seus irmãos e amigos, os quais não o aceitavam ainda com um mandante, pela inexperiência visível...


Mal sabiam, todavia, que tal falta de prática, nada mais era que uma necessidade, pois o grande cavalheiro, o futuro rei da terra, teria que ser puro, inviolável, casto em experiências das quais somente os grandes sabiam. Artur, por ele mesmo, ficou em transe, pois teria que mudar de modos, de pensamentos, de todos os atos que antes o caracterizavam adolescente...


E sua primeira lição foi indagar a Merlin, seu mestre, entre florestas (ou bosques) como um fugitivo de si mesmo, de tudo; e ali, nas entranhas da natureza, escutava apenas o bater do coração da natureza, em forma de grilos, lagartas, moscas... répteis, e sentia que por traz de tudo havia um principio do qual suas perguntas ainda balbuciavam em sair: o dragão.


Merlin dizia que ele, agora, fazia parte daquele ar, do coração imenso que batia naquela floresta, do hálito forte do dragão. Que Artur era o dragão. A iniciação tinha essa finalidade, de fazer o grande Artur a criar uma personalidade voltada ao Uno, de modo a sê-lo, e por ele lutar, como se fosse o Todo.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Artur. O Mito que Chama




Acredito que todos já tenham assistido ao filme, ou lido um livro, visto um desenho, ou até mesmo ouvido alguma coisa sobre o mitológico rei Artur. Então não vou me deter em falar muito, apenas desmembrar psicologicamente a parte dele – desse mito – com vistas a fazê-los entender o que significa, ou pelo menos chegar perto a isso.

O Rei Artur se transformou em um símbolo maravilhoso, do qual tiramos nossas visões semânticas para uma vivência relativa ou para a compreensão universal do homem– assim o é quase todos os mitos, ao segredar a parte mítica, e revelando a psicológica, ou seja, dando margem aos homens de se infiltrarem em suas margens, pois não conseguimos adentrar em seu meio pela pouca ferramenta que possuímos.

O Peixe

Muitas histórias em torno dele, do Rei, e uma delas conta o inicio de sua adolescência, aquela fase na qual a maioria dos jovens mergulha em mundos misteriosos para sua ascendência interior. E Artur, um dia, ao sair do castelo, se perdeu em uma floresta (ou em um bosque, como sempre!), e viu um acampamento abandonado, com uma lavareda de fogo que supostamente esquentava seus possíveis hóspedes, os quais não se encontravam nela.

O Rei, que ainda balbuciava questionamentos, não teve medo de se aproximar, e viu, em uma vasilha, um peixe (símbolo da sabedoria em diversas culturas, entre elas a cristã) que ainda borbulhava pelo calor da fogueira que o tinha esquentado. Com fome, o adolescente pegou-o, levou-o até a boca e... Queimou-se. Tal atitude o fez largar o peixe e deixa-lo cair no chão.

Segundo algumas civilizações, o peixe representa a sabedoria, ou o início dela. E quando Artur, na fase em que se encontrava, se queima com ele (o peixe), temos que entender que há uma manifestação por parte da natureza em fazer com que passemos por situações extremas, nas quais o ensinamento nada mais é que entendê-la.

Artur, naquele momento, passava, como rei, pela psicologia natural dos homens, a de conhecer a vida, sua intenção, sua profundidade... Mas não conseguira de início. Por ser ainda frívolo em seu comportamento, que não seguia por completo a ordem natural do uno, queimou-se e percebeu o quanto queima quando não segue a grande disciplina da Vida.

É o conhecimento. Nele Artur vai mergulhar, vai ser um sábio, vai se imortalizar, mas naquele instante, se queimou, pois estava além de suas possibilidades entender a vida. No entanto, nada melhor do que da maneira mais impiedosa para entender que tudo tem seu tempo, e ele, assim todo o jovem, terá.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Uma pausa para lágrima






Em meio a guerras de terror aos países das Europa, principalmente na França, agora mais do que nunca somos obrigados a assistir a outras guerras, a da audiência nas tevês, das opiniões  mais contundentes em relação aos conflitos, da política sem nervos a testar o ânimo humano, como uma grande cobaia, em um imenso laboratório, chamado terra.

A frialdade se esvai na incompetência de empresas que nos asseguram proteção em barragens, as quais não protegem nada, muito menos o ser humano. Lama. Mortos.
Destruição. Morte. Dor. Dissabor. Morte. É uma canção de ninar o demônio mais perfeito do imaginário coletivo, e ainda somos obrigados a ouvir as inenarráveis façanhas de um governo perdido nas circunstâncias.

Lembro-me, nesse contexto, de dragões imensos tomando vilas, cidades, entres outras sociedades, e o homem, sem o herói que há muito iludia o monstro, observa o céu em chamas, e com lágrimas roliças em um rosto sujo de cinzas, não consegue nem mesmo clamar a Deus. O que houve conosco?

Amanhece, e sol, maestro, em meio à dor, surge potente, carrancudo, raivoso, criminalizando a raça que matou a esperança, desfez a imaginação, os sonhos, e nos fez pisar em uma realidade inconteste. A esperança, no entanto, sempre há, não morre facilmente. Joga-se em frente aos caos, manifesta seu apelo de vida, ganha espaço no chão, caminha junto ao homem... e o faz respirar.

A esperança é a arte, a beleza, a simplicidade; são os pequenos mistérios que deram origem a todas as raças, e hoje, como sempre, levantar-nos-á do mal que criamos e dele não conseguimos sair. A esperança é a humildade, em forma de reconhecimento próprio, aceitação dos erros, e a beleza em reconhecê-los como seu, dando novas chances a si mesmo.

Em meio a essa guerra, que nos faz morrer aos poucos, sem ouvir o bater das asas do beija-flor, o roçar das pernas da borboleta, o sorrir da joaninha, o som dos raios do sol no mar, ouço o som de piano, cujas teclas soavam o mais clássico dos ritmos. Esse ritmo, tão diferente ao povo, que fora sujeito às tempestades sonoras, aos sons mais ensandecidos da mente humana, naquele instante, vibrava na alma dos anjos mal vestidos, rostos sujos, os quais sem nunca terem visto um grande instrumento, tornaram-se estátuas biológicas, e porque não dizer divinas.

Shakespeare talvez tivesse dito, em sua semântica eternamente analógica ao universo, “Como miseráveis que roçam a terra, e que em suas unhas sujas colhem o verme, viram Deus na face oculta da beleza, da qual saíra uma lágrima de dor”.

Uma dor inimaginável de paz, que alcançara a última nota no mais edílico lugar da alma humana, o que fez todos eles – aqueles humildes homens – acordarem num paraíso, sem virgens, sem mel, sem cachoeiras, num palco em que somente a música os tornava mais humanos.


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* Acima, Jaci Toffano, pianista internacional, faz apresentações em vários locais no Distrito Federal.
 http://www.jornaldebrasilia.com.br/viva/653914/pianista-internacional-faz-concerto-em-locais-do-distrito-federal/

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Tempos de Guerra






É tempo de guerra, tempo de buscar a paz nos campos minados, junto aos companheiros veteranos, acostados nas trincheiras, no barro da chuva, que desloca a bota, a qual se enlameia, que nos faz pensar em casa, no café da manhã, nas lutas pequenas com a parceira, nas lutas de mentirinha com seu filho... Enfim, já estamos com saudades das palavras deslocadas que soam como perfume que inundam nossos dias.

Mas temos que andar, procurar e encontrar um abrigo, pois a guerra nos faz de formigas medrosas, as quais carregam rifles em vez de folhas. Tão pesados, tão donos de nossos martírios, que precisamos descansar antes da própria batalha.

Precisamos pensar, e não conseguimos. As bombas do inimigo são como uivos de lobos antes de virarem pó ao lado de nossas tendas; cantam com seus sons maravilhosamente horripilantes, e se não fôssemos soldados, partiríamos como crianças nos braços de nossos pais.

Sei que não estamos em guerra, mas deveríamos. Há muitas contradições em terra, das quais só se podem tirar as reais dúvidas, respostas, pela guerra. Hoje, com a nossa passividade, assinamos nossa morte, nosso desalento. Estou me referindo ao campo mais pútrido do mundo, a política, principalmente neste país cuja passividade me assombra.
Morremos aos poucos ao nos levantar e saber que há uma presidente que usou de artifícios poucos viáveis para pagar suas contas, as quais foram geradas de forma ilícita em meios políticos dos quais nada se aprende, apenas a votar e chorar mais tarde.

Nele, nesse último ninho de uma horda viral, temos um partido que fora escudo do povo, ou pelo menos pensei que fosse, a ser lança que se encrava em nossos intestinos, propositalmente, e, na grande mídia, somos apenas observadores frágeis a ofender o que colocamos e não conseguimos retirar, pois a chamada Democracia possui suas artimanhas naturais com vistas àquele que entra e só sai quando quer.

Nessa caverna conjectural, temos partidos que se assemelham a prostitutas, pois quanto mais se dá a ele, mas quer para satisfazer pouco seu desejo e muito  o do outro... Temos mercenários ex-presidentes que não saem do palácio do rei, pois acredita que o é, desde que contara sobre sua mãe na corte. Ele quer opinar, mudar, ou mesmo se enraizar com políticas hipócritas, nas quais somente o povo sem estudo acredita. Mal sabe ele que sua profissão natural era a de bobo da corte.

Temos senadores que deviam (devem) ser chefes de crimes organizados; presidentes que dariam inveja aos quarenta ladrões, pois roubam, levam, são descobertos, e ainda batem no peito dizendo “só saio quando eu quiser”.

São as nuances de um sistema falido, que nasceu para matar a criança quando nasce e desvalorizar o idoso que lutou desde o inicio para o seu país, na última guerra, dando-lhe mais guerras, a pior de todas... A dele contra o desrespeito nacional. Ah, esquecemos dos jovens que amam heróis pré-fabricados, sem honra, sem valor.
 
Senadores, deputados, ou qualquer palavrão que lhes podem ser natos, não correspondem aos seus sagrados conceitos, dos quais no passado aprendemos que tais vocações -- digo vocações não eleições -- eram demonstrar o real motivo de suas presenças, como ideais vivos, espíritos falantes, grandes heróis ambulantes. Hoje, crápulas, donos de bordeis, chefes de quadrilha, ignorantes que não sabem nem mesmo pronunciar seus nomes, fazem reverência a si mesmos, se intitulam faraós dos tempos modernos, os quais, ao contrário do grande homem clássico, não favorecem a ninguém, nem mesmo a si mesmo, pois, quando voltado ao interesse próprio, assassina qualquer possibilidade de crescimento de um cidadão, de uma sociedade, de um país...

Eu queria, por isso, ter levantado hoje, com a finalidade de ir a uma guerra, destronar falsos reis, verdadeiros tiranos, e colocar um grande homem que em mim nasce todos os dias. Aquele que anda em favor dos valores reais, sem partidarismos, ou mesmo a rotular minhas convicções com vistas a ter uma bancada evangélica, católica,.. Mas acreditando que Deus está em tudo, até mesmo em atos políticos, como no passado o foi. E talvez por isso sentimos tanta saudade.

Entretanto, se não temos uma guerra, ou mesmo uma batalha pequena que nos faça matar essa dor diária, participemos pelo menos de uma passeata, de uma carreata, buzinando, gritando, fazendo soar o máximo a voz que engasgada se encontra no fundo de nossa alma.

Ah... Nossa alma, tão presa ao seu cabresto, que morre às sobras daqueles admirados homens de bem que não têm medo, nem sentem dor quando policiais biltres partem como cães em cima de seus corpos, despreparados para a guerra cotidiana. Estou falando dos grandes educadores, os quais em um sistema mais ou menos razoável estariam ganhando o suficiente para o seu sustento, mas neste, no grande democrático mundo que criamos, os reais educadores são levados por policiais, violados em alma e profissão, a sofrer a dor que deveríamos sentir por eles: estão sendo maculados mais do que em países que o odeiam.

Fica em paz, minha alma, vai chegar a sua vez, e vamos partir para uma real guerra não somente em nome da paz, mas em nome de uma humanidade que precisa urgente acordar.

A guerra, por si só, já começou. Vamos à luta!

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Fundamentalismo sem Fundamentos





Mais um ataque na França, dessa vez em escala desproporcional às nossas fragilidades, ao nosso medo. Deixou-nos em pavor, como ratos em sua própria cidade invadidos por gatos assassinos e débeis, os quais, na espreita, esperaram que os pequeninos voltassem sua vida normal para depois voltar ao ataque.

No início do ano, nossos corações se sobressaltaram quando, em televisões do mundo inteiro, cenas de um terrorista, caminhando, portando uma arma automática, em direção a um guarda caído, friamente assassinando-o. O mundo inteiro, mais uma vez, dentro do seu inconsciente, no qual outras cenas mais frias adormeciam, foi obrigado a trazer à tona todas elas, não somente pela última, mas por outras que ocorreram em uma sexta-feira 13, que, tradicionalmente, é um dia em que todos ficam de forma lúdica atentos.

Esta, no entanto, não tinha nada de lúdico.  Veio à tona a dor e o desespero proporcionados pelos fundamentalistas, que se dizem religiosos, protetores da palavra de Alah. Se dizem, ainda, líderes de uma nova ordem mundial, baseados em façanhas no mínimo desumanas. E assim, por meio de seus atos, por meio do radicalismo extremo, traçam uma conduta que não faz jus a qualquer organização, lei, ou conceito se enquadrar em qualquer referencial...

E levam jovens de mentalidades revoltosas em relação aos seus países, ao seu nacionalismo, ao próprio mundo, e traçam radicalismos férteis de esterco dos quais nascem rosas negras, onde poderiam nascer amor ao ser humano, amor ao próprio país, por meio de um trabalho, ou mesmo de uma atividade simples na qual ganhar-se-ia o suficiente para suprir sua inquietude quando ao mundo...

Mas o jovem, como conhecemos, tem a mente fértil de desejos de mudar o mundo, e quando há mais mentes, talvez maiores, com premissas tão bem fundamentadas quando ao que o Ocidente ou mesmo Oriente faz, são hipnotizados por uma flauta, cujo artista nada mais é que um homem a comandar outras, e assim por diante, em uma canção tão triste, tão odiosa, mas ao mesmo tempo diferente, que fascina a mente dos desavisados.

E podemos sentir nas veias a canção, quando pessoas inocentes são baleadas, mortas, assassinadas em bares, em discotecas, ou mesmo tomando um café em uma determinada hora. Não estamos mais seguros.

 

Sabemos que a natureza nos prega uma peça de vez em quando, e choramos com desabamentos de rochas, de encostas em casas de pessoas humildes, e muito mais. Todavia, em termos mundiais, quando temos em nossa civilização grupos que não possuem sequer um mínimo de humanidade, e querem transformá-lo tal qual o caráter que possui, temos que rever nossos quesitos acerca da proteção aos inocentes, não somente fechando fronteiras, mas trazendo à tona a ideia de pátria, de educação quanto ao país em que estamos; levar jovens que não possuem escolaridade, empregos, a oportunidades de viver em função de um objetivo...

E é por meio deste que os fundamentalistas trabalham. Se eu odeio meu país, se ele não tem um plano para mim ou para minha família; se sou excluído dos planos do Ocidente, terei que repensar o que sou ante a tudo isso. E se há uma organização que leva em consideração meus pensamentos – ou melhor, se fundamenta nessas premissas, -- eu vivo por ela, ou melhor, morro por ela.

Sabemos que o sistema democrático não é um dos melhores – talvez o pior – mas ainda não resguarda em suas pretensões ser tão desumano, homicida, genocida... Enfim, estamos longe disso. Na realidade, há uma política voltada ao medo – como no conto do ratinho Despereaux, no qual todos os ratos são obrigados a temerem a tudo, desde o dia em que nasce até o fim. Apenas um ratinho, estranhamente, nasce com a vivacidade de um herói que quer transpor as ratoeiras, enfrentar os gatos, descer ao  mundo sombrio e enfrentar o caos.

E tenho a certeza de que estamos no caos. O medo exacerbado existe, e a falta de referenciais para enfrentar o caos é tanta, que só de falar nele pulamos para debaixo da cama. E os líderes mundiais sabem disso. Sabem que o medo nas reuniões nas quais engomados de termos temem represálias é tanto, que o outro caos, agora com pessoas saindo de seu país de origem, para morrer no mar, humilhadas em fronteiras, taxadas de terroristas, simplesmente pelo fato de a grande Europa amar reuniões, morrem todos os dias, ou viram sem-objetivo em seu próprio ninho, é uma consequência da inércia humana.

Enquanto isso, os organizadores do novo mundo, sem reuniões, praticam seus ideais de  morte, de crueldade, em nome de um salvador mal compreendido – Alah. Mal sabem eles que religião, em qualquer sentido, não somente no clássico, vem a ser uma forma de conceito que une você a Deus, e se houvesse Deus nesse ideal de organização jamais haveria mortes tão terríveis... Então, não me venham falar ou escrever acerca de pudor, se o próprio pudor lhes falta quando inocentes se vão.

Precisamos de ratos, quer dizer, de heróis!

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O Lixo de Cada Um




Sempre caímos nesse vão, nessa cratera imensa dentro da qual damos opiniões e acreditamos estar completamente sábios, conhecedores do bem e do mal, celestes. Adotamos princípios básicos de vida, e neles nos seguramos como Ulisses em seu barco, ouvindo as vozes das sereias, com receio de ser hipnotizado.

Assim nos erguemos ante ao que ligeiramente sabemos, e damos a vida para assegurarmos que estamos corretos, mesmo sabendo que opinião é um artigo que, com o tempo, muda, pois ventos arrebentam o que criamos, como em castelos de areia que desabam em plena margem de uma praia distante.

Parto do principio que temos que abrir leques em todos os aspectos, sejam eles religiosos, partidários, até mesmo quando se trata de nosso cotidiano (entretecimento), pois levamos muitos a sério nossos times, nossas roupas, celulares, de modo a torná-los parte de nós. Temos que saber lidar com esses valores externos, nos quais nos embrenhamos tal qual lenhadores numa floresta e que se perderam de tanto se identificar com o produto – e por isso, não cortam mais árvores.

Muitos pensadores atuais – e clássicos  -- chamam de prisão. Mais ainda, de “gaiola dourada”, na qual vivemos como periquitos felizes, ainda que nascemos para viver fora dela. Ou seja, por mais que tenhamos a mais forte das opiniões, a mais distinta de nosso circulo, alguém em algum lugar defende o mesmo, e mais, com a mente mais aberta que a nossa...

Platão dizia.. “Vivemos no mundo das opiniões”, e estava correto. Não há nada que façamos que não tenha alguma referência ao irmão, ao pai, à família, ou pior, à televisão, aos jornais, a um mundo que se posta a nos dar informações (não conhecimento) baseado em premissas frágeis, que, ao nascer do primeiro sol do dia, cai.

Isso é opinião. Passa como se fosse uma grande moda, que com o tempo se destrói, se esvai e não volta, quer dizer... apenas em conversas amistosas, em reuniões familiares, mas não duram tanto quanto duram as palavras dos grandes mestres. É a sabedoria universal.

Sócrates, filósofo, mestre de Platão, já nos alertava quanto a nossas opiniões. Em “A Peneira”, o filósofo não aceita qualquer opinião que não seja benéfica ao homem, ao mundo, à humanidade. E devíamos levar em consideração seu modo de receber as palavras, pois o que nos contamina nada mais é que nossa voluveidade opinosa em relação aos nossos interesses, nada além disso. É por isso que desabam os reais valores que defendemos tanto.

Para sair de nossos abismos, assim, percebemos que não é apenas o que sabemos, mas também o que fazemos, e isso nos traz uma reação do tamanho de nossas ignorâncias. A exemplo disso são os ditadores, que nos direcionam a outros abismos, e todos os dias saem um busca daqueles que ainda não foram educados quanto ao que pratica. Mais tarde, sabem que estavam errados e que pagam por isso.

Enfim, antes de pronunciarmos qualquer ideia, de plasmá-la e torna-la real, temos que repensá-la várias vezes, até que um dia ela se torne eterna.

 

 

 

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A culpa é das Estrelas




A semântica do universo, não sei se perceberam, é toda perfeita. Autossustentável, reciclável, dona de si. Não precisamos interferir na maioria vezes para que ela mesma se encontre e se torne viável ao universo; as poucas vezes, e péssimas, que fazemos é com direcionamento aos interesses humanos – e isso faz com que sejamos racionais no sentido natural, pois, ainda que sejamos parte desse átomo que nasce, somos únicos a racionalizar o universo, mudá-lo, mas ao curso positivo. Não negativo.

A exemplo disso são as queimadas. Podemos reestruturar parte de uma floresta, parte de uma cidade, parte do curso de um rio, com vistas a sua melhoria; porém sabemos que tais estruturas não vigam em perfeição, e são obrigadas a serem refeitas todos os anos. O homem, aqui, se mostra criador de monstros que ele mesmo não sabe matar – ele mesmo.

Quando cria meio de subsistência ao seu povo, de modo a tornar este refém do que faz, não por uma natureza bela que sempre o fez, desde os primórdios, criar em nome da perfeição universal, ele, o homem, se despe de sua identidade e veste a roupagem do monstro do interesse capital.

Por fim, sabemos o quanto somos imperfeitos, mas também importantes ao que criamos em torno de nós. Se não houver algum pensamento útil em torno de nossos projetos, nos quais a perfeição pulsa, não há possibilidade de compreender o próprio ideal humano – que é ser humano, fazendo humanidade.

Os sábios clássicos, não os pré-fabricados pela Mídia, deixaram raízes de uma grande árvore a ser seguida. A árvore que sempre deu frutos onde quer que estejamos. Quero dizer que todos eles, antes do cientificismo aristotélico, nos direcionava a projetos maiores que a nós mesmos, incutindo no coração humano a religiosidade – diferente de religião – que tanto se desfez com o tempo.

E quando percebemos algumas migalhas de sabedoria, seguimos, mas só encontramos dentro do que realmente queremos. A perfeição. Esta quando visualizada nos sóis de cada dia, na lua bela dos poetas, na trajetória impiedosa do cometas, nos alinhamentos, na pureza das estrelas, percebemos que temos um pouco de tudo isso em nós, e que a perfeição, enfim, é possível, mas não de forma imediata, clara, rápida, como um brinquedo infantil caro, mas que mais cedo ou mais tarde o teremos em criança. Não. Assim como um carvão que levou milhões de anos para ser tornar uma pedra e esta um diamante, é o nosso contentamento.

Todavia, as estrelas e o grande cosmo nos evidenciam que temos em nós perfeições relativas – as quais podemos salvar --, e com elas, em nosso dia a dia, brilhar um pouco.

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....